O médium Arigó em “Predestinado” e nos livros

O médium Arigó em “Predestinado” e nos livros

   


Antonio Cesar Perri de Carvalho

Desde o dia 1o setembro vários cinemas do país estão exibindo o filme “Predestinado. Arigó e o espírito dr. Fritz”.
O filme focaliza o médium conhecido como Arigó – José Pedro de Freitas (1921-1971) -, um homem simples que com a esposa Arlete, morava em Congonhas do Campo, Minas Gerais.
Arigó se notabilizou como médium, realizando cirurgias espirituais e tratamentos com atuação do espírito dr. Fritz. Durante a década de 1950, época em que havia grande preconceito contra os médiuns e o Espiritismo, Arigó tornou-se um símbolo de esperança através de suas cirurgias e curas espirituais. Sua atuação prosseguiu durante os anos 1960, tendo desencarnado em acidente automobilístico em janeiro de 1971.
O filme deu foco nas ações mediúnicas e seus resultados positivos, as perseguições e condenações contra Arigó e o interesse popular que o médium suscitava.
O ator Dalton Mello faz o papel de Arigó e a atriz Juliana Paes, encenou a esposa do médium Arlete. Com 110 minutos de duração o filme foi dirigido por Gustavo Fernández e conta com a distribuição de Imagem Filmes.
Assistimos ao filme no início de sua exibição em São Paulo.
O enredo e as cenas cinematográficas provocaram-nos recordações dos tempos de nossa juventude, contemporâneo do fenômeno Arigó, quando acompanhamos os impactos e as polêmicas sobre o médium cirurgião na imprensa leiga e espírita e pelos livros, envolvendo jornalistas e pesquisadores. Após sua desencarnação prosseguiram as repercussões.
Naquela época escrevíamos sobre o médium no jornalzinho “Mocidade”, da Instituição Nosso Lar), em “colunas espíritas” de jornais de Araçatuba e, logo depois enviando matérias e notícias para as edições da Casa Editora O Clarim.
Recordamos que o presidente Juscelino Kubitschek chegou a procurar e era simpático ao médium e inclusive o indultou de uma condenação do ano de 1958.
A visita e os estudos do médico, com patente militar e parapsicólogo americano Henry Karel Puharic (1918-1995), conhecido pelo apelido Andrija, com equipe de especialistas envolvidos com pesquisas de médiuns, foram muito significativos e bem divulgados na época.
As análises e publicações de Jorge Rizzini e Herculano Pires foram marcantes, inclusive se antepondo às tendenciosas elocubrações do padre Quevedo, que se apresentava como parapsicólogo. Foi muito significativa a edição em 1963 do livro Arigó: vida, mediunidade e martírio, de autoria de Herculano Pires.
No histórico programa Pinga-Fogo, na TV Tupi de São Paulo, em julho de 1971, atendendo a uma pergunta, Chico Xavier comentou: “Conheci pessoalmente José Arigó durante três anos de convivência muito estreita, de 1954 a 1956. Sempre me pareceu um apóstolo legitimo da nossa causa espírita e, sobretudo, da mediunidade a serviço do bem, um pai de família exemplar, um amigo de todos os sofredores. Depois da nossa mudança para Uberaba, em 1959, perdemos contato mais direto com Arigó.”
O jornalista americano John G. Fuller (1913-1990), interessado em fenômenos paranormais, lançou em 1974 o livro Surgeon of the Rusty Knife, no Brasil editado com o título Arigó: O Cirurgião da Faca Enferrujada.
O jornalista e pesquisador britânico Guy Lyon Playfair (1935-2018) viveu no Brasil, no Rio de Janeiro e São Paulo, onde trabalhou como repórter e tradutor para diversas revistas americanas, britânicas e brasileiras. Em São Paulo, interessou-se pelas pesquisas de fenômenos mediúnicos e reencarnação, junto ao pesquisador Hernani Guimarães Andrade. Seus contatos com Arigó e Chico Xavier, estão relatados no seu livro The Flying Cow (1975), traduzido para o português e publicado com o título A Força Desconhecida. Chegamos a visitar Playfair em sua residência em Londres quando lançava um livro sobre Chico Xavier.
Nossa expectativa é que o filme contribua para o resgate histórico do marcante vulto da história do Espiritismo, estimule o interesse pelos fatos mediúnicos, e, inclusive pelos livros citados, disponíveis no mercado livreiro.

Centenário de amigo de Chico Xavier

Centenário de amigo de Chico Xavier

      

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Arnaldo Rocha (1922-2012) – testemunha de importantes momentos com Chico Xavier – teria completado centenário de nascimento no dia 29 de agosto.

Arnaldo ficou viúvo de Irma de Castro Rocha, que se tornou autora de inúmeros textos pela psicografia de Chico Xavier, com o pseudônimo de Meimei. Num segundo casamento, com Neuza tiveram uma filha e netos.

Amigo pessoal de Chico Xavier, colaborador nos tempos de Pedro Leopoldo e um dos fundadores do Grupo Meimei, que funcionou entre 1952 e 1956, organizou os livros Instruções psicofônicas e Vozes do grande além, obtidos por transcrição de gravações das psicofonias de Chico Xavier nesse Grupo.

A Casa Editora O Clarim publica obras relacionadas com Arnaldo: sobre Meimei, elaborado junto com seu amigo Wallace Leal Valentim Rodrigues (Meimei, vida e mensagem); relatos e entrevistas: Chico, diálogos e recordações..., de autoria de Carlos Alberto Braga Costa.

