Médiuns e mediunidades

Médiuns e mediunidades

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

 

Nas primeiras décadas do século XX Cairbar Schutel (1868-1938) foi um marco como grande divulgador do Espiritismo a partir do Centro Espírita Amantes da Pobreza e da Editora O Clarim, em Matão: assistência aos necessitados, palestras, polêmicas, jornal, revista, livros e programas radiofônicos.

Nos idos de Cairbar Schutel lançou seu livro Médiuns e mediunidades 1923. A mais recente edição, a décima primeira, conta com 133 páginas.

Ao longo do tempo, cremos que essa obra tenha cumprindo um papel importante junto aos leitores principiantes em assuntos espíritas e aqueles que precisam de abordagens mais simples e diretas. Schutel define claramente que se propôs fazer uma síntese de O livro dos médiuns, de Allan Kardec.

Oportuna sua colocação: “Dirigimo-nos aos humildes e simples, ‘os que sabem que não sabem’ e precisam aprender, os que querem se conhecer, os que anseiam por uma solução categórica do problema da imortalidade e da vida futura.” Reafirma seu escopo: “auxiliar o estudante nos primeiros passos no vasto campo das manifestações espíritas”.

Dessa maneira, Schutel aborda em capítulos curtos a essência dos ítens da obra que o Codificador considerou como o “guia dos médiuns e dos evocadores”. A definição de médium: “uma criatura humana, seja homem ou mulher, velho ou moço, que tem aptidões físicas e cujo corpo carnal é suscetível de sofrer a influência de outra criança, ou a de um Espírito”, é trabalhada também com várias citações ao “Doutor das Gentes”, como ele referiu ao apóstolo Paulo.

Surgem comentários oportunos e interessantes sobre os trechos da 1ª Epístola aos Coríntios, a respeito da diversidade de dons. Anota Cairbar: “[Paulo] todos procurarem os melhores dons, vale dizer, mediunidades, e aponta o caminho mais excelente para sejam bons os resultados experimentais. É assim que, depois de um eloquente discurso sobre a Caridade, faz realçar esta virtude em sua forma mais espiritualizada, ou seja, caracterizada por benevolência, tolerância, humildade, paciência, perseverança, condições estas de que devem se revestir os médiuns.”

A prática e as finalidades da mediunidade são focalizadas em várias partes do livro.

O autor ressalta que “a prática das virtudes é um excelente preservativo contra a influência dos espíritos inferiores”. Destaca que “o Evangelho é o fundamento sobre o qual se assentam as obras de Allan Kardec, ou seja, a grande, a incomparável filosofia Espírita”. Os vários tipos de mediunidades abordados na Obra Básica de Kardec merecem capítulos com observações e recomendações objetivas. Mas, também elaborou capítulos que permitem uma visão de conjunto fazendo abordagens sobre as manifestações dos espíritos através dos séculos, e também um resumo sobre o ensino dos espíritos.

Um fato histórico, pouco lembrado na atualidade, é que Cairbar Schutel se dedicou também a algumas experiências, as chamadas sessões de mesinha, ou das mesas girantes. Nestas condições obteve inclusive a identificação de espíritos ligados ao seu grupo de trabalho.

Opina que “a abstenção do estudo e da experimentação de um fenômeno, sob pretexto de perigo, não é consentânea com a razão, nem com a Ciência, como também é um entrave à lei do progresso e da Verdade”. Em vários capítulos faz referência à questão da identificação de espíritos comunicantes, destacando “o dom do discernimento dos Espíritos, que também é uma das formas de mediunidade, segundo afirma o Apóstolo Paulo, em sua Epístola aos Coríntios” e cita o evangelista João: “não creais em todo Espírito…”

Na sua Conclusão, Schutel transcreve mensagem de Vicente de Paulo direcionada a Kardec, de onde destacamos trechos: “O mundo material e espiritual que conheceis tão pouco ainda, formam como que duas conchas da balança perpétua […] chegar-se a Deus, amar, unir-se e seguir pacificamente o caminho cujos marcos se vêm com olhos da Fé e da Consciência”. Cairbar Schutel reverencia o Codificador: “A obra de Allan Kardec é inexcedível. De fato, de todos os Espíritos que têm vindo à Terra, ele é o verdadeiro mensageiro de Jesus, sob cuja direção agiu”; “julgamos a Codificação dos ensinos Espíritas o mais grandioso, o mais admirável fato do Poder Espiritual, da verdade do Espírito Imortal”.

E faz uma recomendação expressa: “Para a boa direção dos núcleos espalhados hoje por todas as cidades e vilas do Brasil, é indispensável que os seus fundadores se submetam aos Princípios Kardecistas, que constituem os fundamentos da Doutrina”.

O livro Médiuns e mediunidades teve um importante papel na época em que foi lançado e entendemos que, pelas abordagens diretas e objetivas para sintetizar, encontra-se atual e cabível em nossos dias. Em nossos tempos há necessidade de livros espíritas mais direcionados para o público-alvo das preocupações de Cairbar Schutel: os humildes e simples.

(*) – O autor foi presidente da FEB, da USE-SP e membro da Comissão Executiva do CEI.

De: Revista Internacional de Espiritismo. Ano XCIII – no. 3. Abril de 2018. P.138-139.