Trabalho e Evolução Espiritual

Trabalho e Evolução Espiritual

Aylton Paiva

“O trabalho é lei da natureza, por isso mesmo que constitui uma necessidade, e a civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque lhe aumenta as necessidades e os gozos.” (Questão 674 de O livro dos espíritos).

Para a Filosofia Espírita trabalho não é apenas uma atividade que se exerce para ganhar dinheiro e aumentar os gozos que a vida material pode oferecer.

Na questão 675, da citada obra, os Mentores Espirituais informam: “…o Espírito trabalha, assim como o corpo. Toda ocupação útil é trabalho” (grifo nosso). Portanto o trabalho se impõe ao ser humano por ser consequência da sua própria natureza corpórea. Ele pode ser um instrumento de expiação, mas essencialmente é um meio de desenvolvimento da inteligência e da moral. Vivendo neste mundo material, para satisfazer suas necessidades básicas: alimentação, segurança e bem-estar, o homem tem que trabalhar, o que impulsiona ao progresso intelectual.

Assim, o trabalho é importante meio de participação no mundo em que se vive, e, especificamente, na sociedade que se faz parte. Ao trabalhar o homem cria e, consequentemente, torna-se um agente altivo do Supremo Criador; revela-se um cocriador dentro da vida. Independentemente da sua natureza, o trabalho traz em si mesmo a dignidade que deve ser respeitada, jamais servindo de motivo à humilhação ou exploração. É como pessoa e Espírito imortal que o ser humano está sujeito ao trabalho. Este deve servir para que ele se desenvolva intelectual e moralmente e, consequentemente, desenvolver a sociedade.

Essa é a visão espírita do trabalho é, também, a visão cristã. Constitui postulado da Doutrina Social Espírita e da Doutrina Social Cristã.

Conclui-se, pois, que o trabalho é para o homem e não o homem para o trabalho, afastando assim, moralmente, toda forma de exploração do ser pelo trabalho para satisfazer o interesse econômico. A pessoa jamais poderá ser reduzida a “instrumento de trabalho”.

A civilização cria muitos tipos de trabalho, nenhum dele, porém, poderá servir como meio de exploração do homem com o objetivo do lucro, nem ferir sua dignidade como ser humano. Quando isso acontece, surge a pobreza e a marginalização, evidenciando flagrante injustiça social.

A dimensão social e espiritual do homem não pode ser inibida quando ele estiver trabalhando.

O trabalho é seu instrumento de progresso social, intelectual e espiritual é necessário componente na sua dinâmica evolutiva.

Referências bibliográficas:

1. Allan Kardec. Tradução Guillon Ribeiro. O livro dos espíritos. 87 ª edição. 3ª Parte – cap. III – Da lei do trabalho. Ed. FEB.

2. Aylton Paiva. Espiritismo e Política: contribuições para a evolução do ser e da sociedade. Cap. 3. O trabalho segundo o Espiritismo, Ed. FEB. 

Transcrito de: Boletim de Notícias do Movimento Espírita (Ismael Gobbo). 06 de janeiro de 2025.

Projeto Educando os sentimentos

Projeto Educando os sentimentos

Marcus De Mario

Justificativa

Somente seres sensibilizados para o amor, como sentimento e ação, podem renovar a humanidade.

Objetivos

1. Promover a compreensão dos valores. 2. Compreender a família enquanto núcleo de amor. 3. Incentivar a caridade através de ações pessoais no bem coletivo.

Tempo previsto: 4 aulas.

Problematização

As crianças necessitam ser sensibilizadas para a convivência fraterna, solidária, e para ações de amor ao próximo, em contrapartida ao egoísmo e agressividade.

Conteúdo a ser desenvolvido

1ª Aula Tema: Trabalhando valores Objetivo específico: Classificar os valores, destacando as virtudes e os vícios. Demonstrar que o mal nunca será o bem. Conteúdos a serem desenvolvidos através de atividades: Os valores materiais e os valores morais podem ser classificados como bons ou maus, dependendo de como os consideramos e aplicamos na vida. Os bons valores nos trazem virtudes (honestidade, fraternidade, humildade, etc.) e os maus valores estão ligados aos vícios (egoísmo, desonestidade, mentira, etc.). Muitas vezes praticamos o mal e queremos que os outros acreditem que isso é uma coisa boa. Na verdade estamos defendendo apenas nosso próprio interesse. Para Deus, o bem é sempre o bem e o mal é sempre o mal.

2ª Aula Tema: Vivendo em família Objetivo Específico: Compreender a família como espaço social coletivo de convivência para crescimento do amor. Conteúdos a serem desenvolvidos através de atividades: A família é a reunião de espíritos reencarnados – todos nós somos – para trabalhar os laços de convivência e solidariedade. É o melhor local para o exercício do sentimento coletivo. Ninguém nasceu no lar errado, pois os laços de família estão ligados às reencarnações. Vivemos com quem precisamos viver, tanto para a reparação de erros do passado como para construção de uma vida melhor.

3ª Aula Tema: Desenvolvendo a sensibilidade.

Objetivo específico:

Sensibilizar o educando diante do sofrimento alheio, estimulando a ajuda fraterna. Mostrar que a dor pode acontecer com qualquer indivíduo e que o melhor remédio é a prática do bem.

Conteúdos a serem desenvolvidos através de atividades:

Diante dos problemas dos outros – a fome, a sede, uma dor de cabeça, a doença, a dificuldade de andar e tantos outros problemas – precisamos estar prontos para ajudar, para praticar o bem e o amor ao próximo. Isso se chama ser sensível à dor alheia, mesmo porque esses problemas podem acontecer conosco. E quem não quer, e precisa, de ajuda? Ajudar a mamãe em casa, arrumar os brinquedos evitando a bagunça, saber dividir seus pertences com o(a) irmão(ã) ou amigo(a), ajudar a carregar as compras do supermercado, e outras pequenas ajudas, auxiliam o próximo e o beneficiam, deixando a vida mais alegre e feliz

4ª Aula Tema: Amando para ser feliz

Objetivo específico:

Relacionar o amor à criação divina e aos exemplos de Jesus.