Em várias viagens que fizemos a Belo Horizonte e Pedro Leopoldo nos preparativos para as comemorações do Centenário de Chico Xavier Arnaldo fazia questão de nos buscar no Aeroporto de Confins, fomos seu hóspede juntamente com a esposa Célia em sua residência. Também ele se hospedou em nossa residência em Brasília. Ele possuía muita consideração com nossa esposa. A afeição do espírito Meimei pela nossa esposa já era sabido. Numa dessas oportunidades nós o entrevistamos para a revista Reformador.1

Atuou em vários congressos espíritas, inclusive no alusivo ao Centenário de Chico Xavier, o 3o Congresso Espírita Brasileiro, em abril de 2010, em Brasília. Na sede da União Espírita Mineira acompanhamos algumas reuniões dirigidas por Arnaldo e constatamos sua experiência, vinda dos tempos de Chico Xavier, como dialogador em manifestações psicofônicas. Arnaldo foi agraciado com a “Comenda da Paz Chico Xavier”, outorgada pelo Governo do Estado de Minas Gerais (2011). A nosso convite, como presidente interino da FEB, em julho de 2012 participou do lançamento do DVD "Instruções Psicofônicas & Vozes do Grande Além", na sede da FEB, em Brasília, em companhia de Oceano Vieira de Melo, responsável pela edição da Versátil, de São Paulo.1

No mês de setembro de 2012 estivemos em duas oportunidades com Arnaldo em Belo Horizonte e nossa esposa Célia o visitou em sua residência e fizeram sua última foto. Uma semana depois ele desencarnou em sua residência, em Belo Horizonte, aos 90 anos de idade. Ocupado com compromissos na presidência da FEB, nossa esposa e diretora da FEB Célia representou a Instituição, no velório e sepultamento realizado no dia 30 de outubro, na capital mineira.1

Arnaldo demonstrou muita atenção e carinho pela nossa família e nossas atividades.

Sempre fiel às obras de Allan Kardec e de Chico Xavier, com posições marcantes, enérgicas em alguns momentos, mas com muita sinceridade. Mantinha diálogos frutíferos, agradáveis e até com lances pitorescos, com suas valiosas recordações de Chico Xavier.

Fonte:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. Cap. 6.2. Araçatuba: Cocriação. 2021.

Reflexões sobre falsos profetas, de textos bíblicos às redes sociais

Reflexões sobre falsos profetas, de textos bíblicos às redes sociais
Antonio Cesar Perri de Carvalho
Nos vários livros que integram a Bíblia há referências às ações dos profetas, e, também dos falsos profetas.
Em O evangelho segundo o espiritismo, Allan Kardec, dedica o capítulo XXI ao tema: “Haverá falsos cristos e falsos profetas”.1 Judiciosamente, analisa e inclui mensagens espirituais sobre versículos do Novo Testamento:
“A árvore que produz maus frutos não é boa e a árvore que produz bons frutos não é má; porquanto, cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto” (Lucas, 6:43). – “Guardai-vos dos falsos profetas que vêm ter convosco cobertos de peles de ovelha e que por dentro são lobos rapaces. Conhecê-los-eis pelos seus frutos” (Mateus, 7:15). – “Meus bem-amados, não creais em qualquer Espírito; experimentai se os Espíritos são de Deus, porquanto muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” (João, 1a Epístola, 4:1).
Na ação de Paulo de Tarso há fatos e registros sobre o que se enquadra como falsos profetas. Entre várias situações: o caso dos sete irmãos judeus exorcistas (Atos 19:13-17); do mago que tentava curar o procônsul romano Sérgio Paulo (Atos, 13:6-8) e da pitonisa de Filipos (Atos 16:16-40). Nas suas Epístolas, Paulo constantemente alertava sobre os falsos profetas.
Herculano Pires, em sua magistral obra O espírito e o tempo, analisa o profetismo bíblico e a dimensão do verdadeiro profeta considerando a individualização mediúnica e espiritual e anota: “O profeta é o elo entre a terra e o céu. A individualização social produziu a individualização mediúnica, e esta, por sua vez, produz a individualização espiritual, através do aprimoramento dos atributos éticos do profeta”.2
Há claros e bem fundamentados conceitos para se compreender com base no Espiritismo o papel de profetas e dos médiuns em geral.
Recentemente, em estudo virtual promovido pelo Grupo Espírita Casa do Caminho, de São Paulo, abordamos o acima citado capítulo de O evangelho segundo o espiritismo.
Mas, procuramos estimular reflexões sobre a abundância de mensagens mediúnicas escritas e gravadas e declarações de variadas pessoas que procuram relacionar episódios da sociedade que vivemos com pretensas informações de origem espiritual.
A análise racional de várias delas e em cotejo com os princípios espíritas apontam inúmeras distorções, sugerindo eventual enquadramento nos temas alertados por Kardec em capítulos de O livro dos médiuns que abordam o papel dos médiuns nas comunicações espíritas, influência moral do médium, obsessões, e, a identidade dos espíritos.3
Naturalmente surge a questão da atualidade em que ocorrem, precipitadas e sem análises cuidadosas, a divulgação pelas redes sociais de mensagens e comentários duvidosos. Seriam enquadráveis no dizer tradicional, de falso profetismo, e, na atualidade, de.como fake news.
Esse alerta sugere que nós, os espíritas, devemos evitar os “compartilhamentos” apressados de mensagens recebidas pelas redes sociais. Antes precisam ser analisadas cuidadosamente com o bom sendo aurido do conhecimento doutrinário.
A propósito, consideramos oportuna a transcrição de trechos de autoria do espírito Emmanuel, extraídos de obras psicografadas por Chico Xavier:
“A mentira é a ação capciosa que visa o proveito imediato de si mesmo, em detrimento dos interesses alheios em sua feição legítima e sagrada; e essa atitude mental da criatura é das que mais humilham a personalidade humana, retardando, por todos os modos, a evolução divina do Espírito”.4
“Obscurecer, falsear, iludir constituem armas invisíveis e mortíferas dos que operam a confusão. O discípulo de Cristo não deve ignorar que se encontra em luta permanente contra o mal, em si mesmo, e não deve desconhecer que a falência nasce do engano, da insegurança e vacilação. Quando tantas coletividades se aprestam à defesa da ordem e dos princípios cristãos, lembremos que o Mestre não esqueceu de incluir a coluna da mentira, entre os mais implacáveis inimigos da humanidade liberta”.5
“Forçoso distinguir sempre o exterior do conteúdo. Exterior atende à informação e ao revestimento. Conteúdo, porém, é substância e vida. Exterior, em muitas ocasiões, afeta unicamente os olhos. Conteúdo alcança a reflexão. Simples lições de cousas aclaram-nos o propósito”.6
Como sugestão de reflexão, destacamos trecho sobre a relação entre parecer e ser:
“Ninguém que se consagre realmente à verdade dará testemunho de nós pelo que parecemos, pela superficialidade de nossa vida, pela epiderme de nossas atitudes ou expressões individuais percebidas ou apreciadas de passagem, mas sim pela substância de nossa colaboração no progresso comum, pela importância de nosso concurso no bem geral”.7
Referências:
1) Kardec, Allan. (Trad. Ribeiro, Guillon). O evangelho segundo o espiritismo. Cap. XXI. Brasília: FEB.
2) Pires, José Herculano. O espírito e o tempo. 1ª. parte, cap. IV. São Paulo: Paideia.
3) Kardec, Allan (Trad. Ribeiro, Guillon). O livro dos médiuns. 2ª parte. Brasília: FEB.
4) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. O consolador. Q. 192. Brasília: FEB.
5) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Harmonização. Cap. Não vos enganeis. São Bernardo do Campo: GEEM.
6) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Livro da esperança. Cap. Exterior e conteúdo. Uberaba: CEC.
7) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Fonte viva. Cap.7. Brasília: FEB.

