Defesa e valorização da vida

Defesa e valorização da vida

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

O cenário mundial e especificamente de nosso país assinala a ocorrência de uma tragédia em andamento de grande vulto.

Um vírus tem solapado milhões de vidas em todo o planeta e compromete de forma extremamente alarmante o Brasil, que se avizinha de um caos sanitário. Esse momento exige alto grau de conscientização e de responsabilidade não apenas em nível de autoridades, mas de toda a população.

Os temas de esclarecimento sobre o valor da vida corpórea precisam ser abordados no meio espírita e procurando espraiar essas informações para as comunidades onde as instituições espíritas estão inseridas e mantém contatos, inclusive pelas redes sociais. A certeza de que somos espíritos reencarnados e em processo de aprimoramento é de fundamental importância para a melhor compreensão dos valores e da oportunidade da vida corpórea. Para suas experiências de crescimento e evolução espiritual o espírito precisa do corpo material.

Num ambiente tão complexo provocado pela prolongada pandemia, há que se pensar na saúde do corpo e na interação com a mente, lembrando que somos espíritos imortais. Em realidade saúde demanda o bem estar corpóreo, mental, social e espiritual.

É cabível o velho conceito romano “mente sã em corpo são” (“mens sana in corpore sano”), que prossegue atual. Contemporâneo do auge do império romano, o apóstolo Paulo anotou em sua 1ª Epístola aos Coríntios (6,20): “Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.”1

Em O livro dos espíritos já se definia: “Qual o primeiro de todos os direitos naturais do homem? – O de viver. Por isso é que ninguém tem o de atentar contra a vida de seu semelhante, nem de fazer o que quer que possa comprometer-lhe a existência corporal” (questão 880).

A certeza de que somos espíritos reencarnados e em processo de educação favorece a compreensão da oportunidade da vida corpórea e do cultivo dos valores espirituais. A vasta literatura advinda com a psicografia de Chico Xavier é extremamente rica de esclarecimentos. O espírito André Luiz define com clareza o valor da vida corpórea e que podem ser sintetizados em dois comentários: “O corpo é o primeiro empréstimo recebido pelo Espírito trazido à carne” (livro Conduta Espírita, Cap. 34.); “[…] temos necessidade da luta que corrige, renova, restaura e aperfeiçoa. A reencarnação é o meio, a educação divina é o fim” (livro Missionários da Luz, cap. 12).1

A partir dessas fundamentações cristãs e espíritas, torna-se interessante considerarmos o que representa o Espírito nos contextos íntimo e social; o equilíbrio entre corpo/espírito e melhores condições de vida. Esta última também inclui, evidentemente, o respeito com o corpo físico e a valorização da vida corpórea. Aí se inserem as medidas preventivas para se evitar quaisquer formas de interrupção da vida, incluindo o suicídio (direto e indireto), as enfermidades e também aquelas que favoreçam o diagnóstico precoce de doenças, evitando-se que elas sejam reconhecidas apenas em situações tardias e danosas.

Há poucos anos foi relançado o livro Em louvor à vida, que elaboramos em parceria com Divaldo Pereira Franco, com base em textos espirituais de autoria de nosso tio Lourival Perri Chefaly.2 Eis um trecho genérico desse livro: “Saúde e doença – binômio do corpo e da mente – são conquistas do ser, que deve aprender e optar por aquela que melhor condiz com as aspirações evolutivas, desde que a harmonia ideal será alcançada, através do respeito à primeira ou mediante a vigência da segunda.” 2

Essa citação serve de reflexão para os esforços e desafios que devemos enfrentar no contexto psíquico e espiritual que se vive atualmente com a pandemia. É sabido que distúrbios de comportamento e até propensão ao suicídio podem encontrar campo fértil em situações prolongadas de distanciamento social, de medos e da proliferação de mortes. Torna-se oportuno um comentário do citado livro, mais específico e aplicável ao contexto atual: “… a estruturação do comportamento nas seguras condutas do amor, do otimismo, da prece e da meditação salutar, da ação do bem, desenvolvendo anticorpos mentais que defenderão o organismo da ação dissolvente e destruidora dos raios mortíferos do desequilíbrio…” 2

Isso posto, é necessário enfatizar-se que com base em décadas de pesquisas, observações científicas e experiências vividas em muitos países, torna-se indispensável colocar-se em prática as orientações emanadas da saúde pública. Em casos de epidemias e de pandemias, são indispensáveis a aplicação de vacinas (grande conquista científica), o distanciamento social e os cuidados preventivos de higiene, incluindo-se aí o emprego de máscaras.1

E, sem dúvida, o cultivo das vibrações positivas e o cultivo da oração se interage com o esforço para o equilíbrio do corpo e do espírito.

O mundo espiritual sempre deixou claro que os encarnados devem zelar pelo organismo físico, valorizando-se a vida corpórea e a espiritual, pois somos espíritos imortais.

Referências:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Riscos à vida e ambiente de luto. Acesso em: http://grupochicoxavier.com.br/riscos-a-vida-e-ambiente-de-luto/

2) Franco, Divaldo Pereira; Chefaly, Lourival Perri; Carvalho, Antonio Cesar Perri (Org.). Em louvor à vida. 2.ed. Cap. Câncer e conduta moral. Salvador: LEAL. 2017. p.52.

(*) Professor Titular de Odontologia, aposentado; ex-presidente da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo e da Federação Espírita Brasileira.