Conteúdos a serem desenvolvidos através de atividades:

O amor não é simplesmente a relação entre duas pessoas (os pais ou os namorados). O amor é um sentimento que acaba com as nossas diferenças e deve ser usado para com todos, pois ele é sentimento que nos leva a ter disposição afetiva por alguém. Fazem parte do amor: a caridade e a fraternidade. Deus é amor, e Jesus é o nosso maior modelo de amor. (Do livro Educação do Espírito, Edição Clube de Autores). REE

Transcrito de: Revista Educação Espírita. No 6 – Janeiro/Fevereiro 2025. P. 22-23.

Ano Novo e as Previsões

Ano Novo e as Previsões

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Em toda passagem de ano, são comuns as ideias sobre previsões e expectativas.

Em artigo que publicamos na Revista Internacional de Espiritismo (1), expusemos as motivações para escrevermos sobre o tema.

Com algumas adequações, eis sinteticamente o raciocínio desenvolvido no artigo citado. De início, torna-se importante recorrermos à Obra da Codificação. Em A Gênese, há trechos marcantes do Codificador: “O resultado final de um acontecimento pode, pois, ser certo, já que está nos desígnios Deus. Mas, como frequentemente, os detalhes e o modo de execução são subordinados às circunstâncias e ao livre-arbítrio dos homens; os caminhos e os meios podem ser eventuais. Os Espíritos podem nos alertar sobre o conjunto, se for útil que sejamos prevenidos. Mas para precisar o lugar e a data, eles deveriam conhecer previamente a decisão que tal ou qual indivíduo tomará.” Inclusive Kardec comenta sobre “a forma misteriosa e cabalística da qual Nostradamus nos oferece o exemplo mais completo dá-lhe certo prestígio aos olhos do homem comum, que lhe atribui tanto mais valor quanto mais sejam incompreensíveis.”

Em outra parte, Kardec lembra que “a humanidade contemporânea tem também seus profetas; mais de um escritor, poeta, literato, historiador ou filósofo pressentiu, em seus escritos, a marcha futura dos acontecimentos que se veem realizar atualmente. […] Mas, frequentemente também, ela é o resultado de uma clarividência especial…” Sobre o futuro, o Codificador também alerta que “a fraternidade será a pedra angular da nova ordem social, mas não há fraternidade real, sólida e efetiva sem estar apoiada sobre uma base inabalável. Essa base é a fé; não a fé em tais ou quais dogmas particulares que mudam com o tempo e os povos e que se apedrejam mutuamente…”

Portanto, Kardec pondera que “a época atual é a da transição: os elementos das duas gerações se embaralham. Colocados no ponto intermediário, presenciamos a partida de uma e a chegada da outra, a cada qual se distingue no mundo pelas características que lhe são próprias.” Na sequência, tece considerações sobre a “nova geração marchará para a realização de todas as ideias humanitárias compatíveis com o grau de adiantamento ao qual tenha chegado. […] A nova geração, devendo fundar a era do progresso moral, distingue-se por uma inteligência e uma razão geralmente precoces, somadas ao sentimento inato do bem e das crenças espiritualistas. É o sinal incontestável de um certo grau de adiantamento anterior.”

Interessante notar que Kardec dá mais importância às transformações morais e espirituais do que às alterações físicas cíclicas de nosso orbe. Em histórica obra elaborada antes da eclosão – A caminho da luz -, da 2ª Guerra Mundial, Emmanuel discorre sobre o porvir, de uma forma bem geral, analisando no capítulo “A América e o futuro” alguns aspectos como: “Em torno dos seus celeiros econômicos, reunir-se-ão as experiências europeias, aproveitando o esforço penoso dos que tombaram na obra da civilização do Ocidente para a edificação do homem espiritual, que há de sobrepor-se ao homem físico do planeta, no pleno conhecimento dos grandes problemas do ser e do destino. […] Nos campos exuberantes do continente americano estão plantadas as sementes de luz da árvore maravilhosa da civilização do futuro.” E surgem algumas anotações sérias sobre o futuro da Humanidade: “Mas é chegado o tempo de um reajustamento de todos os valores humanos. Se as dolorosas expiações coletivas preludiam a época dos últimos ”ais” do Apocalipse, a espiritualidade tem de penetrar as realizações do homem físico, conduzindo-as para o bem de toda a Humanidade. […] O cajado do pastor conduzirá o sofrimento na tarefa penosa da escolha e a dor se incumbirá do trabalho que os homens não aceitaram por amor. Uma tempestade de amarguras varrerá toda a Terra. […] Condenada pelas sentenças irrevogáveis de seus erros sociais e políticos, a superioridade europeia desaparecerá para sempre, como o Império Romano, entregando à América o fruto das suas experiências, com vistas à civilização do porvir. Vive-se agora, na Terra, um crepúsculo, ao qual sucederá profunda noite; e ao século XX compete a missão do desfecho desses acontecimentos espantosos.”

As anotações de Emmanuel são, no geral, coerentes com textos evangélicos: “No mundo tereis grandes tribulações, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (João, 16,33). O versículo seguinte, no entendimento espírita, pode ser interpretado como intensos intercâmbios com o “céu aberto”, ou seja, manifestações de ordem espiritual: “Na verdade, na verdade vos digo que daqui em diante vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem” (João, 1, 51).

A essa altura, são cabíveis as advertências registradas no Novo Testamento com relação aos “falsos profetas”. Entre outras: “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas,… Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? […] Portanto, pelos seus frutos os conhecereis (Mateus, 7, 15, 20).

As interpretações deturpadoras e alarmantes de profecias e previsões de domínio público e ainda outras que são atribuídas a médiuns já desencarnados muitas vezes causam inseguranças e temores. Isso sem se discutir a questão doutrinária e a coerência do perfil e das obras públicas dos eventuais envolvidos.

