Reunião Gênesis com Honório Abreu

Reunião Gênesis com Honório Abreu (*)

1 No princípio, Deus criou os céus e a terra. 2 A terra era sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. 3 Deus disse: Haja luz. E houve luz. 4 Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. 5 Deus chamou a luz de Dia e as trevas de Noite. Foi a tarde e a manhã: o primeiro dia. 6 Deus disse: Haja uma expansão no meio das águas, e haja separação entre águas e águas. 7 Deus fez a expansão e separou as águas que estavam debaixo da expansão das águas que estavam sobre a expansão. E assim foi. 8 Deus chamou a expansão de Céu. Foi a tarde e a manhã: o segundo dia. 9 Deus disse: Ajuntem-se as águas debaixo do céu num só lugar, e apareça a porção seca. E assim foi. 10 Deus chamou a porção seca de Terra e ao ajuntamento das águas chamou Mares. E Deus viu que era bom”. (Gênesis, 1: 1 a 10).

Antes de entrarmos na análise específica, podemos destacar alguns pontos ou explorar novos aspectos. O texto sugere um caminho evolutivo para nossa análise, focando em dois pontos principais: Matéria e Espírito.

Nosso estudo se concentrará na evolução do Espírito. Se fosse apenas de forma linear, talvez não pudéssemos nos reunir com tanta intensidade, mas para Deus, podemos formar uma boa biblioteca em casa para estudar. O plano interativo que mencionei agora é sobre valorizar e buscar consciência em nossa presença neste grupo, não apenas pela troca de informações, mas também pelo enriquecimento do campo intelectivo e ajustes no campo do sentimento.

Queremos trabalhar com caracteres de ordem moral, que não são transmitidos apenas pela verbalização exterior, mas por uma linha sutil que envolve campos magnéticos e vibracionais. Existem ângulos em nosso levantamento das faixas de atração que usamos a expressão “pântano”, referindo-se à atração do interesse inferior no campo da vida. Valores informativos são válidos, mas o que realmente pesa no campo interativo são os caracteres de ordem moral. Se você conseguir um instrumento para me tirar do pântano, eu preciso alterar meu sentimento para ficar mais leve. Não adianta usar um guindaste que levanta 10 toneladas para me tirar; preciso lutar para ficar mais leve. A atração e repulsão no reino mineral, molecular e atômico funcionam nas linhas profundas do espírito. Podemos nos livrar dos pesos da vida física com instrumentalidades aliadas, mudando o peso de uma célula ou molécula perispirítica por linhas morais, desprendendo material inútil. A involução que queremos estudar toca na área dos caracteres de ordem moral, que é o que Jesus propõe.

Entramos no Apocalipse como um desafio, chegando ao natural. Os Espíritos podem nos olhar com compaixão, mas estão felizes com os 3% que conseguimos captar. Isso é o que importa, pois as condições são de ordem intrínseca. O que importa é que o Espírito evolui.

Para implementar essa evolução, o Espírito utiliza a Matéria como instrumento. A Matéria, ao mesmo tempo que é usada pelo Espírito, exerce sua ação. Na questão 22 do Livro dos Espíritos, a definição de matéria é: “A matéria é o laço que prende o espírito”. Esse laço realmente prende! O conhecimento nos fornece instrumentos externos, enquanto a mudança moral cria um processo de sutilização do nosso íntimo, permitindo-nos desprender do véu. A Matéria também apresenta uma linha evolutiva, que não é exatamente evolução, mas alterações em suas linhas básicas. Por exemplo, a série estequiogênica ou estequioquímica, que vai do hidrogênio ao urânio, mostra diferenças nos átomos. Moléculas ajustadas de forma diferente oferecem sinais distintos. Alterações nos valores intrínsecos do oxigênio e hidrogênio podem criar uma água tóxica, apenas mudando o número de partículas.

Essas alterações visam a evolução do Espírito. A evolução continuará sendo trabalhada de fora para dentro até que decidamos inverter a direção, de dentro para fora. Doenças podem nos acometer por passarmos por regiões contaminadas.

Utilizando o conhecimento doutrinário espírita, trabalhamos em um conteúdo que não é detectado pelos olhos ou ouvidos físicos. Escutamos, mas não ouvimos; vemos, mas não enxergamos. No campo simbólico das ações passadas, quem não penetra com objetividade fica tomando água transportada pelos outros.

Os grandes orientadores não falam tudo, pois o aluno só aprende aquilo que descobre por si mesmo. Grandes sábios, quando conhecem profundamente, calam. Eles têm outra sistemática. Muitas vezes, algo dito há anos só é compreendido muito tempo depois.

O trabalho didático que fazemos aqui visa induzir. Educar é a arte de formar caracteres e representa o conjunto dos hábitos adquiridos. Educar é despertar potenciais do indivíduo. Queremos colocar sistemas no coração dos aprendizes, mas o potencial é algo que vem da origem. No plano descendente da evolução, ele não tem consciência, ele é inconsciente. Mas isso foi registrado! E essa consciência surgirá na luta evolutiva de baixo para cima que ele experimentará.

(P)1 – … é muito mais indutivo…

(H)2 – Agora, precisamos considerar o seguinte. Eu preciso ter uma visão consciente dessa observação do mundo. Todos nós aqui estamos engajados em um mundo melhor, não estamos? Campanhas e campanhas por um mundo melhor. Os próprios Espíritos dizem: • Estamos a caminho… De onde? Da Regeneração! Sabe por que essa explicação? Ou por que esse investimento é feito com tanto carinho pela Espiritualidade que sentimos essa necessidade? Porque uma grande parcela dos que estão sofrendo agora e cultivando o sofrimento com todo carinho, devido à falta de visão, estão atrasados em sua melhoria.