Junto aos simples e fracos

Junto aos simples e fracos

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Ao longo de nossa existência tivemos contato com algumas realidades mais próximas de situações de vida das pessoas que vivem na periferia de grandes cidades.

Em atividade junto a um centro espírita que atua em bairro da capital federal e que presta apoio a famílias carentes, integramos a equipe que visita lares. Várias situações dramáticas vieram à tona. Entre elas, em visita a um casebre extremamente precário, próximo a uma ribanceira – e, paradoxalmente, com vista a distância para um belo bairro da cidade – vários dramas estavam presentes. A senhora responsável pela família, já com mais de 40 anos, estava grávida. Relatou que a gestação era resultante de violência sexual, mas que ela se recusou a praticar o aborto porque entendia que a criança não tinha nada a haver com a triste ocorrência. Um de seus filhos foi levado à força para o Estado de origem de ex-companheiro. O casal de filhos adolescentes, que conhecemos, também já tinham sido vítimas de violência sexual.

A impunidade de tanta tragédia se oculta pela localização da “moradia” e de seus “vigilantes”… Além do apoio material e moral, o grupo espírita visitante prestava também apoio espiritual. Ao se abrir O Evangelho segundo o Espiritismo – e que coincidência – foi lida a página “Os infortúnios ocultos” (Cap.XIII), seguida de uma prece.

Há uns tempos atrás, em outro momento totalmente distinto, precisamos comparecer a um órgão previdenciário. Foi difícil e tivemos que esperar o encerramento de uma greve. Esta era motivada por desatenções à situação salarial dos funcionários. Devido à sobrecarga de demandas após a conclusão da greve somente conseguimos agendar um comparecimento mais próximo no tempo, em agência de bairro periférico. Ao chegarmos ao local, enquanto aguardávamos nosso atendimento, observávamos o público presente: que tristeza! Pessoas idosas, doentes, com deficiências de locomoção; mães com crianças no colo e nas mãos… A aparência geral era sugestiva de vida extremamente difícil. E o detalhe extra, pois imaginávamos o óbvio, de que os presentes ali chegaram vencendo ainda distâncias grandes a pé ou de ônibus.

De outra feita, em outro ambiente, nos saguões de hospitais, observamos a situação terrível dos usuários da assistência de saúde estatal e a brutal diferença dos que tem garantia financeira ou de um razoável plano de saúde. Estes, em poucos minutos, passam pela burocracia do atendimento inicial e já tem acesso até a exames e tratamentos sofisticados.

Nesses três “flashes” vivenciados em poucos meses – um autêntico “choque de realidades” – provocaram-nos profundas reflexões.

Evidentemente que passamos a pensar no papel dos espíritas junto ao meio social.

As ações espíritas em convívio mais próximo com a comunidade, tanto na atividade doutrinária como na assistencial, nos fez retroceder no tempo – há sessenta anos -, quando nos períodos de adolescência e juventude labutávamos com nossa família na Instituição Nosso Lar – que vimos nascer – localizada num então bairro periférico da cidade de Araçatuba (SP): apoio e visita a famílias, “campanha do quilo”, distribuição de sopa, evangelização muito simples para crianças, reuniões públicas sobre Evangelho e com passes, e, os jovens participando de todas essas ações. E, sem dúvida, as informações sobre o trabalho pioneiro de Benedita Fernandes – a dama da caridade -, naquela cidade.

Mesmo considerando as alterações que o país e o movimento espírita sofreram nesse período de tempo, há necessidade de se refletir sobre a atuação dos espíritas junto aos segmentos mais simples de nossa população. E há componentes agravados pela maior violência e pela disseminação das drogas.

Os centros espíritas – que são a base do movimento espírita –, local onde as ações se corporificam, devem merecer atenção de seus dirigentes promovendo estudos, análises e diálogos, sobre as demandas da cidade ou dos bairros de uma cidade, sobre a adequação dos planos de trabalho – atendendo todas as faixas etárias e sociais – à efetiva realidade em que se encontram inseridos.

Em momentos preditos como o do “Consolador Prometido” são sugestivas as ações dos primeiros agrupamentos cristãos, registradas por Emmanuel nos livros Paulo e Estêvão, 50 anos depois e em Ave, Cristo! O registro do ex-doutor da Lei é muito oportuno, ao se tornar homem do povo como o apóstolo Paulo: "Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns. E eu faço isto por causa do evangelho, para ser também participante dele" (I Coríntios 9,22-23).

Com essas anotações reiteramos as preocupações já externadas em artigos que divulgamos na imprensa espírita e em livros nossos1, onde registramos experiências espíritas notáveis em ambientes simples em algumas situações no Brasil, incluindo o exemplo de Chico Xavier, e no exterior.

Referências:

1. Carvalho, Antonio Cesar Perri. Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. 1.ed. Araçatuba: Cocriação. 2021. 632p.

O marco histórico do Centro de Cultura e Documentação

O marco histórico do Centro de Cultura e Documentação

    


