A obra pioneira de Benedita Fernandes

A obra pioneira de Benedita Fernandes

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Um fato inédito ocorreu na então novata cidade de Araçatuba (SP), no dia 6 de março de 1932, tendo como protagonista uma lavadeira e descendente de escravos libertos, Benedita Fernandes.

Sem ser detentora de nenhum predicado associado ao chamado “passaporte social”, Benedita Fernandes fundou a Associação das Senhoras Cristãs, iniciando o atendimento a crianças órfãs e abandonadas e a doentes mentais. Àquela época ela já era espírita, pois foi curada de uma terrível obsessão, que chegava às raias da subjugação, por dois espíritas – o carcereiro Padial e João Marcheze -, nos momentos em que ela ficou recolhida à Cadeia Pública da vizinha cidade de Penápolis, pelo fato de causar pânico à população.

Consciente de sua nova situação e grata ao tratamento espiritual que recebeu, Benedita reuniu um grupo de lavadeiras, como ela, e espíritas de Araçatuba e fundou a primeira instituição espírita voltada à assistência social, um marco para toda a região Noroeste do Estado de São Paulo. Naquela época Araçatuba contava com um pequeno centro espírita funcionando na cidade e outra em zona rural próxima.

As ações da Associação das Senhoras Cristãs foram dinamicamente desenvolvidas e no final da década de 1930, Benedita Fernandes já havia conquistado o respeito além do ambiente dos espíritas, de muitos integrantes da Loja Maçônica Tupy, de políticos e da população em geral. A Associação passou a contar com o Asilo Doutor Jaime de Oliveira (para doentes mentais), Casa da Criança, Albergue Noturno e classe municipal para o ensino formal. Por ocasião da elaboração da biografia de Benedita Fernandes, cuja primeira versão foi publicada em 1982, quando a Associação completava seu Jubileu de Ouro, conhecemos e entrevistamos muitos cidadãos da cidade e outras localidades que tiveram contatos com Benedita Fernandes, incluindo parentes nossos.

Nos bate-papos soubemos do respeito que dois párocos locais tinham pela obra de Benedita. Também foi histórica a deferência do governador (interventor federal) Fernando Costa por ocasião de visita a Araçatuba.

Em nossos dias há várias mensagens assinadas pelo espírito Benedita Fernandes e uma marcante alusão à ela em texto psicografado por Chico Xavier em 1963, incluindo-a num relato sobre "uma reunião de damas consagradas à caridade" intitulado “Num domingo de calor”. Aliás, daí tiramos a inspiração para nosso livro intitulando-a de “Dama da Caridade”.

Os exemplos e a dedicação de Benedita Fernandes permanecem em muitos corações. Sua obra material foi se alterando ao longo do tempo e, em função de regulamentações governamentais sobre saúde mental, gerou algumas dependências de CAPS – Centro de Apoio Psicossocial, e um deles com o nome dela e contando com o apoio de voluntários vinculados à Associação das Senhoras Cristãs Benedita Fernandes.

Para o 2o semestre deste ano está previsto o lançamento de filme sobre Benedita Fernandes, elaborado por Sirlei Nogueira, de Araçatuba e com base no livro "Benedita Fernandes. A dama da caridade", de nossa autoria (Ed.Cocriação/USE Regional de Araçatuba).

 

                        O autor foi dirigente espírita em Araçatuba, presidente da Federação Espírita Brasileira e da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo.

Coronavírus – Uma Visão Espírita

Coronavírus – Uma Visão Espírita

Eliana Haddad

Iniciamos este ano com a notícia de uma epidemia causada pelo coronavírus, um grupo de vírus já conhecido desde 1960 e que provoca doenças que vão de infecções leves a moderadas até as mais graves, como a pneumonia, e que podem levar à morte. O vírus foi detectado inicialmente na China, em Wuhan. Seu período de incubação é de 2 a 14 dias e apresenta como principais sintomas: coriza, dor de garganta, febre, tosse e falta de ar. A transmissão acontece por meio de tosse ou espirro; contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão; e contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

Desde dezembro do ano passado, quando surgiram os primeiros casos na cidade chinesa de Wuhan, 600 pessoas morreram e o número de infectados já soma 30 mil casos. Cidades são isoladas, aeroportos fiscalizados, mercado financeiro e turismo sofrem as consequências pelo medo do avanço da doença e o mundo, enfim, realmente se assusta, pois vários locais já foram atingidos. A Organização Mundial da Saúde declarou estado de emergência global, advertindo também para a solidariedade entre os países.

O aspecto espiritual

Independentemente de medidas urgentes a serem adotadas, visando estancar a proliferação do vírus, vale refletir sobre alguns aspectos interessantes a serem observados: Por que nem todos são contaminados? Por que uns morrem (2% dos infectados, segundo a OMS) e outros não? Inicialmente, o espiritismo explica que as doenças fazem parte das provas e das vicissitudes da vida terrena. “Nos mundos mais adiantados, o organismo humano, mais depurado e menos material, não está sujeito às mesmas enfermidades”. As condições de vida são muito diferentes da Terra. Também, “nos mundos felizes, as relações entre os povos são sempre amigáveis e nunca são perturbadas pela ambição de escravizar o vizinho, nem pela guerra”.