Caso contrário, não estariam preocupados com um mundo regenerado! Sabe por que não estariam preocupados? Porque há uma fase da nossa evolução em que o indivíduo brutal, com uma arma na mão, elimina 10, 15 pessoas, e os Espíritos apenas observam! E ele fica lá, limpando sua lâmina, para ver se há mais alguém! É evolução. De um lado e do outro. Vocês entendem? Há fundamentação moral para culpar? Não! Isso é de quem pode mais! Evolução! Por que ele precisa correr para a Regeneração?

Vocês entenderam? Não há necessidade de preocupação, porque ele está vivendo sua vida! Agora, se há uma luta e nada está acontecendo, é porque estamos cansados de insistir nisso. Leia no livro “O Evangelho” sobre a questão do duelo, lembra do Kardec? Não há mais duelos com espadas, mas estamos nos enfrentando de cabeça baixa! Assim, ficam brigando os dois. Um de um lado, o outro do outro. Um com enxaqueca, o outro com gastrite. Por causa da luta entre eles. Já poderiam estar na Regeneração há séculos! Por isso estamos apressados com a Regeneração. Porque não podemos apressar o habitat das pessoas; colocar cada um no ambiente que precisa. Agora, alguns têm o ambiente que precisam, mas, • Ah, vem cá! Mas até hoje? Ainda precisa disso! Porque, na realidade, Marlene, precisamos lutar no sentido natural do progresso! Para sermos felizes! É nesse sentido. Você pode não entender. Não estou contrariando o que você trouxe, apenas dizendo que precisamos lutar para estarmos ajustados ao mundo com naturalidade, refletindo com carinho o pensamento superior.

(P) – Será que é por isso que, diante do meu irmão, meu próximo, estou ficando seca…

(H) – Sem dúvida. Houve uma reciclagem no seu campo de análise interior, de meditação, de reflexão, e você concluiu que não é por aí. Mas o conhecimento que temos, ele encontra lá, deixa pra lá. Quando dizemos a uma mãe, que traz um caso difícil de um filho dependente de drogas, que está tirando tudo de casa, infelizmente, temos esses casos, não temos? Eu costumo dizer o seguinte: entregue as armas! Levante a toalha branca, para o seu coração, não para ele! Agora, há uma diferença entre abrir o coração e esperar que ele faça seu curso e volte no campo evolutivo, e largar pra lá! Porque largar pra lá (eu não disse isso, eu disse entregar as armas, continue com elas), é uma questão complicada. Vocês não têm ideia do que há por trás de um coração que amamos. Tem gente sofrendo muito por aí! Por isso, às vezes, fazemos até extravagâncias no contexto em que vivemos. Não fazemos? Quem está de fora até entra na…

(P) – … e como é esse largar pra lá?

(H) – Saia da luta! Chegou em casa à meia-noite! Você sabe de onde ele está vindo! Não sabe? Aí começa uma briga daquelas! Não é isso? Aí um vai dormir, e o outro pode até sair para a rua novamente e cometer um crime. E a pessoa até perde o sono. Quando a campainha tocou e ele entrou, você pensou: “Oh Deus! Que ele seja feliz…”. Assim que você começa a orar, sinta a questão assistencial. Se você ainda não fez isso, aprenda! “Senhor, ajuda meu filho”. Não é assim? Ou, “que minha filha seja protegida”. E ore. Não é assim que fazemos? Mas chega um ponto em que dizemos: “Meu Deus, se acontecer algo com ele, que seja o mais brando possível”. A prece mudou? Não! Deixou de ser uma prece? Não! O ideal é que nada aconteça, mas se acontecer, que seja mais brando. Porque a vida é dele! Queremos enquadrar a pessoa em uma linha de vida que não foi a nossa! Sabe por que queremos fazer isso? Não é porque aprendemos com o evangelho. É porque passamos por aquelas confusões e pensamos: “Meu Deus! Se ele passar por aquilo, ele não vai aguentar! Eu aguentei! …”. A evolução é séria! Precisamos ter uma visão clara! Por isso a doutrina espírita é de uma riqueza inimaginável.

(P) – Nessa questão do livre-arbítrio, em determinados momentos… em que há expansão, não temos mais liberdade. É nesse momento que ativamos o crescimento?

(H) – Sem dúvida. Quando você percebe que algo se abriu para você, e você pensa “eu vou fazer isso” e faz, estão dando ou fazendo concessões, alvará para você. Porque você adquiriu melhores condições e, vamos dizer, a probabilidade de acertar e administrar o processo. É assim que entendemos. Agora, infelizmente, seguimos muito pela linha teórica que adotamos, e outros pela confiança que temos e certeza que naturalmente precisamos alinhar.

(P) -…ao evangelho…

(H) – A expressão usada, de algum modo, lá no fundo, tem razão de ser. Agora, é preciso ter cuidado para não criar uma imagem diferenciada. Quando Emmanuel fala e as entidades nos orientam a domar a instintividade, quase sempre utilizam a instintividade seguida do que é animalizada. Os instintos animalizados são uma coisa. Os instintos no automatismo são outra. Então, nunca posso ganhar espontaneidade, em termos de disciplina, para não incentivar ou criar um processo instintivo dos conceitos que alimento. Não sei se vocês entenderam. Não é isso? Agora, vou chamar de instinto, porque instinto é uma inteligência embrionária na conceituação de Kardec. Então, o que ocorre? Precisamos automatizar nossa forma de interagir com as pessoas. Quando começamos a notar que nossas reações são mais suaves…

Notas:

 [1] (P) – perguntas ou comentários formulados ao palestrante.

[2](H) – respostas do palestrante.

(*) Transcrição da Reunião Gênesis com Honório Abreu – 1a parte – 17/05/2006. Distribuída por: Cláudio Fajardo de Castro. Extraído de (copie e cole): https://espiritismoeevangelho.blogspot.com/

OBS:

Honório Abreu (1930-2007) foi presidente da União Espírita Mineira; um dos criadores e divulgador do método de estudo “miudinho”; autor do livro “Luz imperecível” (UEM, 2001).

