Setembro amarelo, suicídio, valorização da vida

Setembro amarelo, suicídio, valorização da vida

 Marcha, Brasília (2013)   Marcha, Brasília (2014)  Marcha, São Paulo (2019)

Antonio Cesar Perri de Carvalho

O chamado “Setembro Amarelo” é uma campanha de prevenção ao suicídio que visa à conscientização da população sobre esse grave problema e formas de evitá-lo.

Na literatura espírita há muitas informações sobre as conseqüências da prática do suicídio, desde os registros pioneiros sobre estados de alma incluídos por Allan Kardec no livro O céu e o inferno, lançado no ano de 1865. Todavia, os conceitos alicerçados na certeza de que somos espíritos reencarnados e em processo de educação surgem desde a obra pioneira de Kardec: O livro dos espíritos. Já se definia: “Qual o primeiro de todos os direitos naturais do homem? – O de viver. Por isso é que ninguém tem o de atentar contra a vida de seu semelhante, nem de fazer o que quer que possa comprometer-lhe a existência corporal”1.

Assim, oferece condições para se compreender a oportunidade da vida corpórea e a razão para o cultivo dos valores espirituais. Nos livros psicografados há inúmeros comentários sobre o tema assinados por milhares de espíritos, como André Luiz, sobre o valor da vida corpórea: “O corpo é o primeiro empréstimo recebido pelo Espírito trazido à carne”2; e também “A reencarnação é o meio, a educação divina é o fim”3.

A partir dessas fundamentações espirituais, torna-se interessante considerarmos o que representa o Espírito nos contextos íntimo e social; o equilíbrio entre corpo/espírito e melhores condições de vida. Essa última também inclui, evidentemente, o respeito e a valorização da vida corpórea.

No livro Em louvor à vida4, que elaboramos em parceria com o médium Divaldo Pereira Franco, com base em textos espirituais de nosso tio Lourival Perri Chefaly, destacamos um trecho: “Saúde e doença – binômio do corpo e da mente – são conquistas do ser, que deve aprender e optar por aquela que melhor condiz com as aspirações evolutivas, desde que a harmonia ideal será alcançada, através do respeito à primeira ou mediante a vigência da segunda.”

Evidentemente que aí se incluem as causas e a profilaxia dos vários problemas que caracterizam desrespeito à vida. Ou seja, as medidas preventivas para se evitar quaisquer formas de interrupção da vida, incluindo o suicídio, o aborto, a eutanásia, e, sendo sempre importante o diagnóstico médico precoce de doenças, evitando-se que elas sejam reconhecidas em situações tardias e danosas.

No contexto da literatura espírita, sobre a questão do suicídio, ocupa lugar de destaque o livro Memórias de um suicida5, da médium Yvonne do Amaral Pereira. Na Introdução dessa obra, a notável médium comenta: “Daí em diante, ora em sessões normalmente organizadas, […] dava-me apontamentos, noticiário periódico, escrito ou verbal, ensaios literários, verdadeira reportagem relativa a casos de suicídio e suas tristes consequências no Além-Túmulo, na época verdadeiramente atordoadores para mim.” E assim se desenrolam as narrativas sobre o atendimento de espíritos suicidas atendimento pela colônia espiritual Instituto Maria de Nazaré.

Embora numa outra vertente temática, mas ligada ao respeito à vida, a Federação Espírita Brasileira e seu Conselho Federativo Nacional tiveram marcantes posicionamentos e ativo papel na origem e nos primeiros 10 anos do Movimento Nacional da Cidadania pela Vida – Brasil sem Aborto (2005-2015)6. Contando com a destacada liderança de Jaime Ferreira Lopes (de Brasília), juntamente com o então presidente da FEB Nestor Masotti, participamos da fundação desse Movimento e estivemos presentes nas Marchas do Movimento Nacional da Cidadania pela Vida – Brasil sem Aborto, em Brasília, até o ano de 2015, bem como em eventos similares na Praça da Sé em São Paulo. Naquele período estivemos presentes em várias audiências e seminários no Congresso Nacional e em reuniões no Supremo Tribunal Federal, levando o pensamento espírita sobre a defesa da vida da concepção à morte natural.6

Antes da pandemia, em 2019, a USE-SP esteve presente em Marcha em Defesa da Vida na Avenida Paulista.

Atualmente a descriminalização do aborto está em pauta no Supremo Tribunal Federal. Mesmo que lamentavelmente venha a ser aprovada a proposta, permanece a necessidade dos esclarecimentos sobre a profilaxia do aborto, com base em esclarecimentos espirituais, educação e orientações sanitárias.

Por oportuno, no mês de Setembro, que é chamado de amarelo, a cor que lembra o Sol, verão, prosperidade, felicidade e desperta a criatividade, é interessante a utilização da temática no meio espírita.

Daí a importância dos estudos, palestras e seminários que possam chamar atenção para a defesa da vida, no sentido de se valorizar a existência corpórea e o processo de educação espiritual.

Referências:

1) Kardec, Allan. Trad. Ribeiro Guillon. O livro dos espíritos. Q.880. FEB.

2) Vieira, Waldo. Pelo espírito André Luiz. Conduta espírita. Cap. 34. FEB.

3) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito André Luiz. Missionários da luz. Cap. 12. FEB.

4) Franco, Divaldo Pereira; Chefaly, Lourival Perri; Carvalho, Antonio Cesar Perri (Org.). Em louvor à vida. 2.ed. Salvador: LEAL. 2017, p.52.

5) Pereira,Yvonne Amaral. Pelo espírito Camilo Cândido Botelho. Memórias de um suicida. FEB. 688p.

6) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. Araçatuba: Cocriação. 2021. 632p.

(Foi dirigente espírita em Araçatuba; presidente da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo e da Federação Espírita Brasileira).