Ora, em resumo, o mal ali não se faz presente, não havendo expiações. Isso significa que na Terra ainda vivemos uma infância espiritual de muitos contrários. “Tendes necessidade do mal para sentir o bem. Da noite para admirar a luz, da doença para apreciar a saúde”, nos ensinam os espíritos superiores. Santo Agostinho, em 1862, em Paris, fez uma observação sobre as afinidades e desafios enfrentados pelos espíritos nos mundos expiatórios. A Terra lhes seria fornecida como um dos tipos desses mundos. “As variedades são infinitas, mas têm como caráter comum servir como local de exílio a Espíritos rebeldes à lei de Deus. Esses espíritos aí têm que lutar, de uma só vez contra a perversidade dos homens e a inclemência da natureza.

Trabalho duplamente penoso, que desenvolve ao mesmo tempo as qualidades do coração e as da inteligência”, explica em O evangelho segundo espiritismo.

Não há acasos

É claro que uma epidemia assusta, preocupa, mas é interessante que se tenha esses conceitos espirituais em evidência antes de se arriscar a fazer qualquer observação, pois Deus, em sua perfeição e misericórdia, atua através de leis também perfeitas e misericordiosas para que o progresso seja atingido em toda sua Criação. Por isso não há acasos.

O pensamento materialista nos leva a conclusões precipitadas, que incluem percepções errôneas referentes a castigos, desarmonia, confusão, desleixo e fatalidade. A visão espiritualista, porém, nos colocando acima dos males do corpo físico, convida-nos ao trabalho e à confiança no futuro para superarmos as dificuldades. O aprendizado é lento e mas contínuo. “Temos, assim, de nos resignar às consequências do meio onde nos coloca a nossa inferioridade, até que mereçamos passar a outro. Isso, no entanto, não é de molde a impedir que, esperando que tal se dê, façamos o que de nós depende para melhorar as nossas condições atuais. Se, porém, malgrado aos nossos esforços, não o conseguirmos, o espiritismo nos ensina a suportar com resignação os nossos passageiros males”, esclarece o espiritismo.

Outro ponto importante a ser observado é a mudança de estado dos Espíritos em evolução, ora encarnados, ora desencarnados. Uns chegam e outros se vão todos os dias por motivos diversos. Alguns regressam ao mundo espiritual em desencarnes coletivos, como no caso das guerras, tragédias e epidemias.

Emigração e imigração dos espíritos

Explica a doutrina espírita que, no intervalo de suas existências corporais, os Espíritos se encontram no estado de erraticidade e formam a população espiritual ambiente da Terra. Pelas mortes e pelos nascimentos, as duas populações, terrestre e espiritual, deságuam incessantemente uma na outra. Há, pois, diariamente, emigrações do mundo corpóreo para o mundo espiritual e imigrações deste para aquele: é o estado normal. Em certas épocas, determinadas pela sabedoria divina, essas emigrações e imigrações se operam por massas mais ou menos consideráveis, em virtude das grandes revoluções que lhes ocasionam a partida simultânea em quantidades enormes, logo substituídas por equivalentes quantidades de encarnações. (…) Chegadas e partidas coletivas são meios providenciais de renovar a população corporal do globo. Na destruição de grande número de corpos nada mais há do que rompimento de vestiduras; nenhum Espírito perece; eles apenas mudam de ambiente; em vez de partirem isoladamente, partem em grupos, essa a única diferença, visto que, ou por uma causa ou por outra, fatalmente têm que partir, cedo ou tarde. As renovações rápidas apressam o progresso social. Sem as emigrações e imigrações que de tempos a tempos lhe vêm dar violento impulso, só com extrema lentidão esse progresso se realizaria.

É de notar-se que todas as grandes calamidades que dizimam as populações são sempre seguidas de uma era de progresso de ordem física, intelectual, ou moral e, por conseguinte, no estado social das nações que as experimentam.

A invasão microbiana

No livro Evolução em dois mundos, psicografia de Chico Xavier e Waldo Vieira, no capítulo 40, “Invasão microbiana”, pergunta-se a invasão microbiana está vinculada a causas espirituais? A resposta: “Excetuados os quadros infecciosos pelos quais se res-ponsabiliza a ausência da higiene comum, as depressões criadas em nós por nós mesmos, nos domínios do abuso de nossas forças, seja adulterando as trocas vitais do cosmo orgânico pela rendição ao desequilíbrio, seja estabelecendo perturbações em prejuízo dos outros, plasmam nos tecidos fisiopsicossomáticos que nos constituem o veículo de expressão determinados cam¬pos de rutura na harmonia celular”. Isso quer dizer que nossos desajustamentos nos tornam passíveis de invasão microbiana, e dificultam a regeneração natural das células, instalando-se assim a doença, pela desarmonia causada por nossas escolhas – conscientes ou não, de agora ou de ontem. E continua a resposta: “Geralmente, quase todos os processos de doenças surgem como fenômenos secundários sobre as zonas de predisposição enfermiça que formamos em nosso próprio corpo, pelo desequilíbrio de nossas forças mentais a gerarem ruturas ou soluções de continuidade nos pontos de interação entre o corpo espiritual e o veículo físico, pelas quais se insinua o assalto microbiano a que sejamos mais particularmente inclinados”. E aqui entra também, ainda conforme a resposta, a importância da transformação moral para uma vida realmente saudável. “Amparo aos outros cria amparo a nós próprios, motivo por que os princípios de Jesus, desterrando de nós animalidade e orgulho, vaidade e cobiça, crueldade e avareza, e exortando-nos à simplicidade e à humildade, à fraternidade sem limites e ao perdão incondicional, estabelecem, quando observados, a imu-nologia perfeita em nossa vida interior, fortalecendo-nos o poder da mente na autodefensiva contra todos os elementos destruidores e degradantes que nos cercam e articulando-nos as possibilidades imprescindíveis à evolução para Deus.”