Sobre isso, Emmanuel analisa em tom esclarecedor: “[…] em sobrevindo a divisão das angústias da cruz, muitos aprendizes fogem receando o sofrimento e revelando-se indignos da escolha. Os que assim procedem, categorizam-se à conta de loucos, porquanto, subtrair-se à colaboração com o Cristo, é menosprezar um direito sagrado.” Em entrevista concedida a Fernando Worm (Janela para a vida) Chico Xavier atribui a Emmanuel a resposta a questão sobre o futuro da humanidade daqui um milênio: “Com a cooperação do homem, a Divina Providência, no curso de um milênio, pode esculpir primores indefiníveis de paz e amor, progresso e união para a Humanidade”.

E, finalmente, para os novos crentes na “parusia” – que ainda aguardam um retorno do Cristo -, Emmanuel anotou de forma clara: “Os homens esperam por Jesus e Jesus espera igualmente pelos homens.”

Nessas rápidas pinceladas sobre o polêmico tema profecias, entendemos que merece ser estudado e analisado com base nas Obras Básicas da Codificação e aquelas que são coerentes e complementares às mesmas. Há necessidade de bom senso e fundamentação em conhecimentos científicos atuais e, no nosso caso, fidelidade às obras de Allan Kardec. O pouco estudado livro A Gênese, deve merecer mais atenção na seara espírita!: “O progresso da Humanidade tem seu princípio na aplicação da lei de justiça, de amor e de caridade, lei que se funda na certeza do futuro” – Allan Kardec (LE, Conclusão IV).

Referência:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Base para interpretação das profecias. Revista Internacional de Espiritismo. Ano XCIV. N. 7. Agosto de 2019. p. 370-372.

Cristo, cristianização e nós

Cristo, cristianização e nós

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Os finais de ano são assinalados pelas comemorações relacionadas com o nascimento de Jesus. Essas evocações merecem reflexões sobre a significação espiritual da efeméride no contexto da sociedade com base na literatura espírita.

Desde os momentos preparatórios a esse nascimento, incluindo o “século de Augusto” e o momento da “maioridade terrestre”1 -, a condescendência do contemporâneo imperador Tibério com relação ao “profeta” que surgia, o profundo impacto da força espiritual da missão do Cristo, e, na sequência, a consolidação com a renúncia e extrema dedicação de heroicos discípulos. Os revezes e perseguições atrozes estabelecidos em algumas etapas do Império Romano acabaram por fortalecer a têmpera de notáveis cristãos e de favorecer a difusão do cristianismo.2

Passados dois mil anos, os enganos cometidos geraram muitas resistências a segmentos cristãos em vários países. Porém, apesar de várias deturpações, a mensagem de Cristo sobreviveu, e, em nossos dias, há o esforço para se restabelecer a essência de seus ensinamentos e de se valorizar a simplicidade do cristianismo primitivo. É a proposta de implantação e difusão da mensagem do “Consolador Prometido” pelo Mestre. O Espírito da Verdade destaca que “no cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram.”3

A propósito, Léon Denis comenta: “quaisquer que sejam os erros ou as faltas dos que se acobertam com o nome de Jesus e sua doutrina, o pensamento do Cristo em nós não desperta senão um sentimento de profundo respeito e de sincera admiração” e destaca: "só há um Deus – diz S. Paulo e um só mediador entre Deus e os homens, que é Jesus-Cristo, homem."4

As dificuldades atuais para a marcha das propostas de Jesus são assinaladas pelo filósofo Herculano Pires ao se referir a questionamentos vigentes no meio da intelectualidade. Considera que “há um abismo entre o Cristo e o cristianismo”, levando em consideração a obra O cristianismo de Cristo e o dos seus vigários, dos anos 1920, de autoria do Padre Alta (pseudônimo do padre francês Mélinge). Herculano ressalta: “o cristianismo, que pelo poder do seu conteúdo moral e espiritual, já podia nos ter dado um mundo melhor, foi frustrado na sua intenção pelo apego dos homens ao maravilhoso, ao fantástico, e pela indiferença preguiçosa dos comodistas, que só pensaram em se acomodar e tirar proveito das situações criadas. Jesus não foi um alucinado, como o diagnosticou Binét Sanglé, nem um Deus, como querem ainda hoje os religiosos ingênuos, mas um homem, encarnação de um espírito superior, que se encarnou num momento decisivo da evolução humana, a fim de dar a sua contribuição para o progresso da Terra” […] o chamado Cristianismo Oficial, como disse Stanley Jones[*], está mais distante do Cristo do que o chamado cristianismo marginal dos nossos dias”.5

Obra publicada postumamente reúne excelentes estudos de Herculano Pires6, com base em gravações de programas radiofônicos, tendo como foco a visão do evangelho “em espírito e verdade”, referindo-se aos princípios e cuidados no movimento espírita, há a ponderação: "o que nos deve interessar não é nossa opinião nisso ou naquilo, mas sim a firmeza com que pudermos seguir os princípios da doutrina espírita. E esses princípios estão firmados, como nós sabemos na codificação de Allan Kardec. E estes princípios, por sua vez, têm a sua base mais profunda, as suas raízes mais penetrantes nos próprios evangelhos de Jesus."6

No contexto da atualidade, com vistas ao objetivo de revigorar o cristianismo com base na mensagem da Boa Nova torna-se cabível o comentário espiritual inserto em O evangelho segundo o espiritismo: “[…] A história da cristandade fala de mártires que se encaminhavam alegres para o suplício. Hoje, na vossa sociedade, para serdes cristãos, não se vos faz mister nem o holocausto do martírio, nem o sacrifício da vida, mas única e exclusivamente o sacrifício do vosso egoísmo, do vosso orgulho e da vossa vaidade. Triunfareis, se a caridade vos inspirar e vos sustentar a fé.”3

A visão espírita é desenvolvida por Cairbar Schutel: “o cristianismo, sob os ditames de Jesus, é uma Religião Viva, representada por um corpo de espíritos que se acham a ele subordinados e que dirigem e animam o cristianismo. O estudo do cristianismo, digno de toda a atenção e observação, está intimamente ligado ao estudo da alma, do espírito. […] o espiritismo é o espírito do cristianismo.”7