Antonio Cesar Perri de Carvalho

O Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo Eduardo Carvalho Monteiro – CCDPE, localizado no bairro Planalto Paulista, em São Paulo, comemorou 18 anos de fundação na manhã do dia 07 de agosto.
O CCDPE é uma associação científica, cultural, sem fins econômicos, que objetiva conservar e colocar à disposição do público, livros, documentos, fitas de áudio e vídeo, DVD, CD, jornais, revistas, microfilmes, objetos, quadros, etc. de valor histórico, pertencentes ao acervo cultural espírita. Inclusive tem editado livros nas linhas de pesquisa e de biografia.
A sede própria do CCDPE estava lotada de pessoas vinculadas, pesquisadores e colaboradores, e visitantes.
A presidente Júlia Nezu fez apresentação audiovisual focalizando o fundador e primeiro presidente Eduardo Carvalho Monteiro, que viveu em São Paulo (1950-2005) e é a origem principal do precioso acervo; fez também uma retrospectiva das ações do Centro até nossos dias. Houve homenagem aos fundadores e integrantes da primeira diretoria que estavam presentes e também a dirigentes da USE-SP atualmente integrados ao CCDPE e presentes no evento: a atual presidente Rosana Gaspar e os ex-presidentes Cesar Perri, Júlia Nezu e Aparecido Orlando.
Na oportunidade, Adair Ribeiro Júnior, colaborador do CCDPE e coordenador do AKOL doou e entregou tela original sobre Kardec adquirida em Paris. Houve uma Mini Exposição Kardec, mostra de obras raras e visita ao acervo do Centro.
Em seguida houve um almoço mediante adesão.
Recentemente, o Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo Eduardo Carvalho Monteiro, de São Paulo, disponibilizou uma mostra de seus documentos e acervos, no Congresso Estadual da USE-SP, nos dias 24 a 26 de junho. Houve apresentação de uma linha do tempo sobre o Espiritismo na França e contexto mundial (1857 a 1915), fotos, pôster, livros raros, documentos e manuscritos de Kardec. As equipes do acervo e de pesquisas, com coordenação de Pedro Nakano, organizaram e acompanharam a mostra. Houve parceria de “Allan Kardec On Line” (AKOL), com atuação de Adair Ribeiro Júnior e Carlos Seth, que também colaboram com o CCDPE. Entre os visitantes, Washington Luiz Nogueira Fernandes, doador de significativo acervo.
O acervo de livros, documentos, etc, pertencentes ao CCDPE tem recebido doações de vários acervos de escritores e colecionadores. Com a coordenação de Pedro Nakano, alguns pesquisadores e colaboradores do CCDPE, uns presenciais e outros à distância, estão atuando nessa organização. Algumas reuniões de estudo da instituição tem sido efetivadas de forma virtual.
Vários livros com interface acadêmica e biografias tem sido editados pelo Centro.
Pessoalmente tivemos muitos contatos com Eduardo Carvalho Monteiro, notadamente no período em que exercemos a presidência da USE-SP na década de 1990. Naquela época o designamos responsável pelo Projeto Pró-Memória da USE-SP que foi montado nas dependências do Instituto Espírita de Educação, em utilização pela USE. Eduardo é autor de dezenas de livros sobre pesquisas de vultos e fatos espíritas e também sobre maçonaria. Em várias atividades estivemos juntos na seara espírita e eventos maçônicos.
Na época de fundação do CCDPE residíamos em Brasília. Mas nos primeiros anos do funcionamento viemos na condição de diretor da FEB juntamente com a esposa Célia para acompanhar evento sobre educação e evangelização promovido pela USE, que acontecia no Centro, e com atuação de nossa amiga Adalgiza Balieiro.
Logo depois, dentro de programa que coordenávamos da secretaria geral do Conselho Federativo Nacional da FEB, o CCDPE sediou um seminário com apoio da USE-SP sobre preparação de dirigentes espíritas.
Após nossas desincumbências da FEB e retorno de residência em São Paulo, passamos a colaborar com o CCDPE com oferta de cursos presenciais e, com a pandemia, passaram a ser virtuais.
Em junho de 2021, o CCDPE sediou também transmitido pela internet, o lançamento de nosso livro “Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões” (Ed.Cocriação, Araçatuba).
O CCDPE tem sido local de convergência de estudiosos e pesquisadores do Espiritismo e também um local acolhedor e fraterno. É um marco na história do Espiritismo em São Paulo.
Há um vídeo elaborado por Ery Lopes, sobre o CCDPE (copie e cole):

http://grupochicoxavier.com.br/o-extraordinario-acervo-do-ccdpe-sp/

Benedita Fernandes em “Diálogos de corpo e alma” em São Paulo

Benedita Fernandes em “Diálogos de corpo e alma” em São Paulo

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

A exposição paulistana “Diálogos de Corpo e Alma”, no Centro Cultural Correios de São Paulo, focaliza a cura através da arte, da espiritualidade e da ciência com mostras de diversos artistas, que vão desde a pintura, escultura, instalações e videoarte.

Os promotores informam: “A mostra se expande através de salas temáticas que apresentarão diferentes caminhos da cura. A cura através da ciência enfatiza o trabalho do dr. Sérgio Felipe de Oliveira, médico e pesquisador, renomado estudioso da glândula pineal, que desbravou caminhos desconhecidos, curando diversos pacientes através de suas descobertas revolucionárias. O processo da arte e a utilização de animais como instrumentos auxiliares nas terapias, surge com o inovador trabalho da psiquiatra Nise da Silveira e aspectos da vida de vários personagens. A história de Benedita Fernandes (A Dama da Caridade) filha de escravos libertos que dedicou sua vida pelo bem social na primeira metade do século 20 no interior de São Paulo) interpretada em tela e co, aspectos espirituais relevantes (independentes de religião)”.

A artista plástica Lesiane Lazzarotti Ogg, criadora da exposição, vem realizando coletivas similares e a curadoria é do artista Luiz Badia.

A exposição foi iniciada no dia 21 de junho e se encerrará no dia 12 de agosto no Centro Cultural Correios de São Paulo, um prédio centenário belíssimo e bem conservado, localizado no centro antigo de São Paulo, no Vale do Anhangabaú esquina com a Av. São João. A visita é gratuita.

Uma área grande – Arte, Cura e Espiritualidade – é dedicada a Benedita Fernandes com registros de momentos da pioneira da assistência social espírita em Araçatuba, onde fundou a Associação das Senhoras Cristãs aos 06/03/1932. Há telas de vários artistas e vídeo sobre o vulto e a reprodução de uma casinha de madeira, típica do trabalho inicial de Benedita, atendendo na época, os chamados “loucos”. Benedita, curada por espíritas de obsessão passou a se dedicar ao atendimento de doentes mentais e crianças abandonadas. Assim surgiu o Sanatório, depois Hospital Psiquiátrico Espírita Benedita Fernandes, mais recentemente desdobrado em vários CAPS – Centro de Atenção Psicossocial em Araçatuba.

Essas informações se encontram em nosso livro: “Benedita Fernandes. A dama da caridade” (Ed.Cocriação, Araçatuba), e no filme que o utiliza como enredo “Benedita, uma heroína invisível. O legado da Superação”, produzido por Sirlei Nogueira, que teve uma pré-estreia em Araçatuba e será lançado em cinemas.