Na Revista de julho de 1867, Kardec descreve a ‘terrível epidemia’ que devastava já há dois anos a Ilha Maurício (antiga Ilha de França). Em outubro1868, assinada pelo Espírito Clélie Duplantier, Kardec publica a seguinte comunicação na Sociedade espírita de Paris: “Sem dúvida é apavorante pensar em perigos dessa natureza, mas, pelo fato de serem necessários e não provocarem senão felizes consequências, é preferível, em vez de esperá-los tremendo, preparar-se para enfrentá-los sem medo, sejam quais forem os seus resultados. Para o materialista, é a morte horrível e o nada por consequência; para o espiritualista, e em particular para o espírita, que importa o que acontecer! Se escapar do perigo, a prova o encontrará sempre inabalável; se morrer, o que conhece da outra vida fá-lo-á encarar a passagem sem empalidecer. Preparai-vos, pois, para tudo, e sejam quais forem a hora e a natureza do perigo, compenetrai-vos desta verdade: A morte não é senão uma palavra vã e não há nenhum sofrimento que as forças humanas não possam dominar.”

Fonte - Correio Fraterno do ABC (copie e cole):

https://www.letraespirita.blog.br/post/coronav%C3%ADrus-uma-vis%C3%A3o-esp%C3%ADrita

75 anos da RIE

Corrigindo: título inicial saiu com engano: são 95 e não 75 anos!

95 anos da RIE

Antonio Cesar Perri de Carvalho

No dia 15 de fevereiro de 2020 completou 95 anos de circulação a Revista Internacional de Espiritismo – RIE, publicada mensalmente pela Casa Editora O Clarim, de Matão. Foi fundada por Cairbar Schutel, um marco na divulgação do Espiritismo. Contou com o auxílio moral e material do amigo Luiz Carlos de Oliveira Borges. Surgiu como publicação mensal dedicada aos estudos dos fenômenos anímicos e espíritas.

A RIE desde os tempos iniciais divulgou textos de autoria de lideranças espíritas de várias partes do mundo. Cairbar Schutel mantinha correspondência com Léon Denis, Gabriel Delanne, Oliver Lodge e outros luminares dos estudos e pesquisas espíritas. Tradicionalmente traz uma entrevista sobre tema significativo e artigos de autoria de um grande número de colaboradores de várias partes do Brasil e uma síntese de notícias. Em nossos dias a página eletrônica de O Clarim pontualmente no primeiro dia de cada mês traz as informações sobre a nova edição da RIE: estampa a capa, a relação de matérias e reproduz uma delas.

Cairbar de Souza Schutel (1868-1938) foi destacado cidadão radicado em Matão (SP), tendo atuado como farmacêutico, primeiro Prefeito Municipal da cidade, histórico pioneiro e divulgador espírita. Conquistou o respeito da população da cidade e região. Era conhecido com o título de "O Pai dos Pobres", pelo fato de doar remédio de graça aos carentes e utilizava sua própria casa para acolher doentes. Superou muitas perseguições de natureza religiosa.

Em 1905 fundou o Centro Espírita Amantes da Pobreza e o jornal O Clarim. Editou dezenas de livros e foi autor de outro tanto. Entre 1936 e 1937, proferiu aos domingos, as conhecidas quinze "Conferências Radiofônicas", através da Rádio Cultura PRD—4, de Araraquara, publicadas em livro. Representantes de O Clarim viajavam pelo interior do Estado de São Paulo para propagação do Espiritismo e divulgação dos livros e periódicos editados em Matão.

Atuou em campanhas pelo Estado Leigo, criou entidade que pode ser considerada predecessora de ações de união para o Estado de São Paulo, e iniciou a sistemática de divulgação sobre imortalidade da alma por ocasião do dia de finados. Esteve presente em reunião da Semana Metapsíquica de São Paulo em 31 de março de 1937, oportunidade em que conheceu pessoalmente Chico Xavier e ocorreu uma célebre psicografia especular em inglês, assinada por Emmanuel, por intermédio do médium mineiro.

Uma das frases de sua autoria tornou-se célebre e está registrada na lápide em seu túmulo: "Vivi, vivo e viverei porque sou imortal".

Ao lado do Centro e Casa Editora O Clarim, em Matão, há um importante Memorial contendo ricas informações e objetos que pertenceram à estas Entidades e a Cairbar Schutel. Há vários livros biográficos sobre Cairbar Schutel editados por O Clarim.

Informações (copie e cole):

https://www.oclarim.com.br/

Chico Xavier e a “elitização” do movimento

Chico Xavier e a “elitização” do movimento

 

“Declaração de Chico Xavier em entrevista:

"É preciso fugir da tendência à "elitização" no seio do movimento espírita.

É necessário que os dirigentes espíritas, principalmente os ligados aos órgãos unificadores, compreendam e sintam que o Espiritismo veio para o povo e com ele dialogar.

