E os congressos espíritas?

E os congressos espíritas?

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Historicamente, e de início, lembramos que monumentais obras surgiram em função dos primitivos Congressos Internacionais, como Depois da morte, de Léon Denis, e, Animismo ou espiritismo, de Ernesto Bozzano.

Evento marcante e pioneiro foi promovido pelo presidente da FEB Leopoldo Cirne para comemorar o centenário de nascimento de Allan Kardec, em 1904, e discutir propostas de união, quando surgiu o documento “Bases de Organização Espírita“.

Do 1º Congresso Espírita de São Paulo (1947) nasceu a União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo. (1)

O 1º Congresso Espírita de Unificação Espírita (1948) gerou propostas para a união dos espíritas brasileiros. (2)

No Congresso Nacional Espírita da Espanha (1992) foi aprovada a criação do Conselho Espírita Internacional. Vários congressos espíritas tiveram temas vinculados à comemoração de significativas efemérides do movimento espírita.

Desde os tempos de estudante universitário e como jovem espírita frequentamos congressos. Nas duas condições tivemos a oportunidade de vivenciar excelentes momentos de aprendizagem, intercâmbio e de confraternização. Também vivemos diferentes oportunidades de participar do planejamento e da organização de congressos nas áreas acadêmicas e espíritas. Em razão dessa vivência diferenciada e que atingiu várias décadas, atualmente observamos os congressos espíritas num misto de admiração e de muita preocupação.

Entre momentos e fatos marcantes, em que pesem os convites a lideranças e expositores expressivos no conhecimento doutrinário, nota-se que os congressos espíritas estão passando por situações e alterações preocupantes.

No tocante a temas e expositores, ocorrem algumas situações que dão a impressão do “mesmismo”, ou seja, programas com temas pomposos, dissociados das maiores demandas do movimento espírita; a repetição de grupos de expositores ao longo dos congressos promovidos pelas mesmas instituições, e, até algumas exaltações de egos. Mesmo que o evento não tenha as características do real conceito de “congresso” – geralmente ligado a conclusões deliberativas ou reunião que visa tratar de determinados assuntos, comunicar trabalhos, apresentar propostas ou trocar idéias -, espera-se que os eventos, com qualquer designação que tenha, tragam contribuições efetivas, com repercussões frutíferas às pessoas e ao movimento espírita. Há vários indícios de tendências de elitização, ou, pelo menos, de dissociação da realidade do movimento espírita. Escolha de recintos, muitas vezes pomposos e de alto custo de locação. Existência de “salas vip” para atendimento de convidados. Em alguns casos, até agentes de segurança cercando convidados. Comercialização de muitos produtos, lembrando até “feiras”, incluindo livros não necessariamente espíritas. Eventos planejados para gerar fonte de receita para a entidade promotora. Valores de taxas de inscrição altos, em geral acima das condições do espírita em geral.

Sem dúvida, nesse contexto, o ambiente de fraternidade, simplicidade e espontaneidade ficam diminuídos.

Todavia, há também diversos esforços interessantes. Tomamos a liberdade de destacar três episódios ligados a congressos espíritas; nos dois primeiros casos atuamos como dirigente da entidade promotora; respectivamente como presidente da USE-SP e da FEB, e no último relato na condição de convidado.

O primeiro episódio: nos idos de 1992, a União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo promoveu o 8º Congresso Estadual de Espiritismo, em Ribeirão Preto. Foi definido que o público alvo seria o dirigente e colaborador de centro espírita, justamente para tratar do tema central – centro espírita. Os coordenadores de cada sala /item de estudo, eram dirigentes de instituições do próprio Estado. No início do Congresso, os participantes receberam um caderno já contendo o resumo de todos os temas tratados. Em seguida ao evento a USE-SP promoveu seminários no Estado com o objetivo de multiplicar os temas abordados, já disponíveis também em fitas de vídeo cassete, que eram utilizadas na época. (1)

O segundo: por ocasião dos 150 anos de O evangelho segundo o espiritismo, em 2014, a FEB promoveu o 4º Congresso Espírita Brasileiro. Ocorreram alguns diferenciais: rompendo com a realização de eventos nacionais centralizados, o Congresso foi efetivado simultaneamente em quatro regiões do país: Manaus, Campo Grande, Vitória e João Pessoa, o que facilitou e ampliou a presença de espíritas de todas as partes do país. Embora o programa fosse comum, os expositores convidados foram selecionados em reuniões das Comissões Regionais do Conselho Federativo Nacional (CFN), incluindo a participação de conferencistas das regiões. Na escolha de sedes para os eventos, deu-se preferência a locais mais simples e menos custosos. A grande novidade foi que os congressistas, durante os eventos, recebiam em livros da FEB (preço de capa) o valor da taxa de inscrição previamente paga. Destacamos que o citado Congresso foi superavitário conforme prestação de contas apresentado ao CFN da FEB em 2014. (2)

E finalmente o terceiro: em junho de 2017, a comemoração dos 70 anos de fundação da USE-SP teve como ponto alto a realização do 17º Congresso Estadual de Espiritismo, na cidade de Atibaia. Além de palestras e salas com work shops temáticos, o diferencial foi a realização de “rodas de conversa” vinculadas ao tema central: “Passado, presente e futuro em nossas mãos”, Foram escolhidos seis temas para tais “rodas”, bem ligados a questões do centro e do movimento espírita: Qualidade doutrinária na literatura espírita; Práticas estranhas no centro espírita; Teorias científicas e Espiritismo; Sexualidade e afetividade; Política e Espiritismo; O desafio de educar além de instruir no centro espírita. Para atender a todos congressistas que se inscreviam em um tema, cada “roda de conversa” foi realizada em dois horários. No último dia, os coordenadores das “rodas de conversa” apresentaram em plenário a síntese das discussões e as conclusões ou recomendações de seus grupos. Ouvimos muitas manifestações destacando a oportunidade e o valor iniciativa.(3)

Isso posto, parece-nos que é chegado o momento para reflexões, avaliações e, provavelmente, o redirecionamento dos congressos espíritas.

