Riscos à vida e ambiente de luto

Riscos à vida e ambiente de luto

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

A pandemia provocada pelo Covid-19 está afetando profundamente todo o mundo. Como o tempo de disseminação poderá se prolongar por um tempo não muito definido, não se pode prever a completa extensão de suas repercussões. Acontecem grandes crises sanitárias, econômicas, sociais e familiares.

Em nosso país, dirigentes dos Estados apontam para a extensão do cenário que as autoridades da saúde chamam de tragédia sanitária. Para se ter uma ideia de volume, o número de mortes diárias pelo coronavírus no país (em meados de março de 2021) é comparável à queda de 10 a 12 jatos, por dia, dos modelos Boeing 737 ou Airbus 320 lotados de passageiros!

Apesar da gravidade, parte da população e algumas autoridades permanecem falando e agindo com indiferença, num flagrante desrespeito às pessoas, ao coletivo e à dor alheia.

Os temores de contágio, os riscos e a ocorrência de mortes próximas às pessoas, criam um ambiente extremamente complexo e somado ao fato do longo distanciamento social, pode-se dizer que se vive um ambiente de luto em larga escala. Sim, de luto, porque há privações, temores inúmeros e várias expressões de dor.

Falta um ambiente geral que estimule apoio, solidariedade e confiança. Esse cenário cria reações de desencanto porque quadros de realidades complexas estão sendo descortinados, sem rodeios e máscaras; há uma certa desilusão, que conspira com a situação da tão almejada tranquilidade e felicidade.

Nesse contexto, buscamos rápidos subsídios na literatura espírita. Historicamente, há marcante registro feito por Allan Kardec, na Revista espírita, edição de novembro de 1865, quando analisa a epidemia do cólera em países da Europa. Transcreve mensagem médico desencarnado dr. Demeure:

“O melhor preservativo consiste nas precauções de higiene sabiamente recomendadas em todas as instruções dadas a respeito; estão acima de toda limpeza, o afastamento de toda causa de insalubridade e focos de infecção, a abstenção de todo excesso. […] o medo é pior que o mal. […] A confiança em si e em Deus é, em tais circunstâncias, o primeiro elemento da saúde.” 1

Em palavreado da época o antigo médico Demeure utiliza pressupostos que são válidos até nossos dias, desde os cuidados materiais de precaução, ou seja, obediência às orientações da Saúde Pública, com base na Ciência, e a manutenção de espírito confiante e pró-ativo no sentido de cooperação com a preservação da saúde. Há muitas décadas, a saúde pública tem experiência em nível mundial e recomenda nos casos de epidemia e de pandemia, a vacinação, o distanciamento social e a utilização de máscaras.

Desde alertas de Paulo de Tarso: “Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus” (Paulo, I Cor. 6, 20), às judiciosas análises nas Obras Básicas da Codificação Espírita, entendemos como claríssimos os compromissos que temos com a vida em geral e, especificamente, com nosso organismo. André Luiz reforça de maneira explícita: “O corpo é o primeiro empréstimo recebido pelo Espírito trazido à carne”.2

Afinal de contas, deve-se evitar eventuais situações de “suicida indireto” e de favorecimento à morte do próximo… A leitura da série de obras do espírito André Luiz, a partir de Nosso lar, suscita inúmeras reflexões. As considerações espíritas devem ser lembradas e ficarem bem marcadas nas ações nessa época de pandemia: de valorização da vida corpórea e de respeito ao próximo como a si mesmo.

Por mais que sejam penosas as restrições impostas para o contexto atual de tragédia, a preservação da saúde e da vida corpórea é condição prioritária e indispensável, antes da economia. Essa não sobrevive num mundo de baixas coletivas, de mortes, e de danos sérios à saúde.

Em nossos dias torna-se indispensável o reforço do pensamento cristão e espírita, fortemente humanitário. Nessas reflexões encontramos consolo, esclarecimento e orientação para os impasses e os novos caminhos.

Entre muitos registros espirituais, destacamos oportunas considerações de Emmanuel:

“Nos dias que consideres amargos pela dor que te apresentem, aceita o remédio invisível dos contratempos que a vida te impõe. E seguindo adiante, trabalhando e servindo, auxiliando e aprendendo, a breve trecho de espaço e tempo, reconhecerás que desapontamento em nós é cuidado de Deus.”3

Em palestras virtuais temos abordado esses temas destacando a visão espírita sobre a vida.Há necessidade de uma ampla conscientização da população.

Referências:

1) Kardec, Allan. Trad. Abreu Filho, Júlio. Revista espírita. O espiritismo e o cólera. Novembro de 1865. São Paulo: EDICEL. p.330.

2) Vieira, Waldo. Pelo espírito André Luiz. Conduta espírita. Capítulo 34. FEB.

3) Xavier, Francisco Cândido; Pires, José Herculano. Na hora do testemunho. Cap. Desapontamento. São Paulo: Paideia.

4) Palestras virtuais para: Instituto Vida (DF), copie e cole: https://www.facebook.com/photo?fbid=3905244642844381&set=a.210630825639133;

REMA (DF), copie e cole: https://www.youtube.com/watch?v=n9otVZ-nxrI&list=PLVHegu-hKJEnKL3pYTSdlpVmPOyGGFkUV;

(*) Professor Titular de Odontologia, aposentado; foi presidente da USE-SP e da FEB.