A pandemia e suas profundas repercussões

A pandemia e suas profundas repercussões

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

A pandemia mundial do COVID-19 tem produzido conseqüências inimagináveis.

Muitos alegam que no Brasil há outras epidemias, endemias e problemas sociais que também levam à morte. Outros lembram de outras epidemias que o país venceu. Realmente, a histórica “gripe espanhola” de um século atrás vitimou até o presidente da República Rodrigues Alves e o valoroso líder espírita Eurípedes Barsanulfo.

Agora estamos frente a uma situação completamente diversa pelas características do novo tipo de coronavírus. O mundo entrou num estado que varia de intensas preocupações até ao pânico desde que foi identificado o surto de coronavírus em Província da China. Em poucos meses o COVID-19 tem infectado e até feito vítimas letais em praticamente todos os países, e, chama atenção que compromete os países mais desenvolvidos do planeta. Silenciosamente o vírus rompeu todas as “redes de segurança” e chegou na intimidade de poderosos governantes.

Sem entrar em comentários sobre os meios de transmissão, a letalidade do Covid-19, comparações com outras epidemias e até ilações espíritas de causa e efeito, há algo que deve ser refletido.

Apenas daqui uns meses é que teremos ideia das reais conseqüências econômicas e sociais no mundo e em nosso país.

Há necessidade de uma reflexão bem ampla sobre a situação e tendências da Humanidade, e, na base, sobre valores. O profundo impacto virótico deve ser analisado também no tocante da questão da indiferença humana com questões de interesse geral que se refletem em consumismo, formas de ganância, desvalorização da família e de contatos sociais.

Agora, com multidões em isolamento social ou em rígidas quarentenas em cidades, regiões e países, grandes navios sem poderem desembarcar seus passageiros, estamos frente a um cenário que ninguém poderia imaginar.

A pandemia mundial está afetando todo o planeta a partir do poder de um microscópico vírus.

As autoridades de saúde chegaram até ao detalhe para se evitar sobrecarregarem os avós com a presença dos netos eventualmente dispensados das escolas, considerando que os idosos são integrantes do grupo de risco. Isso leva ao repensar da relação dos pais com seus filhos em função de compromissos do próprio lar e os profissionais.

O mundo espiritual sempre deixou claro que os encarnados devem zelar pelo corpo físico e valorizar a vida.

E aí surge a indagação: seriam momentos para se rever valores? Ou seja: valores relacionados com os ambientes familiar e social, independentemente de aparências e de máscaras sócio-econômicas? Naturalmente há impactos sobre as instituições e o movimento espírita.

Em virtude da pandemia do coronavírus, as Entidades Federativas adiaram a realização de Congressos Espíritas e os centros espíritas em geral suspenderam atividades.

Haverá necessidade de se rever prioridades em todos os âmbitos de ação. Inclusive, frente a um novo cenário econômico e social, sobre o qual não podemos fazer previsão.

A adoção de uma mensagem de consolo e de esperança espiritual é imperiosa. Quais serão as formas e condições de atendimento das necessidades sociais das pessoas beneficiadas por instituições espíritas?

Várias instituições estão fazendo transmissões ao vivo e reuniões virtuais. O período de quarentena poderá ensejar diversificação e atualização para as práticas espíritas, como a valorização e ampliação das formas de difusão utilizando redes sociais e vídeo conferências.

Com relação aos Congressos, que estavam previstos no território brasileiro em quantidade aparentemente exagerada, poderia caber um estudo e reflexão sobre os mesmos. Alguns aspectos poderiam ser considerados: a praticidade dos mesmos, abstração de eventuais interesses comerciais ou de subsistência de instituições, mais ênfase à seleção de expositores que abordam temáticas doutrinárias, valorização de expositores das várias regiões e se evitar a ênfase na centralização de convidados que parecem ser escolhidos em função de atraírem público. Claramente nota-se a repetição de uns pouquíssimos nomes nos vários Congressos. E o movimento espírita brasileiro é imenso e conta com muitos valores. Talvez alguns Congressos poderiam ser substituídos por seminários regionais e com temas de apoio direto aos centros e ao movimento espírita e também por seminários e palestras a distância, com acesso público e gratuito.

As conseqüências do microscópico Covid-19 na “empoderada” Humanidade de nossos dias, de repente, poderão conduzir a algumas reflexões humanitárias e até de natureza espiritual?

A propósito do contexto que a Civilização está vivendo, é muito oportuno o estudo reflexivo sobre capítulos do livro A Gênese, em que Allan Kardec trata nos capítulos XVI e XVII de assuntos que, claramente, estão relacionados com nossa época. Entre outros comentários: “[…] a época atual é a da transição: os elementos das duas gerações se embaralham. Colocados no ponto intermediário, presenciamos a partida de uma e a chegada da outra, a cada qual se distingue no mundo pelas características que lhe são próprias.” O Codificador alerta que: “[…] a fraternidade será a pedra angular da nova ordem social, mas não há fraternidade real, sólida e efetiva sem estar apoiada sobre uma base inabalável. Essa base é a fé; não a fé em tais ou quais dogmas particulares que mudam com o tempo e os povos e que se apedrejam mutuamente…”1

Fonte:

1) Kardec, Allan. A gênese. Os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Cap. XVI e XVII. São Paulo: FEAL. 2018.

(*) Foi presidente da FEB e da USE-SP; membro da Comissão Executiva do CEI.

Entraído de:

Revista internacional de espiritismo. Ano XCV. N.4. Maio de 2020. p.164-165.

Memórias junto à trajetória de Divaldo, o incansável divulgador: “Sigamos, erguendo o mundo novo”

Memórias junto à trajetória de Divaldo, o incansável divulgador: “Sigamos, erguendo o mundo novo

Antonio Cesar Perri de Carvalho[1]

  No dia 5 de maio Divaldo Pereira Franco completa 93 anos de idade e prossegue incansável nas ações da difusão espírita, em que pesem os limites de enfermidades e da própria idade. Tem vencido desafios e mantido seu compromisso de difusão do Espiritismo.

 Há quase seis décadas conhecemos Divaldo e ele exerceu muita influência em nossa adolescência e juventude. Ao longo do tempo acompanhamos a trajetória de Divaldo em inúmeras e variadas ações e que foram para nós momentos de aprendizagem. Em nossa memória desfila uma visão panorâmica.

 O primeiro contato foi por ocasião de sua palestra na XV Concentração de Mocidades Espíritas do Brasil Central e Estado de São Paulo (COMBESP), em abril de 1962, em Araçatuba (SP). Na oportunidade, ele também visitou a Instituição “Nosso Lar”, na época recém fundada por familiares nossos.

 Nos anos imediatos, nos encontramos na histórica I Confraternização de Mocidades e Juventudes Espíritas do Brasil (COMJEB), realizada em abril de 1965, em Marília (SP). Guardamos como lembrança um livro em que coletamos autógrafos dos expositores, inclusive de Divaldo. No mês seguinte assistimos suas palestras em Araçatuba e Lins.

 Outros encontros se seguiram como na 1a Confraternização de Mocidades e Juventudes Espíritas do Estado de São Paulo-COMJESP (Ribeirão Preto, abril de 1967). Nesse evento fomos vencedor no concurso de oratória, na categoria de expositor, e integramos a mesa de encerramento com palestra de Divaldo, e, como um grande desafio, fizemos uma saudação. Como lembrança, o primeiro livro de autoria de Joanna de Ângelis, o Messe de Amor (Editora Sabedoria, 1964), com autógrafos de Divaldo e vários amigos. Era o início da publicação de seus livros.

Encerramento da I COMJESP (1967): Divaldo, José de Faria e Perri

 

 Àquela época, já mantínhamos correspondência com Divaldo e recebíamos os folhetos impressos pela Mansão do Caminho contendo mensagens psicografadas.