É indispensável que estudemos a Doutrina Espírita junto com as massas, que amemos a todos os companheiros, mas sobretudo, aos espíritos mais humildes social e intelectualmente falando, e deles nos aproximarmos com real espírito de compreensão e fraternidade. Se não nos precavermos, daqui a pouco teremos em nossas casas espíritas apenas falando e explicando o Evangelho do Cristo as pessoas laureadas por títulos acadêmicos ou intelectuais e confrades de posição social mais elevada.

Mais do que justo evitarmos isso, a ‘elitização’ do Espiritismo, isto é, a formação do 'espírito de cúpula' com a vocação de infalibilidade em nossas organizações."

(Entrevista concedida ao jornal “O Triângulo Mineiro”, de Uberaba, em 1.978, e reeditada no mesmo jornal em 20/03/1.997, enquanto Chico estava encarnado).

Imigrantes na atuação espírita

Imigrantes na atuação espírita

Antonio Cesar Perri de Carvalho

A matéria do jornal "O Estado de São Paulo"1 que focalizou o casal Yvette e Gyorgy Galfi, sobre a fuga do nazismo e o recomeço no Brasil, e o fato de que foram trabalhadores do Grupo Espírita Casa do Caminho e hoje atuam em um núcleo menor, a Casa da Prece, na mesma região da capital paulista, trouxe-nos à lembrança da fisionomia de Gyorgy, em reuniões. A publicação suscitou-nos a evocação sobre a participação de imigrantes nas atividades espíritas do país.

Apenas destacando vultos com cidades e instituições que colaboramos, veio à nossa mente uma quantidade enorme de imigrantes ou descendentes que assumiram posições de destaque no movimento espírita. E, sem nos referimos à ascendência lusa, vinculada à colonização do país.

Na nossa cidade natal, Araçatuba, predominaram descendentes de italianos, claramente compreensível pelo grande contingente de imigração que ocorreu no final do século XIX no Estado de São Paulo. Convivemos com descendentes de pioneiros, de origem italiana, como Bergamaschi, Dall´Oca, Pagan, Protetti; de origem espanhola, Sallas. Mas ali se destacou Benedita Fernandes que por ser descendente de escravos libertos, embora de maneira forçada é proveniente de povos africanos.

Junto à Casa Editora O Clarim, o personagem marcante Cairbar Schutel era descendente de suíços.

Na capital paulista em nosso período de gestão junto à União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, também predominavam descendentes de italianos.

Aliás, entre os ex-presidentes, os sobrenomes, além do nosso, denotavam a origem de outras plagas, como: Armond, Masotti, Schilliró, Campanini, Nezu…

Na Federação Espírita Brasileira onde atuamos durante alguns anos, lembramos de sobrenomes de ex-presidentes, além do nosso, e que apontam a origem próxima de outros países, como: Guillon, Thiesen e Masotti. Mas ali foi atuante um tesoureiro: Frederico Figner (Irmão Jacó), de família judaica. Igualmente de mesma origem, um grande colaborador da Editora da FEB, o Salomão Mizrahy.

Entre os expositores espíritas, chegamos a conhecer nos anos 1960, o grande tribuno Jacob Hollzman Neto; desse período de mocidade espírita, também de Ismael Gobbo e Felipe Salomão; nutrimos amizade e muito intercâmbio com Alexandre Sech, José Jorge, Newton Boechat, Marlene Rossi Severino Nobre e Enrique Baldovino, e, em nossos dias convivemos com a expositora Suely Schubert.

Essas são algumas ilustrações, uma pequena amostragem que demonstra como os imigrantes e seus descendentes se envolveram com o movimento espírita.

O Brasil é um país de dimensão continental e na sua formação tem características multiculturais e procura recepcionar, cada vez mais, imigrantes de vários continentes. A proposta de se evitar endogenias e preconceitos de origens, abrindo-se oportunidades a todos, está na base para o cultivo de um espírito de fraternidade. Sabe-se que esta é a missão do Brasil no concerto das nações. E, naturalmente, deve estar presente na seara espírita. Sem dúvida, no ambiente interno do país, com cuidados para se evitar resistências às pessoas em função de suas origens de Estados e de regiões.

A propósito, destacamos duas frases de Emmanuel como sugestões para reflexões:

“Suponho que o Cristianismo não atingirá seus fins, se esperarmos tão só dos israelitas anquilosados no orgulho da Lei. Jesus afirmou que seus discípulos viriam do Oriente e do Ocidente.”2

“ `Espírita´ deve ser o nome de teu nome, ainda mesmo respires em aflitivos combates contigo mesmo.”3

Referências:

1) Tranches, Renata Tranches. Auschwitz, 75 anos. Fuga dos nazistas e recomeço no Brasil. O Estado de São Paulo. Caderno A-1. São Paulo, 26/01/2020.

2) Xavier, Francisco Cândido. Pelo Espírito Emmanuel. Paulo e Estêvão. 2a Parte, Cap. 1. Brasília: FEB.

3) Xavier, Francisco Cândido. Pelo Espírito Emmanuel. Religião dos espíritos. ed. esp. Cap. 80. Brasília: FEB.

(Foi dirigente espírita em Araçatuba, presidente da USE-SP e da FEB)

São Paulo: fundada em homenagem ao Apóstolo

São Paulo: fundada em homenagem ao Apóstolo

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Neste ano completa-se 466 anos da fundação da cidade de São Paulo.