Independência e cidadania

Independência e cidadania:

A propósito das evocações da data nacional da Independência do Brasil. é oportuna a transcrição de artigo – abaixo:

CIDADÃO ESPÍRITA CONSCIENTE

Aylton Paiva 

Já estamos nos aproximando da data em que seremos convocados, ao exercício da democracia, e depositar nossos votos para a escolha dos dirigentes políticos administrativos dos Poderes Legislativo e Executivo na esfera municipal.

Trata-se de momento de exercitar nossos deveres políticos e partidários: uns candidatando-se a ocupar os cargos de vereadores e prefeitos; outros a obrigação legal de escolher e votar nos candidatos que se apresentarem ao pleito.

Entre pessoas que se dizem espíritas, alguns não gostam de participar desse certame e mesmo argumentam que o espírita não deve se imiscuir na política.

Será que, verdadeiramente, essa é a posição da Doutrina Espírita?

Vamos, então, à sua fonte: O Livro dos Espíritos, codificado por Allan Kardec.

Nele encontramos seguras diretrizes para analisarmos essa questão. Para tanto, iremos até a sua 3ª Parte – Das Leis Morais, no capítulo VII – Da lei de sociedade. 

Na questão nº 766, Allan Kardec indaga:

"A vida social está em a Natureza? Respondem os Mentores Espirituais: Certamente. Deus fez o homem para viver em sociedade. Não lhe deu inutilmente a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação (social) parêntese nosso) Já comentamos: “Torna-se evidente que a pessoa tem um compromisso com a sociedade em que vive.”

Mais adiante Allan Kardec questiona a motivação para essa convivência, na questão nº 768:

“Procurando a sociedade, não fará o homem mais do que obedecer a um sentimento pessoal, ou há nesse sentimento algum providencial objetivo de ordem mais geral? “ A resposta é clara é precisa:” O homem tem que progredir. Insulado não lhe é isso possível, por não dispor de todas as faculdades. Falta-lhe o contato com os outros homens. No insulamento ele se embrutece e estiola.”

Por isso a História nos mostra, desde os primórdios, os seres humanos se aglutinando e formando grupos, tribos e comunidades. A civilização ocorre justamente pela organização cada vez melhor desses grupos, surgindo, então as diversas formas de administração dessas organizações sociais. A estrutura melhor organizada, embasada em leis justas e equânimes, se revela nas sociedades democráticas. Nessas, o sistema eleitoral, com base no voto dos cidadãos é fundamental na escolha dos dirigentes dos Poderes Legislativo e Executivo.

O Espiritismo demonstra, que o espírita não pode se omitir no cumprimento do seu dever cívico, político, participando como eleitor, ou mesmo, se para tal vocacionado, na concorrência aos cargos eletivos, tendo sempre como objetivo maior o Bem comum.

Referências:

(1) Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Capítulo VII – Da lei de sociedade.

(2) Aylton Paiva. Espiritismo e política – Contribuições para a evolução do ser e da sociedade. Capítulo 7 – A sociedade na perspectiva espírita. Editora FEB.

Chico Xavier em programas e família de Sílvio Santos

Chico Xavier em programas e família de Sílvio Santos

    

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Nos momentos das homenagens ao grande comunicador Sílvio Santos, recém desencarnado, reapareceram na mídia fotos de Chico Xavier, presente em programa de Sílvio.

Interessante destacarmos que Sílvio Santos era judeu convicto e sempre mantendo uma postura neutra e respeitosa em seus programas com todas as religiões e suas lideranças.

Recordando: no dia 06 de março de 1970, Chico Xavier participou do concorrido programa “Cidade Contra Cidade”, representando a cidade de Uberaba, e apresentado por Sílvio Santos na extinta TV Tupi, tendo havido uma entrevista. Inclusive há vídeo integrando o DVD “Saulo Gomes entrevista Chico Xavier”.1

Um fato curioso ocorreu no seio da família de Sílvio Santos. Trata-se do depoimento que surgiu no podcast “Paranormal Experience”, onde a apresentadora Sílvia Abravanel, filha de Sílvio Santos, revelou que o médium Chico Xavier afirmou que ela seria a reencarnação de uma cunhada de Sílvio Santos, irmã de Maria Aparecida Vieira, a primeira esposa do empresário e dono do SBT: "Um dia a minha avó resolveu perguntar sobre a filha dela, que era a irmã mais velha da minha mãe […] Aí, o Chico falou: 'Ela está ali.' E quem estava sentada naquela sala era eu, que estava brincando. Minha avó falou: 'Ali onde?' e ele respondeu: 'A sua neta é a encarnação da sua filha'", detalhou Sílvia.2 Conforme foi repercutido pelo site Terra, Sílvia Abravanel também acrescentou que, quando criança, chamava a avó de "mãe" e sua mãe de "mãe Cidinha". Interessante é que Sílvia chegou ao lar de Sílvio Santos e Cidinha como uma filha adotada recém-nascida.

Dez anos após a desencarnação, a vida e obra Chico Xavier vieram à tona pela SBT, canal de TV criado e administrado por Sílvio Santos, no programa “O Maior Brasileiro de Todos os Tempos”. Esse programa, gênero jornalístico exibido pela SBT, foi lançado no dia 11 de julho de 2012 e apresentado em doze edições pelo jornalista Carlos Nascimento. Era inspirado no programa britânico “100 Greatest Britons” da emissora BBC, que também colaborou na produção do programa. O objetivo do programa da SBT foi "eleger aquele que fez mais pela nação, que se destacou pelo seu legado à sociedade". Depois das disputas em torno de dezenas de notáveis vultos do país, o vencedor indicado como o maior brasileiro de todos os tempos vencendo lideranças históricas, políticas, artísticas e esportivas. Na transmissão final aos 03 de outubro de 2012 Chico Xavier com 71,4% dos votos superou Santos Dumont e Princesa Isabel, que também disputaram a final do programa.3

Fontes:

