Uma Páscoa diferente

Uma Páscoa diferente

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Em meio ao isolamento social adotado com medida preventiva em tempos de pandemia, têm ocorrido profundas alterações nas relações familiares e sociais em geral. Esse cenário mudou a forma de se comemorar a tradicional Páscoa.

As famílias não puderam realizar grandes reuniões ou refeições comemorativas. Estas ficaram fisicamente circunscritas ao ambiente de cada lar.

Em que pesem os danos para o comércio, a ênfase na troca de presentes, de ovos de Páscoa e do marketing envolvendo o “coelhinho”, provavelmente diminuíram drasticamente.

As tradicionais comemorações religiosas formais que envolviam a presença de multidões foram suspensas.

Nas novas condições da sociedade, também tem havido apelos variados para orações nos lares e até em sintonia com grupos a distância em horários pré-combinados.

Jesus tem sido lembrado nos mais variados tipos de orações e até de apelos.

Para nós, espíritas, a substituição da tradicional imagem de Jesus crucificado pela evocação de suas aparições seguidas nos quarenta dias após o sacrifício, abre um horizonte completamente diferenciado para a compreensão do Mestre e seus ensinos.

Enfim, nessa Páscoa, valoriza-se o momento da família que pode estar fisicamente junta, e, dos familiares a distância, em contatos on line, mas, sem dúvida, vibratoriamente próximos. A lembrança da figura e dos exemplos de Jesus e o emprego da oração tem sido revigorados.

Entendemos que nessa Páscoa, sem a preponderância da tradição de meras formalidades e do consumismo, está ocorrendo uma comemoração mais voltada à nuance espiritual.

Talvez após a superação dos isolamentos sociais, quarentenas e de todas consequências sociais e econômicas, a pandemia do coronavírus possa vir a ser um marco na história da Humanidade, não necessariamente apenas pelos danos causados, mas, quiçá por induzir a muitas análises e reflexões sobre a sociedade, como revisão de valores e de prioridades de vida.

A certeza da imortalidade da alma fortalece a essência e a praticidade dos ensinos morais de Jesus.

Em momentos tormentosos e com a visão espiritual, podemos refletir mais na profundidade do Sermão da Montanha, sem dúvida, a “carta magna” do Cristianismo, cujo conteúdo poderá influir na elaboração de uma nova proposta para o convívio na sociedade, como parâmetro para uma Nova Era.

Allan Kardec trata sobre os chamados “sinais dos tempos” e sobre a expectativa de uma nova era, no capítulo XVIII de sua última obra – A gênese. Os milagres e as predições segundo o Espiritismo.

Há inúmeras mensagens espirituais sobre o tema disponíveis na literatura espírita. Transcrevemos apenas um trecho final de manifestação histórica e marcante do espírito Bittencourt Sampaio:

“Espíritas! Com Allan Kardec, retomastes o facho resplendente da Boa-Nova, que jazia eclipsado nas sombras da Idade Média! Compreendamos nossa missão de obreiros da luz, cooperando com o Senhor na construção do mundo novo!… Não ignorais que a civilização de hoje é um grande barco sob a tempestade… Mas, enquanto mastros tombam oscilantes e estalam vigas mestras, aos gritos da equipagem desarvorada, ante a metralha que incendeia a noite moral do mundo, Cristo está no leme! Servindo-o, pois, infatigavelmente, repitamos, confortados e felizes: Cristo ontem, Cristo hoje, Cristo amanhã!…”1

Referência:

Xavier, Francisco Cândido. Por espíritos diversos. Instruções psicofônicas. Cap. 64. Brasília: FEB. 2013.

(*) Foi presidente da FEB e da USE-SP, e membro da Comissão Executiva do CEI.