 Desde 1972 passamos a organizar os roteiros de Divaldo pela região de Araçatuba, incluindo palestras desde Penápolis até a então nascente cidade de Ilha Solteira, e, chegando a Três Lagoas (MT). Na época éramos presidente do órgão da USE local (União Municipal Espírita de Araçatuba). A partir desse período, Divaldo foi nosso convidado para participação em vários eventos do movimento espírita de Araçatuba: a 16a Concentração de Mocidades Espíritas da Noroeste do Estado de São Paulo – COMENOESP (1973), e para Semanas e Mês Espíritas.

16a COMENOESP (1973): Ismael Gobi, Perri, Therezinha de Oliveira, Divaldo e Israel Antonio Alfonso

 

 Em função das palestras e diálogos, livros e correspondências assíduas, Divaldo representava apoio aos nossos passos espíritas.

 Divaldo foi hóspede de nossa genitora – Bebé – e nosso também, após nosso casamento, durante 30 anos. Nos dois lares sempre havia uma refeição com convites para os dirigentes e amigos da cidade, reunindo grande número de participantes, bate-papos informais, momentos proveitosos, alegres e fraternos.

 Com a esposa Célia, desde uma passagem em etapa da viagem de núpcias, algumas vezes visitamos o Centro Espírita Caminho da Redenção, este na antiga sede no bairro da Calçada e as casas-lares da Mansão do Caminho; depois a obra imensa reunida no bairro de Pau da Lima, em Salvador. Algumas vezes nos hospedamos na Mansão. Nossos filhos nasceram e cresceram acostumados com a visita do “tio” e um deles é tratado como “meu neto”. Os três filhos estiveram em visita à Mansão do Caminho. As dedicatórias nos livros registram as atenções de Divaldo com nossa família.

 Em várias visitas de Divaldo, houve momento de prece em nosso lar ou de nossa genitora – também com presença de convidados -, instantes em que o médium psicografou mensagens de Benedita Fernandes e de nosso tio Lourival Perri Chefaly.

Psicografia no lar de Bebé (1984)

 

 Nas visitas de Divaldo organizávamos entrevistas com os dirigentes locais e com a imprensa (rádios, jornais e TV). Estas foram transformadas em publicações que fizemos nos jornais de Araçatuba e também em periódicos espíritas. Essas publicações integraram um material apostilado “Divaldo em Araçatuba”, a ele ofertado na solenidade em que recebeu o título de “Cidadão Honorário de Araçatuba”, em 1984.

CELF, Araçatuba (1981): Perri, Divaldo, Rolandinho e repórter Dini

 

Título de Cidadão Araçatubense (1984): Divaldo, Perri e presidente Câmara

 

 Por sugestão de Divaldo elaboramos a obra Repositórios de Sabedoria coletânea em dois volumes em forma de abecedário de pensamentos de Joanna de Ângelis, extraídos das primeiras obras da Autora Espiritual.[2]

 No nosso livro, Dama da Caridade lançado em Araçatuba em 1982, reeditado e depois ampliado , há mensagens de Benedita Fernandes psicografadas por Divaldo.[3]

 Na obra Em Louvor à Vida , incluímos mensagens do espírito Lourival Perri Chefaly, psicografadas por Divaldo, lançado em Araçatuba, em dezembro de 1987.[4]

 Episódio histórico que acompanhamos desde os preparativos foi o reencontro de Divaldo com Chico Xavier, em Uberaba. Foram memoráveis as reuniões dessa nova etapa com Chico Xavier, reiniciadas no Grupo Espírita da Prece, aos 14 de fevereiro de 1978. Entre outros convidados, Divaldo fez uma bela exposição e nós também fizemos uso da palavra. No momento das psicografias em público Chico Xavier recebeu página de Emmanuel e uma carta de jovem desencarnado. Divaldo recebeu uma carta assinada por Lolo (apelido familiar de um tio nosso), dirigida a nós e a esposa Célia, que acompanhávamos a reunião[4]. Aos 5 de novembro de 1980, juntamente com a esposa, nossa genitora e amigos, assistimos à cerimônia em que Divaldo recebeu o título de "cidadão uberabense". Chico Xavier compareceu e usou da palavra na solenidade. Acompanhamos outros encontros conjuntos nos anos seguintes.

“Peregrinação” em Uberaba-15/02/1978: Acima: Perri, Divaldo e Chico; Abaixo: . Zilda e Weaker Batista, Chico e Divaldo

Camiseta da solenidade de Cidadania Uberabense a Divaldo (1980), com filhos de Cesar e Célia.

 

 Com nossa mudança, por razão profissional, para a cidade de São Paulo, e, mais à frente, para Brasília, Divaldo voltou a ser hospedado por nossa genitora até a desencarnação dela. Mas voltávamos a Araçatuba, para acompanhar os eventos com atuação de Divaldo.

Divaldo entre nossa genitora Bebé e sua tia; os irmãos Paulo, Aldo e Cesar com Célia-Araçatuba,1991

 

 No período de nossa presidência da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, Divaldo foi entrevistado na sede da USE-SP, gerando uma edição ampliada de publicação anterior com o expositor.[5] Ainda nesse período, em evento efetivado pela USE-SP, em São Paulo, para lançamento nacional da Campanha Viver em Família, promovido pelo Conselho Federativo Nacional da FEB, em janeiro de 1994, Divaldo foi entrevistado sobre a Campanha. Este registro e a síntese das palestras dos vários convidados originou o livro Laços de família.[6]

Lançamento das Campanhas Vida e Família-Senado Federal: Divaldo, Juvanir Borges, senadores e Perri (nov.1993)

 

Lançamento nacional da Campanha Viver em Família – USE-SP – São Paulo (jan.1994)

 

 Em livros editados pela FEB, tivemos atuação em entrevistas com Divaldo promovidas pelo Conselho Federativo Nacional da FEB: atendendo a pergunta nossa em Conversa fraterna[7], no ano 2000, e, na obra Em nome do amor: a mediunidade com Jesus[8] está incluída entrevista que coordenamos durante o CFN da FEB em 2011.

 Nos diversos Estados do Brasil e em dezenas de países estivemos junto com Divaldo em vários eventos históricos. Muitas ações junto ao Conselho Federativo Nacional da FEB e o Conselho Espírita Internacional.

Reunião do CEI em Varsóvia (Polônia, 2010): Nestor Masotti, Divaldo e Perri

 

 Por ocasião da Reunião do Conselho Federativo Nacional da FEB, em novembro de 2014, na nossa gestão como presidente da Federação Espírita Brasileira, foram concretizadas várias atividades com Divaldo. Com a presença dele como figura central houve a promoção do “Movimento Você e Paz”, em solenidade no plenário da Câmara dos Deputados e palestra no anfiteatro da FEB. Nos mesmos dias foi inaugurada uma Exposição sobre a Mansão do Caminho e a obra de Divaldo Pereira Franco no Espaço Cultural na sede FEB em Brasília.

Em dias de reunião do CFN, Divaldo entrega o troféu “Você e a Paz” à FEB, sendo Perri o presidente da Federação Espírita Brasileira (Brasília, Nov.2014)

 

 Como geralmente acontece com líderes sempre há tentativas de serem controlados e surgirem “porta vozes”. Ao longo do tempo houve o esforço de Divaldo e nosso para se manter abertos os canais de comunicação. O intercâmbio epistolar em papel e digital é imenso!

 Logo em seguida, em outra etapa de nossos compromissos, contamos com apoio de Divaldo e vários contatos ocorreram em alguns eventos nos anos seguintes.