Afinal, realizamos congressos espíritas por quê? Como? Para quê?

Fontes:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. História da USE [palestra]. 17o Congresso Estadual da USE-SP. Junho de 2017.

2) 4o Congresso Espírita Brasileiro. Reformador. Junho de 2014. P.53-57.

3) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Práticas estranhas no centro espírita. Revista internacional de espiritismo. Setembro de 2017.

(*) – Ex-presidente da USE-SP e da FEB.

Extraído de: Carvalho, Antonio Cesar Perri. Congressos espíritas: por quê? como? para quê? Revista Internacional de Espiritismo, Ano XCII, No. 12, janeiro de 2018. P.626-627.

Kardec: da desencarnação para a vida pulsante

Kardec: da desencarnação para a vida pulsante

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Em 31 de março de 1869, em Paris, desencarnou Allan Kardec com 64 anos, entre 11 e 12 horas, pelo rompimento de um aneurisma, em pleno labor de estudo e organização de novas tarefas espíritas e assistenciais. O sepultamento ocorreu no Cemitério de Montmartre. Um ano depois seu corpo foi transladado para o Cemitério do Père Lachaise, onde foi construído o dólmen com a famosa frase “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar tal é a Lei”.

O túmulo de Kardec, no famoso cemitério histórico de Paris, continua a ser dos mais visitados.

A Fédération Spirite Française está realizando esse ano uma comemoração do aniversário da desencarnação de Allan Kardec, a “Journée Allan Kardec”, que começará no dia 31 de Março, às 11 horas, no Cemitério do Père Lachaise em Paris, diante do dolmen; à tarde, haverá um encontro no “Espace Réunion” com conferências e diálogos entre os participantes. Informa Charles Kempf que essas comemorações eram realizadas regularmente desde a desencarnação de Allan Kardec pelo movimento espírita francês até a segunda guerra mundial, como consta das revistas da época. Houve também encontros no Père Lachaise na ocasião da reunião do CEI em Paris em 1997, bem como do 4° Congresso Espírita Mundial em 2004. (1)

A maior homenagem, em qualquer parte, será sempre a valorização da obra do Codificador.

O fato mais significativo será a vida pulsante de seus ensinos na seara espírita e na comunidade em geral. Allan Kardec cumpriu muito bem a sua missão e num período de tempo curtíssimo, haja vista que lançou O livro dos espíritos, o marco inicial do Espiritismo, em abril de 1857 e desencarnou em março de 1869.

O trabalho do Codificador é de fundamental importância. As Obras Básicas e inaugurais da Doutrina Espírita – O livro dos espíritos, O livro dos médiuns, O evangelho segundo o espiritismo, O céu e o inferno e A gênese, efetivamente representam a base e devem ser o ponto comum, de convergência, do Movimento Espírita.

Agora em 2018, transcorrem 150 anos do lançamento de A gênese, obra pouco lida na seara espírita e que merece nossa atenção. Registros de contemporâneos de Kardec e Amélie Boudet têm vindo à tona, como Léon Denis, Gabriel Delanne, Henri Sausse e Berthé Fropo, e reavivados por pesquisa documental feita por Simoni Privato Goidanich, apontado sérias deturpações doutrinárias ocorridas logo após a desencarnação de Kardec, na Revista Espírita e na Sociedade Anônima que tinha por objetivo propagar as obras do Codificador. Naquela época produziram muitas alterações no texto da 5ª. edição de A gênese (1872).(2)

Os lamentáveis fatos nos remetem aos cuidados para a atualidade no sentido de manter viva a fidelidade às obras de Kardec. Numa época de proliferação de livros espíritas – e com a influência de vários modismos -, criando desfocagens sobre a literatura básica e de ações a ela relacionadas, e também pelo fato de que muitos cursos se basearem em material apostilado, torna-se muito importante que os centros e o Movimento Espírita dêem prioridade para a divulgação e o estímulo à leitura e ao estudo das Obras Básicas do Espiritismo.

