Peregrinação cristã

Se aceitaste o evangelho por abençoado roteiro de aperfeiçoamento, não te esqueças da representação que nos cabe em toda parte.

A fé nos confere consolação, mas nos reveste de responsabilidade a que não podemos fugir.

Somos embaixadores de Jesus onde estivermos, se a luz d'ele é o clarão que nos descortina o futuro.

Não te esqueças de semelhante realidade para que a tua experiência religiosa não se reduza a simples adoração improdutiva.

A estrada permanece descerrada a nós todos. Cada dia é uma revelação para que exerçamos a sublime investidura.

Se o senhor desceu até nós, partilhando-nos a senda obscura e viciosa a fim de que nos levantássemos, aprendamos também a representá-lo nas regiões inferiores à nossa posição do conhecimento.

Onde fores defrontado pela calúnia, sê a palavra amiga do esclarecimento benéfico.

Se o mal te avista, improvisa o bem com tua capacidade de ajuizar as situações de planos mais altos.

Se a tristeza e o desânimo te procuram, acende a lanterna da coragem e resiste ao sopro frio do desalento, prosseguindo no trabalho que a vida te confiou.

Se a infantibilidade te busca, não a abandones, porque o cristão sincero é o bom semeador que tudo aperfeiçoa para a glória do infinito bem.

Se a leviandade vem ao teu encontro, ajuda o companheiro de jornada, orientando-lhe o pensamento para o justo equilíbrio em que a nossa fé se inspira e vive sempre.

Se a treva tenta envolvê-lo, faze a claridade do otimismo, com as bênçãos do amor que auxiliam em todos os instantes.

Mas se o embaixador humano é obrigado a longo curso de compreensão e tolerância na ciência do tato e da gentileza para não falharem seus compromissos, não creias que o emissário do Cristo deva agir sem os princípios de serenidade e do bom ânimo.

Colaboremos e ajudemos sem alardear notas de superioridade perturbadora. Quanto mais clara a nossa luz, mais alta a nossa dívida para com as sombras.

Quanto mais sublimes nossas noções do bem, mais imperiosos os nossos deveres de socorro às vítimas do mal.

O mensageiro de Cristo é o braço do evangelho.

Emmanuel

(Xavier, Francisco Cândido. Espíritos diversos. Paz e libertação. Cap. 1. São Paulo: CEU)