Um olhar para a história das Mocidades

Circuito Aberto – Departamento de Mocidades da USE

Entrevista com Antonio Cesar Perri de Carvalho

Um olhar para a história das Mocidades

A reflexão “onde estamos e para onde vamos” ocupa a mente dos encarnados neste momento e também se encontra no planejamento de instituições espíritas. Neste sentido, entendemos ser primordial conhecer o caminho percorrido. Heródoto, o ‘pai da História’, asseverou a necessidade de “pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro”.

Convidamos o escritor e palestrante espírita Antonio Cesar Perri de Carvalho para contar sua história junto às mocidades espíritas. Trabalhador ativo do Movimento Espírita, Perri foi Presidente da USE, da FEB e foi membro da Comissão Executiva do Conselho Espírita Internacional. Quando jovem, teve seu primeiro contato com o movimento de mocidades em Araçatuba na 15ª Concentração de Mocidades Espíritas do Brasil Central e Estado de São Paulo – COMBESP, em abril de 1962. Colaborou nas aulas de Moral Cristã na Instituição Nosso Lar da mesma cidade e, aos 16 anos, fundou a Mocidade Espírita Irma Ragazzi Martins, como departamento daquela casa. Tornou-se participante e trabalhador assíduo de Concentrações e Confraternizações de Mocidades Espíritas, tendo participado da primeira edição da COMJESP, em 1967, em Ribeirão Preto, quando venceu os concursos de oratória e de trabalho escrito do evento. Na entrevista a seguir, passamos pela trajetória desse trabalhador do Movimento Espírita de Unificação e com isso olhamos para o passado do DM/USE, nos permitindo reflexões mais profundas sobre o presente e futuro das Mocidades e do Departamento.

DM – Como surgiram e como eram organizadas as mocidades espíritas?

Perri: Os grupos de jovens espíritas surgiram nas décadas 1930 e 1940, sendo a maioria independente das instituições espíritas. Destacamos que a União das Mocidades Espíritas de São Paulo-UMESP, de 1937, preparou inúmeras lideranças para São Paulo e para a futura fundação da USE-SP.  Em 1948 surgiu a Concentração de Mocidades Espíritas do Brasil Central e Estado de São Paulo–COMBESP, independente e reunindo jovens de Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e depois o Distrito Federal (Brasília). Foi um celeiro para formação de expositores e lideranças. Em seguida foi criado o Conselho Consultivo de Mocidades Espíritas do Brasil, independente e relacionado com o histórico 1o Congresso de Mocidades Espíritas do Brasil (Rio de Janeiro, julho/1948), liderado por Leopoldo Machado. Em 1956, surgiu o primeiro evento regional, a Concentração de Mocidades Espíritas da Noroeste do Estado de São Paulo-COMENOESP, e depois das regiões Nordeste, Leste e Capital.

DM - Percebe-se a separação das mocidades e dos centros espíritas neste início. Como ocorreu a unificação?

Perri: O Conselho Federativo Nacional da FEB promoveu eventos regionais para discussão de temas do Movimento Espírita. O Simpósio Centro-Sulino (Curitiba, 1962) aprovou deliberações para as Mocidades: a suspensão da COMBESP, encerrada em Barretos (1966); a promoção de eventos estaduais, pelas Federativas Estaduais; que as Mocidades e Juventudes se transformassem ou fossem criadas como departamentos de Centros Espíritas. Os eventos estaduais surgiram após as recomendações do citado Simpósio, inclusive a COMJESP (1967). Realçamos que as Mocidades contribuíram para o estímulo ao estudo, à preparação de recursos humanos e a dinamização dos centros e do movimento em meados do Século XX. Várias lideranças com atuações significativas no movimento espírita são oriundos desse período.

DM – Pelo apresentado, essa junção foi muito relevante para o movimento espírita da atualidade. Quais postulados você considera importantes para o movimento de unificação e para a coesão interna?

Perri: Consideramos necessária a revisão do movimento de unificação, pautando-o nas premissas de Allan Kardec, expressas no seu último discurso, com o conceito de laço moral e no Projeto 1868, a Constituição Transitória do Espiritismo, publicados na Revista espírita. No final de nossa presidência na USE-SP, no ano 2.000, foi elaborada a “Carta de Intenções de Acordo de União pela Difusão da Doutrina Espírita” assinada pela USE-SP e por instituições e entidades especializadas não vinculadas à proponente, tendo por objetivos a ação informal, respeito à individualidade, convivência e intercâmbio fraterno, ação conjunta pelas obras de Kardec.

DM – Vivemos uma mudança causada pela pandemia do coronavírus, gerando a migração para o ambiente virtual de várias mocidades e, infelizmente, a interrupção do funcionamento de algumas. Soubemos de outros momentos de mudança como este, por exemplo, durante o regime militar também houve mudanças em relação às mocidades. O que ocorreu e como se desenvolveram as atividades das mocidades e do movimento com os jovens nos anos seguintes?

Perri: No final dos anos 1960 surgiu o “Movimento Universitário Espírita” na região de Campinas com propostas que relacionavam ideias espíritas com linhas político-partidárias, as quais suscitavam muita atenção por parte do governo federal. Houve reação dos órgãos espíritas e se fortaleceu a departamentalização das mocidades. Nos anos 1970/80 surgiram propostas na FEB e em alguns Estados de junção dos Departamentos de Infância e de Juventude. Em São Paulo esses mantiveram-se separados. Num contexto geral, houve maior mobilidade de jovens para estudos universitários em cidades grandes e capitais. Esses fatores levaram a uma etapa com características diferentes das décadas de 1930/60. Houve estímulo para que as famílias – pais e filhos – se integrassem nas atividades dos centros. Os eventos jovens regionais e estaduais representaram estímulo para as mocidades.

DM – Diante de sua experiência no movimento de unificação, você enxerga algum diferencial para a retomada das atividades no pós-pandemia?

Perri: Há necessidade de análise sobre o novo momento: as características gerais e as peculiaridades regionais e locais; impacto das redes sociais; muitas atividades e eventos serão híbridos: presenciais e virtuais; ouvir-se o público alvo, os jovens, com relação a temas, ações e processos de comunicação. As mocidades devem ser analisadas separadamente da evangelização da infância; favorecer-se o protagonismo juvenil, criando-se espaços nos centros para que os jovens se sintam acolhidos e mais à vontade.

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Agradecemos ao Cesar pela oportunidade que nos concedeu e desejamos que estas colocações auxiliem na manutenção, retomada ou criação de mocidades neste momento ou no pós-pandemia, bem como, fomentem um estreitamento na relação destas com as demais atividades das casas espíritas.

Transcrito de: Dirigente Espírita, órgão da USE-SP, edição novembro-dezembro de 2020. P.40-41; acesso (copie e cole): https://usesp.org.br/wp-content/uploads/2020/11/DE180-1.pdf