Reflexões sobre a pandemia, fé e ciência

Reflexões sobre a pandemia, fé e ciência 

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Estamos reunindo algumas informações e transcrições que podem servir de reflexões para os momentos críticos que estamos vivendo.

É verdade que as redes sociais estão divulgando aos borbotões mensagens, transcrições e lives.

Numa época de proliferação de fake news há necessidade de se analisar sobre conteúdos, conferindo-os com os parâmetros da Codificação Espírita. Portanto, deve haver muito cuidado antes de se “compartilhar” as matérias.

De início, lembramos que Allan Kardec conviveu com epidemias e as comentou em Revista Espírita (Novembro de 1865, Edicel), no artigo “O Espiritismo e o Cólera”. Nesse texto, o “bom senso encarnado” pondera que “seria absurdo crer que a fé espírita seja um ‘brevet’ de garantia contra o cólera”, e destaca que o conhecimento espírita “tendente a fortificar o moral é um preservativo”.

Na terrível epidemia da “gripe espanhola” nos anos 1918 e 1919, entre milhões de vítimas no mundo, em nosso país, desencarnou o pioneiro Eurípedes Barsanulfo e o presidente da República Rodrigues Alves.

Até a primeira metade do século XX, antes do aparecimento das vacinas Salk e Sabin, o risco de “paralisia infantil” atemorizava as famílias. E surgiram outras epidemias em nosso país tropical, como a febre amarela, cólera, deng…

Particularmente, no seio da família, vivemos antes das vacinas, os cuidados e fugas de surtos de “paralisia infantil”. Vivenciamos as dedetizações maciças nas cidades do interior contra a febre amarela e a deng. As caminhonetes ligadas a serviços de saúde eram conhecidas por produzirem o popularmente chamado “fumacê”.

Em viagens internacionais também surgiram cuidados. Em 1973, não pudemos chegar até ao Sul da Itália, porque havia surto de cólera. Logo depois para viagens a alguns Estados do Brasil, países e Continentes havia a exigência de Atestado de algumas vacinações que eram obrigatórias.

Como profissional da área da saúde, em meados dos anos 1980, convivemos com as contaminações dos vírus da hepatite B e da AIDS. Até chegamos a realizar uma grande campanha de esclarecimento junto a profissionais, ao povo em geral, e publicações especializadas, para se estimular a profilaxia dessas enfermidades.

Agora, estamos frente a uma situação completamente nova, pois o COVID-19 é um vírus ainda não bem conhecido, e, num mundo globalizado tem provocado situações e prejuízos inimagináveis, mas já se tendo a certeza da velocidade e facilidade com que se dissemina e dos riscos enormes, principalmente na faixa etária da chamada 3a idade.

Para nós, espíritas, não há nenhuma dúvida sobre os compromissos que temos com a vida em geral e, especificamente, com nosso organismo, desde as Obras Básicas de Allan Kardec.

Claramente nos alerta André Luiz: “O corpo é o primeiro empréstimo recebido pelo Espírito trazido à carne” (Conduta Espírita, capítulo 34).

Daí a razão para atendermos às orientações e recomendações emanadas das autoridades da área da Saúde.

Como Kardec chamou atenção em nota acima destacada da Revista Espírita de 1865, não é apenas com a fé que resolvemos as questões corpóreas e sociais. Por oportuno, precisamos empregar a “fé raciocinada” e relermos trechos do item “Aliança do Espiritismo com a Ciência” (O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap.1) e os últimos capítulos da derradeira obra de Kardec: A Gênese.

Aliás, no livro citado, o lúcido Codificador desenvolveu uma linha de raciocínio muito inspirada. Destacamos apenas um trecho que pode sugerir reflexões sobre os momentos que a Humanidade está vivendo, quais as razões, os porquês e para onde vamos: “[…] a fraternidade será a pedra angular da nova ordem social, mas não há fraternidade real, sólida e efetiva sem estar apoiada sobre uma base inabalável. Essa base é a fé; não a fé em tais ou quais dogmas particulares que mudam com o tempo e os povos e que se apedrejam mutuamente…” (A Gênese, Cap. XVIII).

Vacinas e tratamentos específicos surgirão, mas o impacto da atual pandemia poderá levar a Humanidade a buscar novos valores, com bases humanitárias, e, quiçá, assentados na “carta magna” do Cristianismo: no Sermão da Montanha.

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“Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus” – Paulo (1 Cor. 6, 20).

(*) O autor é ex-presidente da FEB e da USE-SP.