Sirlei Nogueira compareceu na abertura da Exposição e Ismael Gobbo, originário de Araçatuba e editor do Boletim de Notícias do Movimento Espírita, também a visitou.

Entre as várias telas, elaboradas por diversos artistas, a intitulada “Cáritas”, de Sandra Nunes, está exposta juntamente com a frase: “O antídoto para qualquer tipo de violência é sempre o amor, tal como o estímulo aos estados agressivos decorre do egoísmo” (de Benedita, psicografia de Divaldo Pereira Franco, de nosso livro acima já citado).

Como autor da biografia sobre Benedita sentimos alegria e emoção ao visitar a Exposição no centro capital paulista, com destaque à mulher afro-descendente, inculta, simples e despojada que superou incontáveis dificuldades e se tornou um vulto marcante no movimento espírita e na história dos hospitais psiquiátricos espíritas do Estado de São Paulo.

(*) – Foi dirigente em Araçatuba, ex-presidente da FEB e da USE-SP.

Publicado no Boletim de Notícias do Movimento Espírita, dia 04/08/2022.

Juventude – alertas sobre contextos sociais e espirituais

Juventude – alertas sobre contextos sociais e espirituais

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Como vivemos intensamente o período das mocidades espíritas e a partir delas iniciamos nossa trajetória espírita, podemos fazer uma reflexão que envolve várias décadas de vivência e observações.1

A nossa visão atual é que tem havido evidente diminuição na existência e atuação do segmento jovem no movimento espírita. Desde o auge das ações dos jovens espíritas no Brasil, entre os anos 1950 e 1960, muitos fatores influíram na sociedade e com reflexos no movimento espírita.

Dados estatísticos do Brasil, até quando foi realizado o Censo Nacional, em 2010, evidenciam que, entre os segmentos religiosos, a faixa etária jovem cresce bem menos entre os espíritas. No período em que estávamos como um dos responsáveis pelo Conselho Federativo Nacional da Federação Espírita Brasileira estimulamos a discussão e houve uma decisão no ano de 2010 de que “o tema juventude espírita deve ser amplamente analisado, levando-se em consideração os aspectos sociológicos, psicológicos, antropológicos e educacionais dos tempos atuais e suas relações e impactos com o Movimento Espírita”. Esse projeto evoluiu nos anos imediatos e durante nossa gestão na presidência da FEB foi concretizada a “Confraternização Brasileira de Juventudes Espíritas”, inicialmente da região Centro (2013), desenvolvida de maneira dinâmica com oficinas de trabalho, palestras e apresentações teatrais e musicais. Posteriormente, embora repetida em outras regiões, ocorreram alterações e não aconteceu a ampla análise sobre juventude.1

O contexto social foi profundamente transformado, superando-se muitas tradições e até pressões religiosas, e, em função da proliferação do ensino universitário, desenvolvimento tecnológico e acesso amplo aos meios de informação o jovem atual apresenta perfis e tendências muito diferentes dos vigentes em meados do Século XX. Nas empresas, algumas atividades especializadas são atualmente operacionalizadas e dirigidas por pessoas jovens.

Em época de estímulos ao conhecimento, ao empreendedorismo e várias formas de inclusão, muitas instituições espíritas tratam os jovens de maneira quase infantilizada. Há incompreensões e impasses, pois muitos dirigentes de nossos dias trazem maneiras de pensar e reagir mais vinculadas às características de décadas passadas.

Praticamente corroborando nossas observações, mas apontando para um cenário muito mais amplo, veio a lume no início de maio de 2022 o resultado de pesquisa sobre a religiosidade do segmento mais jovem do país.

Essa recente pesquisa do Datafolha2 mostra que entre os jovens de 16 a 24 anos, o percentual dos sem religião chega a 25% em âmbito nacional. Especificamente no Rio de Janeiro e São Paulo, o crescimento dos brasileiros que se dizem "sem religião" é ainda mais marcante, particularmente entre os jovens. Os sem religião na faixa etária de 16 a 24 anos são numerosos: em São Paulo chegam a 30% dos entrevistados, superando evangélicos (27%), católicos (24%) e outras religiões (19%); no Rio de Janeiro, chegam a 34%, também acima de evangélicos (32%), católicos (17%) e demais religiões (17%). Os responsáveis pela pesquisa comentam que entre os fatores que podem explicar esse cenário há o aumento de famílias plurirreligiosas e a ampla rede de múltiplas fontes de informação, completamente diferente das faixas etárias, por exemplo, dos idosos, “cuja sociabilidade muitas vezes é restrita à família e à igreja”. Em contato com sociólogos e pesquisadores do Instituto Superior de Estudos da Religião, trabalham com a hipótese de que "A maior parcela dos sem religião tem a ver com uma desinstitucionalização, o que quer dizer que o sujeito está afastado das instituições religiosas, mas ele pode ter uma visão de mundo e até mesmo práticas pessoais informadas por crenças religiosas". Há opiniões de acadêmicos que "há uma trajetória de busca e experimentação que foi colocada para as novas gerações que não era colocada para as antigas"; seriam “são outros modos de ter fé".2

Portanto, fica cada vez mais claro que há profundas mudanças no cenário social e que as instituições espíritas precisam se adequar às novas realidades. Por outro lado, em uma vertente totalmente distinta, mais conhecida pelo ambiente espírita, dispomos de mensagens espirituais assinadas por jovens pelo processo da psicografia. Nos anos 1970 e 1980 foram publicadas mensagens de jovens psicografadas por Chico Xavier, como Jovens no além3, em que vários jovens desencarnados se propõem a auxiliar “a escolher o melhor caminho e a pensar com acerto, em qualquer ângulo espacial a que nos ajustemos ou em qualquer faixa etária de nossa evolução”.