Atualmente a maior cidade do país e do Hemisfério Sul, foi fundada no dia 25 de janeiro de 1554, pelo padre Manuel da Nóbrega.

Este veio à então Colônia de Portugal acompanhando o primeiro governador Tomé de Souza, designado pelo rei Dom João III e com a missão específica de instalar o processo educacional no Brasil. Foi autor do primeiro livro escrito no país: “Cartas do Brasil”.

O marco inicial da cidade foi o Colégio São Paulo, onde atualmente se localiza o Pátio do Colégio, no centro antigo da cidade, e funciona um museu alusivo à fundação da cidade e homenageando Manuel da Nóbrega e seu noviço José de Anchieta, considerados os dois primeiros evangelizadores do país.

Em registros históricos de conhecimento público sabe-se que Nóbrega, que atuava em São Vicente, subiu ao Planalto de Piratininga e resolveu fundar uma escola, escolhendo o dia 25 de janeiro, data comemorativa da conversão do apóstolo Paulo. Assim, surgiu a cidade de São Paulo, significativamente a partir de uma escola e homenageando a apóstolo da gentilidade.

Esse episódio histórico foi evocado por Chico Xavier durante o 2o Pinga-Fogo, a longa entrevista na TV Tupi de São Paulo em 1971, ao comentar que Manuel da Nóbrega foi uma das reencarnações do espírito Emmanuel. Chico também fez referência a este fato na cerimônia pública e televisada ao vivo da Câmara Municipal de São Paulo, no dia 19/5/1973, quando recebeu o título de “Cidadão Paulistano”.1,2 Mas essa revelação já havia sido feita por Chico Xavier e foi registrada em livro de Clóvis Tavares – amigo de Chico Xavier – e publicado com apoio deste enquanto encarnado: “Amor e Sabedoria de Emmanuel”, lançado em 1970 pela Editora Calvário e atualmente editado pelo IDE.3

Herculano Pires comentou a missão de Nóbrega junto aos indígenas e aos portugueses que aqui vieram, e estabeleceu a relação entre Paulo e Nóbrega: “Dura foi a luta pela conversão do gentio. […] Paulo exerceu o apostolado dos gentios para o Cristianismo. Nóbrega foi o Apóstolo dos Gentios no Brasil nascente, preparando o terreno para o seu apostolado espírita do futuro.”4

As relações entre o espírito Emmanuel e Paulo de Tarso também são comentadas em livros de nossa autoria, sobre as Epístolas de Paulo e sobre Chico Xavier.1,2

O fundador Manuel da Nóbrega é homenageado não apenas no Pátio do Colégio, mas também em dois monumentos e rua da cidade de São Paulo e uma rodovia no litoral paulista. Há um monumento em homenagem a Paulo de Tarso na Praça da Sé, próximo ao “marco zero”, aliás, o vulto segurando um pergaminho com a frase: “Senhor, que queres que eu faça”. E o nome do Apóstolo designa a cidade e o Estado!

Referências:

1. Carvalho, Antonio Cesar Perri. Epístolas de Paulo à luz do Espiritismo. Matão: O Clarim. 2016.

2. Carvalho, Antonio Cesar Perri. Chico Xavier – o homem, a obra e as repercussões. Capivari: EME. 2019.

3. Tavares, Clóvis. Amor e sabedoria de Emmanuel. São Paulo: Ed. Calvário. 1970.

4. Xavier, Francisco Cândido; Pires, José Herculano; Espíritos diversos. Diálogo dos vivos. Cap.23. São Bernardo do Campo: GEEM. 1974.

(*) Ex-presidente da USE-SP e da FEB; articulista da RIE; colaborador do CCDPE e do G.E.Casa do Caminho, em São Paulo.

A Casa do Caminho de lá e de cá

A Casa do Caminho de e de cá

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

No longo período em que ficamos fora da capital paulista perdemos contato com muitos episódios, inclusive do lançamento do livro “O Caminho da Casa de Cristal”, alusivo aos 40 anos da Casa do Caminho, de autoria de Tânia Redigolo.

Ao nos reinserirmos em atividades do Grupo Espírita Casa do Caminho, na Vila Clementino, em São Paulo, além do ambiente fraterno com que fomos recepcionados juntamente com a família, reencontramos muitos companheiros de outros momentos em que frequentamos esse centro e do movimento espírita paulista.

A leitura, embora tardia do citado livro, lançado em 2011, nos remeteu a muitas recordações gratas além de nos propiciar informações que não tínhamos conhecimento.

A origem espiritual do Centro, com base em mensagens obtidas por vários médiuns, mostrando o planejamento espiritual com muita antecedência para o preparo de uma equipe que viria a atuar no plano terrestre. Assim, surgem relatos que identificam o líder inca que viveu no Peru com tarefas específicas no sentido de humanizar alguns cultos primitivos, agora designado como Itaporã, e que participou do planejamento espiritual para a reunião de um grupo de espíritos afins e que vieram a fundar e consolidar o Grupo Espírita Casa do Caminho e o seu desdobramento na área assistencial, a SAFRATER com a Creche e Núcleo Tiãozinho.

No desenrolar das agradáveis narrativas da autora, verificamos que nos primeiros contatos que mantivemos com esse Centro nos anos 1990, ainda numa casa fisicamente adaptada, conhecemos alguns remanescentes da equipe de fundadores e valorosos seareiros.