1) Cidade contra cidade, 1970: http://www.dvdversatil.com.br/saulo-gomes-entrevista-chico-xavier/

2) Depoimento de Sílvia Abravanel: https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/chico-xavier-fez-importante-revelacao-para-a-familia-de-silvio-santos,ff431772a1d5cf8bcec00b5181cc0087b1lgzylw.html?utm_source=clipboard

3) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Chico Xavier. O homem, a obra e as repercussões. Cap. 2.9. São Paulo: USE-SP, Capivari: EME. 2019. DE: https://www.facebook.com/gestudoschicoxavier

Política, Politicalha e o Movimento Espírita

Política, Politicalha e o Movimento Espírita

Aylton Paiva

“O espiritismo não cria a renovação social, a madureza da humanidade é que fará dessa renovação uma necessidade. Pelo seu poder moralizador, por suas tendencias progressistas, pela amplitude de sua vista, pela generalidade das questões que abrange, o Espiritismo é mais apto, do que qualquer outra Doutrina, a secundar o movimento de regeneração, por isso é ele contemporâneo desse movimento Surgiu na hora em que podia ser de utilidade, visto que também para ele os tempos são chegados.” ( A Gênese, de Allan Kardec, capítulo XVII, item 25).

Ao longo dos séculos e milênios a sociedade vem se aprimorando, conforme a evolução dos cidadãos e cidadãs que a compõem. Na atualidade, a forma mais evoluída de organização é a democracia. A democracia se estrutura e organiza com base na política partidária. Daí a importância de termos conhecimento sobre o termo política, que tem vários significados. Precisamos distinguir as diversas acepções do termo política:

Política:

A Ciência e a arte da administração pública para o Bem comum.

Política Partidária:

No regime democrático republicano, a organização de grupos que refletem as ideologias do liberalismo e do socialismo, em suas várias nuances, que, legalmente, inscrevem seus candidatos à votação popular para os cargos nos Poderes Legislativo e Executivo, em seus níveis: municipal, estadual e federal. Os eleitos, por maioria de votos para os cargos no poder executivo de: vereadores, deputados estaduais, distrital, federal e senador; nos cargos do poder legislativo: prefeito, governador de estado, governador do distrito federal e presidente da república. Política Partidária Legislativa ou Executiva: quando o político partidário é eleito para o cargo e passa a exercer as funções legislativas ou executivas atribuídas ao referido cargo.

“Politicalha”:

é quando a organização partidária (partido político) ou o político partidário, no exercício do cargo, têm condutas antiéticas ou mesmo criminosas em seus atos no âmbito de suas ações nos exercícios dos seus cargos nos poderes legislativo ou executivo. Essa qualificação está muito longe da Política e mesmo da Política Partidária, no seu sentido legal.

A Política no Centro e Movimento Espírita:

a Política que pode ser tratada nos centros espíritas e no Movimento Espírita é a Política, no primeiro sentido. Essa deve ser estudada porque ela consta na 3ª Parte de O Livro do Espíritos, de Allan Kardec, especialmente nos capítulos Da lei de sociedade, Da lei do progresso, Da lei da igualdade, Da lei de liberdade e Da lei de justiça, de amor e de caridade. Elas trazem informações sobre a organização da sociedade de forma justa, solidária e fraterna, conforme a Ética da Filosofia Espírita. A segunda, Política Partidária pode, didaticamente, ser explicada em reuniões de estudos do centro espírita, sem qualquer viés político-partidário, por pessoas que tenham o necessário conhecimento sobre o assunto.

Efetivamente, os temas: Política Partidária, Política Partidária Legislativo ou Executiva podem ser tratadas, sem conotação com ideologias de partidos: da direita à esquerda, ou mesmo de candidato a cargos que seja espírita. As pessoas precisam ser esclarecidas como elas participam (na maioria, inconsciente) e devem participar da sociedade no exercício da sua cidadania, destacando-se a responsabilidade de ser eleitor.

A propaganda política partidária não pode, nem deve, ser tratada no âmbito do centro e do Movimento Espírita. Tanto quanto candidato a cargo político partidário usar a tribuna do centro espírita para fazer sua propaganda ou do seu partido, isso ele deve fazer fora do centro espírita.

Esses temas são tratados por mim no livro: Espiritismo e Política: contribuições para a evolução do ser e da sociedade (Editora FEB). É um livro de estudo da aplicação de As Leis Morais (L.E.) no ser e na sociedade. Há um capítulo específico onde é tratada a: Participação política do espírita: como ele NÃO deve participar e como ele DEVE participar.

As Olimpíadas “sob o Céu de Paris”

As Olimpíadas “sob o Céu de Paris”

Antonio Cesar Perri de Carvalho

A mídia polarizou nossas atenções no dia 26 de julho com a transmissão da abertura dos 33o Jogos Olímpicos, em Paris.

As imagens impactantes fizeram-nos mergulhar em lances de espectador maravilhado e com inúmeras evocações históricas.

Veio em nossa mente a famosa canção de Edith Piaf: “Sob o céu de Paris”. Alguns trechos são marcantes e se relacionam com a cerimônia do trajeto fluvial evocativo da história do humanismo, cultura, política, arte, e, tudo com toques variados cheios de surpresas, sincronicidade e muita beleza:

“Sob a ponte de Bercy/ Um filósofo sentado,[…] Dois músicos, alguns curiosos,/ e também milhares de pessoas […] Vão cantar até de noite/ O hino de um povo apaixonado/ Por sua velha cidade/ Por nossa Ilha Saint Louis/ E quando ela lhe sorri/ […] Perto da Notre Dame/ Por vezes se trama um drama/ […] Alguns raios do sol de verão/ […] O acordeom de um marinheiro/ A esperança floresce/ […] Corre um alegre rio/ E o céu de Paris/ Tem seu próprio segredo/ […] E o céu de Paris/ Tem seu próprio segredo/ Há vinte séculos ele está apaixonado/ […] Mas, o céu de Paris não fica por muito tempo cruel/ Para se fazer perdoar, ele oferece um arco-íris”.

