Author: Xaxá
Jesus e Kardec
Relembramos os primeiros contatos entre Chico Xavier e Emmanuel na estruturação segura da tarefa de divulgação do Espiritismo na Pátria do Evangelho, por meio da rica literatura vinda do Plano Maior da Vida.
Momento inesquecível é aquele em que Chico relata os primeiros contatos, quando Emmanuel o preveniu de que pretendia trabalhar ao seu lado, por tempo longo, mas que deveria, acima de tudo, procurar os ensinamentos de Jesus e as lições de Allan Kardec . E mais, que se um dia ele, Emmanuel, algo aconselhasse que não estivesse de acordo com as palavras de Jesus e de Kardec, que Chico deveria permanecer com Jesus e Kardec, procurando esquecê-lo.
Fica aí bem definida a linha de segurança para o trabalho Doutrinário. A difusão do Consolador Prometido nas casas espíritas, nas palestras, nos livros, nas publicações, nos meios de comunicação, nos cursos e eventos não pode perder de vista a imprescindibilidade de permanecer com Jesus e Kardec.
Não podemos e não devemos abrir mão desses dois alicerces, garantia da casa erguida sobre a rocha: o Evangelho de Jesus, vivido e ensinado sob a égide da Lei de Amor; o Espiritismo, a verdade, que veio relembrar tudo o que está no Evangelho e trazer ainda muito mais.
Se nos afastamos desse roteiro, perderemos a linha essencial do trabalho. Afinados com esse roteiro, teremos a tranqüilidade para analisar tudo e extrair o que é de bom.
É necessário que tenhamos essa disciplina observada por Emmanuel, que deixa clara a busca daqueles alicerces para não se deixar levar por nenhum tipo de mistificação ou idolatria sobre sua pessoa, a ponto de, ele próprio, recomendar que fosse abandonado, caso fizesse algo contrário ao que ensina Jesus e Kardec.
E para esta disciplina devemos estar sempre com os ensinamentos de Jesus (o Evangelho) e de Kardec (Doutrina Espírita) como roteiro sereno e seguro da nossa ascese espiritual.
(Editorial do jornal “O Espírita Mineiro”, edição MARÇO /ABRIL – 2009).
ALLAN KARDEC
Missão de Allan Kardec - "A missão dos reformadores está cheia de escolhos e de perigos e a tua é rude, disso te previno, porque é o mundo inteiro que se trata de agitar e de transformar." - Espírito Verdade (Obras Póstumas)
“Escrevo esta nota no dia 1º de janeiro de 1867, dez anos e meio depois que esta comunicação me foi dada, e verifico que ela se realizou em todos os pontos, porque experimentei todas as vicissitudes que nela me foram anunciadas. Tenho sido alvo do ódio de implacáveis inimigos, da injúria, da calúnia, da inveja e do ciúme; têm sido publicados contra mim infames libelos; as minhas melhores instruções têm sido desnaturadas; tenho sido traído por aqueles em quem depositara confiança, e pago com a ingratidão por aqueles a quem tinha prestado serviços. A Sociedade de Paris tem sido um contínuo foco de intrigas, urdidas por aqueles que se diziam a meu favor, e que, mostrando-se amáveis em minha presença, me detratavam na ausência.
Disseram que aqueles que adotavam o meu partido eram assalariados por mim com o dinheiro que eu arrecadava do Espiritismo. Não mais tenho conhecido o repouso; mais de uma vez, sucumbi; sob o excesso do trabalho, tem-se-me alterado a saúde e comprometido a vida.
“Entretanto, graças à proteção e à assistência dos bons Espíritos, que sem cessar me têm dado provas manifestas de sua solicitude, sou feliz em reconhecer que não tenho experimentado um único instante de desfalecimento nem de desânimo, e que tenho constantemente prosseguido na minha tarefa com o mesmo ardor, sem me preocupar com a malevolência de que era alvo. Segundo a comunicação do Espírito Verdade, eu devia contar com tudo isso, e tudo se verificou.” – Allan Kardec
(in Obras Póstumas)
Conhecimento Espírita
Vladimir Alexei (MG)
No discurso pronunciado junto ao túmulo de Allan Kardec, no Père-Lachaise, o astrônomo francês, Camille Flamarion, grafou seu nome nos clássicos espíritas ao atribuir a Kardec a qualidade de bom senso encarnado.