Na obra Emmanuel, o autor espiritual, numa apreciação geral, analisa que “a Civilização Ocidental está em crise; os observadores e os sociólogos trazem, para o amontoado de várias considerações, o resultado dos seus estudos. Alguns proclamam que toda civilização tem a fragilidade de uma vida; outros aventam hipóteses mais ou menos aceitáveis, e alguns apeiam para a cristianização dos espíritos. Estes últimos estão acertados em seus pareceres”.8 Em outra obra psicografada por Chico Xavier, esse espírito anota claramente: “a realidade é que a civilização ocidental não chegou a se cristianizar”.2 Assim, recomenda de forma objetiva: “que é preciso cristianizar a humanidade é afirmação que não padece dúvida; entretanto, cristianizar, na Doutrina Espírita, é raciocinar com a verdade e construir com o bem de todos, para que, em nome de Jesus, não venhamos a fazer sobre a Terra mais um sistema de fanatismo e de negação.”2

Ainda há algumas expectativas da parusia. Cristo é esperado por muitos para “a salvação dos homens” … A ideia mágica de salvação, sedimentada por religiões tradicionais alimenta o pensamento de boa parte da população. O espiritismo é muito claro ao esclarecer os mecanismos de educação e evolução espiritual assentados a partir do esforço pessoal de superações de dificuldades e aprimoramento com base na adoção da moral ensinada por Jesus. Ao interpretar o versículo “E disse-lhe o Senhor em visão: – Ananias! E ele respondeu: Eis-me aqui, Senhor!” (Atos 9, 10), Emmanuel esclarece: “os homens esperam por Jesus e Jesus espera igualmente pelos homens. Ninguém acredite que o mundo se redima sem almas redimidas”. No final de suas considerações, o autor espiritual objetivamente destaca: “onde estiver um seguidor do Evangelho aí se encontra um mensageiro do Amigo Celestial para a obra incessante do bem. Cristianismo significa Cristo e nós.”9

No contexto atual são evidentes os embates teológicos e sociais no seio das grandes e tradicionais religiões cristãs. Ao se analisar os entrechoques da sociedade contemporânea, torna-se oportuno trazer à tona o entendimento do mecanismo das reencarnações para uma melhor compreensão de muitas turbulências. Depois de quase dois mil anos da origem do cristianismo, podem estar de volta espíritos – quais seres antigos que reaparecem – que vivenciaram etapas ou situações as mais diversas nas lutas vinculadas a conceitos e práticas de religião.

De nossa parte, dispomos de valiosos subsídios oferecidos pela literatura espírita, e, recomendamos a releitura e estudo dessas obras referenciadas, absolutamente coerentes sobre a responsabilidade que temos em mãos, no sentido de valorizar o ensino moral de Jesus. Em épocas identificadas como "sinais dos tempos", são indispensáveis as definições e as lutas interiores e de relações interpessoais assentadas nos parâmetros do bem e da paz.

Referências:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Cristianismo nos séculos iniciais. Aspectos históricos e visão espírita. Matão: O Clarim. 2018. 286p.

2) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. A caminho da luz. Cap. 12. Brasília: FEB. 2013.

3) Kardec, Allan. Trad. Ribeiro, Guillon. O evangelho segundo o espiritismo. Cap. VI, item 5; Cap. XI, item 8. Brasília: FEB. 2013.

4) Denis, Léon. Trad. Cirne, Leopoldo. Cristianismo e espiritismo. Brasília: FEB. 2013. 336p.

5) Pires, José Herculano. Revisão do cristianismo. São Paulo: Paideia. 1977. 110p.

6) Pires, José Herculano. Org. Arribas, Célia. O evangelho de Jesus em espírito e verdade. 1.ed. Cap. 6 e 9. São Paulo: Editora Paidéia. 2016.

7) Schutel, Cairbar. O espírito do cristianismo. Matão: O Clarim. 2018. 284p.

8) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Emmanuel. 28.ed. Cap. 2.5 e 4.1. Brasília: FEB. 2013.

9) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Fonte viva. Cap. 17. Rio de Janeiro: FEB. 2005.

Transcrito de artigo do autor: Revista internacional de espiritismo. Ano 99. N.11. Dezembro de 2024. P. 542-543.

[*] Teólogo americano, vinculado ao movimento metodista, atuou no Século XX.

A Lei da Adoração

A Lei da Adoração

Aylton Paiva

Desde as eras mais remotas os seres humanos sempre temeram ou adoraram forças que lhes eram superiores, representando Deus nessas forças.

Na infância da humanidade intelectual o medo e a adoração se ligavam a coisas ou eventos físicos, como: a montanha, o vendaval, os raios e trovões. As coisas boas da vida também eram nomeadas como seres divinos a proteger-lhes a saúde, a caça, o bom tempo, a colheita.

Assim, esse medo ou temor passam a ser reverenciados de forma individual e coletiva, surgindo os rituais de adoração. Junto com eles emergem pessoas que se colocavam como intermediários entre os seres poderosos, os deuses e as pessoas, dando início às classes sacerdotais e aos rituais de adoração por elas estabelecidas e dirigidas.

Desta forma a interpretação da ligação da criatura com o Criador deu origem aos rituais e aos templos de pedras, bem como, às classes sacerdotais, através do tempo.

Jesus inaugura nova era, sua ligação com o Supremo Criador era do filho para com o Pai, isto é, adorava-O em espírito e verdade. Ele afirma:” Não se turbe o vosso coração. Crede em Deus, crede também em mim.” ( João, 14-1).

Estabelece de forma objetiva e direta a possibilidade de a pessoa entrar em contato direto com Deus e com Ele. Seus ensinamentos não eram transmitidos em templos de pedras, nem através de rituais ou cerimônias, e sim no meio do povo. O Mestre Jesus ensinava para a igreja: assembleia pública, ou seja, para a ekklesia, no idioma grego ou ecclesia na língua latina. Portanto, a igreja como templo de pedras foi criação dos homens.

