Reflexões sobre falsos profetas, de textos bíblicos às redes sociais

Reflexões sobre falsos profetas, de textos bíblicos às redes sociais
Antonio Cesar Perri de Carvalho
Nos vários livros que integram a Bíblia há referências às ações dos profetas, e, também dos falsos profetas.
Em O evangelho segundo o espiritismo, Allan Kardec, dedica o capítulo XXI ao tema: “Haverá falsos cristos e falsos profetas”.1 Judiciosamente, analisa e inclui mensagens espirituais sobre versículos do Novo Testamento:
“A árvore que produz maus frutos não é boa e a árvore que produz bons frutos não é má; porquanto, cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto” (Lucas, 6:43). – “Guardai-vos dos falsos profetas que vêm ter convosco cobertos de peles de ovelha e que por dentro são lobos rapaces. Conhecê-los-eis pelos seus frutos” (Mateus, 7:15). – “Meus bem-amados, não creais em qualquer Espírito; experimentai se os Espíritos são de Deus, porquanto muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” (João, 1a Epístola, 4:1).
Na ação de Paulo de Tarso há fatos e registros sobre o que se enquadra como falsos profetas. Entre várias situações: o caso dos sete irmãos judeus exorcistas (Atos 19:13-17); do mago que tentava curar o procônsul romano Sérgio Paulo (Atos, 13:6-8) e da pitonisa de Filipos (Atos 16:16-40). Nas suas Epístolas, Paulo constantemente alertava sobre os falsos profetas.
Herculano Pires, em sua magistral obra O espírito e o tempo, analisa o profetismo bíblico e a dimensão do verdadeiro profeta considerando a individualização mediúnica e espiritual e anota: “O profeta é o elo entre a terra e o céu. A individualização social produziu a individualização mediúnica, e esta, por sua vez, produz a individualização espiritual, através do aprimoramento dos atributos éticos do profeta”.2
Há claros e bem fundamentados conceitos para se compreender com base no Espiritismo o papel de profetas e dos médiuns em geral.
Recentemente, em estudo virtual promovido pelo Grupo Espírita Casa do Caminho, de São Paulo, abordamos o acima citado capítulo de O evangelho segundo o espiritismo.
Mas, procuramos estimular reflexões sobre a abundância de mensagens mediúnicas escritas e gravadas e declarações de variadas pessoas que procuram relacionar episódios da sociedade que vivemos com pretensas informações de origem espiritual.
A análise racional de várias delas e em cotejo com os princípios espíritas apontam inúmeras distorções, sugerindo eventual enquadramento nos temas alertados por Kardec em capítulos de O livro dos médiuns que abordam o papel dos médiuns nas comunicações espíritas, influência moral do médium, obsessões, e, a identidade dos espíritos.3
Naturalmente surge a questão da atualidade em que ocorrem, precipitadas e sem análises cuidadosas, a divulgação pelas redes sociais de mensagens e comentários duvidosos. Seriam enquadráveis no dizer tradicional, de falso profetismo, e, na atualidade, de.como fake news.
Esse alerta sugere que nós, os espíritas, devemos evitar os “compartilhamentos” apressados de mensagens recebidas pelas redes sociais. Antes precisam ser analisadas cuidadosamente com o bom sendo aurido do conhecimento doutrinário.
A propósito, consideramos oportuna a transcrição de trechos de autoria do espírito Emmanuel, extraídos de obras psicografadas por Chico Xavier:
“A mentira é a ação capciosa que visa o proveito imediato de si mesmo, em detrimento dos interesses alheios em sua feição legítima e sagrada; e essa atitude mental da criatura é das que mais humilham a personalidade humana, retardando, por todos os modos, a evolução divina do Espírito”.4
“Obscurecer, falsear, iludir constituem armas invisíveis e mortíferas dos que operam a confusão. O discípulo de Cristo não deve ignorar que se encontra em luta permanente contra o mal, em si mesmo, e não deve desconhecer que a falência nasce do engano, da insegurança e vacilação. Quando tantas coletividades se aprestam à defesa da ordem e dos princípios cristãos, lembremos que o Mestre não esqueceu de incluir a coluna da mentira, entre os mais implacáveis inimigos da humanidade liberta”.5
“Forçoso distinguir sempre o exterior do conteúdo. Exterior atende à informação e ao revestimento. Conteúdo, porém, é substância e vida. Exterior, em muitas ocasiões, afeta unicamente os olhos. Conteúdo alcança a reflexão. Simples lições de cousas aclaram-nos o propósito”.6
Como sugestão de reflexão, destacamos trecho sobre a relação entre parecer e ser:
“Ninguém que se consagre realmente à verdade dará testemunho de nós pelo que parecemos, pela superficialidade de nossa vida, pela epiderme de nossas atitudes ou expressões individuais percebidas ou apreciadas de passagem, mas sim pela substância de nossa colaboração no progresso comum, pela importância de nosso concurso no bem geral”.7
Referências:
1) Kardec, Allan. (Trad. Ribeiro, Guillon). O evangelho segundo o espiritismo. Cap. XXI. Brasília: FEB.
2) Pires, José Herculano. O espírito e o tempo. 1ª. parte, cap. IV. São Paulo: Paideia.
3) Kardec, Allan (Trad. Ribeiro, Guillon). O livro dos médiuns. 2ª parte. Brasília: FEB.
4) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. O consolador. Q. 192. Brasília: FEB.
5) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Harmonização. Cap. Não vos enganeis. São Bernardo do Campo: GEEM.
6) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Livro da esperança. Cap. Exterior e conteúdo. Uberaba: CEC.
7) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Fonte viva. Cap.7. Brasília: FEB.