VESTIBULAR DA UNESP CITA “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”

Os vestibulandos da primeira fase da UNESP, realizado no mês de novembro, deparam-se com uma questão no mínimo surpreendente.

O enunciado de uma das questões trazia dois textos para explicar as capacidades morais e intelectuais do homem, o conceito filosófico do inatismo, especialmente as habilidades no campo da Música. Um dos textos era do O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec. O outro foi extraído de um artigo da Revista Superinteressante.

É preciso destacar a atualidade do pensamento espírita, capaz de confrontar a Ciência Oficial e apresentar respostas para questões complexas. A resposta dos Espíritos, com adaptações ao texto original, foi apresentada da seguinte maneira:

“Não confundais o efeito com a causa. O Espírito tem sempre as capacidades que lhe são próprias; ora, não são os órgãos que produzem as capacidades, mas as capacidades que conduzem ao desenvolvimento dos órgãos. O Espírito, se encarnando, traz certas predisposições, admitindo-se, para cada uma, um órgão correspondente no cérebro.

O desenvolvimento desses órgãos será um efeito e não uma causa. Se as capacidades se originassem nesses órgãos, o homem seria uma máquina sem livre-arbítrio e sem responsabilidade dos seus atos. Seria preciso admitir que os maiores gênios, sábios, poetas, artistas, não são gênios senão porque o acaso lhes deu órgãos especiais”.

Já o artigo da Revista Superinteressante, de autoria de Nelson Jobim, intitulado “Um dom de Gênio”, cita uma pesquisa do neurologista alemão, Helmut Steinmetz, pesquisador da Universidade Henrich Heine, de Düsseldorf, que comparou cérebros de um grupo de 30 músicos com os de outros 30 que não se dedicavam à arte musical.

Na conclusão do cientista, o virtuosismo dos primeiros explicar-se-ia por um acentuado desenvolvimento do lobo temporal esquerdo (região do córtex cerebral onde são processados os sinais sonoros). “Nos músicos, esse tamanho pode ser duas vezes maior”, diz o texto.
 

Resposta do Colégio Objetivo
“No de Kardec, codificador do Espiritismo, religião amplamente professada no Brasil, o Universo é visto como constituído de matéria e espírito. Essa concepção tem ressonância no pensamento de Platão e Descartes, considerados também pensadores dualistas. Assim, o corpo material é plasmado pelo Espírito que o encarna. A alma, entendida por Kardec como o espírito encarnado, é o portador de uma bagagem cultural e moral de existências passadas. conceito semelhante ao inatismo cartesiano e platônico, em que a razão humana é portadora e produtora de conhecimento humano.”

Já em relação ao artigo de Nelson Jobim, a genialidade humana surge como produto de determinação biológica. “Tal concepção se aproximaria mais dos empiristas, para quem toda inteligência nasce como tábula rasa, e nesse caso poderíamos admitir que a genialidade resultaria do acaso. O que, na crítica de Kardec, ‘os maiores gênios, sábios, poetas e artistas não são gênios senão porque o acaso lhes deu órgãos especiais’”.

E a pergunta que se faz é: Como terão reagido os vestibulandos frente a essa questão?

Essa não foi a pergunta a questionar temas filosóficos. O pensamento atualíssimo de Voltaire, o grande mestre do Iluminismo, também foi tema da questão que abordou, de forma implícita, as lutas étnicas e a ação de grupos extremistas. No texto de Voltaire, o pensador apresenta Deus não como uma divindade de um povo, de uma raça ou de uma nação, mas como o criador do Universo e pai de todos os homens. Uma visão, com certeza, coerente e compatível com o ensino trazido pelo Espiritismo.

(Enviado em 18 de dezembro de 2015 | Publicado por Juliana Chagas)
Fonte: USE São Paulo

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Como professor aposentado e ex-pró-reitor da UNESP sinto satisfação pelo fato do vestibular (VUNESP) desta universidade pioneiramente incluir uma questão relacionada com obra de Allan Kardec – Antonio Cesar Perri de Carvalho.