Parece-nos cabível e muito necessária a Campanha “Comece pelo Começo” que tem por foco a valorização das obras da Codificação Espírita, de Allan Kardec, como indicação ao estudo e conhecimento da Doutrina Espírita através das cinco Obras Básicas acima citadas. Historicamente, o lançamento original dessa campanha ocorreu em São Paulo, em 1972, pela União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, pelo seu antigo Conselho Metropolitano Espírita, e, em 1975, pela USE Estadual. A campanha foi idealizada por Merhy Seba. Em nível nacional esta Campanha foi aprovada pelo Conselho Federativo Nacional da FEB, em reunião de novembro de 2014.(3)

O livro O legado de Allan Kardec de Simoni Privato Goidanich tem riquíssimo valor histórico e é restaurador de importantes episódios que se encontravam encobertos. No final, registra Simoni Privato Goidanich: “A responsabilidade ante o legado de Allan Kardec é de todos os espíritas, e cada um herdará as consequências de seus atos e de suas omissões”.(2)

Torna-se oportuna a reflexão sobre considerações de Emmanuel na mensagem “Ante Allan Kardec”:

“Perante as rajadas do materialismo a encapelarem o oceano da experiência terrestre, a Obra Kardequiana assemelha-se, incontestavelmente, à embarcação providencial que singra as águas revoltas com segurança. Por fora, grandes instituições que pareciam venerandos navios estalam nos alicerces, enquanto esperanças humanas de todos os climas, lembrando barcos de todas as procedências, se entrechocam na fúria dos elementos, multiplicando as aflições e os gritos dos náufragos que bracejam nas trevas. De que serviria, no entanto, a construção imponente se estivesse reduzida à condição de recinto dourado para exclusivo entretenimento de alguns viajantes, em tertúlias preciosas, indiferentes ao apelo dos que esmorecem no caos? […] Urge, desse modo, que os seus tripulantes felizes não se percam nos conflitos palavrosos ou nas divagações estéreis. Trabalhemos, ascendendo fachos de raciocínio para os que se debatem nas sombras. Todos concordamos em que Allan Kardec é o apóstolo da renovação humana, cabendo-nos o dever de dar-lhe expressão funcional aos ensinos com a obrigação de repartir-lhe a mensagem de luz, entre os companheiros de Humanidade.”(4)

Referências:

1) http://grupochicoxavier.com.br/homenagem-a-kardec-no-dolmen-do-pere-lachaise/ (Acesso em 28/3/2018).

2) Goidanich, Simoni Privato. O legado de Allan Kardec. 1.ed. São Paulo: USE/CCDPE. 2018. 447p.

3) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Em ações espíritas. 1.ed. Araçatuba: Cocriação/USE Regional de Araçatuba. 2017. 131p.

4) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Construção do amor. São Paulo: CEU.

(*) Ex-presidente da FEB e da USE-SP.

DEUS – O DESCONHECIDO AINDA

DEUS – O DESCONHECIDO AINDA

Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo (*)

Quando depositamos nossa fé e confiança em Deus, que é só amor e misericórdia, ganhamos força e ânimo para vencer nossas dificuldades.

Ele nos entende na intimidade, pois quem criou conhece Sua criatura.

E a visão do Pai alcança lugares que ainda não vemos – estamos presos na matéria, e Ele é todo espiritual.

Só Deus é imaterial e imutável.

Através da prece podemos entrar em contato com Deus e solicitar a luz da sabedoria, para que Ele nos guie e oriente no caminho certo e bom a seguir.

Se para todo efeito tem uma causa, a causa do Universo é de uma inteligência suprema.

Quando vejo uma semente e sei que ela vai morrer para viver em plenitude, seja numa planta ou numa árvore, com todo o seu esplendor de madeira, folhas, flores e fruto, e na sua diversidade, eu me regozijo diante dessa Sabedoria Divina.

Quem contratou mineiros para abrir as minas de oxigênio? Sem o oxigênio, não sobreviveríamos mais que alguns minutos.

Quem contratou engenheiros para colocar alavancas invisíveis e sustentar no espaço nosso globo terreno? E a Terra gira numa velocidade imensa…

Quem contratou homens para depositar no Sol as madeiras, carvões ou combustíveis que produzem calor e luz e nos dão a sustentação da vida aqui na Terra?

Deus estabeleceu leis sábias e justas que governam o Universo e nossas vidas.

Creio que Deus não tem pressa, nem se zanga, nem grita conosco, e Sua doce influência é de forma saudável e amorosa.

Deus é espírito, a inteligência suprema, causa de tudo o que existe e nós,

Seus filhos, espíritos herdeiros deste Universo maravilhoso, onde cada um faz sua concepção desse nosso Criador.

Jesus chamou-O de Pai Nosso.

E você, como O percebe? Ele não se alimenta e não dorme, e deve ter bom humor quando nos vê imaginando essas coisas na Terra.

Se somos espíritos, somos uma centelha de luz; Deus é espírito também – será um círculo de luz ou de energia também?

(*) É editor da Editora EME (Capivari, SP).

O QUE ACONTECEU NO SEMINÁRIO “A GÊNESE: O RESGATE HISTÓRICO”?

O QUE ACONTECEU NO SEMINÁRIO "A GÊNESE: O RESGATE HISTÓRICO"?

Jáder Sampaio (*)

Quase cinco horas da manhã, saí correndo de casa para não perder o voo das seis e vinte rumo a São Paulo. Tem coisas na vida que se não participarmos pessoalmente, nos arrependemos, e pensei com meus botões que esse seminário era uma delas.

Os quase quinze anos de ENLIHPE tiveram por fruto um grande número de amizades com pessoas dedicadas e estudiosas do espiritismo da região da capital paulistana e de outros lugares no Brasil. Eduardo Monteiro tinha razão, é preciso que nos vejamos pessoalmente, para criar vínculos que a internet não cria, e às vezes até atrapalha.