O desfile pelo rio Sena das embarcações com as delegações animadas pelo espírito olímpico, de respeito à diversidade das nações, oferecia uma ideia de fraternidade.

Simultaneamente muitas encenações e apresentações artísticas ao vivo refletiram tendências da sociedade francesa para convivência com a diversidade social e o multiculturalismo.(*)

Ficou bem evidenciado o respeito e homenagem aos atletas olímpicos franceses, veteranos e portadores de medalhas de vários Jogos.

Em vários momentos veio à tona o lema: “liberdade, igualdade, fraternidade”! E no seio da nação onde ele surgiu.

Com inovações inimagináveis e emprego de muita tecnologia, o espetáculo de abertura e a transmissão mundial, foi o maior espetáculo que tivemos o privilégio de assistir.

De nossa parte não podemos olvidar o papel espiritual representado em terras francesas, entre muitos vultos, por Joana D’Arc, Allan Kardec e o apaixonado “celta” Léon Denis.

Cremos que nossas observações ficam robustecidas com as anotações de Emmanuel (A caminho da luz, FCX):

“O próprio instinto democrático da Inglaterra e da França, bem como as suas elevadas obras de socialização, ainda representam frutos da missão educativa do Império, no seio da Humanidade. […] A Inglaterra e a França preparam-se para a grande missão democrática que o Cristo lhes conferira. […] a célebre Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, uma série de reformas se verifica em todos os departamentos da vida social e política da França. […] França ensaia os passos definitivos para a sabedoria e para a beleza.”

No triunfal encerramento do espetáculo, do alto da Torre Eiffel ecoou o “hino ao amor”, de Edith Piaf. Oportuna inspiração.

Fazemos votos que a mensagem inteligentemente elaborada para essa cerimônia – valores históricos, sabedoria, cultura, arte, respeito, beleza – (liberdade, igualdade, fraternidade), sensibilize corações em todo o mundo para os esforços pela paz.

(*) A diversidade que nos referimos não representa endosso nosso a todas as apresentações, algumas até desrespeitosas como a representação sobre a chamada "santa ceia".

Leopoldo Cirne: das propostas idealísticas às injustiças e a superação

Leopoldo Cirne: das propostas idealísticas às injustiças e a superação

          

 Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Em obra lançada em janeiro de 2024, Leopoldo Cirne. Vida e propostas por um mundo melhor, surge o primeiro registro completo sobre sua vida e obra, fundamentado em fontes primárias. Uma biografia com informações e ilustrações inéditas sobre Leopoldo Cirne (13/04/1870-31/07/1941), sobre sua juventude em Recife, o casamento, viuvez e perda de filhos gêmeos recém-nascidos. Seguindo-se depois sua romagem e ações espíritas na então capital do país.

No Prefácio, Luciano Klein (historiador e biógrafo, ex-presidente da Federação Espírita do Estado do Ceará), comenta: “Cesar revela-nos, de forma clara e direta, com nuanças encantadoras, a ação missionária de Leopoldo Cirne, permitindo, destarte, tornar conhecido das gerações futuras, o nome do ex-presidente da FEB. […] este o mais completo resgate biográfico a respeito do sucessor de Bezerra de Menezes. […] emergem fortes sinais de contextos de incompreensões, vinculados a momentos de paixão por algumas ideias e posturas”.

Embora referido como presidente da Federação Espírita Brasileira (1900-1914) e sucessor de Bezerra de Menezes, o notável vulto foi protagonista de ações e propostas de união, divulgação e educação, geralmente não divulgadas nos meios espíritas. Como presidente da FEB, promoveu o Congresso de Comemoração do Centenário de Allan Kardec (1904), quando apresentou o texto “Bases de Organização Espírita”, discutido e aprovado por “delegados” que representavam os espíritas de diversos Estados brasileiros. Foi o primeiro documento com propostas de ação e de criação de federações estaduais e com recomendações de implantação: de aulas de humanidades na sede das instituições, com conteúdo de português, francês, aritmética e filosofia (moral), como já realizava na sede da FEB, no Rio de Janeiro; de Escolas de Médiuns, com base em O livro dos médiuns, para o preparo com o conhecimento da doutrina, para sua maior segurança antes de se aplicarem ao exercício de seus dons.

Leopoldo Cirne trabalhou decisivamente para conseguir um imóvel próprio para a FEB e construiu a sede, inaugurada em dezembro de 1911. Atualmente é chamada Sede Histórica, localizada no centro da cidade do Rio de Janeiro.

Interessante, que um autodidata em áreas de humanidades, traduziu duas obras de Léon Denis para o português: No invisível e Cristianismo e espiritismo. Diferente das ações na época centralizadas na “assistência aos necessitados” na FEB, Cirne acalentava outras propostas, envolvendo a instrução elementar ou secundária, e, a criação dos então designados asilos.

Em razão de fortes desentendimentos doutrinários com lances de atitudes extremistas, no núcleo de seguidores dos livros de interpretação evangélica de Roustaing – aliás obras polêmicas e em geral não aceitas -, e de reações em desacordo com propostas de ações, Leopoldo Cirne foi traumaticamente afastado da FEB, na eleição de 1914. Localizamos “cartas abertas” distribuídas por seus oponentes – companheiros de diretoria -, e a estratégia que empregaram para não reelegê-lo e mantê-lo distante da Federação que ele dirigiu com dedicação e entusiasmo.

O prefaciador Klein no lançamento de nosso livro afirmou: “Leopoldo Cirne deveria ser colocado num panteão dos injustiçados”.

Analisamos e sintetizamos seus livros, principalmente Anticristo. Senhor do mundo e O homem, colaborador de Deus, que contém depoimentos sobre sua experiência de vida, incluindo o cenário da crise de seu desligamento da FEB e a continuidade de suas atividades com exemplos de superação daqueles tormentosos momentos.