Segundo Flamarion, “Kardec foi um homem de ciência e de certo não houvera podido prestar este primeiro serviço e dilatá-lo até muito longe, como um convite a todos os corações (…)”. Kardec era o bom senso encarnado por ser um homem de ciência, ou, por ser um homem de ciência, ele adquiriu o bom senso? Ele explica porque Kardec era o bom senso encarnado. Por possuir “razão reta e judiciosa (…)”.
A literatura espírita, particularmente no Brasil, possui legados inconfundíveis quanto a clareza do pensamento do Codificador do Espiritismo. Ilustres polemistas como Carlos Imbassahy (Pai), Leopoldo Machado, José Herculano Pires, Pedro Granja, Deolindo Amorim, Mario Cavalcanti de Melo, Henrique Andrade, dentre outros, por diversas vezes, assumiram a tribuna para explicar e traduzir o pensamento do Codificador diante dos detratores da Doutrina.
Pedro Granja, desconhecido do movimento espírita na atualidade, possui trabalhos muito ricos em termos doutrinários e em conhecimentos gerais a respeito do que tratava o movimento espírita, na primeira metade do século XX. Seu trabalho era tão expressivo, que mereceu prefácio de Monteiro Lobato, na obra “Afinal, quem somos?”. Obra que, em um só fôlego, elenca mais de 90 pensadores, ao longo do tempo e de seus trabalhos, para demonstrar a amplitude do pensamento espírita em relação às filosofias existentes na humanidade.
Monteiro Lobato que, em 2012, quase foi banido das escolas públicas, por ter seu trabalho vinculado ao racismo (vinculação infeliz, diga-se de passagem), era simpático à causa espírita, como pode ser observado em trabalho do Jorge Rizzini. No prefácio da obra do Pedro Granja, de 1947, usando de sua profunda capacidade de síntese, trouxe-nos uma reflexão interessante:
Mas, “AFINAL, QUEM SOMOS?”, você responde neste livro a esta pergunta, meu caro Pedro Granja, ao mostrar-nos o gigantesco esforço dos espíritas, esses cegos que não se conformam com a cegueira, esses aleijados que tentam apalpar, esses surdos que tentam ouvir, por intermédio dos olhos, do tato e dos ouvidos interiores da mediunidade. (GRANJA, p.22, 1982).
Monteiro Lobato, quando jovem, ambicionou a Academia Brasileira de Letras. Entretanto, após recusa injustificada, a não ser pela politicagem mundana, desgostou-se daquela casa. Mesmo quando convidado, mais tarde, após sua obra ser aclamada por todos, declinou em aceitar pertencer a um grupo seleto de pensadores e escritores, que contribuíram para a literatura e a evolução do pensamento brasileiro. Manteve sua autonomia em, com responsabilidade, dizer o que pensa, a bem do desenvolvimento comum de uma sociedade em seu trabalho.
Poderíamos dizer, sem pecha, que Monteiro Lobato foi um Espírita em seu sentido mais amplo da palavra. Assim como Machado de Assis, Monteiro Lobato foi tradutor de diversas obras e autores. Traduziu Will Durant (destacando-se a obra “Filosofia da Vida”), autor muito utilizado por Hermínio C. Miranda em suas pesquisas, permitindo-lhe o desenvolvimento intelectual pelo contato com culturas e pensamentos diferentes.
O espírita, na atualidade, fala muito do Evangelho, de seguir Jesus, de estudar as obras de Kardec, mas, de um modo geral, temos negligenciado pontos importantes. Um deles é do estudo. Por mais que a humanidade tenha evoluído em conhecimento e produções diversas, estudar a doutrina espírita é condição sine qua non. Não se alcança o entendimento do pensamento de Allan Kardec, sem estudar suas obras.