Fiquei acompanhando os bastidores da organização, mercê dos amigos trabalhadores que se empenharam em traduzir o livro de Simoni Privato, trazê-la ao Brasil para apresentar o resultado de suas pesquisas e dialogar sobre seus achados com os brasileiros. Inicialmente o evento seria no auditório da USE. Como ele lotou, foi para outro espaço, que também ficou pequeno. Escolheu-se, por fim, o Teatro Gamaro, que comportou confortavelmente as 450 pessoas que foram. Sabe-se lá quantas acompanharam a transmissão simultânea da Rede Amigo Espírita… O interesse dos participantes era óbvio.

A incansável Julia Nezu montou uma mesa com representantes de federativas (São Paulo, Minas Gerais, Amazonas e Amapá) e de associações espíritas presentes (Associação Jurídico Espírita do Rio de Janeiro e da Bahia; Instituto Espírita de Estudos Filosóficos e Associação Brasileira de Psicólogos Espíritas). Outras organizações espíritas estavam presentes, como a CEPA (Confederação Espírita Pan-Americana), Jornal Correio Fraterno, Instituto Espírita de Educação e TV Mundo Maior. Meu amigo Jáder Antunes foi colhido de surpresa, porque pensava que iria assistir confortavelmente no público, mas cumpriu o pedido da organização. A simpaticíssima presidente da Federação Espírita Amazonense, nos saudou um um abraço do tamanho de seu estado. A presença de Heloísa Pires atraiu aplausos dos presentes, uma vez que sua presença simbolizava todo o trabalho de Herculano Pires, da Paidéia (a editora das obras dele, e de outras), dela própria e de sua família, talvez menos conhecida fora de São Paulo, mas envolvida no trabalho de memória e divulgação do pensamento de Herculano.

Uma carta do presidente da Confederação Espírita Argentina, Gustavo Martinez, foi lida, apresentando Simoni e desejando sucesso ao evento. Ao se preocupar com qual edição de A Gênese publicar, ele acabou sendo o desencadeador e o apoiador de todo o trabalho que a pesquisadora nos apresentou. Nossos irmãos latino-americanos, mesmo sem tantos adeptos como o Brasil, são estudiosos e interessados no pensamento kardequiano, o que dá gosto de ver. Recordei-me da visão de futuro de Herculano, de Deolindo e de outros intelectuais espíritas do meio do século XX, que mantinham o intercâmbio e divulgavam o trabalho dos autores de língua hispânica no Brasil.

Fiquei pensando em alguns professores do meio acadêmico, que têm uma visão do espiritismo como algo minúsculo, místico, assistencialista apenas baseados na imagem criada pela grande imprensa e no diz-que-diz que ouviram de alguém. Não têm noção de quanto trabalho esse pessoal idealista faz, de quanta produção intelectual é realizada, do impacto social das sociedades espíritas. Fiquei pensando também nas pessoas que se restringem à sua casa espírita, que não acompanham nada do que acontece fora de seu minúsculo espaço. Confesso que mesmo estando estudando o espiritismo há tantas décadas, ao ver tudo isso, me senti pequenino. Há muito o que estudar e aprender com Allan Kardec, para não dizer dos demais autores espíritas.

Tenho certeza que o público tinha muito mais do que a mesa pôde apresentar. Escritores, jornalistas, autores, membros de federativas locais. Tanta gente que abracei e com quem conversei rapidamente nos intervalos… Tantas notícias. Tantas realizações desse pessoal desde a última vez em que estive em São Paulo.

Simoni preparou um novo seminário para seu público, mais rico do que o que apresentou na Confederação Espírita Argentina em 2017. Notei que ela conversou muito com os organizadores e analisou as perguntas que chegaram via internet. Preparou com cuidado o que ia falar e fez um trabalho bem interessante, mesmo para quem já havia lido o livro e assistido o seminário argentino. Chamou a atenção de todos a forma serena, mas clara e argumentada, como ela apresentou seu trabalho. Muitos olharam para si mesmos e questionaram-se se não teriam sido mais duros nas palavras caso estivessem em seu lugar. Simoni, contudo, não queria que a retórica fosse mais sonora que os fatos que ela levantou. O trabalho dela fala através dos documentos e argumentos. A síntese final deixa clara sua tese e como é sustentada. Não vou escrever muito sobre a apresentação da diplomata, porque desejo que os leitores do Espiritismo Comentado assistam o vídeo acima e concluam por si.

Dois depoimentos enriqueceram o evento. A falta de um parágrafo sobre o corpo de Jesus em "A Gênese" publicada em esperanto, e uma verdadeira aula sobre direito autoral dada por Manoel Felipe Menezes, do ministério público do Amapá, e sobre a Convenção de Berna, da qual o Brasil é signatário. Após toda essa nova informação que nos chega, considero que devemos manter o diálogo racional e aberto ao contradito, essência do espiritismo kardequiano, mas temos por dever a análise comparativa entre as quatro primeiras e a quinta edição de A Gênese, o que a própria mesa sugere ao apagar das luzes.

(*) – De Belo Horizonte; membro da Liga de Pesquisadores do Espiritismo (LIHPE).

Extraído de: http://espiritismocomentado.blogspot.com.br/2018/03/impressoes-pessoais-sobre-o-seminario.html

Juntos no tempo e nas ações pelo ideal espírita. Homenagem ao Balieiro

Juntos no tempo e nas ações pelo ideal espírita. Homenagem ao Balieiro

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Conhecemos José Antonio Luiz Balieiro nos florescentes tempos das mocidades espíritas. Fato marcante foi em 1967 quando ele era o coordenador local em Ribeirão Preto da 1ª Confraternização de Mocidades e Juventudes Espíritas do Estado de São Paulo (COMJESP), promovido pela USE-SP. Integramos a mesa de encerramento do grande evento com palestra pelo Divaldo, porque naquela oportunidade havíamos sido selecionado no concurso de oratória, na categoria de expositor.