Lembranças agradáveis da primeira fase em que estivemos ligados a esse Centro, dos contatos que tivemos com alguns dos citados no livro. Entre estes, Hernani Guimarães Andrade, autêntico pesquisador nas hostes espíritas, fundador também do IBPP. Aliás ele prefaciou um de nossos primeiros livros: “Os Sábios e a Sra. Piper. Provas da comunicabilidade dos espíritos” (Ed. O Clarim). A médium e dirigente Assumpta Rizzatti; a dirigente e cantora lírica Assunção de Lucca, de quem fomos vizinhos e até estivemos juntos em Congresso em Portugal. Na interface com a USE-SP, período em que fomos presidente, convivemos com companheiros ligados a esse Centro: o casal Marlene e Paulo Roberto Pereira da Costa; Maria Aparecida Valente, que chegou a publicar livro pela USE-SP; os assistentes sociais Odair Cretella de Oliveira e Régis Lang. Aliás, este último, o atual presidente do Centro. Nesse Centro reencontramos Luiz Armando de Freitas, da revista Informação; também conhecemos Alcíone Novelino, a filha do dr.Thomaz Novelino. E, interessante, ali atuava intensamente Áurea Medeiros, originária de Guararapes, cidade vizinha à nossa terra natal, Araçatuba, que conhecemos nos tempos de eventos de mocidade espírita, e, que desencarnou precocemente.

O livro focaliza o esforço e a dedicação dos fundadores e primeiros trabalhadores da Casa do Caminho, registra as principais atividades e eventos ali concretizados até chegar à atual situação contando com edificações modernas e bem planejadas: uma movimentada sede doutrinária com reuniões diárias em vários horários, no bairro de Vila Clementino, e um intenso labor assistencial em uma grande sede em bairro na região do Jabaquara.

Muito instrutiva e até curiosa a relação de casos pitorescos envolvendo os dirigentes e colaboradores da Casa. Como também algumas mensagens dos mentores da Casa do Caminho. Ao final, a autora apresenta a Galeria de Diretorias e Conselhos, e, de fotos das várias épocas.

Para finalizar destacamos que no Mundo Espiritual, a equipe que atuou na fundação do Grupo foi “vinculada aos carismas preconizados por Paulo de Tarso” e ao lema “fora da caridade não há salvação”, e, nessa preparação “foi fundado primeiramente na Espiritualidade, onde recebeu o nome de Casa de Cristal…” Aí foram “delineados todos os projetos que seriam implantados na nova Casa”.

Fonte:

Redigolo, Tânia. O caminho da Casa de Cristal. 40 anos da Casa do Caminho. São Paulo. 2011. 188p. (disponível na livraria do Grupo Espírita Casa do Caminho, fone: 11- 2348-2230).

(*) Colaborador do Grupo Espírita Casa do Caminho, São Paulo; ex-presidente da USE-SP e da FEB.

E as previsões?

E as previsões?

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Toda passagem de ano gera expectativas e muitas ideias vinculadas às tradicionais previsões.

Nos últimos tempos muitos repetem sobre a fase que vivemos e que chamam de transição planetária. Realmente, estamos em momento de transições, mas estas nunca deixaram de existir porque o Universo não é estático. Acontece que há fases em que ocorrem transformações profundas e rápidas. Por isso torna-se importante a análise num largo espaço de tempo para se verificar o ritmo das mudanças.

Por isso torna-se importante a análise num largo espaço de tempo para se verificar o ritmo das mudanças. Em nossos dias, a comunicação instantânea propicia muitas vezes visões mais catastróficas. Em realidade muitos fenômenos materiais e transformações da Humanidade, em geral, sempre existiram, mas não havia a disseminação das informações de maneira globalizada. E como a mídia destaca mais as tragédias, fica-se com uma impressão que o “mundo está em total ebulição”.  

O Espiritismo tem sua fundamentação nas obras de Allan Kardec e seu último livro “A Gênese” e que tem como subtítulo “Os milagres e as predições segundo o Espiritismo”, e, no final, dois capítulos: “Os tempos são chegados” e “Sinal dos tempos”. A partir desta obra lançada em 6 de janeiro de 1868 (152 anos anteontem) desenvolvemos a linha de raciocínio que foge das tradicionais interpretações feitas a partir da aceitação da escatologia e da parusia. Evidentemente que são pensamentos desenvolvidos nos dois milênios por alas cristãs.

Assim, considerando o livro citado, “A Gênese”, destacamos o trecho: “O resultado final de um acontecimento pode, pois, ser certo, já que está nos desígnios Deus. Mas, como frequentemente, os detalhes e o modo de execução são subordinados às circunstâncias e ao livre-arbítrio dos homens; os caminhos e os meios podem ser eventuais”. Portanto, “os Espíritos podem nos alertar sobre o conjunto, se for útil que sejamos prevenidos. Mas para precisar o lugar e a data, eles deveriam conhecer previamente a decisão que tal ou qual indivíduo tomará.” Interessante notar que Kardec dá mais importância às transformações morais e espirituais do que às alterações físicas cíclicas e naturais de nosso orbe.

Uma característica marcante de nossa época é o processo complexo de reajustamento de todos os valores humanos. Daí os intensos e continuados choques de pensamentos e de posições. Embora ocorram momentos mais críticos no processo civilizatório, sempre se dá um passo na senda do progresso.