Estudando-as, porém, vemos espíritas vacilando em pensamentos “ultra-ortodoxos”, como se, assim agindo, fossem mais fieis na tradução do pensamento do Codificador. Erro crasso. Engano, aliás, aceito quando se é neófito na doutrina. Quando isso ocorre da parte de pessoas que se dizem “estudiosas”, agir e pensar assim é o mesmo que limitar a grandeza da obra de Kardec, ao seu próprio pensar. É incoerente, senão, vejamos.
Um dos maiores pensadores contemporâneos, o insigne Edgar Morin, pseudônimo de Edgar Nahoum, nascido em Paris em 1921, antropólogo, sociólogo e filósofo francês, autor de diversas obras traduzidas para o português, diz que “há inadequação cada vez mais ampla, profunda e grave entre os saberes separados, fragmentados, compartimentados entre disciplinas, e, por outro lado, realidades ou problemas cada vez mais polidisciplinares, transversais, multidimensionais, transnacionais, globais, planetários.”
O autor de “A Religação dos Saberes”, reconhece o desafio da globalidade do conhecimento e, por conseguinte, o desafio de sua complexidade. Continua Morin: “existe complexidade, de fato, quando os componentes que constituem um todo, são inseparáveis e existe um tecido interdependente, interativo e inter-retroativo (causa e efeito, comentário nosso) entre as partes e o todo, o todo e as partes.”
Seria, em outras palavras, o mesmo que insistir em estudar uma doutrina, apenas por uma de suas perspectivas. Um corpo doutrinário, como o Espírita, composto por filosofia, ciência e religião, é mais amplo do que a ortodoxia do pensamento filosófico de alguns de seus profitentes. Por isso Leopoldo Machado disse, em tese apresentada ao 1º Congresso de Jornalistas Espíritas realizado entre os dias 15 e 24 de novembro de 1939, que o Espiritismo é obra de educação. Dizia Machado que, “o Espiritismo, feito o complexo de ciência, filosofia e religião que aí está, é bem – sabemos todos – o Consolador prometido pelo Cristo, o Espírito da Verdade que, a seu tempo, viria exumar do véu da letra que mata, as verdades todas que se contêm nos Evangelhos, afim de integrar toda a humanidade na única doutrina que há de fazê-la feliz.”
Encontramos o metro que melhor mediu Kardec, segundo Emmanuel, dizendo que “O Evangelho renovou o mundo: esta é a verdade.” Quando Herculano Pires diz isso, fala com a autoridade de quem conhece a Doutrina Espírita não apenas como repetidor de pensamentos outros e, sim, por profundas reflexões filosóficas. “Enquanto nós encontramos em todas as religiões do passado, e mesmo religiões do presente, uma tentativa de transformação do homem que se reduz apenas a alguns elementos e se fixa em determinados pontos da Terra, o Evangelho de Jesus, na sua irradiação, conseguiu modificar a mentalidade planetária.”
Aquele que é considerado um dos ultra-ortodoxos, Dr.Ary Lex, em sua Pureza Doutrinária, diz que “Jesus, o mestre amado, nunca deixou uma viúva sem consolo, um doente sem alívio, um transviado sem um conselho, quando os homens, vaidosos, esquecidos de seus erros quiseram apedrejar uma pecadora, Ele os fez sentir que não havia um sequer que não tivesse seus defeitos.” Complementa, sem deixar dúvidas, que “o Espiritismo não veio para derrogar a moral cristã, mas fortalece-la. Um Espiritismo que não aceitasse os princípios morais do cristianismo não seria mais Espiritismo, porque não passaria de uma observação de fatos, guiada, apenas, pela curiosidade do sobrenatural.”