No presente ano veio a lume o livro Juventude interrompida. Relatos e alertas dos jovens do além4, contendo mensagens espirituais que representam um autêntico brado de alerta para as famílias e para as instituições espíritas. Essa recente obra reúne mensagens de 24 jovens desencarnados, psicografadas em reuniões da Federação Espírita do Estado do Espírito Santo. Conta com prefácio de Rossandro Klinjey. O objetivo “é esclarecer a respeito de temas que estão presentes na vida da juventude”. Assim, foram selecionadas mensagens que tratam de temas como: aborto, Aids e IST, dependência do álcool, distúrbios alimentares e conflitos de autoimagem, doenças cármicas, fatalidades, mortes violentas, overdose, suicídio e violência familiar. Nas considerações ao final da obra, o presidente da FEEES Fabiano Santos de Campos destaca que pretenderam “trazer à reflexão temas que precisam servir de base para o estudo e conhecimento de parcela significativa daqueles que ainda vêem a existência circunscrita a uma única chance propiciada pela divindade” e com o alerta de “a morte não existe”.4

A nova realidade de compreensão de “outros modos de ter fé”, de “famílias plurirreligiosas” e tendências de desinstitucionalização, apontadas por pesquisadores ao analisarem a pesquisa do Datafolha, e, o forte conteúdo das mensagens de espíritos que tiveram sua “juventude interrompida” deve representar um alerta severo para que as instituições espíritas analisem todo esse contexto da atualidade. Kardec considera que a “nova geração marchará para a realização de todas as ideias humanitárias compatíveis com o grau de adiantamento ao qual tenha chegado.”5 

Todavia há grandes desafios para se abrir espaço no movimento espírita, desde sua base nos centros, para que haja condições de se compreender os problemas atualmente vividos pela juventude, superando-se os tabus que impedem a abordagem de temas complexos como os relatados pelos jovens desencarnados no recente livro citado. E, sem dúvida, efetivamente abrir-se espaço para o protagonismo juvenil nas instituições. Até na forma de abordagem de conteúdos doutrinários e no tempo de duração de palestras, deveriam ocorrer alterações para que o público alvo mais jovem se sinta motivado a participar de estudos e de atividades de divulgação do Espiritismo. O adulto pode ter experiência; mas o jovem pode ter mais condições para o dinamismo, e, juntos elaborarem propostas de adequações aos tempos atuais. As duas vertentes deveriam se integrar e somar esforços para a atualização e dinamização das instituições espíritas, sem trâmites burocráticos formais, típicos de hierarquização.

Os tempos conturbados requerem providências rápidas e prudentes!

O autor foi presidente da FEB, da USE-SP e membro da Comissão Executiva do CEI.

Referências:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. Araçatuba: Cocriação. 2021. 632p.

2) Jovens sem religião superam católicos e evangélicos: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/05/09/jovens-sem-religiao-superam-catolicos-e-evangelicos-em-sp-e-rio.ghtml; consulta em 23/05/2022.

3) Xavier, Francisco Cândido; Ramacciotti, Caio; espíritos diversos. Jovens no além. São Bernardo do Campo: GEEM. 1975. 223p.

4) Autores diversos. Juventude interrompida. Relatos e alertas dos jovens do além. Matão: Casa Editora O Clarim. 2022. 368p.

5) Kardec, Allan. Trad. Imbassahy, Carlos de Brito. A gênese. Cap. 18. São Paulo: FEAL. 2018.

(Matéria publicada na Revista Internacional de Espiritismo, Ano XCVII, n.6, Julho de 2022, p.288-290)

Influências do contexto familiar

Influências do contexto familiar

Antonio Cesar Perri de Carvalho

A temática família sempre nos motivou, desde a elaboração de pesquisas sobre nossa família até estudos e campanhas sobre a valorização da família em nível de movimento espírita.

Nos últimos tempos muitas recordações e raciocínios vieram à tona nos momentos em que elaborávamos o livro Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões1 e, recentemente na preparação de uma apresentação audiovisual reflexiva e de homenagens envolvendo os laços familiares nosso, da esposa e a trajetória da união conjugal para a comemoração das Bodas de Ouro, tendo como tônica “você é parte de nossa história”.

Na análise dos episódios de nossa existência há a vantagem de que estamos olhando para trás sem as paixões do momento, pois há situações vividas ao longo de sete décadas…

O assunto família perpassa nossos diversificados registros.

A saga dos imigrantes Perri, foi considerada em função dos contextos sociais da época e destacamos que em nossa infância, foi muito presente a valorização da família, a influência de tradições italianas na cultura, na culinária e na música, com canções napolitanas, entoadas pelos nossos tios avós.

Aliás, todos estes viveram, alguns foram alfabetizados e outros nasceram na Itália. Em síntese, comentamos: “Sempre lutando, com afinco e muito labor, fortaleceu-se também o ambiente familiar com marcas assinaladas desde o casal-tronco, dos bisavós: união familiar, solidariedade, acolhimento, cuidados, alegria e, sem dúvida, o cultivo de tradições italianas. A afetividade em famílias italianas tem características fortes e peculiares.”1

Além dos aspectos históricos e sócio-culturais, caminhamos pela interpretação espírita, considerando o princípio das vidas sucessivas.

Levando-se em consideração o raciocínio reencarnacionista, o entendimento dos cenários familiares se alteram profundamente, pois entram em jogo os prévios relacionamentos interpessoais e de grupos. Torna-se oportuna a fundamentação em Kardec: “A sucessão das existências corporais estabelece entre os Espíritos ligações que remontam às vossas existências anteriores. Daí, muitas vezes, a simpatia que vem a existir entre vós e certos Espíritos que vos parecem estranhos”.2

Muito pertinente a análise de Emmanuel: “Todos os Espíritos encarnados, porém, devem considerar que se encontram no planeta como em poderoso cadinho de acrisolamento e regeneração, sendo indispensável cultivar a flor da iluminação íntima, na angústia da vida humana, no círculo da família, ou da comunidade social, através da maior severidade para consigo mesmo e da maior tolerância com os outros, fazendo cada qual, da sua existência, um apostolado de educação, onde o maior beneficiado seja o seu próprio espírito”.3

Especificamente com relação à nossa família há o registro de carta redigida pelo nosso tio desencarnado, Lourival Perri Chefaly, pela psicografia de Divaldo Pereira Franco, e que foi recebida em reunião íntima no nosso lar ainda nos tempos de residência em Araçatuba; eis a transcrição de trecho “Nossos vínculos, que remontam de longínquo passado, têm-se mantido através dos séculos, permitindo-nos o ir-e-vir das reencarnações em grupo, graças a cujo comportamento estamos lentamente saindo das trevas para a luz.”4

Efetivamente, o ambiente familiar é reconhecido por várias áreas do conhecimento como a base da sociedade. O objetivo é o processo educacional e que na ótica espírita tem importância redobrada ao se considerar o papel dos pais ou dos que se encontram no lugar deles na sedimentação de valores renovados junto aos espíritos que retornam ao cenário físico.