Casal Célia e Cesar no Congresso da FEEB-Salvador (Nov.2015)

 

Movimento Você e a Paz – Parque do Ibirapuera, São Paulo – Divaldo à direita; à esquerda: Júlia Nezu e Perri (Out.2016)

 

Congresso  Estadual da USE-SP – Divaldo com Perri e Balieiro (Atibaia, Jun.2017)

 

Perri em homenagem a Divaldo na  Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo (Out.2017)

 

 A convivência com Divaldo desde Araçatuba e em inúmeros locais foram momentos significativos, com boas recordações e inspiradores para a difusão do Espiritismo, para estímulo ao bem e à paz! Nossos registros sintéticos revelam instantes proveitosos e alegres. No afã de homenagear o lidador aniversariante nossa memória reviveu, como um filme, a longa trajetória, com registro de apenas uns cenários. Testemunhamos episódios notáveis acompanhando a evolução das ações de Divaldo, exceção apenas dos tempos iniciais de sua missão nos anos 1940/50. Sobre esse período ouvimos relatos dele próprio e assistimos as encenações no filme cinematográfico “Divaldo – O Mensageiro da Paz”.

Filme “Divaldo – O Mensageiro da Paz” e os espectadores: casais Nakano e Perri (São Paulo, 2019)

 

 Em abril de 2020 recebemos e-mails de Divaldo, com atenciosos e significativos comentários: “[…] Tenho prosseguido com destemor e fiel a Jesus-Kardec até à desencarnação próxima. […] Sou muito grato a você e família que me receberam desde jovem até hoje.” Logo depois em outra mensagem: “[…] Naquele lindo tempo éramos muito felizes. […] Sigamos, erguendo o mundo novo.”

Referências:

1) Foi dirigente em Araçatuba (SP), presidente da USE-SP e da FEB, membro da Comissão Executiva do CEI.

2) Franco, Divaldo Pereira; Carvalho, Antonio Cesar Perri (Org.). Pelo espírito Joanna de Angelis. Repositório de sabedoria. Vol. I e II.  283p e 288p. Salvador: LEAL. 1980.

3) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Benedita Fernandes. A dama da caridade. Araçatuba: Ed. Cocriação/USERegional de Araçatuba. 2017. 144p.

4) Franco, Divaldo Pereira; Chefaly, Lourival Perri; Carvalho, Antonio Cesar Perri (Org.). Em louvor à vida. 2.ed. Salvador: Ed. LEAL. 2016. 152p. 

5) Franco, Divaldo Franco. Diálogo com dirigentes e trabalhadores espíritas. 2.ed. São Paulo: USE. 1993. 156p.

6) Franco, Divaldo Pereira; autores diversos. Laços de família. 8.ed. São Paulo: Ed. USE. 150p.

7) Franco, Divaldo Pereira. Conversa fraterna. Divaldo Pereira Franco no Conselho Federativo Nacional. Rio de Janeiro: FEB. 2001. 110p

8) Franco, Divaldo Pereira. Pelo espírito Bezerra de Menezes. Em nome do amor: a mediunidade com Jesus. 2.ed. Rio de Janeiro: FEB. 2012. 281p.

O Evangelho segundo o Espiritismo – 156 anos!

O Evangelho segundo o Espiritismo – 156 anos!

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Em meados de abril transcorrem 156 anos do lançamento de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de autoria de Allan Kardec; na primeira edição designado Imitação do Evangelho segundo o Espiritismo.

O Codificador fez uma resenha sobre o livro em lançamento na Revista Espírita, edição de abril de 1864.1 No mesmo ano, na edição de dezembro comenta com seu bom senso peculiar uma mensagem, aceitando seu conteúdo, sobre o novo livro assinada por “O Espírito de Verdade”.1

Até hoje é o livro espírita mais editado, um autêntico best seller!

No período de publicações feitas pela EDICEI, a antiga editora do CEI, foram lançadas versões desse livro em vários idiomas. Agora, em 2020, na Inglaterra, a British Union of Spiritist Societies editou a tradução feita por Janet Duncan, fundadora do Allan Kardec Study Group e pioneira do Espiritismo no Reino Unido. Na realidade, antes dela havia apenas o movimento New Spiritualism. Também recentemente foi lançado na Bulgária a tradução desse livro para o idioma búlgaro feita por Pavlina Nikolova.

Por ocasião das comemorações do Sesquicentenário dessa obra básica de Allan Kardec em 2014, foram implementadas várias ações nos Estados do país e em nível nacional.

Como parte das comemorações pela efeméride, a Federação Espírita Brasileira promoveu de 11 a 13 de abril de 2014 o 4o Congresso Espírita Brasileiro. De uma maneira inédita este Congresso saiu da tradição da centralização na capital federal e foi descentralizado, realizado simultaneamente em quatro capitais, para se atender às diferentes regiões do país: Campo Grande, Vitória, João Pessoa e Manaus. O tema central foi único para os quatro eventos: “150 anos de esclarecimento e consolação”. Houve oportunidade para expositores atuarem em suas regiões. No dia anterior ao Congresso, nas quatro cidades ocorreram as reuniões regionais do Conselho Federativo Nacional da FEB. O presidente da FEB compareceu nas quatro cidades: na reunião regional do CFN em Manaus; na abertura do Congresso em Campo Grande e, simultaneamente, fazendo on line a abertura de todos os eventos. Depois proferiu palestras também em Vitória e João Pessoa, onde participou do encerramento dos eventos.

Os quatro eventos contaram com número muito expressivo de participantes.

A FEB lançou edições especiais de O Evangelho Segundo o Espiritismo e, inclusive, uma edição histórica bi-lingue da 1a edição Imitação do Evangelho segundo o Espiritismo, com tradução feita por Evandro Noleto Bezerra.2 Também foi lançado o livro O Evangelho segundo o Espiritismo. Orientações para o estudo.3

Outro fato inédito nos eventos do 4o Congresso Espírita Brasileiro é que todos os inscritos receberam de volta o valor investido nas inscrições em livros editados pela FEB. Durante o Conselho Federativo Nacional da FEB de novembro de 2014, o coordenador geral do Congresso e assessor do presidente da FEB, José Antonio Luiz Balieiro, exultante, prestou contas demonstrando que os eventos foram auto-suficientes e até geraram um saldo, rompendo a tradição de eventos que eram mantidos pela Instituição.

Naquela época funcionava a todo vapor na sede da FEB o curso sobre O Evangelho segundo o Espiritismo, em dois dias por semana, e o Núcleo de Estudos e Pesquisas do Evangelho (NEPE), ambos implantados pelo então presidente, respectivamente em 2012 e 2013. O NEPE gerou um livro de estudo sobre o Evangelho3 e dezenas de programas gravados pela TVCEI e FEBTv.4

O conjunto de estímulos gerados pelo estudo do Evangelho frutificou.

Uma pesquisa realizada na Universidade Federal de São Carlos gerou a Dissertação de Mestrado “Jesus a porta, Kardec a chave”: a apropriação do Novo Testamento pelo segmento espírita, de autoria de Natália Cannizza Torres, para obtenção do título de Mestre em Sociologia. A autora comprovou o papel do NEPE da FEB, no período de 2013/2015, para o estímulo ao estudo do Evangelho e computou 59 NEPEs em diferentes centros espíritas, espalhados por 14 unidades federativas do país.5

A valorização de O Evangelho segundo o Espiritismo nos centros espíritas é de importância fundamental, e, no momento, extremamente necessária. O Espiritismo se assenta nas máximas morais do Cristo. Isso está claramente fundamentado na obra inaugural O Livro dos Espíritos e, na sequência, na obra em análise.

Entre os espíritas há esforço pelo aprimoramento moral e espiritual e por ações em favor do próximo, como as tradicionais instituições assistenciais. Em um mundo complexo, há muitos progressos técnicos, tecnológicos, humanos e sociais, porém ainda há contrastes chocantes e até muitas incertezas. Para a religião cabe a missão de colaborar com o homem, com ações educativas e preventivas, para se evitar as tragédias psíquicas, espirituais, ou seja, comportamentais.