Cirne apoiou ações iniciais voltadas à evangelização da infância e durante sua gestão, a revista Reformador, publicou matérias sobre o “evangelho das crianças”. Mantinha amizade com Manuel Vianna de Carvalho (1874-1926) e, com ele, foi um dos estimuladores para a implantação da evangelização infantil na FEB, concretizada em meados de 1914, quatro meses após a saída de Leopoldo da Instituição.

Era admirador do trabalho de Anália Franco (1853-1919), responsável pela fundação de mais de uma centena de escolas, asilos para crianças órfãs, albergues, colônia regeneradora para mulheres, ações artísticas e oficinas para artesanatos em cidades do interior e da capital do Estado de São Paulo. Em função do interesse por obras tipo asilos é que, depois de afastado da FEB, Cirne foi convidado e proferiu a palestra na inauguração do Abrigo Thereza de Jesus, no Rio de Janeiro, no ano de 1919.

Nas ações doutrinárias, desenvolvia propostas diferenciadas para a época, que aparecem em palestras e troca de correspondências citadas no jornal O clarim, fundado por Cairbar Schutel em Matão (SP), que prosseguiu divulgando matérias sobre Cirne.

Após a desencarnação de Cirne, sua segunda esposa conhecida pelo apelido Marietta, providenciou a publicação de livro ele que deixou elaborado, O homem colaborador de Deus, e convidou um amigo de Cirne, Leoni Kaseff (1900-1986), para redigir o Prólogo. Este, um intelectual conhecido pelas propostas pioneiras para atenção aos superdotados, incluída na Reforma do Ensino Primário, Profissional e Normal do Estado do Rio de Janeiro. Anota sobre Cirne: “uma vida tão devotada à virtude e à verdade, quão cheia de edificantes exemplos e de inspiradas produções doutrinárias, manteve produtiva a sua prodigiosa operosidade intelectual; […] A doutrina que professava era por ele realmente vivida”.

Em O homem, colaborador de Deus, Cirne desenvolve autêntica tese sobre a relação do homem com Deus. Realça a “missão dos educadores”, “a educação integral” e a “ampliação do horizonte intelectual dos educandos”; destacamos sua frase: “o que falta realmente ao homem contemporâneo é o sentimento, não apenas a notícia, de seus destinos superiores, fundado na inabalável certeza de Deus e na maravilhosa perfeição de suas leis”.

No final, apresentamos transcrições de mensagens do espírito Leopoldo Cirne e relatos sobre sua atuação, registradas por diversos espíritos, pelas psicografias de Chico Xavier e Waldo Vieira, que apresentam coerência com os objetivos, experiências de vida e pensamentos expressos em artigos e livros enquanto encarnado.

A experiência de vida e a obra de Leopoldo Cirne, seus notáveis predicados morais, intelectuais e nobres ideais, constituem-se em subsídio para a análise e reflexão sobre a trajetória, o estado atual e as perspectivas do Espiritismo.

Fonte:

Carvalho, Antonio Cesar Perri. Leopoldo Cirne. Vida e propostas por um mundo melhor. São Paulo: CCDPE-ECM/Araçatuba: Cocriação. 2024. 200p.

(*) Foi presidente da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo e da Federação Espírita Brasileira, e, membro da Comissão Executiva do Conselho Espírita Internacional.

(Síntese de: Carvalho, Antonio Cesar Perri. Leopoldo Cirne: from idealistic proposals to injustices and overcoming them. The spiritist magazine. SSVa/USA. Vol.16. Is.65. April-June, 2024. P.38-41).

Apelo à vida em mensagem

Apelo à vida em mensagem

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Interessante e oportuna mensagem surgiu em alusão ao lema "Liberdade, igualdade, fraternidade" e evocando momento histórico francês:

“Neste 14 de julho, lembramos a pátria francesa que, nesta data, comemora a libertação do antigo regime. Um bom fruto da Revolução Francesa foi a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que quase um século e meio mais tarde, inspirou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, pela ONU. Neste importante documento, em destaque está o direito à vida. Na Pátria do Cruzeiro, que alberga muitos antigos atores da Revolução Francesa, o direito à vida, a reencarnar, não pode ser abalado. Somos todos iguais, filhos do mesmo Pai e, a partir da experiência reencarnatória, voltamos à arena das formas, numa oportunidade valiosa, a nós concedido pelo mesmo soberano Senhor. Vivamos sob esse estandarte, o da valorização da vida, fazendo, quando convidados a nos pronunciarmos, a mesma profissão de fé, em favor da vida, sempre. Que Deus nos abençoe e nos fortaleça. Antonie, servidor da falange do rei São Luís, de França. (Mensagem psicografada por Hélio Ribeiro Loureiro, no dia 14/07/24, durante visita ao Grupo Espírita “Luz e Vida”, em Cachoeiras de Macacu, RJ).”

Na oportunidade, destacamos o alerta espiritual sobre “o direito à vida, a reencarnar”.

A mídia tem informado sobre os embates políticos em vários países com o objetivo de se liberar aborto.

Em nosso país, há discussões em níveis legislativo e jurídico para se ampliar consideravelmente a legalização do aborto, além de limites já previstos na legislação brasileira.

Documentos e manifestações em defesa da vida em todas suas etapas, desde a concepção até à morte natural, vieram à tona chancelados pelo Conselho Federativo Nacional da FEB, durante as gestões de Juvanir Borges, Nestor Masotti e na nossa gestão, como: “Em defesa da vida” e “Viver em Família”; incluindo a edição de opúsculos em conjunto com as Associações Médico Espírita e a de Magistrados Espírita; parcerias em ações com a Associação Jurídico Espírita; com o Movimento Nacional da Cidadania pela Vida – Brasil sem Aborto, gerando manifestações públicas e enormes Marchas em vários Estados; e, visitas a dirigentes das três esferas federais de poder (Carvalho, Antonio Cesar Perri. Pelos caminhos da vida. Memória e reflexões. Ed.Cocriação, 2021. 632p).