O espírito Emmanuel registrou uma frase magistral sobre esse tema: “A melhor escola ainda é o lar, onde a criatura deve receber as bases do sentimento e do caráter.”3

Nos relatos e homenagens sobre alguns familiares nota-se com clareza os exemplos que marcam nuances de amor familiar, envolvendo dedicação, renúncia, superação e acentuadas transformações. Além do cultivo de valores educacionais no ambiente familiar, chama atenção a quantidade de integrantes de nossa grande família que atuaram junto às escolas formais. Em Araçatuba foi um marco histórico, mas em várias outras cidades houveram familiares envolvidos com a educação formal.

As influências de vínculos familiares com o magistério5 e também de nuances políticas de alguns tios avós foram muito presentes na nossa infância. Essa constatação foi reunida, de forma mais abrangente envolvendo até a 5a geração dos Perri no Brasil, entre os anos 1900 e 1998, e estudada pela nossa esposa Célia Maria em sua dissertação de mestrado que foi transformada em livro: História de vida: a profissão de professor em uma família de imigrantes.5

Lembramos que na década dos anos 1990, juntamente com nossa esposa Célia estivemos profundamente envolvidos na proposta e na execução da Campanha “Viver em Família”, que alcançou abrangência nacional no movimento espírita, e, elaboramos três livros editados pela USE-SP. A frase símbolo desta Campanha foi inspirada em O livro dos espíritos: “O melhor é viver em família. Aperte mais esse laço”!1

O ambiente familiar e os valores cultivados nos contextos das famílias, a nossa e da esposa, ensejaram condições para que os lares de nossos pais superassem momentos de indefinições e nos servissem de roteiros.

Por ocasião da recente Bodas de Ouro, entre inúmeras manifestações que recebemos, destacamos o e-mail de Divaldo Pereira Franco: “Queridos Anjos em Bodas de Ouro. Completando-se um período de Amor adornado de bênçãos, vocês são exemplos vivos da fé cristã e da conquista da união feliz. Eu que aprendi a amá-los durante todos estes anos desejo-lhes continuação da paz e plenitude. Abraços e afeto. Divaldo (02/07/2022)”.

Referências:

1. Carvalho, Antonio Cesar Perri. Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. Araçatuba: Cocriação. 2021.

2. Kardec, Allan. Trad. Ribeiro, Guillon. O livro dos espíritos. 78.ed. Brasília: FEB. 2013.

3. Xavier, Francisco Cândido. Pelo Espírito Emmanuel. O consolador. 29.ed. Brasília: FEB. 2013.

4. Franco, Divaldo Pereira; Chefaly, Lourival Perri; Carvalho, Antonio Cesar Perri (Org.). Em louvor à vida. 2.ed. Salvador: Ed. LEAL. 2016.

5. Carvalho, Célia Maria Rey. História de vida: a profissão de professor em uma família de imigrantes. São Paulo: Ed. Arte e Ciência. 2002.

90 anos de Parnaso de Além Túmulo

90 anos de Parnaso de Além Túmulo

        

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

A obra pioneira de Francisco Cândido Xavier – Parnaso de Além Túmulo – completou 90 anos de publicação neste mês de julho.

A partir de agosto de 1931, relata o médium na auto-apresentação, assinando como Francisco Xavier, em “Palavras minhas”: “…apesar de muito a contra-gosto de minha parte, porque jamais nutri a pretensão de entrar em contato com essas entidades elevadas, por reconhecer as minhas imperfeições, comecei a receber a série de poesias que aí vão publicadas, assinadas por nomes respeitáveis”.1

Manuel Quintão, na época vice-presidente e ex-presidente da FEB, foi a pessoa que visitou o jovem médium em Pedro Leopoldo e que levou os poemas para serem publicados originando o primeiro livro do médium em 1932. Quintão registrou a excelente apresentação “À quisa de prefácio”. Após comentários contextualizando a manifestação mediúnica e os estilos das “mais variadas formas verbalísticas e literárias, como a facilitarem de conjunto a identificação de cada um”, Quintão pondera sobre o médium: “E isto o dizemos porque o médium Xavier, um quase adolescente, sem lastro, portanto, de grande cultura e treino poético, recebe-a de jato e mais – quando de alguns autores não conhece uma estrofe! […] conseguimos vencer a relutância do médium, em sua natural modéstia, para lançar ao público, em geral, e aos confrades, em particular, esta obra mediúnica, que, certo estmoas, ficará como balisa fulgurante, na história a tracejar, do Espiritismo em nossa pátria”.1

Assim vieram a lume as 60 poesias psicografadas pelo então jovem e desconhecido médium de Pedro Leopoldo (MG). Os poemas são assinados por 14 poetas da língua portuguesa, brasileiros e portugueses: Augusto dos Anjos, Auta de Souza, Antero de Quental, Bittencourt Sampaio, Casimiro de Abreu, Castro Alves, Casimiro Cunha, Cruz e Souza, Guerra Junqueiro, Júlio Diniz, João de Deus, Pedro de Alcântara, Souza Caldas e um desconhecido.

Desde o início de seus labores, Chico Xavier tem provocado intensas repercussões. A publicação dessa obra inaugural, em 1932, provocou celeuma.

Os escritores Menotti Del Picchia e Agripino Grieco foram dos primeiros literatos a se manifestarem sobre a obra, identificando os estilos dos diversos poetas brasileiros e portugueses.2,3 À vista das repercussões e das campanhas que moviam contra Chico Xavier na primeira década de psicografia, Monteiro Lobato também se manifestou, na época: "Se Chico produziu tudo aquilo por conta própria, então ele pode ocupar quantas cadeiras quizer na Academia".2

Os três literatos vieram a ser membros da Academia Brasileira de Letras.

Por ocasião do cinquentenário de atividades mediúnicas de Chico, no ano de 1977, entrevistamos algumas lideranças e publicamos em forma de artigo. Na oportunidade, Deolindo Amorim (presidente do Instituto de Cultura Espírita do Brasil, Rio de Janeiro), comentou-nos: “[…] ainda me recordo de que, principalmente o Parnaso, objeto de comentários constantes, como outras obras de Chico empolgou muita gente nos primeiros tempos”.2

A jornalista Joyce Pascowitch fez interessante comentário em sua seção diária no jornal Folha de São Paulo (Caderno Folha Ilustrada, 14/11/1988): "Jorge Amado não seria o autor brasileiro de maior sucesso no exterior. A afirmação vem do adido cultural do Brasil na Itália, Francisco Rondó, que aponta o médium Chico Xavier como o imbatível "best seller" pelo mundo afora. Os livros psicografados pelo líder espírita – além de traduzidos para mais de 50 idiomas – alcançam tiragens numericamente superiores às do pai da Gabriela".2

Nesses 90 anos, foram lançadas várias reedições, algumas especiais, do livro pioneiro de Chico Xavier. Por ocasião dos 70 anos da profícua mediunidade lançamos um livro focalizando alguns aspectos da vida e da obra de Chico Xavier, depois reeditado em ampliado com as repercussões após sua desencarnação.