Com base nos fundamentos do Cristianismo, a histórica obra O Evangelho Segundo o Espiritismo, define o grande objetivo: “[…] destruição do egoísmo. Quando as adotarem para regra de conduta e para base de suas instituições, os homens compreenderão a verdadeira fraternidade e farão que entre eles reinem a paz e a justiça. Não mais haverá ódios, nem dissenções, mas tão-somente, união, concórdia e benevolência mútua”. A exclusão do orgulho e do egoísmo leva a importante conquista: “A pureza do coração é inseparável da simplicidade e da humildade.”6

Essa é a chave para o portal de uma nova Civilização! A lei áurea trazida pelo Cristo – de respeito e apoio ao próximo – deve ser a fundamentação para uma nova sociedade: de respeito à vida nas suas várias manifestações, de respeito ao próximo – nas relações interpessoais – e na diversidade humana, e de respeito à Natureza.

Num clima de transições e de incertezas o homem deve se conscientizar de sua natureza espiritual e das conseqüências práticas – individuais e sociais – de se colocar como um espírito encarnado e que adota a mensagem cristã.

Na profícua literatura mediúnica de Chico Xavier são evidentes as contribuições para o melhor entendimento do homem, como ser espiritual, e para uma compreensão bem expandida dos Evangelhos. O notável autor espiritual é autor de nove livros que comentam versículos do Novo Testamento.

Dois mil anos antes dos momentos de transição a base para uma nova Era foi apresentada pelo Cristo. Tudo indica que vivemos os estertores de um mundo de desrespeitos, e que, mesmo em situações difíceis que podem se apresentar, estas prenunciam o alvorecer de um novo dia para a Humanidade. Daí a importância que os espíritas assinalem os 156 anos de lançamento de O Evangelho segundo o Espiritismo!

Referências:

1) Kardec, Allan. Trad. Abreu Filho, Júlio. Revista espírita. Abril e dezembro de 1864. Vol. 7. São Paulo: Edicel.

2) Kardec, Allan. Trad. Bezerra, Evandro Noleto. Imitação do evangelho segundo o espiritismo. Ed.Hist. Brasília: FEB. 2014.

3) Carvalho, Antonio Cesar Perri; Carvalho, Célia Maria Rey (Org.). O evangelho segundo o espiritismo: orientações para o estudo. 1.ed. Brasília: FEB. 2014.

4) Disponíveis no site: http://grupochicoxavier.com.br/videos-sobre-o-estudo-do-evangelho/ (consulta em 7/4/2020).

5) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Pesquisa sobre o estudo do Evangelho entre espíritas. Revista Internacional de Espiritismo, Ano XCV, n. 2, Março de 2020. p.82-82; acesso à Dissertação: https://repositorio.ufscar.br (consulta em 7/4/2020).

6) Kardec, Allan. Trad. Ribeiro, Guillon. O evangelho segundo o espiritismo. Cap. XI. Rio de janeiro: FEB.

(*) Foi presidente da Federação Espírita Brasileira (interino, 2012/2013 e efetivo 2913/2015) e da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (1990/1994 e 1997/2000).

Extraído de:

Revista digital O Consolador, no. 667, edição 26/04/2020.

link (copie e cole):

http://www.oconsolador.com.br/ano14/667/especial.html

156 anos de O Evangelho e reflexos do histórico Congresso

156 anos de O Evangelho e reflexos do histórico Congresso

 

Chico Xavier lendo O evangelho segundo o espiritismo, na peregrinação, em Uberaba (1981)

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Agora em abril completa-se 156 anos do lançamento de O evangelho segundo o espiritismo, pelo Codificador.

Ainda repercutem as comemorações do Sesquicentenário desta obra básica de Allan Kardec que suscitaram amplas ações nos Estados do país e em nível nacional ao longo do ano de 2014.

Particularmente, com um grupo de idealistas vivemos momentos marcantes. Um evento histórico naquela ocasião foi o 4o Congresso Espírita Brasileiro, efetivado especialmente como parte das comemorações pela efeméride. A Federação Espírita Brasileira, através de seu Conselho Federativo Nacional, promoveu de 11 a 13 de abril de 2014 este Congresso, com várias maneiras de inovações.

Pela primeira vez um evento nacional saiu da tradição da centralização na capital federal. O 4o Congresso Espírita Brasileiro foi descentralizado e realizado simultaneamente em quatro capitais, com o objetivo de facilitar maior presença de pessoas das diferentes regiões do país. Assim, Campo Grande, Vitória, João Pessoa e Manaus foram sedes do Congresso nos mesmo período.

O tema central “150 anos de esclarecimento e consolação” foi comum para os quatro eventos. Previamente, nas reuniões das Comissões Regionais do CFN, foram coletadas sugestões para o rol de expositores atuarem em suas regiões. Assim, foram valorizados expositores provenientes das regiões do país. Nas quatro cidades sedes, no dia anterior ao Congresso, ocorreram as reuniões regionais do Conselho Federativo Nacional, coordenadas por vice-presidentes da FEB. O presidente da FEB compareceu nas quatro cidades. Em Manaus acompanhou a abertura da reunião da Comissão Regional Norte do CFN. No dia 11 de abril, pela manhã, em Campo Grande (MS) fez abertura simultaneamente, on line, de todos os locais do Congresso Brasileiro e proferiu a palestra local de abertura. No dia 12, compareceu ao evento em Vitória (ES) onde proferiu palestra à tarde. Finalmente, na manhã do dia 13 de abril proferiu a palestra de encerramento do Congresso em João Pessoa (Pb). Os quatro eventos contaram com número muito expressivo de participantes, superando muito o número de inscritos, como nos eventos anteriores, de forma centralizada em Brasília.

Um fato inovador em congressos brasileiros é que todos os inscritos receberam de volta o numerário investido nas inscrições, reavendo o mesmo valor em livros editados pela FEB e disponibilizados nas livrarias montadas nos Congressos. Na oportunidade, a FEB lançava edições especiais de O Evangelho Segundo o Espiritismo e, inclusive, uma edição histórica bi-língue da 1a edição – Imitação do Evangelho segundo o Espiritismo, a de abril de 1864, com tradução feita por Evandro Noleto Bezerra1; o livro O Evangelho segundo o Espiritismo. Orientações para o estudo2 e O evangelho por Emmanuel (Vol.1).

Por decisão do CFN da FEB atuou como coordenador geral do 4o Congresso Brasileiro, o assessor do presidente da FEB e ex-presidente da USE-SP José Antonio Luiz Balieiro (desencarnou em 2018), que coordenou numerosa equipe. Este companheiro se esmerou e compareceu previamente ao Congresso nas quatro cidades sedes, dialogando e colaborando com as Federativas Estaduais. Uma das orientações era a racionalização de gastos com auditórios, buffets e detalhes que oneram as atividades. Um trabalho hercúleo que foi possível com o envolvimento de uma equipe disposta e sintonizada, envolvendo as Federativas Estaduais das sedes. Ao final do evento e tudo funcionou a contento, o coordenador Balieiro, prestou contas na reunião do CFN de novembro de 2014; estava exultante pois os eventos foram auto-suficientes, gerando ainda um saldo, e com isso superou a situação de eventos anteriores que eram mantidos pela Instituição.

A revista Reformador, em agosto de 2014 trouxe informações gerais sobre o evento nacional3 e sobre as Comissões Regionais, e, em janeiro de 2015, trouxe a síntese da Reunião do CFN da FEB, com aprovação do Relatório sobre o 4o Congresso Espírita Brasileiro.4

Entre os esforços para o estímulo à difusão e estudo da importante Obra Básica de Kardec, o livro de estudo sobre o Evangelho2, lançado naquela oportunidade, com vários co-autores que refletem as ações em equipe implementadas pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas do Evangelho da FEB (NEPE), desde março de 2013, como reuniões de estudo, seminários e vídeo aulas. Uma resenha completa sobre a obra foi publicada na revista Reformador.5 Essas ações foram encerradas após março de 2015.