Tempos depois, na mesma cidade em 1992, Balieiro foi o coordenador local do 8º Congresso Estadual de Espiritismo e nós ocupávamos a presidência da USE-SP. Aquele Congresso foi marcante no desenvolvimento da temática Centro Espírita e nas inovações propostas pelo companheiro como o caderno do congressista, já incluindo o resumo de todos os temas abordados pelos expositores.

Na mesma época, com as esposas, ambos estávamos envolvidos no projeto de estimular estudos e ações relacionados com educação e família, contando com a coordenação de nossa esposa Célia como diretora do Departamento de Educação da USE-SP. Adalgiza Balieiro vibrava e na época publicou um livro relacionado com o tema. Muitos eventos foram concretizados, incluindo o lançamento nacional da Campanha Viver em Família, em janeiro de 1994, em São Paulo, e, surgiram livros com colaborações dos dois casais, como A família, o espírito e o tempo e Laços de família, editados pela USE-SP.

Durante sua gestão como presidente da USE-SP, comparecemos como secretário geral do CFN da FEB aos Congressos Estaduais de Espiritismo em Guarulhos, Serra Negra e Franca.

Ao assumirmos interinamente e numa situação emergencial a presidência da FEB, na sequência efetivado no encargo, Balieiro se colocou a disposição e atuou como nosso assessor para ações de unificação e do CFN.

Sua atuação culminou ao ser aprovado pelo Conselho Federativo Nacional da FEB como coordenador geral do 4º Congresso Espírita Brasileiro. Dedicou-se com afinco nos preparativos dos quatro grandes eventos regionais simultâneos. O empreendimento foi coroado de êxito e muito bem avaliado em todas as regiões. Inovações na simultaneidade por regiões, na unificação de temas, na escolha regional dos expositores, no caderno do congressista e na sistemática de devolução em livros da FEB até o valor correspondente à taxa de inscrição. E o Congresso, em quatro etapas, foi superavitário. Mas, o mais importante foi o tema central que motivou e uniu os espíritas brasileiros: os 150 anos de O evangelho segundo o espiritismo. O maior esforço conjunto de divulgação dessa Obra Básica de Kardec!

No interregno de 50 anos, muitas outras somatórias de esforços se firmaram, sempre com a motivação de contribuir com o movimento espírita.

Além disso, Balieiro sempre manteve contribuição constante e foi dirigente de várias instituições e órgãos de unificação de Ribeirão Preto e região. Registros diferentes, tristes e alegres, também aconteceram.

Certa feita, após uma reunião noturna da diretoria da USE-SP, Balieiro e Adalgiza retornavam de carro para Ribeirão Preto. Ainda dentro da capital, houve um imprevisto com o veículo deles e eles telefonaram para nossa residência relatando o ocorrido e que não estavam encontrando hotel. Minutos depois estavam em nosso apartamento para o pernoite – e sem bagagens pelo fato inusitado – gerando um ambiente de risos no acolhimento em família.

Interessante que, no ano passado, face ao cancelamento de um vôo, o casal Balieiro também nos recebeu de madrugada no lar deles em Ribeirão Preto e ainda ele se prontificou a nos conduzir até um evento espírita regional em Barretos.

De imediato à eleição da diretoria da FEB de março de 2015, Balieiro se isolou num hotel de Brasília e soubemos da sua dor e decepção. Superou com o trabalho em instituições de Ribeirão Preto e retornando à USE-SP na condição de vice-presidente.

Reencontramo-nos na ação espírita em diversos momentos na vasta seara paulista e finalmente no marcante 17º Congresso Estadual de Espiritismo, em junho de 2017, quando se comemorou os 70 anos da USE-SP. Na solenidade de homenagem aos colaboradores e ex-dirigentes, a presidente Júlia Nezu Oliveira referiu-se aos dois ex-presidentes da USE “ainda encarnados…” Balieiro e eu estávamos sentados lado a lado e nos cutucamos e rimos com o “ainda”. E, agora… ele se foi, tornei-me no “único”, compromisso e responsabilidade…

O fato é que na diversidade de situações de atuações no movimento espírita, em momentos de alegria e de tristeza, e sendo diferentes, ombreamos juntos uma tarefa alimentada pelo ideal espírita!

Assim, registramos nossa homenagem ao companheiro de jornada!

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José Antonio Luiz Balieiro (1942-2018), oriundo das Mocidades Espíritas nos anos 1960. Sempre foi ligado ou dirigente de instituições e Órgãos da USE Intermunicipal e Regional de Ribeirão Preto. Ocupou várias vezes a vice-presidência da USE-SP (na nossa gestão como presidente e na atual com Júlia Nezu Oliveira); exerceu a presidência da USE-SP (2006-2012). Durante nossa gestão como presidente interino e efetivo da FEB, foi assessor do CFN da FEB e do presidente. Foi membro do Conselho Superior da FEB, nas gestões Nestor Masotti e nossa. Coordenou em 2014, os muito bem sucedidos quatro eventos do 4o. Congresso Espírita Brasileiro, promovido pelo CFN da FEB. Afastou-se da FEB quando saímos da presidência. Casado com Adalgiza, tem filhos e netos. Desencarnou no dia 8 de março de 2018, em Ribeirão Preto.