Com o Espiritismo surge uma nova era, a Filosofia Espírita trazida pelos Mentores Espirituais relembra a forma de adoração a Deus por Jesus e, com os novos tempos, esclarece e detalha essa forma de adoração. Na questão número 654, indagou Allan Kardec: “Tem Deus preferência pelos que o adoram desta ou daquela maneira?” E os espíritos responderam: “ Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que julga honrá-lo com cerimônias que os não tornam melhores para com os seus semelhantes.” (1)

A adoração a Deus, conforme o Espiritismo tem uma ação na sociedade ou, de forma mais ampla, no planeta em que se vive, ou seja fazer o bem e evitar o mal. Esse conceito de adoração a Deus propõe não só a reforma íntima, chamada autoeducação, como a reforma da sociedade em seus padrões de egoísmo e orgulho, pelos quais se geram as desigualdades e as injustiças. O Espiritismo ajuda na compreensão das limitações humanas e na proteção divina, nunca impondo a submissão castradora, de inibição às potencialidades humanas. Pelo contrário, demonstra que a oração, ao aproximar a criatura do Criador, constitui-se numa possibilidade de estudo de si mesma. As boas ações são as melhores preces, por isso valem os atos mais do que as palavras.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

(1) O livro dos espíritos, Allan Kardec, Ed. FEB, tradução Guillon Ribeiro, 3ª Parte – Das leis morais – I Da lei de adoração.

Denizard Rivail: a educação é uma arte

Denizard Rivail: a educação é uma arte

Redação (*)

O educador deve velar com a maior atenção por tudo o que possa fazer qualquer impressão sobre as crianças; por sua experiência e por sua perspicácia, deve poder calcular seus efeitos; deve dirigir as circunstâncias.

O pensamento educacional de Denizard Rivail (1804-1869), aqui considerado antes do seu contato com o fenômeno espírita, quando passou a utilizar o nome Allan Kardec, pode ser compreendido em duas palavras: educação moral. Ele muito escreveu, principalmente gramáticas francesas e livros de aritmética, mas não apenas livros didáticos, igualmente obras de relevância pedagógica. Para compreendermos a visão educacional do professor Denizard Rivail, trazemos alguns trechos do seu livro Plano Proposto para Melhoria da Educação Pública, de 1828, obra que mereceu o primeiro prêmio de concurso com o mesmo tema realizado pelo governo francês. É uma proposta avançada para os padrões da época, revelando um jovem autor – ele tinha apenas 24 anos – com visão profunda e progressista, percebendo que o trabalho que hoje se realiza na educação é a base do futuro social.

REE – Como o senhor define a educação?

Rivail – A educação é a arte de formar os homens; isto é, a arte de fazer eclodir neles os germes da virtude e abafar os do vício; de desenvolver sua inteligência e de lhes dar instrução própria às suas necessidades; enfim de formar o corpo e de lhe dar força e saúde. Numa palavra, a meta da educação consiste no desenvolvimento simultâneo das faculdades morais, físicas e intelectuais.

REE – Qual é a influência que a educação exerce na criança?

Rivail – A fonte das qualidades morais se acha nas impressões que a criança recebe desde o seu nascimento, talvez mesmo antes, e que podem agir com mais ou menos energia sobre o seu espírito, para o bem ou para o mal.

REE – É na infância que os hábitos devem ser formados?

Rivail – Os hábitos morais são aqueles que nos levam, malgrado nosso, a fazer qualquer coisa de bom ou de mal. A fonte desses últimos hábitos se acha nas impressões longamente ressentidas ou percebidas na infância.

REE – Qual é o papel que o educador deve exercer?

Rivail – Ele deve velar com a maior atenção por tudo o que possa fazer qualquer impressão sobre as crianças; por sua experiência e por sua perspicácia, deve poder calcular seus efeitos; deve dirigir as circunstâncias.

REE – Qual é a influência do lar na formação da criança?

Rivail – Como a mãe é a primeira educadora de seus filhos, como é ela que recebe os primeiros sinais de sua inteligência, que responde aos seus primeiros pedidos, que satisfaz às suas primeiras necessidades, a ela pertence a condução das primeiras impressões morais.

REE – Podemos afirmar que os pais cumprem uma missão junto aos filhos?

Rivail – Depende dos pais cercar a criança, desde seu nascimento, de impressões salutares para o seu espírito e para o seu coração e evitar todas as que podem lhe ser prejudiciais, como se evita deixá-la numa atmosfera ruim.

REE – Como o senhor entende deva ser a aplicação da educação moral, e quais seriam seus resultados?

Rivail – Pode-se concluir relativamente à educação moral em particular: 1° que os hábitos morais são o resultado das impressões morais, que determinam os vícios ou as boas qualidades, segundo o indivíduo seja mais ou menos suscetível a elas; 2° que importa assim dar uma boa direção a todas essas impressões; 3° que elas dependem inteiramente dos pais e dos educadores; 4° que é quase sempre sua inexperiência e sua ignorância em matéria de pedagogia que é a causa de todos os vícios, dos quais esforça-se para curar mais tarde a juventude; 5° que não se pode esperar obter um bom sistema de educação, e por conseguinte, uma boa educação moral, se não se tiver uma massa de educadores que compreendam verdadeiramente o objetivo de sua missão e que tenham as qualidades necessárias para cumpri-la. Em resumo, a educação é o resultado do conjunto de hábitos adquiridos; esses hábitos são eles próprios o resultado de todas as impressões que os provocaram, e a direção dessas impressões depende unicamente dos pais e dos educadores.

REE – Os pais e os professores precisam estudar sobre educação?

Rivail – A educação é uma arte particular, bem distinta de todas as outras e que, por consequência, exige um estudo especial; exige disposições e uma vocação muito particulares; exige qualidades morais que não são dadas a todos os homens, tais como uma paciência e uma sabedoria a toda prova, uma firmeza misturada à doçura, uma grande penetração para sondar os caracteres, um grande império sobre si mesmo, a vontade e a força de domar as próprias paixões; exige ainda um conhecimento profundo do coração humano e da psicologia moral.