Passados seis anos das comemorações do Sesquicentenário de O evangelho segundo o espiritismo, por onde viajamos encontramos repercussões agradáveis sobre aqueles momentos históricos, e, até pesquisa acadêmica sobre o estudo do Evangelho.6

Aos 156 anos de O evangelho segundo o espiritismo é indispensável que seu conteúdo seja sempre estudado e valorizado. Para atendimento das reais finalidades dos centros espíritas, nas tarefas de acolhimento, consolo, esclarecimento e orientação, essa obra do Codificador é fundamental. E, sem dúvida, precisa ser levada aos frequentadores, ao nível do público alvo de cada instituição.

Referências:

1) Kardec, Allan. Trad. Bezerra, Evandro Noleto. Imitação do evangelho segundo o espiritismo. Ed.Hist.Bilingue. Brasília: FEB. 2014.

2) Carvalho, Antonio Cesar Perri; Carvalho, Célia Maria Rey (Org.). O evangelho segundo o espiritismo: orientações para o estudo. 1.ed. Brasília: FEB. 2014.

3) 4o Congresso Espírita Brasileiro. Reformador. Ano 132. N. 2223. Junho de 2014. P.371-375.

4) FEB sediou reuniões simultâneas do CFN, de jovens e de cursos de gestão. Reformador. Ano 133. N. 2230. Janeiro de 2015. P. 56-59.

5) Oliveira, Jorge Leite. O evangelho segundo o espiritismo: orientações para o estudo. Reformador. Ano 132. N. 2224. Julho de 2014. P. 423-425.

6) Torres, Natália Cannizza. “Jesus a porta, Kardec a chave”: a apropriação do Novo Testamento pelo segmento espírita. Dissertação (Mestrado em Sociologia). Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de São Carlos. 2019. 91p. Disponível no site: https://repositorio.ufscar.br (*)

Foi presidente da Federação Espírita Brasileira (interino, 2012/2013 e efetivo 2013/2015) e da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (1990/1994 e 1977/2000).

Uma Páscoa diferente

Uma Páscoa diferente

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Em meio ao isolamento social adotado com medida preventiva em tempos de pandemia, têm ocorrido profundas alterações nas relações familiares e sociais em geral. Esse cenário mudou a forma de se comemorar a tradicional Páscoa.

As famílias não puderam realizar grandes reuniões ou refeições comemorativas. Estas ficaram fisicamente circunscritas ao ambiente de cada lar.

Em que pesem os danos para o comércio, a ênfase na troca de presentes, de ovos de Páscoa e do marketing envolvendo o “coelhinho”, provavelmente diminuíram drasticamente.

As tradicionais comemorações religiosas formais que envolviam a presença de multidões foram suspensas.

Nas novas condições da sociedade, também tem havido apelos variados para orações nos lares e até em sintonia com grupos a distância em horários pré-combinados.

Jesus tem sido lembrado nos mais variados tipos de orações e até de apelos.

Para nós, espíritas, a substituição da tradicional imagem de Jesus crucificado pela evocação de suas aparições seguidas nos quarenta dias após o sacrifício, abre um horizonte completamente diferenciado para a compreensão do Mestre e seus ensinos.

Enfim, nessa Páscoa, valoriza-se o momento da família que pode estar fisicamente junta, e, dos familiares a distância, em contatos on line, mas, sem dúvida, vibratoriamente próximos. A lembrança da figura e dos exemplos de Jesus e o emprego da oração tem sido revigorados.

Entendemos que nessa Páscoa, sem a preponderância da tradição de meras formalidades e do consumismo, está ocorrendo uma comemoração mais voltada à nuance espiritual.

Talvez após a superação dos isolamentos sociais, quarentenas e de todas consequências sociais e econômicas, a pandemia do coronavírus possa vir a ser um marco na história da Humanidade, não necessariamente apenas pelos danos causados, mas, quiçá por induzir a muitas análises e reflexões sobre a sociedade, como revisão de valores e de prioridades de vida.

A certeza da imortalidade da alma fortalece a essência e a praticidade dos ensinos morais de Jesus.

Em momentos tormentosos e com a visão espiritual, podemos refletir mais na profundidade do Sermão da Montanha, sem dúvida, a “carta magna” do Cristianismo, cujo conteúdo poderá influir na elaboração de uma nova proposta para o convívio na sociedade, como parâmetro para uma Nova Era.

Allan Kardec trata sobre os chamados “sinais dos tempos” e sobre a expectativa de uma nova era, no capítulo XVIII de sua última obra – A gênese. Os milagres e as predições segundo o Espiritismo.

Há inúmeras mensagens espirituais sobre o tema disponíveis na literatura espírita. Transcrevemos apenas um trecho final de manifestação histórica e marcante do espírito Bittencourt Sampaio:

“Espíritas! Com Allan Kardec, retomastes o facho resplendente da Boa-Nova, que jazia eclipsado nas sombras da Idade Média! Compreendamos nossa missão de obreiros da luz, cooperando com o Senhor na construção do mundo novo!… Não ignorais que a civilização de hoje é um grande barco sob a tempestade… Mas, enquanto mastros tombam oscilantes e estalam vigas mestras, aos gritos da equipagem desarvorada, ante a metralha que incendeia a noite moral do mundo, Cristo está no leme! Servindo-o, pois, infatigavelmente, repitamos, confortados e felizes: Cristo ontem, Cristo hoje, Cristo amanhã!…”1

Referência:

Xavier, Francisco Cândido. Por espíritos diversos. Instruções psicofônicas. Cap. 64. Brasília: FEB. 2013.

(*) Foi presidente da FEB e da USE-SP, e membro da Comissão Executiva do CEI.

Reflexões sobre a pandemia, fé e ciência

Reflexões sobre a pandemia, fé e ciência 

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Estamos reunindo algumas informações e transcrições que podem servir de reflexões para os momentos críticos que estamos vivendo.

É verdade que as redes sociais estão divulgando aos borbotões mensagens, transcrições e lives.

Numa época de proliferação de fake news há necessidade de se analisar sobre conteúdos, conferindo-os com os parâmetros da Codificação Espírita. Portanto, deve haver muito cuidado antes de se “compartilhar” as matérias.

De início, lembramos que Allan Kardec conviveu com epidemias e as comentou em Revista Espírita (Novembro de 1865, Edicel), no artigo “O Espiritismo e o Cólera”. Nesse texto, o “bom senso encarnado” pondera que “seria absurdo crer que a fé espírita seja um ‘brevet’ de garantia contra o cólera”, e destaca que o conhecimento espírita “tendente a fortificar o moral é um preservativo”.

Na terrível epidemia da “gripe espanhola” nos anos 1918 e 1919, entre milhões de vítimas no mundo, em nosso país, desencarnou o pioneiro Eurípedes Barsanulfo e o presidente da República Rodrigues Alves.

Até a primeira metade do século XX, antes do aparecimento das vacinas Salk e Sabin, o risco de “paralisia infantil” atemorizava as famílias. E surgiram outras epidemias em nosso país tropical, como a febre amarela, cólera, deng…

Particularmente, no seio da família, vivemos antes das vacinas, os cuidados e fugas de surtos de “paralisia infantil”. Vivenciamos as dedetizações maciças nas cidades do interior contra a febre amarela e a deng. As caminhonetes ligadas a serviços de saúde eram conhecidas por produzirem o popularmente chamado “fumacê”.

Em viagens internacionais também surgiram cuidados. Em 1973, não pudemos chegar até ao Sul da Itália, porque havia surto de cólera. Logo depois para viagens a alguns Estados do Brasil, países e Continentes havia a exigência de Atestado de algumas vacinações que eram obrigatórias.

Como profissional da área da saúde, em meados dos anos 1980, convivemos com as contaminações dos vírus da hepatite B e da AIDS. Até chegamos a realizar uma grande campanha de esclarecimento junto a profissionais, ao povo em geral, e publicações especializadas, para se estimular a profilaxia dessas enfermidades.