(*) – Foi presidente da USE-SP e da FEB.

A culpa e o arrependimento

A culpa e o arrependimento

Aylton Paiva (*)

Conversava com o meu amigo José quando ele, de inopino, me disse:

- Estou chateado… Falei umas coisas para minha mulher e num tom áspero e, agora, estou chateado. Arrependido. Como é difícil a gente viver bem, né?

Falei-lhe: Você tem razão. Isso até já me levou a pensar muito e até a escrever sobre a questão.

- É? Eu gostaria de ler o que você escreveu.

- Fui até o escritório e trouxe a página escrita.

- Leia, por favor.

- Sim, respondi-lhe. Eu mesmo preciso ler e meditar muito sobre esse tema. Vamos lá. Iniciei a leitura: Todos nós desejamos estar em estado emocional de harmonia; é uma meta para o bem-estar, porém nem sempre isso é possível. Um estado que desestrutura o nosso emocional é a culpa. Para sentirmos a culpa, precisamos ter um padrão de comportamento que nós respeitamos e que é aceito e mesmo exigido pelo grupo social a que pertencemos e pela cultura social que nos envolve. Desta forma as infrações às normas morais, sociais e mesmo legais são variáveis no tempo, no espaço e entre as culturas..

Embora essa diversidade há, porém, conceitos gerais sobre a culpa quando, por exemplo, praticamos atos que atentam contra o direito do próximo.

Fere a sua integridade física, psicológica ou espiritual.

No entanto, há certos condicionamentos que vêm desde a formação familiar de, sutilmente, despertar um sentimento de culpa quando não atendemos a interesses e mesmo exigências de familiares e, por conseqüência, de outras pessoas além do reduto doméstico.

Quando praticamos um ato, pronunciamos uma palavra que depois de realizados nos arrependemos deles e sentimos culpa, a nossa reação, em seguida é de:

a) sentirmos que, como pessoa, não temos valor; b) justificarmos, a qualquer custo, o nosso comportamento; c) ser por demais doloroso e difícil examinarmos o comportamento tido como inadequado.

É claro que o nosso comportamento deverá sempre adequado de maneira que não venhamos a ferir os direitos do próximo, no entanto, deveremos considerar que não somos ainda espíritos perfeitos, como nos diz o Espiritismo. Se constatarmos que agimos deliberadamente mal intencionados é óbvio que se imporá a devida reparação, pelo contato direto com o ofendido ou se foi algo mais grave teremos a dosagem da reparação pelas leis humana ou pela lei Divina.

A culpa deve ser um estado emocional e mesmo sentimental que nos proporciona a avaliação daquilo que fizemos, de forma sincera e honesta.

Com essa clareza de visão deveremos, então, agir no sentido da reparação do que não foi bem feito e aí, “cada caso é um caso “.

Assim pensando e agindo concluiremos que: a) todos nós temos valor, independentemente dos possíveis atos inadequados que praticamos, pois somos espíritos em evolução; b) deveremos aceitar o nosso comportamento e, mesmo se agimos por impulso, reconhecê-lo com sinceridade e honestidade; c) por mais doloroso que seja, somente nos reequilibraremos emocional e sentimentalmente se admitirmos a prática daquele ato.

Conseqüentemente, deveremos estar preparados para a reparação que a culpa nos indica.

A culpa bem entendida é poderoso instrumento para o nosso aprimoramento, no entanto não deve ser confundida com aqueles estados que nós geramos e que nos levam à depressão ou aqueles que outras pessoas procuram nos inculcar para nos explorarem emocional e sentimentalmente.

Quando alguém quer nos imputar a culpa deveremos fazer a análise racional se aquilo é verdade ou não. Se for, já sabemos o mínimo que nos compete fazer, se não for torna-se necessário mostrar para a pessoa a sua conduta exploradora e manipuladora. Terminei a leitura.

- Você me dá uma cópia?

- Claro, ela não é minha, pois o que aí está é uma síntese do que tenho lido em autores espíritas ou não.

- Agora vamos para o exercício, que não é fácil – completou José. – Pois é, e agora José?

(*) – De Lins, SP.

(Do Boletim Notícias do Movimento Espírita-Igobbo)

A resignação e a resistência

A resignação e a resistência

Aylton Paiva

“Bem-aventurados os que choram, pois que serão consolados” Jesus (Mateus, cap. V, v. 5).

No sentido em que Jesus ofereceu o consolo aos que choram depreende-se que esse choro é causado pela aflição do sofrimento; por algum tipo de dor, seja ela física ou moral.

Dificilmente haverá uma pessoa que ao atingir a maioridade não tenha sofrido algum tipo de dor.

Que, de alguma maneira, não tenha vertido o pranto dolorido.

Diante da dor poderemos adotar dois tipos de comportamento: a resignação e a resistência.

No dicionário Aurélio encontramos a seguinte definição para resignação:

“ 3. Submissão paciente aos sofrimento da vida” . Nele encontramos, também, com a definição para resistência: “3. Força que defende um organismo do desgaste de doença, cansaço, fome, etc.”

No decorrer da vida, o ser humano depara-se com dores como: doenças, fracasso financeiro, fracasso amoroso, morte, entre outros tantos.

Como reagir, então, ante os sofrimentos?