REE – É possível desenvolver a educação moral apenas pelo estudo teórico?

Rivail – A inteligência deve ser desenvolvi da desde cedo, como a moral, e não é sobre carregando a memória de palavras que se alcança isso, mas enriquecendo a imaginação de ideias justas.

REE – Então, como o senhor entende deva ser a prática da educação moral?

Rivail – A criança pede para se ocupar, esta ocupação lhe é necessária; é preciso que seu espírito e, mais frequentemente, seu corpo estejam em atividade. Esta atividade é uma necessidade para ela, querer reprimi-la é fazer uma violência à natureza.

(*) Matéria montada em forma de entrevista, pela Redação da Revista Educação Espírita – REE.

Transcrição de: Revista EDUCAÇÃO ESPÍRITA. Ano 1 – Número 3 – Julho / Agosto de 2024. P. 4 e 5.

Contatos Whatsapp/Telegram (21) 99397-1688

E-mail: revistaeducacaoespirita@gmail.com

Mansão do Caminho apresentou filme “Benedita. Uma heroína invisível”

Mansão do Caminho-Divaldo, apresentou filme “Benedita. Uma heroína invisível”

Antonio Cesar Perri de Carvalho

O filme “Benedita. Uma heroína invisível” foi exibido na Mansão do Caminho, em Salvador (Bahia), no dia 19 de novembro, com público lotando o auditório da instituição. Essa grande obra assistencial foi fundada e é liderada por Divaldo Pereira Franco.

Na oportunidade, estivemos presentes, como autor do livro “Benedita Fernandes. A dama da caridade” (Ed. Cocriação), que foi base para o enredo do filme.

A Mansão do Caminho distribuiu impresso da primeira mensagem psicografada por Divaldo, pelo espírito Benedita – “Emergência para a criança”. A reunião foi dirigida pelo presidente da Mansão do Caminho, Mário Sérgio, que nos apresentou.

Após a apresentação do filme, em que Divaldo é um dos entrevistados, proferimos palestra focalizando momentos de nossa longa amizade com Divaldo Pereira Franco, iniciada nos tempos em que residíamos em Araçatuba. Naquele período fomos anfitrião do orador em inúmeras visitas à cidade e região e, inclusive, as primeiras psicografias pelo médium do espírito Benedita, ocorreram em lares de nossos pais e no nosso em Araçatuba, como o texto “Emergência para a criança” (1973) e “Junto aos que sofrem” (1976). Embora no dia da exibição Divaldo já estivesse temporariamente afastado de suas atividades em função de tratamento de saúde especializado, fizemos uma homenagem ao médium pelas suas contribuições ao movimento espírita. Além das informações do filme, comentamos algumas considerações históricas e doutrinárias sobre Benedita, pioneira da assistência social espírita na região de Araçatuba.

Previamente a esse evento, o presidente Mário Sérgio e equipe da Mansão do Caminho, como Joseval Júnior da TV da Mansão, recepcionaram-nos com lanche na casa principal da Mansão do Caminho.

Importante registrarmos que Divaldo manifestou-se sobre o lançamento do filme: “Querido Cesar: Paz em Jesus. Com imensa alegria recebi sua mensagem e exulto com o êxito do trabalho sobre a amada Missionária” (E-mail de outubro de 2023). A proposta de exibição citada aparece em e-mail que nos enviou no dia 14/05/2024: “Claro que gostaríamos de ver o filme sobre a querida dona Benedita”. No mês passado, em programa da TV Mansão do Caminho, Divaldo Pereira Franco anunciou pessoalmente a apresentação do filme “Benedita uma heroína invisível. O legado da superação”, na Mansão do Caminho. Inclusive mostrou a primeira mensagem pela sua mediunidade do espírito Benedita Fernandes – “Emergência para a criança”.

A exibição marcante do filme na Mansão do Caminho, ocorreu exatamente um ano após a disponibilização dessa película mediante agendamento. Neste período foi apresentado em instituições do exterior e de várias Estados do Brasil. Em todos os locais suscita nos espectadores muito interesse e admiração pelos exemplos de vida, de grandes superações, do vulto notável de Araçatuba. O filme sobre Benedita foi produzido por Sirlei Nogueira (Ed. Cocriação) e Lalucci Filmes.

Publicado em: Folha da Região. Araçatuba, 28/11/2024. Fl.2

FILOSOFIA ESPÍRITA: A ÉTICA E A MORAL ESPÍRITA

FILOSOFIA ESPÍRITA: A ÉTICA E A MORAL ESPÍRITA

Aylton Paiva

O Espiritismo inicia com a Filosofia Espiritualista Espírita, conforme a indicação na primeira página de O Livro dos Espíritos, organizado por Allan Kardec.

Como Filosofia ele tem uma parte Ética que se encontra na Parte Terceira – Das Leis Morais, do citado livro, expressa nos capítulos: Da lei divina ou natural, Da Lei da adoração, Da Lei do trabalho, Da lei de reprodução, Da lei da conservação, Da lei da destruição, Da lei de sociedade, Da lei do progresso, Da lei de igualdade, Da lei de liberdade, Da lei de justiça, de amor e de caridade, da Perfeição Moral. Nessas leis estão os valores que devem nortear a Moral Espírita, isto é, o comportamento do espírita na sociedade.

Logo, para que uma pessoa seja espírita “consciente”, ela precisa conhecer a Ética Espírita a fim de que seu comportamento seja um comportamento expressando a Moral Espírita.

Para a Filosofia Espiritualista Espírita esses valores estão impressos na lei Natural ou Lei Divina, conforme a questão nº 614 do já citado livro. Indagou Allan Kardec: “ Que se deve entender por lei natural?” Os Mentores Espirituais responderam: “ A lei natural é a lei de Deus. É a única verdadeira para a felicidade do homem. Indica-lhe o que deve fazer ou deixar de fazer e ele só é infeliz quando dela se afasta.” (1)

Definem claramente o Bem e o Mal, consoante a questão 629: “ Que definição se pode dar da moral?”. Responderam os Mentores Espirituais: “ A Moral é a regra de bem proceder, isto é, de distinguir o bem do mal. Funda-se na observância da lei de Deus. O homem procede bem quando tudo faz pelo bem de todos, porque então cumpre a lei de Deus”.