Agora, estamos frente a uma situação completamente nova, pois o COVID-19 é um vírus ainda não bem conhecido, e, num mundo globalizado tem provocado situações e prejuízos inimagináveis, mas já se tendo a certeza da velocidade e facilidade com que se dissemina e dos riscos enormes, principalmente na faixa etária da chamada 3a idade.

Para nós, espíritas, não há nenhuma dúvida sobre os compromissos que temos com a vida em geral e, especificamente, com nosso organismo, desde as Obras Básicas de Allan Kardec.

Claramente nos alerta André Luiz: “O corpo é o primeiro empréstimo recebido pelo Espírito trazido à carne” (Conduta Espírita, capítulo 34).

Daí a razão para atendermos às orientações e recomendações emanadas das autoridades da área da Saúde.

Como Kardec chamou atenção em nota acima destacada da Revista Espírita de 1865, não é apenas com a fé que resolvemos as questões corpóreas e sociais. Por oportuno, precisamos empregar a “fé raciocinada” e relermos trechos do item “Aliança do Espiritismo com a Ciência” (O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap.1) e os últimos capítulos da derradeira obra de Kardec: A Gênese.

Aliás, no livro citado, o lúcido Codificador desenvolveu uma linha de raciocínio muito inspirada. Destacamos apenas um trecho que pode sugerir reflexões sobre os momentos que a Humanidade está vivendo, quais as razões, os porquês e para onde vamos: “[…] a fraternidade será a pedra angular da nova ordem social, mas não há fraternidade real, sólida e efetiva sem estar apoiada sobre uma base inabalável. Essa base é a fé; não a fé em tais ou quais dogmas particulares que mudam com o tempo e os povos e que se apedrejam mutuamente…” (A Gênese, Cap. XVIII).

Vacinas e tratamentos específicos surgirão, mas o impacto da atual pandemia poderá levar a Humanidade a buscar novos valores, com bases humanitárias, e, quiçá, assentados na “carta magna” do Cristianismo: no Sermão da Montanha.

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“Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus” – Paulo (1 Cor. 6, 20).

(*) O autor é ex-presidente da FEB e da USE-SP.

Existem efeitos positivos na pandemia?

Existem efeitos positivos na pandemia?

Almir Del Prette (*)

Não obstante o título, não adotamos um otimismo ingênuo, do personagem Panglos de Cândido/Voltaire. Entretanto, governos e sociedades se mobilizam para enfrentar na atualidade, os graves efeitos causados pela disseminação do covid-19. A OMS, após estudos sobre a propagação do covid-19 comunicou a todos os países que o mundo vive situação de pandemia. A China havia sido o primeiro país afetado e se valeu de medidas drásticas, controlando rigidamente o ir e vir, objetivando diminuir os efeitos da propagação viral. Sabe-se hoje, que o mundo inteiro será afetado e que a propagação do vírus ocorre em progressão geométrica.

Para se ter ideia da propagação geométrica basta recordarmos da história de Malba Tahan, em “O homem que calculava”. Vamos resumi-la: um monarca, grato pelo jogo de xadrez que lhe foi ofertado por um visitante (Sassa), lhe ofereceu, como recompensa, um grande prêmio à sua escolha. Entretanto, a oferta foi polidamente recusada, mas o monarca insistiu, pois era senhor de grande riqueza e se sentiria ofendido com a recusa. O visitante, seguindo as regras, aceitou o presente, desde que lhe fosse dado em trigo. Para selar o acordo pediu que considerassem o tabuleiro de xadrez como recurso para calcular o montante, disposto: a grão na primeira casa (à esquerda), dois logo na de cima, quatro grãos de trigo na terceira casa, oito na sequência e assim sucessivamente, O montante foi: 18.446.744.073.709 toneladas. Impossível de ser honrado pelo monarca.

O covid-19 também se espalha, conforme os especialistas, de forma geométrica, porém não exatamente como no cálculo para o trigo, uma vez que existem pessoas auto imunes, as que praticam excelente medidas higiênicas e aquelas com maior ou menor número de contatos. As medidas de higienização pessoal e do ambiente, o isolamento social e o distanciamento mínimo de 1,5 metro em caso de contato, podem exercer algum controle sobre o contágio. Entretanto, existem setores de serviços que precisam funcionar e lidam com pessoas contaminadas ou suspeitas de contaminação, caso dos médicos, enfermeiros e pessoal de apoio. Além desses, temos os que atuam nas farmácias, supermercados etc. E os garis que realizam trabalhos muito importante.

Em vários países, as pessoas, ainda que perplexas e amedrontadas buscam estratégias de autocuidado e igualmente de solidariedade. Na Itália por exemplo, os moradores das cidades turísticas, agora esvaziadas, abrem as janelas de suas casas e conversam com os outros. Também cantam suas árias, para acalmar e demostrar otimismo. Aqui, entre nós, são formados grupos de apoios à idosos ajudando-os em suas compras. Na imprensa e redes sociais verifica-se um aumento considerável de programas com especialistas visando esclarecimentos sobre o problema. Além dessas estratégias é importante ainda a divulgação de providencias para a diminuição do estresse, que acometem pessoas que são retiradas de suas rotinas e não sabem como ocupar o tempo repentinamente disponível.

O sofrimento social pelo isolamento é porta escancarada para a depressão e conflitos domésticos. As pessoas precisam aprender a usar de maneira produtiva o tempo, adotando algumas formas de ocupações por exemplo:

(a) costurar, fazer jardinagem, experimentar novos pratos e trocar de receitas;

(b) praticar jogos à distância como o xadrez;

(c) completar leituras deixadas de lado ou reler livros encontrados na própria residência; (d) selecionar e assistir novos filmes ou series dando preferência para conteúdos construtivos para evitar estresse e recomendar para amigos via internet;

(e) fazer distribuição das tarefas domésticas, para não sobrecarregar um ou outro;

(f) injetar nos grupos de redes sociais dos quais participa, uma boa dose de bom ânimo;

(g) fazer buscas localizando antigos contatos, provendo informações sobre o paradeiro de outros…

Lembramos que estamos no começo do isolamento social. Conforme relato de uma brasileira que viveu essa situação na Itália, as duas primeiras semanas são mais toleráveis. Ela recomenda uma alternativa bem interessante a de planejar e executar atividades mais duradouras que envolvam uma rotina. Por exemplo, os pais proverem, atividades escolares das crianças de maneira organizada, com horário, tarefas, avaliações etc.

Outra possibilidade para os espíritas, mas não somente é a de se inscrever em um curso sobre espiritismo, on line. São várias as opções nesse sentido. Pode ser um bom momento para ler A Gênese, baseada na terceira edição. E, finalmente, exercitar a prece como remédio salutar em benefícios de todos. Pensemos nisso!

(*) Da Sociedade Espírita Obreiros do Bem, São Carlos (SP); Grupo Relações Interpessoais e Habilidades Sociais da Universidade Federal de São Carlos (Website: www.rihs.ufscar.br)

Extraído do "Boletim Notícias do Espiritismo":

http://www.noticiasespiritas.com.br/2020/MARCO/28-03-2020.htm

Pesquisa sobre o estudo do Evangelho entre espíritas

Pesquisa sobre o estudo do Evangelho entre espíritas

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Uma pesquisa realizada na Universidade Federal de São Carlos gerou a Dissertação de Mestrado “Jesus a porta, Kardec a chave”: a apropriação do Novo Testamento pelo segmento espírita, de autoria de Natália Cannizza Torres. Esta Dissertação foi defendida e aprovada no 1o Semestre de 2019 junto ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFSCar para obtenção do título de Mestre em Sociologia, contando com orientação do Professor Doutor André Ricardo de Souza, do Departamento de Sociologia da UFSCar.