Poderemos ter dois tipos de comportamento: resignação – comportamento passivo e resistência e o comportamento ativo que busca a solução para acabar ou diminuir o sofrimento.

No enfrentamento ao sofrimento deveremos ter as seguintes atitudes:

1. Ter uma percepção clara da fonte do sofrimento. Separar aquilo que é real da imaginação.

2. Analisar os possíveis recursos para superar a dor. Como deveremos agir com entendimento, bom senso e o que fazer para sobrepujar a dor.

3. Aceitar o que pode e o que não pode ser modificado, mudando a forma de enfrentamento para uma ação ou vivência mais adequada e que diminua o sofrimento. Compreensão realista para agir adequadamente.

4. Os fatos são importantes ( causas da dor ), porém o mais importante é a maneira como se enfrenta os fatos ( estado emocional), de modo realista ou fantasioso.

Ter, dessa forma, a visão clara do foco da dor e da melhor forma de se comportar diante dele, procurando sentir a realidade e fugir da ilusão e da imaginação exacerbada.

Seguindo esses passos poderemos enfrentar a dor melhor preparados para agir pelo caminho da resignação ou pela senda do enfrentamento.

Estaremos, deste modo, aparelhados, com equilíbrio emocional, para calmamente atuarmos a fim de eliminar ou diminuir a dor que nos aflige.

É atribuída ao teólogo Reinhold Niebuhr a Oração da Serenidade, que assim propõem:

“Concedei-me, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar aquelas que posso e sabedoria para distinguir umas das outras”.

Consideremos, ainda, o Espiritismo nos ensina que a dor, seja ela qual for, não é um castigo divino, pois Deus não castiga,

Ele educa e aprimora seus filhos, suas criaturas, pelos caminhos da evolução no sentido da felicidade.

Portanto, a dor tem um caráter educativo e precisamos, pois, retirar dela as experiências pedagógicas que nos oferece.

Resignação e resistência são dois instrumentos importantes na construção da nossa felicidade.

Vamos treinar para usá-las sempre e, cada vez, de forma mais apropriada e eficiente e, assim, encontraremos o adequado consolo.

(Do Boletim: Notícias do Movimento Espírita, São Paulo, SP, segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018)

Providência Divina gera interreligiosidade

Providência Divina gera interreligiosidade

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

O diálogo interreligioso sobre o tema “A Providência Divina em nossas vidas” com base em A gênese (Capítulo II, itens 20 a 37) foi um dos momentos significativos da 38ª Confraternização de Espíritas do Maranhão – CONESMA, promovida pela Federação Espírita Maranhense, nos dias 11 a 13 de fevereiro, na cidade de São Luís.

O reverendo Geraldo Magela, da Igreja Anglicana, citou versículos do Evangelho sobre “as aves do Céu” e os “lírios do campo” e falou sobre o aprimoramento sensibilidade, para “ouvirmos a voz de Deus”, lembrando que Deus age por nosso intermédio.

O ministro Odorico Paula Garcez, da Igreja Messiânica, exemplificou a “oração em ação”, com a aplicação do “Johrey” para o público. Destacou Deus como princípio e algumas leis: do espírito que precede a matéria; de causa e efeito; a identidade do espírito-matéria; da ordem, destacando sempre a grande Natureza.

O pai de santo Tabajara Silva Borges, falando pelas religiões de matriz africana, considerou que este momento é uma providência divina; lembrou que “trocamos de bênçãos” entre os dois planos e destacou que o povo precisa alimentar a alma; afirmou que não interessa a designação dada a Deus, pois o importante é saber interpretar a providência divina.

Expressando-se pelos espíritas, a expositora Heloísa Pires (SP), destacou questões de O livro dos espíritos e itens de A gênese, sintetizando que “Deus é amor”; o papel educativo das nossas encarnações e lembrando que a dor nos desperta para os compromissos com Deus e de construção de nossa felicidade e de uma Terra melhor, enfatizando significados da oração Pai Nosso.

Após as citadas apresentações, os quatro convidados responderam a uma pergunta geral: “Qual a relação entre fé e Providência Divina”?

Incumbido pela organização do evento, coube a nós, procedermos à síntese e às considerações finais. Comentamos o ambiente de harmonia reinante e que as manifestações dos representantes de religiões foi muito interessante pela convergência das abordagens relacionadas com o tema, destacando-se o respeito a Deus, a fé e a apuração da sensibilidade para identificação da Providência Divina, chegando-se a comentar princípios similares ao Espiritismo. Também em respeito aos representantes de outros cultos, relatamos rapidamente o contato que tivemos, em função de afazeres espíritas, com cada uma das religiões representadas.

Na obra sesquicentenária – A gênese – Allan Kardec faz abordagens fundamentais sobre a revelação no Capítulo I e no Capítulo seguinte, sobre Deus, discorre sobre: Existência de Deus; A natureza divina; A providência; A visão de Deus.

Desse Capítulo II, destacamos trechos do Codificador:

“A ação do Criador na criação é o que chamamos de Providência Divina. […] A Providência é a solicitude de Deus para com suas criaturas. […] Compreendemos o efeito, o que já é muito.”

O diálogo interreligioso na CONESMA, com o tema central “Os tempos são chegados”, foi uma forma criativa e oportuna para se comemorar os 150 anos de A gênese, ensejando oportunidade para se analisar a pertinência de vários pontos abordados pelos representantes de religiões.