Com o seu conhecimento sobre Filosofia, indaga, novamente, Kardec, na questão nº 630: “ Como se pode distinguir o bem do mal?”. Os Mentores Espirituais dizem: “ O bem é tudo o que é conforme à lei de Deus; o mal, tudo o que lhe é contrário. Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a lei de Deus. Fazer o mal é infringi-la.”.

Solicita Kardec: “Uma vez que Jesus ensinou as verdadeiras leis de Deus, qual a utilidade do ensino que os Espíritos dão? Terão que nos instruir mais algumas coisa?” E a resposta se faz clara: “ Jesus empregava amiúde, na sua linguagem alegorias e parábolas, porque falava de conformidade com os tempos e os lugares. Faz-se mister agora que a verdade se torne inteligível para todo o mundo” ( Questão 627)

Assim, a Ética Espírita explica, detalha, contextualiza a Ética Cristã. O conhecimento da Ética Espírita, consequentemente, é indispensável para o melhor entendimento da Ética que Jesus trouxe. Portanto, se uma pessoa frequenta o centro espírita para ouvir palestras, para receber a assistência espiritual, participa das atividades no centro espírita, como: voluntario na assistência social, atividades administrativas e outras, ela pode ser uma pessoa boa, deseja fazer o bem, contudo não conhece a Ética Espírita ela age de conformidade com a sua própria moral, que pode se aproximar da Ética Espírita ou não.

OBSERVAÇÃO: Na linguagem comum, vulgar, as palavras ética e moral são usadas como sinônimos, mas na linguagem filosófica os termos têm significados diferentes. ÉTICA: conjunto de valores em uma Filosofia que definem o certo e o errado. O bem e o mal. MORAL: é a aplicação dos valores da Ética no comportamento do ser humano em sua convivência na sociedade. Temos então: A moral espírita é a aplicação dos valores da Ética, conforme a Filosofia Espiritualista Espírita, no comportamento das pessoas.

Mocidades Espíritas – origens, desenvolvimento e a atualidade

Mocidades Espíritas – origens, desenvolvimento e a atualidade

 

 

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Em alguns registros de datas evocativas aparece o dia 13 de novembro como o “dia do moço espírita”. Atualmente, não se nota referência a essa data, diferente dos anos 1950 e 1960 quando era assinalada em “calendários espíritas” e ocorriam comemorações alusivas à efeméride.

Qual a origem da então data comemorativa? Por que caiu no esquecimento?

No contexto de intensas atividades de jovens espíritas e de criação de mocidades espíritas é que começou a ser evocada a citada data.

No final dos anos 1940, havia muito dinamismo e idealismo no movimento espírita e com expressiva atuação de jovens espíritas.

Entre as propostas vicejava a de se estabelecer uma efetiva união dos espíritas. Nesse contexto é que ocorreu o histórico Congresso Brasileiro de Unificação Espírita (São Paulo, 1948). Como desdobramento e até reação, tipo defensiva, um ano depois, repentinamente foi definido o chamado “Pacto Áureo”, assinado com a FEB, em outubro de 1949, prevendo a criação do Conselho Federativo Nacional da FEB.

Ao mesmo tempo, algumas lideranças jovens radicadas no Rio de Janeiro aproximaram-se da Federação Espírita Brasileira e assinaram um compromisso que ficou conhecido como Ato de Unificação das Mocidades Espíritas do Brasil, no dia 13 de novembro de 1949. Em seguida, no dia 02 dezembro de 1949, foi criado o Departamento de Juventude da FEB, dirigido por um diretor adulto da Instituição. Em janeiro de 1950 nasceu o jornal Brasil Espírita, de responsabilidade desse Departamento da FEB. Em decorrência desses episódios, a partir de lideranças jovens do Rio de Janeiro e da FEB, o dia 13 de novembro passou a ser designado de “dia do moço espírita”. A data comemorativa foi assinalada pelo movimento das mocidades espíritas, mas o citado Departamento da FEB e seu jornal não tiveram maiores influências entre os moços espíritas.

Atualmente, ponderamos se não seria questionável a forma como foi assinado o compromisso citado no dia 13 de novembro, apresentando-o como expressão nacional?

Torna-se importante realçarmos que as criações e ações dos jovens espíritas eram independentes, com idealismo e dinamismo típicos da faixa etária e, de certa forma, preenchendo uma lacuna no movimento espírita da época, pois os jovens promoviam o estudo e a difusão das obras básicas de Kardec. De certa forma, os centros espíritas estavam mais envolvidos com reuniões mediúnicas, atividades assistenciais e reuniões com palestras. Por isso, nos anos 1940 Leopoldo Machado desfraldou a bandeira e campanha de “espiritismo de vivos”.

[…] O ano de 1948 registra importantes fatos: foi realizado o 1o Congresso de Mocidades Espíritas do Brasil (17 a 25/7/1948) efetivado na cidade do Rio de Janeiro, liderado pelo incansável Leopoldo Machado; surgiu em Barretos (SP) a Concentração de Mocidades Espíritas do Brasil Central e Estado de São Paulo – COMBESP, reunindo jovens de Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e o Distrito Federal (Rio de Janeiro). Destacamos que esse evento anual foi o maior celeiro de preparação de lideranças e expositores espíritas.

[…] Destacamos que até então as mocidades geralmente eram autônomas. A chamada departamentalização delas se inicia nos anos 1960, como anotamos na sequência. O Conselho Federativo Nacional da FEB, iniciava eventos regionais com a discussão sobre temas do movimento espírita. Em 1962, o Simpósio Centro-Sulino, realizado em Curitiba, aprovou deliberações significativas para as Mocidades Espíritas. Com base neste documento recomendou-se a suspensão da COMBESP, encerrada em 1966 na mesma cidade onde surgiu, Barretos (SP), e, estimulando a promoção de eventos estaduais, pelas Federativas Estaduais. Outra recomendação é que as Mocidades e Juventudes Espíritas se transformassem ou fossem criadas como departamentos de Centros Espíritas.