A propósito, o guia espiritual de Chico Xavier, o espírito Emmanuel, tratou do assunto em várias obras deste médium. Mas há um trecho do livro “Busca e acharás” que nos parece muito apropriado para a época que vivemos: “Reconhecemos todos que o mundo atravessa agitadas crises de transição. Mas podes ser, onde estiveres, a escora de fé, em que outros se apoiem.”

O cultivo da religiosidade, de valores e o cultivo de virtudes podem trazer grandes contribuições para a criação da serenidade e firmeza no enfrentamento dos impasses e dificuldades do mundo atual. Como anotou Allan Kardec em sua obra inicial, “O Livro dos Espíritos”: “O progresso da Humanidade tem seu princípio na aplicação da lei de justiça, de amor e de caridade, lei que se funda na certeza do futuro”.

Esses fatores, ou opções do livre-arbítrio do homem, é que podem delinear as previsões para o futuro. Sempre há a opção de se começar um “novo amanhã”.

(O autor residiu em Araçatuba, onde foi professor da FOA e dirigente espírita. Atualmente reside em São Paulo e é ex-presidente da Federação Espírita Brasileira).

Publicado no jornal “Folha da Região”, Araçatuba, 08/01/2020, página A2.

Coração não cansa e não dorme

Coração não cansa e não dorme

Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus. – Jesus (Mateus, 5:8)

Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo (*)  

A orquestração do Universo é maravilhosa.

Quando me debruço na fonte a ver a água cantando, correndo distante, e o vento assobiando lá fora, e meu coração aqui seguindo suas passadas, fico imaginando o Criador e sua obra.

Quando despertamos para a realidade do Espírito imortal, de que absolutamente nada na matéria é definitivo, inclusive a vida física é temporária, passamos a compreender a inutilidade da ambição e do orgulho, a estupidez do egoísmo em acumular, a tolice das disputas materiais, a incoerência das tolas mágoas e do ressentimento que acumulamos no coração, pobrezinho.

Nosso pequeno reino feito de desejos e interesses (consciência), onde nascem e moram nossos pensamentos e sentimentos – ainda temos muitas dificuldades de administrá-lo bem, e quem sofre as consequências é o nosso coração, órgão vital e que, como Deus, não cansa e não dorme.

O coração sofre o impacto, quando o corpo está acordado ou mesmo dormindo, das emoções do seu comandante, que somos nós, o governador dessas ações serenas ou desiquilibradas. Como diz o autor de O pequeno príncipe, Antoine de Saint-Exupéry: “Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos”.

Lembro aqui de uma porção de provérbios chineses que falam de nossas ações e de seu reflexo em nosso coração, essa máquina divina, que responde de imediato e com presteza à mente quando recebe afeto, porque o amor faz mudar o seu próprio ritmo.

“Quem abre o coração à ambição, fecha-o à tranquilidade.”

“A gente todos os dias arruma os cabelos: por que não o coração?”

“Os nossos desejos são como crianças pequenas: quanto mais lhes cedemos, mais exigentes se tornam.”

Para não sobrecarregar esse órgão tão importante pela nossa permanência aqui, escutemos o pensamento do sábio e filósofo chinês, Confúcio: “Quando a raiva, o vício, a paixão crescerem, pense nas consequências”.

(*) Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é bacharel em direito com especialização em dependência química pela USP-SP/GREA; diretor da Editora EME. 

Transcrito de:

O Consolador. Revista Semanal de Divulgação Espírita. N.651. Edição de 05/01/2020; http://www.oconsolador.com.br/ano13/651/ca3.html

Ano Novo e as Previsões

Ano Novo e as Previsões

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Em toda passagem de ano, são comuns as ideias sobre previsões e expectativas.

Em artigo que publicamos na Revista Internacional de Espiritismo (1), expusemos as motivações para escrevermos sobre o tema, que também foi transcrito pelo site do GEECX (http://grupochicoxavier.com.br/base-para-interpretacao-das-profecias/).

Com algumas adequações, eis sinteticamente o raciocínio desenvolvido no artigo citado.

De início, torna-se importante recorrermos à Obra da Codificação. Em A Gênese, há trechos marcantes do Codificador: “O resultado final de um acontecimento pode, pois, ser certo, já que está nos desígnios Deus. Mas, como frequentemente, os detalhes e o modo de execução são subordinados às circunstâncias e ao livre-arbítrio dos homens; os caminhos e os meios podem ser eventuais. Os Espíritos podem nos alertar sobre o conjunto, se for útil que sejamos prevenidos. Mas para precisar o lugar e a data, eles deveriam conhecer previamente a decisão que tal ou qual indivíduo tomará.” Inclusive Kardec comenta sobre “a forma misteriosa e cabalística da qual Nostradamus nos oferece o exemplo mais completo dá-lhe certo prestígio aos olhos do homem comum, que lhe atribui tanto mais valor quanto mais sejam incompreensíveis.”