Poderíamos dedicar páginas a fio, trazendo diversos pensamentos daqueles que nos antecederam e se destacaram pelo conhecimento profundo das obras doutrinárias. Entretanto, na atualidade, a crítica gratuita, infundada, propagada como verdade absoluta, grassa em nosso meio, substituindo reflexões e obras, por uma ideia pessoal. Aquele que assume a tribuna para expressar seu pensamento, em detrimento do Pensamento Doutrinário, pratica um desserviço a divulgação e propagação doutrinárias.
Allan Kardec, como bom-senso encarnado, fez jus a expressão. Que não nos falte bom-senso na hora de divulgar a Doutrina Espírita. Que possamos estudar a complexidade dos temas abordados, suas transdisciplinaridades, buscando simplifica-los de maneira a torna-los factíveis a todos. Dizer que o Espiritismo “não é para as massas” é repetir um pensamento fora de contexto. É o mesmo que dizer que o Espiritismo é apenas para os “iniciados”. O Espiritismo é para todo aquele que busca aplacar suas angústias e ansiedades, é para todo aquele que deseja e necessita de refrigério para sua alma, na luta diária, no bom combate. Que Jesus ilumine nossa ignorância, para que o Conhecimento Espírita faça morada em nossa mente, e, também, em nossos corações.
Agenda Espírita Brasil entrevista Antonio Cesar Perri, ex-Presidente da FEB
mar 26, 2017 Márcio Costa Destaque, Entrevistas, Revista Agenda Espírita Brasil 0
No dia 28 de janeiro de 2017 a Agenda Espírita Brasil (AEB) entrevistou o ex-Presidente da Federação Espírita Brasileira (FEB), Antonio Cesar Perri de Carvalho, por ocasião de sua visita ao Centro Espírita Francisco Cândido Xavier em São José do Rio Preto, interior de SP.
Sempre cordial e acolhedor, Perri respondeu as seguintes perguntas.
AEB: Dentre as atividades que realizou quando estava à frente da FEB, qual delas considera mais marcante para o Movimento Espírita e por quê?
Cesar Perri:
Consideramos importante o estímulo e a dinamização das atividades federativas com apoio do Conselho Federativo Nacional da FEB. Além de campanhas e documentos de trabalho gerados, com a participação coletiva, pelo CFN, destacamos os 150 anos de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Para assinalar a marcante efeméride foram providenciadas várias publicações relacionados com o Evangelho, incluindo a edição especial desta própria obra de Allan Kardec, em parceria com as Entidades Federativas Estaduais; a edição bilíngue da 1ª edição desta obra; e a realização do 4º Congresso Espírita Brasileiro, em homenagem à citada Obra Básica, em abril de 2014. Aliás, este Congresso teve várias marcas de ineditismo: pela primeira vez houve a descentralização e a realização simultânea do Congresso em quatro regiões do país: Campo Grande, Vitória, Manaus e João Pessoa, facilitando a presença e aumentando o número de participantes das regiões; o programa e indicação de expositores foram planejados ouvindo-se as Entidades Federativas Estaduais, e, houve oportunidade para expositores das regiões; o valor da taxa de inscrição foi devolvido aos participantes com livros espíritas da FEB; e mesmo assim o Congresso foi autossustentável. Nas diversas regiões do país onde comparecemos e ouvimos referências gratificantes sobre os quatro congressos simultâneos homenageando O Evangelho Segundo o Espiritismo.
AEB: Com a experiência de ter presidido a FEB, como procura conduzir hoje as suas atividades nas Casas Espíritas? Quais são os principais trabalhos a que se dedica e por quê?
Cesar Perri:
Além de ter exercido a presidência da FEB – entre momentos de interinidade e de efetivo -, durante três anos, somos originários da base do movimento espírita, desde a mocidade e o centro espírita, órgãos de unificação, USE-SP, e o Conselho Espírita Internacional. Nossa visão após nos desligarmos da FEB, sintetiza os 53 anos de ações espíritas em várias instâncias, e hoje entendemos que se torna muito importante o atendimento dos centros espíritas em geral, principalmente, os menores e mais simples, com a valorização da diversidade de situações. Recomendamos como prioritários o atendimento dos aspectos humanísticos, espirituais e fraternos relacionados com o acolhimento, consolo, esclarecimento e orientação, para que os centros espíritas melhor atendam às suas finalidades no contexto em que atuam. Ou seja, a concretização prática do Capítulo “O Cristo Consolador”, de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
AEB: Qual é a sua percepção sobre o Movimento Espírita nas diversas regiões do Brasil? Há diferenças significativas ou não?