O estudo é muito interessante e fez-se o registro histórico desde a chegada do espiritismo no Brasil, comentando-se que muitas foram as correntes adotadas pelos seus adeptos em função de conceitos relacionados com aspectos religioso, filosófico e científico. Evidente que o tema foi tratado com fundamento em autores das ciências sociais, notadamente vinculados à sociologia da religião.

A pesquisa de Natália Cannizza Torres focalizou o aspecto religioso do Espiritismo, em que realça o papel significativo das obras psicografadas por Francisco Cândido Xavier, notadamente de autoria do espírito Emmanuel. Inclusive, no final, apresenta Tabelas sobre os livros de Emmanuel que comentam versículos do Novo Testamento.

A Dissertação de Mestrado aponta que o processo de estudo em pauta surgiu em meados do século XX, mas ganhou impulso de propagação nesta 2a década do século XXI: o estudo interpretativo do Novo Testamento, o qual começou em Belo Horizonte e que principalmente a partir da criação do NEPE (Núcleo de Estudo e Pesquisa do Evangelho), junto à Federação Espírita Brasileira em 2012 e que mesmo após sua desativação em 2015, a prática se expandiu pelo país. Tal pesquisa aponta que o estudo bíblico vem, aos poucos, tornando-se uma nova prática estrutural espírita.

A autora entende que este processo de estudo constitui-se como um fator contribuinte para o grande crescimento espírita na atual década. Em face dessa modalidade de estudo em curso e do processo de criação de organizações espíritas abarcando os chamados NEPEs (Núcleo de Estudo e Pesquisa do Evangelho), Miudinho (designação de estudo detalhado do Novo Testamento notabilizado por Honório Abreu) e EMEJs (Estudo Minucioso do Evangelho de Jesus), nota-se o mesmo efeito sociológico que o culto do Evangelho no Lar acarretou a partir dos anos 1960, porém agora em relação ao estudo do Novo Testamento, ou seja, admite que centros espíritas podem estar começando a surgir a partir de tais grupos, tal como surgiram no passado a partir de familiares grupos dedicados ao chamado “Evangelho no Lar”.

A Dissertação apresenta dados muito interessantes e até sintetiza-os em Tabelas. Atualmente, existem 59 NEPEs em diferentes centros espíritas, espalhados por 14 unidades federativas do país, sendo um na região Norte, vinte e dois no Nordeste, quatro no Centro-Oeste, vinte e um no Sudeste e onze no Sul. Os EMEJs, por sua vez, não são contabilizados pela União Espírita Mineira, enquanto a prática do denominado “Miudinho” (stricto sensu) somente foi localizado na cidade mineira de Uberaba.

A investigação foi feita junto a coordenadores de grupos de estudo bíblico, principalmente de Minas Gerais, em São Carlos, município do interior paulista que tem se destacado por tal atividade espírita e onde foi feita pesquisa de campo. A autora também entrevistou diversos dirigentes espíritas vinculados ao objeto de sua pesquisa e os relaciona na Dissertação.

A autora Natália Cannizza Torres opina: “A melhor maneira de entender a importância desse movimento foi perceber que, ao ser instituído na FEB, o NEPE ganhou status de prática oficial e ganhou força para se espalhar pelo Brasil, instalando-se nos centros espíritas. Mesmo depois que foi dissolvido na FEB, o NEPE manteve sua dinâmica em outros lugares, na capilaridade dos centros espíritas. O trabalho religioso espírita centrado no estudo bíblico teve como grande pioneiro Honório Abreu, a partir dos anos 1950.” E neste contexto do século XXI, destaca o “papel de seu seguidor Haroldo Dutra Dias, bem como de Wagner Gomes Paixão; registra o reforço pela participação da família de Antonio Cesar Perri no âmbito da FEB, no qual surgiu o primeiro NEPE”. Na opinião da autora “o trabalho religioso mais significativo foi a tradução de parte do Novo Testamento por Haroldo Dutra Dias”.

Todavia, Natália comenta na Dissertação que este “prestígio de Haroldo Dias foi relativizado quando Frederico Lourenço, professor de literatura da Universidade de Coimbra publicou, em 2018, a tradução do Novo Testamento, direto do grego e completa, fazendo com que os atores espíritas considerassem-na também, quando de seus estudos e pesquisas.”

Nessa Dissertação de Mestrado a autora comenta que ”o III Congresso Espírita Brasileiro (abril de 2010) e as produções de filmes e telenovelas espíritas, que surgiram a partir de 2010, foram os principais fatores que contribuíram para o crescimento demográfico espírita na segunda década do século XXI. Mas vale a pena fazer a contraposição, ou a comparação, entre esse movimento espírita de direcionamento e encaminhamento crescente ao culto da Bíblia e a dinâmica nacional de crescimento das igrejas evangélicas, simultaneamente à diminuição do catolicismo. A coincidência, nessa década, entre a aceleração do crescimento espírita e a disseminação da prática de estudos bíblicos em seu meio suscita uma questão sociológica pertinente."

De nossa parte, parecem-nos marcantes os dados obtidos pela nova Mestre em Sociologia. Constatou-se que surtiu efeito produtivo o esforço iniciado com a implantação do NEPE da FEB, com a proposta analisada e aprovada pelos órgãos diretivos da FEB entre julho e outubro de 2012, durante nossa gestão como presidente interino desta Instituição. O lançamento do NEPE da FEB ocorreu na sede da instituição, em Brasília, no dia 2 de março de 2013, com o auditório lotado. Houve atuação da Comissão do NEPE: coordenação de Haroldo Dutra Dias; membros: Ricardo Mesquita, Simão Pedro de Lima, Wagner Gomes da Paixão, Afonso Chagas, Célia Maria Rey de Carvalho e Flávio Rey de Carvalho. Na mesa estavam presentes o presidente interino Antonio Cesar Perri de Carvalho e a vice-presidente da FEB Marta Antunes de Moura, ambos com participação na oficina de estudo. O NEPE da FEB foi extinto a partir de abril de 2015, mas a ideia e a prática originais se disseminaram como foi demonstrado pela Dissertação de Mestrado da UFCar e como se constata em nossos dias pela circulação de informações pelas redes sociais.

Essa Dissertação de Mestrado trata de maneira inédita o estudo do Novo Testamento no movimento espírita, com fundamentos acadêmicos, e, focaliza a visão espírita, relacionando dados e fontes obtidos na literatura acadêmica e espírita, nas entrevistas e nos contatos com dezenas de grupos de estudos espíritas do país. Sem dúvida, contribui com análises sociológicas e informações históricas.

Fonte:

Torres, Natália Cannizza. “Jesus a porta, Kardec a chave”: a apropriação do Novo Testamento pelo segmento espírita. Dissertação (Mestrado em Sociologia). Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de São Carlos. 2019. 91p. Disponível no site: https://repositorio.ufscar.br

O autor foi presidente da FEB, da USE-SP e membro da Comissão Executiva do CEI.

Extraído de: Revista Internacional de Espiritismo, Ano XCV, no 2, Março de 2020. p.82-82.

O susto do vírus poderá levar a reflexões sobre valores?

O susto do vírus poderá levar a reflexões sobre valores?

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

O mundo entrou num estado que varia de intensas preocupações até ao pânico desde que foi identificado o surto de coronavírus em Província da China. Em cerca de dois meses o Covid-19 tem infectado e até feito vítimas letais em praticamente todos os países do Hemisfério Norte, da América do Sul e de outros continentes. Inclui-se aí os países mais desenvolvidos do planeta.

Silenciosamente o vírus rompeu todas as “redes de segurança” e chegou na intimidade de poderosos governantes. Sem entrar em comentários sobre os meios de transmissão, a letalidade do Covid-19, comparações com outras epidemias e até ilações espíritas de causa e efeito, há algo que deve ser refletido.