Entre vários episódios que presenciamos, a maneira de ser, simples e bem humorada, de Chico ficou expressa em fato relacionado com a obra inicial do médium. Quando obtivemos um exemplar da histórica 1a edição de Parnaso de Além Túmulo, solicitamos o autógrafo de Chico Xavier no envelhecido livro. Sempre gentil, registrou de forma bem humorada, fazendo referência que o autógrafo era anotado 53 anos após o lançamento daquela edição, e, um agradável registro histórico: “Aos queridos amigos César Perri de Carvalho e Célia entrego, afetuosamente, este livro, pedindo-lhes desculpas pelo atraso de cinquenta e três anos. Sempre reconhecidamente, Chico Xavier. Uberaba, 16/11/1985”. 2,3

Os 95 anos do início dos labores mediúnicos de Chico Xavier, iniciados aos 8 de julho de 1927, e os 90 anos da publicação de sua obra psicográfica inaugural, devem merecer a nossa homenagem reconhecida e a nossa reflexão pelo fato de sermos contemporâneos e beneficiários de obra com potencial de imensas conseqüências espirituais para a Humanidade.

Bibliografia:

1) Xavier, Francisco Cândido. Espíritos diversos. Parnaso de além túmulo. 1.ed. Rio de Janeiro: FEB. 1932. 156p.

2) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Chico Xavier. O homem, a obra e as reperrcussões. São Paulo: Edições USE/Capivari: EME. 2019. 223p.

3) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. Araçatuba: Cocriação. 2021. 632p.

(*) Ex-presidente da USE-SP e da FEB.

Extraído de:

BOLETIM DIÁRIO DE NOTÍCIAS DO MOVIMENTO ESPÍRITA. EDIÇÃO DE QUINTA-FEIRA, 14-07-2022: https://www.noticiasespiritas.com.br/…/14-07-2022.htm

A finalidade dos romances de Emmanuel

A finalidade dos romances de Emmanuel

    

Flávio Rey de Carvalho (*)

Diante da comemoração dos 80 anos do lançamento do livro Paulo e Estêvão, torna-se oportuno ressaltar a importância de parte de seu trabalho psicográfico.

Dentre as várias obras por seu intermédio produzidas, relembramos alguns aspectos relativos à adequação, às vivências em curso no nosso tempo, dos cinco romances ditados por Emmanuel entre 1938 e 1953. São eles: Há dois mil anos, Cinquenta anos depois, Paulo e Estevão, Renúncia e Ave, Cristo!.

Toda obra escrita é produzida, invariavelmente, com uma finalidade específica. Esta, por sua vez, deriva de um conjunto de intenções, objetivos e expectativas do autor. É norteado por esses princípios que um texto é, geralmente, pensado e elaborado.

Neste artigo, pretendemos analisar não o conteúdo propriamente dito que dão corpo às tramas transcorridas nos romances, mas destacar parte das intenções e dos pressupostos que o motivaram Emmanuel a rememorar essas histórias. Com esse propósito, seguem algumas passagens expressas por ele mesmo, acerca do sentido e da função do conteúdo de cada um de seus romances. Em Breve notícia, texto que antecede e prepara o leitor para a história desenvolvida em Paulo e Estêvão, Emmanuel esclareceu:

“[…] não é nosso propósito levantar apenas uma biografia romanceada. […] Nosso melhor e mais sincero desejo é recordar as lutas acerbas e os ásperos testemunhos de um coração extraordinário, que se levantou das lutas humanas para seguir os passos do Mestre, num esforço incessante”. Mais adiante, o autor revelou: “Outra finalidade deste esforço humilde é reconhecer que o Apóstolo não poderia chegar a essa possibilidade, em ação isolada no mundo. […] sem cooperação, não poderia existir amor; e o amor é a força de Deus, que equilibra o Universo”.1

E, no final, Emmanuel complementou:

“Oferecendo, pois, este humilde trabalho aos nossos irmãos da Terra, formulamos votos para que o exemplo do Grande Convertido se faça mais claro em nossos corações, a fim de que cada discípulo possa entender quanto lhe compete trabalhar e sofrer, por amor a Jesus-Cristo”.1

Portanto, voltados à divulgação de exemplos de vida pautados pelas lições e pelos princípios do Evangelho, os romances – a nós ofertados por Emmanuel, por intermédio da mediunidade de Chico Xavier – têm a finalidade de nos servir de roteiro e fonte de inspiração para melhor conduzirmos, em termos morais, as nossas vidas. Nesse sentido, essas obras se destinam à promoção de um tipo de conduta a ser assimilada e vivida, em termos práticos, no transcorrer de nossas experiências cotidianas, conforme consta na seguinte recomendação extraída do livro Emmanuel:

“O essencial é meter mãos à obra, aperfeiçoando, cada qual, o seu próprio coração primeiramente, afinando-o com a lição de humildade e de amor do Evangelho, transformando em seguida os seus lares, as suas cidades e os seus países, a fim de que tudo na Terra respire a mesma felicidade e a mesma beleza dos orbes elevados […]”.2

Referências:

1) Xavier, Francisco C. Pelo espírito Emmanuel. Paulo e Estêvão. Cap. Breve notícia; 70 anos de Paulo e Estêvão. Brasília: FEB. 2012.

2) Xavier, Francisco C. Pelo espírito Emmanuel. Emmanuel. Cap. A tarefa dos guias espirituais. Rio de Janeiro: FEB. 2008.

(*) O autor nasceu e viveu a infância em Araçatuba; é mestre em História e doutor em Ciência da Religião; autor de livros; em São Paulo é colaborador do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo e do Grupo Espírita Casa do Caminho.

(Artigo publicado em Folha da Região, Araçatuba (SP), 06/07/2022, p.2 – Síntese de capítulo de sua autoria no livro: Carvalho, Antonio Cesar Perri. Emmanuel. Trajetória espiritual e atuação com Chico Xavier. Matão: O Clarim. 2020)