Chico Xavier: 90 anos de marcos históricos iniciais

Antonio Cesar Perri de Carvalho(*)

Entre maio e julho deste ano transcorrem 90 anos de alguns marcos históricos na trajetória de Francisco Cândido Xavier, relacionados com o início de seus labores espíritas em Pedro Leopoldo (MG).

No seio de família simples, pobre e numerosa do casal Cidália e João Cândido Xavier – com muitos filhos dos dois casamentos deste senhor -, ocorriam fatos que preocupavam a todos. A filha Maria Xavier, estava doente e não conseguiam diagnóstico adequado e nem tratamento. Era a irmã mais velha de Chico Xavier, este com 17 anos de idade.

Chico Xavier relata em “Palavras minhas”, como prefácio de Parnaso de além-túmulo, sua primeira obra psicográfica, lançada em 1932:

“Até 1927, todos nós não admitíamos outras verdades além das proclamadas pelo catolicismo, mas, eis que, uma das minhas irmãs, em maio do ano referido, foi acometida de uma terrível obsessão; a medicina foi impotente para conceder-lhe uma pequenina melhora sequer. Vários dias consecutivos foram para nossa casa, horas de amargos padecimentos morais. Foi quando decidimos solicitar o auxílio de um nosso distinto amigo, espírita convicto, o Sr. José Hermínio Perácio…”1

Em entrevista a seu amigo dr. Elias Barbosa, de Uberaba,  comenta que ele e sua família “ se voltaram para a Doutrina Espírita por motivo de cura de uma das suas irmãs que sofrera um processo obsessivo.”2 E responde ao entrevistador:

— Recordo-me. Minha primeira tarefa espírita foi a prece que se fez em torno de minha irmã doente, no próprio quarto em que ela se achava. […]

— Desde a primeira reunião de preces e passes, na manhã de 7 de maio de 1927, ela se restabeleceu…” 2

A partir de então, Chico Xavier tornou-se espírita, graças ao casal Carmem e José Hermínio Perácio e esclarece o decisivo papel deste casal:

“— Explicando-me o que eu sentia, em matéria de mediunidade, desde a infância, quando fiquei órfão de mãe, aos cinco anos de idade, amparando-me em minhas necessidades espirituais, ensinando-me a orar e presenteando-me com “O Evangelho, segundo o Espiritismo” e “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, os dois livros que me deram os alicerces de minha fé espírita-cristã e me orientaram para aceitar a mediunidade e respeitar os Bons Espíritos.” 2

A partir do atendimento de sua irmã Maria, o jovem Chico Xavier deu início a posicionamentos muito rápidos.

Quarenta dias após, no dia 21 de junho de 1927 foi fundado o Centro Espírita Luiz Gonzaga. Logo depois Chico Xavier psicografou pela primeira vez. Ele detalha em entrevista os companheiros presentes na histórica reunião do dia 7 de julho de 1927 e comenta que o espírito manifestante não se identificou, tendo assinado como “um espírito amigo”, porém Chico Xavier se recorda do episódio:

“— Estávamos em reunião pública e depois da evangelização, D. Carmen Perácio, médium de muitas faculdades, transmitiu a recomendação de um benfeitor espiritual para que eu tomasse o lápis e experimentasse a psicografia. Obedeci e minha mão de pronto escreveu dezessete páginas sobre deveres espíritas… Senti alegria e susto ao mesmo tempo. Tremia muito quando terminei.” 2

Chico Xavier relata no seu livro pioneiro, já citado, o desabrochar de sua psicografia:

“Resolvemos, então, com ingentes sacrifícios reunir um núcleo de crentes para estudo e difusão da doutrina, e foi nessas reuniões que desenvolvi-me como médium escrevente, semi-mecânico, sentindo-me muitíssimo feliz, por se me apresentar essa oportunidade de progredir, datando daí o ingresso do meu humilde nome nos jornais espíritas, para onde comecei a escrever sob a inspiração dos bondosos mentores espirituais que nos assistiam.”1

Por ocasião do cinquentenário dessas mesmas efemérides, nos idos de 1977, entrevistamos Chico Xavier e várias lideranças da época sobre o trabalho do notável médium. Na época Chico Xavier declarou a um jornal: “Sou sempre um Chico Xavier lutando para criar um Chico Xavier renovado em Jesus e, pelo que vejo, está muito longe de aparecer como espero e preciso…”3

Em apenas 60 dias -, o jovem Chico Xavier tornou-se espírita, fundou um Centro Espírita e psicografou pela primeira vez. Era o marcante e decisivo início de longa trajetória de renúncia, dedicação, amor e iluminação espiritual!

 

Referências:

  1. Xavier, Francisco Cândido. Espíritos diversos. Parnaso de além túmulo. 19.ed. Palavras minhas. Brasília: FEB. 2010.
  2. Barbosa, Elias. No mundo de Chico Xavier. 2.ed. Cap. 2. Araras: IDE. 1975.
  3. Carvalho, Antonio Cesar Perri. Chico Xavier. O homem e a obra. 1.ed. São Paulo: USE. 1997. p.36-46.

(*) Ex-presidente da FEB e da USE-SP.

(Síntese de artigo do autor publicado em Revista Internacional de Espiritismo, Ano XCII, N. 2, Abril de 2017)