No início da propagação pelo Brasil, recebemos interessante mensagem mediúnica – talvez uma das primeiras -, abaixo transcrita:

“O remédio vem de Deus

Se os surtos viróticos assustam, a indiferença humana, frente à dor de seu semelhante, mata mais. Se o medo de doenças incuráveis rondam o teu pensamento, mergulha, de corpo e alma, na caridade socorrista e estarás protegido pelos anticorpos naturais da prática do Bem. O ócio faz mais vítimas do que o câncer, dia a dia. Emprega o teu tempo em algo útil e o Amor Divino fará de ti uma luz na escuridão. Paz, em Jesus. – Irmão Joaquim”

(Mensagem psicografada pelo médium Hélio Ribeiro Loureiro na reunião mediúnica na Casa de Batuíra, em São Gonçalo/RJ no dia 29/02/2020).

A reflexão proposta é bem ampla e até lembramos que há outros surtos letais no Brasil, além da enorme desigualdade social que leva à fome.

Mas o trecho sobre o susto virótico para a indiferença humana suscita um olhar para o cenário criado pelo Covid-19, com multidões sendo isoladas ou em quarentena em cidades, regiões de países, grandes navios, e, nos próprios lares.

A essa altura e centralizando apenas nos impactos causados pelo Covid-19, fazemos uma reflexão sobre a pandemia mundial, o alastramento pelo Brasil e as relações conosco.

A pandemia mundial está afetando os países mais desenvolvidos e provocando oscilações das Bolsas de Valores, o que chama atenção sobre o poder de um microscópico vírus.

Em nosso país inúmeros eventos já foram cancelados, incluindo os de natureza espírita. E sem dúvida, afetará a rotina das instituições espíritas.

Autoridades governamentais dos níveis federal, estadual e municipal, deixaram claro em recentes decisões e recomendações efetivadas em São Paulo, sobre a grande preocupação com os grupos de riscos, incluindo-se principalmente os idosos e portadores de algumas doenças debilitantes. As autoridades chegaram até ao detalhe para se evitar sobrecarregarem os avós com a presença dos netos eventualmente dispensados das escolas. Ou seja, isso leva ao repensar da relação dos pais com os filhos em função de compromissos do próprio lar e os profissionais.

Por outro lado, já escutamos relatos de pessoas que ficaram confinadas em regiões de outros países e outras, submetidas à quarentena domiciliar, sobre os momentos complexos físicos e mentais dessa situação. De repente, surge a recomendação preventiva para os integrantes dos grupos de risco para se evitar aglomerações e eventos públicos e se recolherem o máximo possível no ambiente dos lares.

O mundo espiritual é claro que os encarnados devem zelar pelo corpo físico e valorizar a vida.

E aí surge a indagação: seriam momentos para se rever valores? Ou seja: valores relacionados com os ambientes familiar e social, independentemente de aparências e de máscaras sócioeconômicas?

As conseqüências do microscópico Covid-19 na “empoderada” Humanidade de nossos dias, de repente, poderão conduzir a algumas reflexões humanitárias e até de natureza espiritual?

Por isso, esperamos que a crise do momento possa realmente direcionar para as indicações da mensagem supra transcrita: “…o amor Divino fará de ti uma luz na escuridão” e coerente com o próprio título da pequena mensagem: “O remédio vem de Deus”.

(*) O autor foi presidente da USE-SP e da FEB.

Herculano Pires e o Evangelho

Herculano Pires e o Evangelho

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

No dia 9 de março transcorrem 41 anos da desencarnação de José Herculano Pires (1914-1979) – professor, filósofo, jornalista e escritor, que marcou época no movimento espírita brasileiro.

Por formação era filósofo, com mestrado na USP e atuava como jornalista. Escreveu durante muito tempo com o pseudônimo de Irmão Saulo no jornal “Diário de São Paulo” e mantinha programa radiofônico na Rádio Mulher, de São Paulo. Foi um dos entrevistadores de Chico Xavier no programa “Pinga Fogo” na antiga TV Tupi de São Paulo. Juntamente com sua esposa Virgínia fundou o Grupo Espírita Cairbar Schutel, em São Paulo.

Herculano Pires é autor de dezenas de livros. Ficaram muitos conhecidos os publicados pela Editora GEEM, em que ele comenta mensagens psicografadas por Chico Xavier, como "Chico Xavier pede licença", "Diálogos dos vivos" e "Somos seis". Várias obras do autor, em geral publicadas pela Editoria Paidéia, estão relacionadas com religião e o Evangelho, como: "Lázaro" (trilogia "A conversão do mundo"), "Madalena" (trilogia "A conversão do mundo"), "O espírito e o tempo", "O reino", "O ser e a serenidade", "Revisão do cristianismo", "Agonia das religiões" e outros, e, mais recentemente uma publicação póstuma: "O evangelho de Jesus em espírito e verdade", pela Editora Paidéia.1

Herculano sempre foi um vigoroso estudioso e propagador das obras do Codificador, a ponto do espírito Emmanuel, pela mediunidade de Chico Xavier, tê-lo chamado de “o metro que melhor mediu Kardec”.

Embora o tema dos Evangelhos apareça em praticamente todas obras de Herculano Pires, acima citados, essa edição póstuma é uma síntese e num linguagem simples. "O evangelho de Jesus em espírito e verdade" é obra inédita, organizada por Célia Arribas, e resultante do trabalho de degravação da parte dos comentários sobre o Evangelho, de 100 programas radiofônicos selecionados de Herculano Pires, intitulados "No Limiar do Amanhã", semanalmente transmitidos pela Rádio Mulher, de São Paulo, durante os anos 1970, e retransmitidos pela Rádio Morada do Sol, de Araraquara (SP), e Rádio Difusora Platinense, de Santo Antonio da Platina (Pr). Herculano trabalha a essência pura e vigorosa da mensagem de Jesus com um linguajar simples, pois se apresenta no estilo da linguagem falada e em programas destinados ao público em geral. Como sempre, muito lúcido e com abordagens profundas e com base no Codificador Allan Kardec.

Entre os capítulos desse livro: A universalidade da mensagem de Jesus; A Bíblia, o Evangelho e o Espiritismo; O nascimento de Jesus; Religião em espírito e verdade; A crucificação do Cristo e sua ressurreição; O nascimento da igreja cristã; Paulo e Estêvão; O consolador prometido; vários capítulos sobre Paulo e sobre manifestações espirituais. Para o autor, "O espiritismo se confirma, portanto, ao contrário do que dizem os seus adversários, nas próprias palavras e nos próprios ensinos dos evangelhos". Referindo-se aos princípios e cuidados no movimento espírita, pondera: "O que nos deve interessar não é nosso opinião nisso ou naquilo, mas sim a firmeza com que pudermos seguir os princípios da doutrina espírita. E esses princípios estão firmados, como nós sabemos na codificação de Allan Kardec. E estes princípios, por sua vez, têm a sua base mais profunda, as suas raízes mais penetrantes nos próprio evangelho de Jesus." Ao comentar a vida e obra do apóstolo Paulo, Herculano destaca que: "Ele libertava a religião da política e do negócio. Para ele, a religião tinha que ser vivida em si mesma e vivida com toda a independência moral". A propósito de trecho de Atos sobre "muitos milagres e prodígios entre o povo pelas mãos dos apóstolos" o autor aponta que ali se encontra "uma das mais belas confirmações evangélicas da realidade e da verdade do Espiritismo e das suas práticas como continuação do cristianismo em espírito e verdade aqui na terra."

Para Herculano Pires o problema fundamental do cristianismo é o mandamento do "amai-vos uns aos outros". Conclui: "este é o princípio fundamental do evangelho que Jesus nos oferece para a nossa compreensão espiritual." Consideramos muito elucidativa e oportuna a obra postumamente publicada de Herculano Pires, e que deve merecer espaço nos estudos dos centros espíritas.

Fonte:

1) Pires, José Herculano. Org. Arribas, Célia. O evangelho de Jesus em espírito e verdade. 1.ed. São Paulo: Editora Paidéia. 2016. 385p.

(*) Foi presidente da USE-SP e da FEB.