Esse tema precisa ser revigorado.

Em O livro dos espíritos já se definia: “Qual o primeiro de todos os direitos naturais do homem? – O de viver. Por isso é que ninguém tem o de atentar contra a vida de seu semelhante, nem de fazer o que quer que possa comprometer-lhe a existência corporal” (questão 880). A certeza de que somos espíritos reencarnados e em processo de educação favorece a compreensão da oportunidade da vida corpórea e do cultivo dos valores espirituais.

A vasta literatura advinda com a psicografia de Chico Xavier é extremamente rica de esclarecimentos. O espírito André Luiz define com clareza o valor da vida corpórea e que podem ser sintetizados em dois comentários: “O corpo é o primeiro empréstimo recebido pelo Espírito trazido à carne” (Conduta Espírita, Cap. 34. FEB); “[…] temos necessidade da luta que corrige, renova, restaura e aperfeiçoa. A reencarnação é o meio, a educação divina é o fim” (livro Missionários da Luz, cap. 12, FEB).

A partir dessas fundamentações cristãs e espíritas, torna-se interessante considerarmos o que representa o Espírito nos contextos íntimo e social; o equilíbrio entre corpo/espírito e melhores condições de vida. Esta última também inclui, evidentemente, o respeito com o corpo físico e a valorização da vida corpórea. Aí se inserem as medidas preventivas para se evitar quaisquer formas de interrupção da vida, incluindo o suicídio (direto e indireto), as enfermidades e também aquelas que favoreçam o diagnóstico precoce de doenças, evitando-se que elas sejam reconhecidas apenas em situações tardias e danosas.

Daí a conclamação da recente mensagem espiritual:

“Vivamos sob esse estandarte, o da valorização da vida, fazendo, quando convidados a nos pronunciarmos, a mesma profissão de fé, em favor da vida, sempre”.

(*) Foi presidente da USE-SP, diretor e presidente da FEB.

CIDADÃO ESPÍRITA CONSCIENTE

CIDADÃO ESPÍRITA CONSCIENTE

Aylton Paiva

(paiva.aylton@terra.com.br)

Já estamos nos aproximando da data em que seremos convocados, ao exercício da democracia, e depositar nossos votos para a escolha dos dirigentes políticos administrativos dos Poderes Legislativo e Executivo na esfera municipal.

Trata-se de momento de exercitar nossos deveres políticos e partidários: uns candidatando-se a ocupar os cargos de vereadores e prefeitos; outros a obrigação legal de escolher e votar nos candidatos que se apresentarem ao pleito.

Entre pessoas que se dizem espíritas, alguns não gostam de participar desse certame e mesmo argumentam que o espírita não deve se imiscuir na política.

Será que, verdadeiramente, essa é a posição da Doutrina Espírita? Vamos, então, à sua fonte: O Livro dos Espíritos, codificado por Allan Kardec.

Nele encontramos seguras diretrizes para analisarmos essa questão. Para tanto, iremos até a sua 3ª Parte – Das Leis Morais, no capítulo VII – Da lei de sociedade. (1)

Na questão nº 766, Allan Kardec indaga: A vida social está em a Natureza? Respondem os Mentores Espirituais: Certamente. Deus fez o homem para viver em sociedade. Não lhe deu inutilmente a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação (social) parêntese nosso) Já comentamos: “Torna-se evidente que a pessoa tem um compromisso com a sociedade em que vive.” (2)

Mais adiante Allan Kardec questiona a motivação para essa convivência, na questão nº 768: “ Procurando a sociedade, não fará o homem mais do que obedecer a um sentimento pessoal, ou há nesse sentimento algum providencial objetivo de ordem mais geral? “ A resposta é clara é precisa:” O homem tem que progredir. Insulado não lhe é isso possível, por não dispor de todas as faculdades. Falta-lhe o contato com os outros homens. No insulamento ele se embrutece e estiola.”

Por isso a História nos mostra, desde os primórdios, os seres humanos se aglutinando e formando grupos, tribos e comunidades.

A civilização ocorre justamente pela organização cada vez melhor desses grupos, surgindo, então as diversas formas de administração dessas organizações sociais.

A estrutura melhor organizada, embasada em leis justas e equânimes, se revela nas sociedades democráticas.

Nessas, o sistema eleitoral, com base no voto dos cidadãos é fundamental na escolha dos dirigentes dos Poderes Legislativo e Executivo.

O Espiritismo demonstra, que o espírita não pode se omitir no cumprimento do seu dever cívico, político, participando como eleitor, ou mesmo, se para tal vocacionado, na concorrência aos cargos eletivos, tendo sempre como objetivo maior o Bem comum.

Referência:

(1) O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, capítulo VII – Da lei de sociedade:

(2) Espiritismo e política – Contribuições para a evolução do ser e da sociedade. Capítulo 7 – A sociedade na perspectiva espírita. Aylton Paiva. Editora FEB.

Chico Xavier – 22 anos depois…

Chico Xavier – 22 anos depois…

    

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Há 22 anos, no dia 30 de junho de 2002, desencarnava Chico Xavier. Com 92 anos de idade, dos quais 75 anos em ações mediúnicas,

Chico Xavier ofertou um legado histórico e inédito para o aprofundamento do conhecimento espiritual.

Na época da desencarnação eram 410 livros psicográficos publicados. Até a atualidade surgiram mais algumas dezenas, com a reunião de psicografias que estavam em poder de amigos e de beneficiários dessas mensagens assinadas por centenas de espíritos.

Com muita honra, reconhecemos o privilégio de ser leitor das obras psicográficas de Chico desde a adolescência e depois de cultivar intercâmbio e visitas às suas ações na Comunhão Espírita Cristã e no Grupo Espírita da Prece, em Uberaba. Os exemplos cotidianos do médium são marcantes e inesquecíveis.

