O legado de Allan Kardec – RESENHA

O legado de Allan Kardec

RESENHA

A União das Sociedades Espíritas de São Paulo – USE-SP e o Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa Espírita Eduardo Carvalho Monteiro, lançam a versão em português do livro O legado de Allan Kardec, de Simoni Privato Goidanich. A edição original foi editada pela Confederação Espírita Argentina, em Buenos Aires.

A autora Simoni Privato Goidanich é brasileira, bacharel em Direito e Mestre em Direito Internacional pela Faculdade de Direito da USP; atua como Diplomata; recebeu prêmios e frequentou a Harvard University. A serviço do governo brasileiro, já residiu nos Estados Unidos, no Uruguai e no Equador. Nesses países dedica-se ao trabalho no movimento espírita. Atua no Centro Espírita Redención e colabora com a Federación Espírita Uruguaya.

O prefácio foi redigido por Júlia Nezu Oliveira, presidente da USE-SP, e o prefácio da edição em espanhol redigida por Gustavo N. Martínez, presidente da Confederação Espírita Argentina.

O livro tem 446 páginas e dezenas de ilustrações documentais. Simoni Privato Goidanich esteve pessoalmente em Paris acessando documentações oficiais e também na histórica Associação Espírita Constancia, de Buenos Aires, que funciona desde 1877. A autora fez um meticuloso levantamento em documentos dos Arquivos Nacionais da França e da Biblioteca Nacional da França, tendo por foco o livro A Gênese e instituições como a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, a Sociedade Anônima para a Continuação das Obras Espíritas de Allan Kardec, da sua sucedânea, a Sociedade Científica do Espiritismo, e, da então nascente União Espírita Francesa.

O livro de Simoni se divide em duas partes. Na primeira parte trata sobre momentos significativos dos 10 anos após o lançamento de O livro dos espíritos; os papéis desempenhados por Léon Denis e Gabriel Delanne no movimento espírita francês e o relacionamento de ambos com Kardec; os episódios sobre o lançamento e as primeiras edições francesas de A Gênese; e a desencarnação do Codificador.

Na segunda parte, a autora trata de questões legais sobre o nome e o pseudônimo de Kardec; a fundação da Sociedade Anônima para a Continuação das Obras Espíritas de Allan Kardec; comenta o chamado “o ano terrível” (1872), relacionado com o lançamento da 5a edição de A Gênese designada como “revisada, corrigida e aumentada”; o “processo dos espíritas”; os cerceamentos inflingidos à sra. Allan Kardec e sua desencarnação; a queima de arquivos e documentos da viúva de Kardec; o alerta do biógrafo de Kardec, Henri Sausse – “Uma infâmia” – apontando 126 alterações de texto na 5a edição de A Gênese; as nefastas deturpações executadas por Pierre-Gaëtan Leymarie em instituições e na Revista Espírita; as lutas e propostas renovadoras de Gabriel Delanne e León Denis e a fundação da União Espírita Francesa, em 1882. No livro em análise ficaram evidentes as alterações de propósitos da Sociedade Anônima para a Continuação das Obras Espíritas de Allan Kardec e também na linha editorial da Revista Espírita. Esta Sociedade Anônima passou a ser dominada economicamente pelo acionista Jean Guérin, um grande proprietário, ex-dirigente político do departamento de Gironda, apoiador de J.B.Roustaing. Um fato tormentoso na época foi a ampla circulação de um panfleto de divulgação da obra de Roustaing, defendido pela então direção da Revista Espírita, provocando forte reação dos amigos e defensores do legado de Kardec, inclusive Gabriel Delanne, Léon Denis e Berthe Fropo.

Dentro desse contexto de deturpações e polêmicas, as edições francesas de A Gênese, a partir da 5a edição de 1872 (aquela “revisada, corrigida e aumentada”) é que foram autorizadas para traduções em diversos países, por Leymarie, então dirigente da Sociedade Anônima para a Continuação das Obras Espíritas de Allan Kardec. Simoni comprova que até a desencarnação de Kardec ocorreram quatro edições e que um único exemplar de A Gênese, publicado em 1868, foi depositado legalmente durante a existência física de Allan Kardec na Biblioteca Nacional da França. Para a autora, esta edição é a definitiva e o Codificador não teria modificado seu conteúdo.

O legado de Allan Kardec tem riquíssimo valor histórico e é restaurador de importantes episódios que se encontravam encobertos. No final, registra Simoni Privato Goidanich: “A responsabilidade ante o legado de Allan Kardec é de todos os espíritas, e cada um herdará as consequências de seus atos e de suas omissões”.

O novo livro O legado de Allan Kardec reúne preciosas informações e documentação sobre as primeiras décadas em seguida à desencarnação de Allan Kardec, sendo um rico repositório da história do movimento espírita francês.