Cesar Perri:
O Brasil tem dimensões continentais e representa o amálgama de muitas tradições e culturas, advindas de correntes migratórias de diversos Continentes. Portanto, há muitas diferenças sociais, econômicas e culturais. Mas a diversidade de realidades é razão de uma riqueza de valores que devem ser respeitados. Por isso, admitimos claramente que não deva existir padronização de propostas e de programas. Devem existir convergência e valorização das Obras Básicas de Allan Kardec, com estímulo à sua difusão e estudo. Porém, com adequações à diversidade de condições dos públicos-alvo dos distintos contextos de atuação.
AEB: Qual é a sua percepção sobre o Movimento Espírita no Brasil e no mundo? Poderia citar, se pertinente, as similaridades e diferenças?
Cesar Perri:
As condições de desenvolvimento do Movimento Espírita no Brasil são muito peculiares ao contexto sócio-econômico e cultural do país. Há diferenças com relação aos países da América Latina em geral, dos países do Hemisfério Norte, da África, do Extremo Oriente e da Oceania. O respeito à diversidade e às realidades em geral, é uma questão básica e da mais alta importância para as propostas de intercâmbio e apoio entre os países. Devem ser evitadas as comparações em geral e qualquer ideia de padronização de práticas. O ponto comum entre todos deve ser a difusão das Obras Básicas de Allan Kardec nos vários idiomas. Tem havido muitos esforços pessoais; mas, desde o ano de 1992, o trabalho do Conselho Espírita Internacional inclusive na disponibilização de livros em vários idiomas, e, há quase 40 anos o trabalho em parceria da Editora Mensaje Fraternal e do IDE, para a difusão dos livros em espanhol.
AEB: Em sua percepção, que ações permitiriam a Agenda Espírita Brasil gerar contribuições úteis ao Movimento Espírita nacional, e até em outros países, em face aos problemas atuais da humanidade?
Cesar Perri:
Nossa sugestão é que os problemas da atualidade sejam tratados com simplicidade, objetividade, fundamentados em base kardequiana e, sempre com foco na educação e, sem dúvida, na prevenção de problemas e de enganos. Lembrando Paulo de Tarso: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm” (1 Cor., 10:23); “Examinai tudo, retende o bem” (1 Tess., 5:21).
Conselho Editorial da Agenda Espírita Brasil
Com Jesus e por Jesus
Na introdução de “O Livro dos Espíritos”, recolhemos de Allan Kardec esta afirmação expressiva:
“As comunicações entre o mundo espiritual e o mundo corpóreo estão na ordem natural das coisas e não constituem fato sobrenatural, tanto que de tais comunicações se acham vestígios entre todos os povos e em todas as épocas. Hoje se generalizaram e tornaram patentes a todos.”
No item 8º das páginas de conclusão da mesma obra, o Codificador assevera com segurança:
“Jesus veio mostrar aos homens o caminho do verdadeiro bem. Por que, tendo-o enviado para fazer lembrar sua lei que estava esquecida, não havia Deus de enviar hoje os Espíritos, a fim de a lembrarem novamente aos homens, e com maior precisão, quando eles a olvidam para tudo sacrificar ao orgulho e à cobiça?”
E sabemos que, de permeio, o grande livro que lançou os fundamentos do Espiritismo trata, dentre valiosos assuntos, das leis de adoração, trabalho, sociedade, progresso, igualdade, liberdade, justiça, amor, caridade e perfeição moral, bem como das esperanças e das consolações.