Além dos livros e caras recordações, os vídeos, programas de TV e filmes sobre Chico reavivam os conteúdos de suas obras e o dignificante exemplo de experiência de vida. Atualmente, há muitas homenagens e registros públicos sobre o notável vulto espírita.

Em meio a rememorações, infelizmente há situações em que surgem “amigos íntimos” nas redes sociais com os relatos com base no “Chico me disse”, e há alertas continuados feitos pela senhora Nena Galves, anfitriã paulistana e amiga durante décadas, e, pelo Departamento de Doutrina da USE-SP. Marco Milani denomina de “Chicomedissismo”1 esses comentários de “pessoas que afirmam ter convivido com Francisco Cândido Xavier e ouvido diretamente dele, em tom de confidência, informações sigilosas, quase proféticas, sobre diferentes assuntos.” Em realidade, o conhecimento doutrinário e a adoção de recomendações expressas em obras de Allan Kardec trazem o antídoto frente a revelações questionáveis.

Entendemos que devam ser valorizados os profícuos estudos em forma de biografias, entrevistas e relatos de casos sobre Chico Xavier; vários publicados enquanto ele estava encarnado e/ou com base em apresentação de fontes e documentações bem reconhecidos.

Na atualidade, foi reativada significativa homenagem ao médium. O Memorial Chico Xavier reabriu em Uberaba, dia 30 de junho, assinalando a dia de sua desencarnação. Houve reportagem sobre a reinauguração pelo programa Minas Gerais TV da Rede Globo e focalizada no mesmo dia à noite no Jornal Nacional da TV Globo. Estão expostas várias imagens das diversas ações do médium. A entrada para visitações é gratuita.2

Em livro específico de nossa autoria, inicialmente lançado em 1997 e depois ampliado e com co-edição3, detalhamos o vulto Chico Xavier e suas repercussões no Brasil e em vários países.

É momento de valorizarmos com o estudo e a difusão dos seus livros psicográficos. Sempre repetimos: Chico Xavier foi arauto do espírito, do bem e da paz!

Fontes:

1) Milani, Marco. Chicomedissismo: o problema continua. Dirigente Espírita. USE-SP. Março-Junho/2024. P. 15-16. In: https://usesp.org.br/wp-content/uploads/2024/06/reDE-200-abril-a-junho-2024.pdf

2) Reinauguração de Memorial em Uberaba 22 anos após partida de Chico Xavier (copie e cole): http://grupochicoxavier.com.br/reinauguracao-de-memorial-em-uberaba-22-anos-apos-partida-de-chico-xavier/; https://globoplay.globo.com/v/12720141/

3) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Chico Xavier. O homem, a obra e as repercussões. 1.ed. Capivari: EME; São Paulo: USE-SP. 2019. 224p.

Publicado em: Folha da Região, Araçatuba, 04/07/2024, fl.2.

Chicomedissismo: o problema continua

 Chicomedissismo: o problema continua

Marco Milani

(diretor do Departamento de Doutrina da USE-SP e presidente da USE Regional de Campinas)

Em 2021, o Departamento de Doutrina da USE promoveu uma interessante roda de conversa virtual denominada “O problema do Chicomedissismo”1, no qual foram apresentadas situações em que uma ou outra pessoa afirmava ter convivido com Francisco Cândido Xavier e ouvido diretamente dele, em tom de confidência, informações sigilosas, quase proféticas, sobre diferentes assuntos.

Passados três anos desse evento, e mais de duas décadas da desencarnação do popular médium mineiro, o número de confidentes de Chico parece ter aumentado…

Hoje em dia, novos “amigos íntimos” surgem repentinamente nas redes sociais com retumbantes e questionáveis revelações sobre o destino da humanidade e sobre a realidade espiritual, amparando-se na conhecida justificativa do “Chico me disse”.

Sob a perspectiva espírita, qualquer informação, seja ela proveniente de encarnado ou desencarnado, deve ser analisada com ponderação e razão, nunca baseada em argumento de autoridade, ou seja, não importa quem disse, mas qual é a comprovação existente do conteúdo.

No caso de Chico, sua inegável idoneidade moral e capacidade mediúnica o transformou num ícone do movimento espírita não somente brasileiro, mas mundial. Nesse sentido, muitos dos milhões de adeptos, pelo natural respeito e admiração a ele, tendem a aceitar com muito carinho tudo o que lhe esteja relacionado, mesmo que isso não dispense a necessidade de análise crítica. O desafio metodológico enfrentado pelos adeptos, entretanto, recai na separação entre ideias e pessoas, bem como entre fatos e fantasias.

Ao utilizar o argumento chicomidissista, muitos têm atraído os holofotes midiáticos e locupletam-se com a visibilidade pessoal e a oportunidade de disseminar causos e contos mirabolantes que colidem com o bom senso e a lógica doutrinária. Tais caronistas da popularidade alheia encontram no permissivo ambiente tecnológico atual o espaço para dar vazão às suas imaginativas estórias, iludindo e confundindo os mais incautos e contribuindo para a disseminação da fé cega.

Sob a perspectiva espírita, qualquer informação deve ser analisada com ponderação e razão, nunca baseada em argumento de autoridade.

Certamente, por não estar fisicamente entre nós, Chico não pode se defender das bizarrices atribuídas a ele por aqueles que declaram ter sido “seus amigos muito próximos” que, se realmente o fossem, não tentariam usurpar sua imagem social desse jeito.

Seja como for, compete ao espírita estudar as obras de Allan Kardec para ter referências comparativas seguras sobre a natureza, origem e destino dos Espíritos e suas relações om o mundo corporal2 e, dessa maneira, conseguir analisar criticamente qualquer informação sob o ângulo doutrinário.

Referências:

1) Ver (copie e cole): https://youtu.be/kSCHo7fqUy8?si=BxPYuOWCAuTAD9Ks

2) KARDEC, A. O que é o espiritismo. Araras: IDE.

Transcrito de:

Dirigente Espírita. USE-SP. Março-Junho/2024. P. 15-16.