Em outra parte, Kardec lembra que “a humanidade contemporânea tem também seus profetas; mais de um escritor, poeta, literato, historiador ou filósofo pressentiu, em seus escritos, a marcha futura dos acontecimentos que se veem realizar atualmente. […] Mas, frequentemente também, ela é o resultado de uma clarividência especial…” Sobre o futuro, o Codificador também alerta que “a fraternidade será a pedra angular da nova ordem social, mas não há fraternidade real, sólida e efetiva sem estar apoiada sobre uma base inabalável. Essa base é a fé; não a fé em tais ou quais dogmas particulares que mudam com o tempo e os povos e que se apedrejam mutuamente…”

Portanto, Kardec pondera que “a época atual é a da transição: os elementos das duas gerações se embaralham. Colocados no ponto intermediário, presenciamos a partida de uma e a chegada da outra, a cada qual se distingue no mundo pelas características que lhe são próprias.” Na sequência, tece considerações sobre a “nova geração marchará para a realização de todas as ideias humanitárias compatíveis com o grau de adiantamento ao qual tenha chegado. […] A nova geração, devendo fundar a era do progresso moral, distingue-se por uma inteligência e uma razão geralmente precoces, somadas ao sentimento inato do bem e das crenças espiritualistas. É o sinal incontestável de um certo grau de adiantamento anterior.”

Interessante notar que Kardec dá mais importância às transformações morais e espirituais do que às alterações físicas cíclicas de nosso orbe.

Em histórica obra elaborada antes da eclosão da 2ª Guerra Mundial, Emmanuel discorre sobre o porvir, de uma forma bem geral, analisando no capítulo “A América e o futuro” alguns aspectos como: “Em torno dos seus celeiros econômicos, reunir-se-ão as experiências europeias, aproveitando o esforço penoso dos que tombaram na obra da civilização do Ocidente para a edificação do homem espiritual, que há de sobrepor-se ao homem físico do planeta, no pleno conhecimento dos grandes problemas do ser e do destino. […] Nos campos exuberantes do continente americano estão plantadas as sementes de luz da árvore maravilhosa da civilização do futuro.” E surgem algumas anotações sérias sobre o futuro da Humanidade: “Mas é chegado o tempo de um reajustamento de todos os valores humanos. Se as dolorosas expiações coletivas preludiam a época dos últimos ”ais” do Apocalipse, a espiritualidade tem de penetrar as realizações do homem físico, conduzindo-as para o bem de toda a Humanidade. […] O cajado do pastor conduzirá o sofrimento na tarefa penosa da escolha e a dor se incumbirá do trabalho que os homens não aceitaram por amor. Uma tempestade de amarguras varrerá toda a Terra. […] Condenada pelas sentenças irrevogáveis de seus erros sociais e políticos, a superioridade europeia desaparecerá para sempre, como o Império Romano, entregando à América o fruto das suas experiências, com vistas à civilização do porvir. Vive-se agora, na Terra, um crepúsculo, ao qual sucederá profunda noite; e ao século XX compete a missão do desfecho desses acontecimentos espantosos.”

As anotações de Emmanuel são, no geral, coerentes com textos evangélicos: “No mundo tereis grandes tribulações, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (João, 16,33). O versículo seguinte, no entendimento espírita, pode ser interpretado como intensos intercâmbios com o “céu aberto”, ou seja, manifestações de ordem espiritual: “Na verdade, na verdade vos digo que daqui em diante vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem” (João, 1, 51).

A essa altura, são cabíveis as advertências registradas no Novo Testamento com relação aos “falsos profetas”. Entre outras: “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas,… Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? […] Portanto, pelos seus frutos os conhecereis (Mateus, 7, 15, 20).

As interpretações deturpadoras e alarmantes de profecias e previsões de domínio público e ainda outras que são atribuídas a médiuns já desencarnados muitas vezes causam inseguranças e temores. Isso sem se discutir a questão doutrinária e a coerência do perfil e das obras públicas dos eventuais envolvidos.

Sobre isso, Emmanuel analisa em tom esclarecedor: “[…] em sobrevindo a divisão das angústias da cruz, muitos aprendizes fogem receando o sofrimento e revelando-se indignos da escolha. Os que assim procedem, categorizam-se à conta de loucos, porquanto, subtrair-se à colaboração com o Cristo, é menosprezar um direito sagrado.”

Em entrevista concedida a Fernando Worm (Janela para a vida) Chico Xavier atribui a Emmanuel a resposta a questão sobre o futuro da humanidade daqui um milênio: “Com a cooperação do homem, a Divina Providência, no curso de um milênio, pode esculpir primores indefiníveis de paz e amor, progresso e união para a Humanidade”.

E, finalmente, para os novos crentes na “parusia” – que ainda aguardam um retorno do Cristo -, Emmanuel anotou de forma clara: “Os homens esperam por Jesus e Jesus espera igualmente pelos homens.”

Nessas rápidas pinceladas sobre o polêmico tema profecias, entendemos que merece ser estudado e analisado com base nas Obras Básicas da Codificação e aquelas que são coerentes e complementares às mesmas. Há necessidade de bom senso e fundamentação em conhecimentos científicos atuais e, no nosso caso, fidelidade às obras de Allan Kardec. O pouco estudado livro A Gênese, deve merecer mais atenção na seara espírita!

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“O progresso da Humanidade tem seu princípio na aplicação da lei de justiça, de amor e de caridade, lei que se funda na certeza do futuro” – Allan Kardec (LE, Conclusão IV).

Referência:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Base para interpretação das profecias. Revista Internacional de Espiritismo. Ano XCIV. N. 7. Agosto de 2019. p. 370-372.