Reportamo-nos a tais referências para recordar que o fenômeno espírita sempre esteve presente no mundo, em todos os lances evolutivos da Humanidade, e que Allan Kardec, desde o início do ministério a que se consagrou, imprimiu à sua obra o cariz religioso de que não podia ela ausentar-se, tendo até acentuado que o Espiritismo é forte porque assenta sobre os fundamentos mesmos da Religião:
Deus, a alma, as penas e as recompensas futuras.
Aceitamos, perfeitamente, as bases científicas e filosóficas em que repousa a Doutrina Espírita, as quais nos ensejam adquirir a “fé raciocinada capaz de encarar a razão face a face”, contudo, sobre semelhantes alicerces, vemo-la, ainda e sempre, em sua condição de Cristianismo restaurado, aperfeiçoando almas e renovando a vida na Terra, para a vitória do Infinito Bem, sob a égide do Cristo, nosso Divino Mestre e Senhor.
O apóstolo da Codificação não desconhecia o elevado mandato relativamente aos princípios que compilava e, por isso mesmo, desde a primeira hora, preocupou-se com os impositivos morais de que a Nova Revelação se reveste, tendo salientado que as conseqüências do Espiritismo se resumem em melhorar o homem e, por conseguinte, torná-lo menos infeliz, pela prática da mais pura moral evangélica.
Sabemos que a retorta não sublima o caráter e que a discussão filosófica nada tem que ver com caridade e justiça. Com todo o nosso respeito, pois, pela filosofia que indaga e pela ciência que esclarece, reconheceremos sempre no Espiritismo o Evangelho do Senhor, redivivo e atuante, para instalar com Jesus a Religião Cósmica do Amor Universal e da Divina Sabedoria sobre a Terra.
Espíritos desencarnados aos milhões e em todos os graus de inteligência enxameiam o mundo, requisitando, tanto quanto os encarnados, o concurso da educação.
Não podemos, por isso, acompanhar os que fazem de nossa Redentora Doutrina mera tribuna discutidora ou simples caçada a demonstrações de sobrevivência, apenas para a realização de torneios literários ou para longos cavacos de gabinete e anedotas de salão, sem qualquer conseqüência espiritual para o caminho que lhes é próprio.
Estudemos, assim, as lições do Divino Mestre e aprendamo-las na prática de cada dia.
A morte a todos nos reunirá para a compreensão da verdadeira vida… E, sabendo que a justiça definir-nos-á segundo as nossas obras, abracemos a Codificação Kardequiana, prosseguindo para a frente, com Jesus e por Jesus.
EMMANUEL
Pedro Leopoldo, 11 de fevereiro de 1956.
Prolegômenos (Princípios Básicos)
(Xavier, Francisco Cândido. Pelo Espírito Emmanuel. Fonte viva. Apresentação. FEB)
Livro lançado Espiritualismo e Espiritismo
Na noite do dia 9 de abril houve o lançamento do livro "Espiritualismo e Espiritismo. Reflexões para além da Espiritualidade" (Editora Porto de Ideias), nas dependências do Grupo Espírita Manoel Bento, Bairro Santana, São Paulo.
O livro foi organizado pelo Prof. André Ricardo de Souza, do Curso de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de São Carlos, e todos os co-autores são vinculados ao meio acadêmico, entre estes: Antonio Cesar Perri de Carvalho e Flávio Rey de Carvalho. Os três autores utilizaram da palavra bem como Arlete e João Berbel (De Franca), que foram alvos de pesquisa sobre mediunidade de cura. Estava presente representando a USE-SP Marco Milani. O livro será lançado em ambientes universitários e congressos especializados.