[…] Na década de 1970, a partir da FEB, surgiram questionamentos sobre cursos, eventos de jovens, acarretando um desestímulo e até desmantelamento de ações de infância e juventude, com registros na revista Reformador. A essa postura, em seguida, houve reação do presidente Francisco Thiesen que considerou uma “decisão infeliz” da Instituição e de sua revista, e, em 1977, este presidente da FEB inicia uma nova etapa com a instalação da Campanha Nacional de Evangelização Infantojuvenil.

Nesse registro histórico sobre as ações das mocidades espíritas junto às instituições, que na época contribuíram para o estímulo ao estudo, destacamos a preparação de recursos humanos e para a dinamização do movimento espírita no início da segunda metade do Século XX.

A nosso ver, a departamentalização das mocidades, por um outro lado, gerou condições para que dirigentes adultos passassem a exercer um certo controle.

Nas federativas criou-se um departamento de infância e juventude. A exceção foi a USE-SP, mantendo departamentos separados de Mocidades e de Infância.

Começamos a notar claramente, uma ênfase à evangelização infantil e, digamos, criando-se uma visão com perspectiva mais infantilizada do adolescente e do jovem. Simultaneamente houve o progressivo acesso ao ensino superior e consideráveis contingentes de jovens espíritas tornaram-se universitários. Esse contexto cria ambientações intelectuais e até momentos de impactos que influenciam no amadurecimento dos jovens universitários. Muitos não mais se adequaram ao tipo de organização e funcionamento dos centros espíritas. Estes, em geral, fecharam-se com propostas de cursos com programações padronizadas que, na atualidade, não é motivador para a infância e juventude que gostariam de analisar questões da sociedade atual à luz do espiritismo.

Há deficiência de criação de autênticos espaços de convivência e interativos com essas faixas etárias. Há algum tempo procuramos chamar atenção do movimento espírita para a compreensão dos novos contextos, inclusive durante nossa gestão como presidente da FEB, encontrando muitas resistências. Nosso ponto de vista fica reforçado com a simples verificação de como anda a presença de jovens nos centros espíritas. Há um registro forte e marcante que corrobora nossa opinião: nos dados dos Censos do IBGE, desde 2000 e 2010, na análise comparativa com as demais religiões, o segmento espírita e das religiões orientais são as que menos cresceram nas faixas etárias até 29 anos.

Cremos que relacionamos algumas causas do decréscimo da presença de jovens no movimento espírita. Matéria para estudos e reflexões!

Fonte:

Carvalho, Antonio Cesar Perri. Centro Espírita: prática espírita e cristã. São Paulo: USE-SP. 2016. 196p.

Síntese-trechos de artigo do autor publicado em Dirigente Espírita (copie e cole): https://usesp.org.br/wp-content/uploads/2024/11/reDE-203-nov-dez-2024.pdf

Significado espírita do pão

Significado espírita do pão

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Meses atrás fomos convidados para o programa “Gotas de Esperança" do Instituto de Difusão Espírita Allan Kardec – IDEAK, para desenvolver tema com base no capítulo “Pão de cada dia”, do livro Caminho, Verdade e Vida (Cap. 174, Emmanuel/FCX).

O autor espiritual induz ao raciocínio e interpretação espiritual sobre o significado do pão: “O servo trabalha e o Altíssimo lhe abençoa o suor. É nesse processo de íntima cooperação e natural entendimento que o Pai espera colher, um dia, os doces frutos da perfeição no espírito dos filhos”.

Naquela oportunidade, tivemos condição de divagarmos sobre o tema e extrapolarmos a visão estrita de alimento material.

Historicamente, o pão sempre foi considerado marcante nos textos bíblicos.

Em todos os tempos, mesmo nos mais remotos, foi o pão o principal alimento dos hebreus. Era um elemento essencial nas ofertas e nos rituais de adoração.

O pão é mencionado em várias passagens no Antigo e Novo Testamento e seu significado vai além do aspecto físico do alimento.

Com base em João (6, 35) Jesus se identificou como o “pão da vida”: “Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede”.

Ele se apresenta como fonte de vida espiritual e que aqueles que creem nele encontrarão satisfação e plenitude.

Na Última Ceia, disse Jesus: “Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim” (Lucas 22, 19).

Nesse contexto, o pão também representa o corpo de doutrina, de pensamentos e ensinos, para que seja incorporado entre as pessoas. É a melhor memória!

Em festas judaicas a celebração da refeição é iniciada com o pão.

O pão também simboliza o reforço de laços familiares ao se reunirem para comê-lo.

Em O Evangelho segundo o Espiritismo (Cap. 28), Kardec analisa cada frase da prece do Pai Nosso, e, sobre “Dá-nos o pão de cada dia”, destaca a ideia que deve animar o sentimento de quem a profere: “Dá-nos o alimento indispensável à sustentação das forças do corpo; mas dá-nos também o alimento espiritual para o desenvolvimento do nosso Espírito”.

Em obra formidável – Pai Nosso – o espírito Meimei, pela psicografia de Chico Xavier tem um capítulo sobre a frase: “pão nosso de cada dia dá-nos hoje”. A mensageira espiritual destaca que “O pão nosso de cada dia não é somente o almoço e o jantar, o café e a merenda. É também a ideia e o sentimento, a palavra e a ação.” E encerra o capítulo anotando: “Em Jesus temos o pão que desceu do Céu.

E, ainda hoje, o Mestre continua alimentando o pensamento da Humanidade, por intermédio de um Livro — o Evangelho Divino, em que ele nos ensina, através da bondade e do amor, o caminho de nossa felicidade para sempre”.

Portanto, o “pão da vida”, os ensinos de Jesus representam o verdadeiro e inextinguível alimento para o espírito imortal!