(*) Expositor convidado pela FEMAR. Ex-presidente da FEB.

Chico com crianças e a Providência Divina

Chico com crianças e a Providência Divina

"Uma vez, em Pedro Leopoldo, eu ensinava catecismo às crianças, mas um dia me proibiram. Eu ensinava catecismo para quarenta crianças… E fui proibido porque me tornara espírita.

Fiquei em casa. Mas as crianças queriam o tio Chico…

Então as famílias levaram as crianças lá em casa. E eu fiquei com muita pena, porque na igreja elas tinham lanche.

Já eram duas horas e eu só tinha água e uns pedacinhos de pão em casa.

Eram quarenta crianças… Como eu iria alimentar aquelas crianças?

Eu fiz uma prece e pedi a Deus que me ajudasse, porque elas não podiam ficar sem comer. Como é que eu iria fazer?

Estávamos embaixo de uma árvore. E, então, um vento muito estranho começou a balançar as folhas da árvore. O vento uivava entre os galhos daquela árvore.

Uma vizinha saiu e perguntou: — Chico, que é isso? Que barulho é esse?

— O vento…

— O vento?!… E essas crianças aí?

— Catecismo!…

— Você não deu nada para elas comerem?

— Não tenho!…

— Oh, Chico! Eu tenho, aqui, bolo e pão.

E a outra vizinha do lado também apareceu e perguntou: — O que foi isso, Chico? Que vento foi esse?

— O vento…

— E essas crianças aí?

— O catecismo…

E assim, doze famílias se reuniram e passaram a oferecer o alimento, o lanche daquelas crianças, por causa do vento.

"Ora e pede. Em seguida, presta atenção. Algo virá por alguém ou por intermédio de alguma coisa, doando-te, na essência, as informações ou os avisos que solicites."

Ah, o vento…"

(Relato repassado por Neusa Assis-Donda-, de Uberaba)

Obs.: fato sobre Chico Xavier jovem, logo após sua conversão ao Espiritismo, em Pedro Leopoldo.

FATO SOBRE SÃO LUÍS GONZAGA

FATO SOBRE SÃO LUÍS GONZAGA

O número de pessoas que procurava o Chico em seu emprego era cada vez maior e isso foi se tomando um problema muito grande.

José Xavier, seu irmão e companheiro de reuniões espíritas, sugeriu que as pessoas poderiam ser encaminhadas à sua sapataria, onde conversaria com elas até a hora em que o Chico saísse do serviço e pudesse atendê-las.

Assim foi feito. As pessoas passaram a ser encaminhadas para a sapataria de José Xavier. Durante onze anos, José conversou com obsidiados de toda espécie. Muitos chegavam até amarrados.

Certa noite, o espírito de Emmanuel avisou o Chico de que dentro de alguns minutos iriam chamá- lo. O José não estava bem. Quando chamaram, o Chico já se aprontara e foi para a casa de seu irmão.

Seus familiares logo lhe disseram: — Chico, não se preocupe, o médico disse que o José vai voltar. Emmanuel, então, diz ao Chico: — O médico amigo está com a razão. O José vai voltar, mas não irá reconhecê-lo, nem a nenhum outro familiar. Consta de suas provas cármicas que ele deve ficar onze anos num hospício.

Decorridas algumas horas, o Chico viu que vários espíritos formavam um círculo em torno da cama de José.

Perguntou ao espírito de Emmanuel do que se tratava e este informou:

— Vamos pedir ao Senhor que os onze anos que o José conversou com obsidiados em sua sapataria sejam levados em consideração e ao invés de ficar todos esses anos alienado, vamos pedir que ele desencarne já. Mais algum tempo e chegou a resposta autorizando o desencarne. Chico viu José sair do corpo. Era absolutamente igual ao que ficara imóvel.

Alguns meses se passaram. José apareceu ao Chico. — Como está? pergunta-lhe o Chico. — Não muito bem, respondeu-lhe. Parece que meu cérebro não cabe em minha cabeça. Sinto muita tontura. José desencarnou onze anos antes do prazo previsto, com a autorização do Plano Espiritual Superior e estava nessa condição. Imaginem os que vão para lá pelas portas enganosas do suicídio.

Mais alguns meses e o José lhe aparece novamente nas mesmas condições.

Falou-lhe, então, o Chico. — José, hoje é dia de São Luís Gonzaga. E o Santo virá à Terra abençoar toda instituição que tem o seu nome. Certamente vai passar em frente ao Centro Espírita Luís Gonzaga. José para lá se dirigiu. Quando o Santo apareceu, toda a rua ficou iluminada. Era uma luz tão intensa que o José não conseguiu olhá-lo. Ficou de joelhos e começou a orar: — São Luís Gonzaga, eu queria que o senhor me ajudasse a ficar bom. Só quero o meu equilíbrio para continuar conversando com obsessores e obsidiados nas praças públicas, nos bares, nos cinemas, nos clubes. José viu, então, uma mão como se fosse feita de luz que lhe deu um lírio com um perfume indescritível.

Ele aspirou a flor, que desapareceu, penetrando- lhe o nariz. Quando o Santo acabou de passar, continuando sua jornada de luz, José estava completamente restabelecido em seu equilíbrio.

Do Livro "Chico, de Francisco" – Adelino da Silveira Capítulo "SÃO LUÍS GONZAGA" Editora Cultura Espírita União – CEU: http://www.ceu.com.br/