No meio espírita, recomenda-se que as encomendas sejam feitas para a Editora Farol das Três Colinas, de Franca, em benefício do IMA: www.faroldastrescolinas.com.br
Palestras na Grande São Paulo
O Grupo Espírita Casa do Caminho, localizado em Vila Clementino, em São Paulo, promoveu palestra de Antonio Cesar Perri de Carvalho (ex-presidente da FEB e da USE-SP), em comemoração ao natalício de Chico Xavier, na noite do dia 5 de abril. Tema: "Lembrando Chico Xavier". O expositor, nos dias seguintes proferiu palestras em diversas instituições: na entidade "Obreiros do Amor e Misericórdia", em Embu das Artes; abriu a Semana Espírita sobre os 160 anos de "O Livro dos Espíritos", promovida pela USE Distrital de Frequesia do Ó, falando na Sociedade Espírita Bezerra de Menezes; no Grupo Espírita Batuíra, em Perdizes, e, no Centro de Cultura e Documentação Espírita Eduardo de Carvalho Monteiro. Também esteve presente em lançamento, como ao-autor, do livro "Espiritualidade e Espiritismo".
Chico Xavier: 90 anos de marcos históricos iniciais
Antonio Cesar Perri de Carvalho(*)
Entre maio e julho deste ano transcorrem 90 anos de alguns marcos históricos na trajetória de Francisco Cândido Xavier, relacionados com o início de seus labores espíritas em Pedro Leopoldo (MG).
No seio de família simples, pobre e numerosa do casal Cidália e João Cândido Xavier – com muitos filhos dos dois casamentos deste senhor -, ocorriam fatos que preocupavam a todos. A filha Maria Xavier, estava doente e não conseguiam diagnóstico adequado e nem tratamento. Era a irmã mais velha de Chico Xavier, este com 17 anos de idade.
Chico Xavier relata em “Palavras minhas”, como prefácio de Parnaso de além-túmulo, sua primeira obra psicográfica, lançada em 1932:
“Até 1927, todos nós não admitíamos outras verdades além das proclamadas pelo catolicismo, mas, eis que, uma das minhas irmãs, em maio do ano referido, foi acometida de uma terrível obsessão; a medicina foi impotente para conceder-lhe uma pequenina melhora sequer. Vários dias consecutivos foram para nossa casa, horas de amargos padecimentos morais. Foi quando decidimos solicitar o auxílio de um nosso distinto amigo, espírita convicto, o Sr. José Hermínio Perácio…”1
Em entrevista a seu amigo dr. Elias Barbosa, de Uberaba, comenta que ele e sua família “ se voltaram para a Doutrina Espírita por motivo de cura de uma das suas irmãs que sofrera um processo obsessivo.”2 E responde ao entrevistador:
— Recordo-me. Minha primeira tarefa espírita foi a prece que se fez em torno de minha irmã doente, no próprio quarto em que ela se achava. […]
— Desde a primeira reunião de preces e passes, na manhã de 7 de maio de 1927, ela se restabeleceu…” 2
A partir de então, Chico Xavier tornou-se espírita, graças ao casal Carmem e José Hermínio Perácio e esclarece o decisivo papel deste casal:
“— Explicando-me o que eu sentia, em matéria de mediunidade, desde a infância, quando fiquei órfão de mãe, aos cinco anos de idade, amparando-me em minhas necessidades espirituais, ensinando-me a orar e presenteando-me com “O Evangelho, segundo o Espiritismo” e “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, os dois livros que me deram os alicerces de minha fé espírita-cristã e me orientaram para aceitar a mediunidade e respeitar os Bons Espíritos.” 2
A partir do atendimento de sua irmã Maria, o jovem Chico Xavier deu início a posicionamentos muito rápidos.
Quarenta dias após, no dia 21 de junho de 1927 foi fundado o Centro Espírita Luiz Gonzaga. Logo depois Chico Xavier psicografou pela primeira vez. Ele detalha em entrevista os companheiros presentes na histórica reunião do dia 7 de julho de 1927 e comenta que o espírito manifestante não se identificou, tendo assinado como “um espírito amigo”, porém Chico Xavier se recorda do episódio:
“— Estávamos em reunião pública e depois da evangelização, D. Carmen Perácio, médium de muitas faculdades, transmitiu a recomendação de um benfeitor espiritual para que eu tomasse o lápis e experimentasse a psicografia. Obedeci e minha mão de pronto escreveu dezessete páginas sobre deveres espíritas… Senti alegria e susto ao mesmo tempo. Tremia muito quando terminei.” 2
Chico Xavier relata no seu livro pioneiro, já citado, o desabrochar de sua psicografia:
“Resolvemos, então, com ingentes sacrifícios reunir um núcleo de crentes para estudo e difusão da doutrina, e foi nessas reuniões que desenvolvi-me como médium escrevente, semi-mecânico, sentindo-me muitíssimo feliz, por se me apresentar essa oportunidade de progredir, datando daí o ingresso do meu humilde nome nos jornais espíritas, para onde comecei a escrever sob a inspiração dos bondosos mentores espirituais que nos assistiam.”1
Por ocasião do cinquentenário dessas mesmas efemérides, nos idos de 1977, entrevistamos Chico Xavier e várias lideranças da época sobre o trabalho do notável médium. Na época Chico Xavier declarou a um jornal: “Sou sempre um Chico Xavier lutando para criar um Chico Xavier renovado em Jesus e, pelo que vejo, está muito longe de aparecer como espero e preciso…”3
Em apenas 60 dias -, o jovem Chico Xavier tornou-se espírita, fundou um Centro Espírita e psicografou pela primeira vez. Era o marcante e decisivo início de longa trajetória de renúncia, dedicação, amor e iluminação espiritual!
Referências:
- Xavier, Francisco Cândido. Espíritos diversos. Parnaso de além túmulo. 19.ed. Palavras minhas. Brasília: FEB. 2010.
- Barbosa, Elias. No mundo de Chico Xavier. 2.ed. Cap. 2. Araras: IDE. 1975.
- Carvalho, Antonio Cesar Perri. Chico Xavier. O homem e a obra. 1.ed. São Paulo: USE. 1997. p.36-46.
(*) Ex-presidente da FEB e da USE-SP.
(Síntese de artigo do autor publicado em Revista Internacional de Espiritismo, Ano XCII, N. 2, Abril de 2017)
Reverenciando Kardec
Antes de Kardec, embora não nos faltasse a crença em Jesus, vivíamos na Terra atribulados por flagelos da mente, quais os que expomos:
– o combate recíproco e incessante entre os discípulos do Evangelho;
– o cárcere das interpretações literais;
– o espírito de seita;
– a intransigência delituosa;
– a obsessão sem remédio;
– o anátema nas áreas da Filosofia e da Ciência;
– o cativeiro aos rituais;
– a dependência quase absoluta dos templos de pedra para as tarefas da edificação íntima;
– a preocupação de hegemonia religiosa;
– a tirania do medo, ante as sombrias perspectivas do além-túmulo;
– o pavor da morte, por suposto fim da vida.
Depois de Kardec, porém, com a fé raciocinada nos ensinamentos de Jesus, o mundo encontra no Espiritismo Evangélico benefícios incalculáveis, como sejam:
– a libertação das consciências;
– a luz para o caminho espiritual;
– a dignificação do serviço ao próximo;
– o discernimento;
– o livre acesso ao estudo da lei de causa e efeito, com a reencarnação explicando as origens do sofrimento e as desigualdades sociais;
– o esclarecimento da mediunidade e a cura dos processos obsessivos;
– a certeza da vida após a morte;
– o intercâmbio com os entes queridos domiciliados no Além;
– a seara da esperança;
– o clima da verdadeira compreensão humana;
– o lar da fraternidade entre todas as criaturas;
– a escola do Conhecimento Superior, desvendando as trilhas da evolução e a multiplicidade das “moradas” nos domínios do Universo.
Jesus — o amor.
Kardec — o raciocínio.
Jesus — o Mestre.
Kardec — o Apóstolo.
Seguir o Cristo de Deus, com a luz que Allan Kardec acende em nossos corações, é a norma renovadora que nos fará alcançar a sublimação do próprio Espírito, em louvor da Vida Maior.
Emmanuel
(Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Doutrina de luz. Cap. Reverenciando Kardec. São Bernardo do Campo: GEEM)