Fidelidade ao Codificador nas obras de Chico Xavier

Fidelidade ao Codificador nas obras de Chico Xavier

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

As obras psicográficas de Chico Xavier têm o grande valor de complementarem e/ou exemplificarem os textos da Codificação Kardequiana.

Aliás, há algumas décadas atrás quando alguns desavisados alardeavam que a obra de Kardec estaria superada pela oriúnda da psicografia de Francisco Cândido Xavier, a resposta veio clara e rápida. Ao ensejo das comemorações do centenário de lançamento das Obras Básicas, portanto na faixa de meados do século XX, o espírito Emmanuel escreveu livros que comentam os livros básicos de Kardec.

O orientador espiritual de Chico Xavier deixa claro seu propósito na apresentação de vários livros, a começar por Religião dos espíritos:

“Não temos, pois, outro objetivo que não seja demonstrar a nossa necessidade de estudo metódico da obra de Kardec, não só para lhe penetrarmos a essência redentora, como também para que lhe estendamos a grandeza em novas facetas do pensamento, na convicção de que outros companheiros de tarefa comparecerão à liça, suprindo-nos as deficiências naturais, com estudos mais altos dos temas renovadores trazidos ao mundo pelo apóstolo de Lião.”1

A propósito afirma no início de Seara dos médiuns:

“[…] nos empenhamos, é apenas o de encarecer o impositivo crescente do estudo sistematizado da obra de Allan Kardec – construção basilar da Doutrina Espírita, a que o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo oferece cobertura perfeita –, a fim de que mantenhamos o ensinamento espírita indene da superstição e do fanatismo que aparecem, fatalmente, em todas as fecundações de exotismo e fantasia.”2

A obra inaugural do Codificador foi o foco em Religião dos espíritos, onde Emmanuel destaca:

“[…] o primeiro livro da Codificação Kardequiana é manancial tão rico de valores morais para o caminho humano que bem pode ser considerado não apenas como revelação da Esfera Superior, mas igualmente como primeiro marco da Religião dos Espíritos, em bases de sabedoria e amor, a refletir o Evangelho”.1

O autor espiritual discorre sobre vários temas centrais focalizados em O livro dos espíritos. Na sequência vem a lume Seara dos médiuns e o citado autor adianta sua proposta:

“Esperando, pois, que outros seareiros venham à lide remediar-nos a imperfeição com interpretações e contribuições mais claras e mais eficientes em torno da palavra imperecível do grande Codificador, de vez que os campos da Ciência e da Filosofia, nos domínios doutrinários do Espiritismo, são continentes de trabalho a se perderem de vista, aqui ficamos em nossa tarefa de apagado expositor da Religião Espírita, que é a Religião do Evangelho do Cristo, para sublimação da inteligência e aprimoramento do coração.”2

Ou seja, Seara dos médiuns faz uma análise sobre a prática da mediunidade com base nos ensinos que emanam de Jesus.

Surge o livro que gravita “em torno de ‘O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO’, cujas consolações e raciocínios pretende palidamente refletir, não tem, outro objetivo senão convidar-nos ao estudo das sempre novas palavras de Cristo. Muitos homens doutos falaram, delas, através do tempo e alguns deles, decerto com a melhor intenção, alteraram-lhes, de algum modo, o sentido, para acomodá-las aos climas sociais e políticos em que vivem.”3

Logo após, o orientador espiritual de Chico Xavier elabora Justiça divina “em torno das instruções relacionadas no livro O Céu e o Inferno, valendo-nos das oitenta e duas reuniões públicas de estudo da Comunhão Espírita Cristã, em Uberaba, no decurso de 1961, dando continuidade à tarefa de consultar a essência religiosa da Codificação Kardequiana, com vistas à nossa própria responsabilidade, diante do Espiritismo, em sua feição de Cristianismo redivivo. Entregando, pois, estas páginas aos leitores amigos, não temos a presunção de inovar as diretrizes espíritas e sim o propósito sincero de reafirmar-lhes os conceitos, para facilitar-nos o entendimento, na certeza de que outros companheiros comparecerão no serviço interpretativo da palavra libertadora de Allan Kardec, suprindo-nos as deficiências no trato do assunto, com mais amplos recursos, em louvor da verdade, para a nossa própria edificação.”4

Nessa obra encontram-se belíssimas frases objetivas sobre as esperanças e consolações, sobre o futuro espiritual dos homens.

Embora não seja uma obra destinada a comentar A gênese – não analisada especificamente por Emmanuel -, muitos dos conteúdos da última obra de Kardec, notadamente sobre o perispírito, são tratados por André Luiz em Evolução em dois mundos.

Em seu início, à guisa de apresentação, comenta Emmanuel que o autor espiritual “espera tão somente encarecer que o espírito responsável, renascendo no arcabouço das células físicas, é mergulhado na carne, qual a imagem na câmara escura, em fotografia, recolhendo, por seus atos, nessa posição negativa, todos os característicos que lhe expressarão a figura exata, no banho de reações químicas efetuado pela morte, de que extrai a soma de experiências para a sua apresentação positiva na realidade maior. O Apóstolo Paulo, no versículo 44 do capítulo 15 de sua primeira epístola aos coríntios, asseverou, convincente: — ‘Semeia-se corpo animal, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo animal, há também corpo espiritual’. Nessa preciosa síntese, encontramos no verbo ‘semear’ a ideia da evolução filogenética do ser e, dentro dela, o corpo físico e o corpo espiritual como veículos da mente em sua peregrinação ascensional para Deus.”5

Além dos livros citados, específicos sobre temas das Obras Básicas da Codificação, há muitas outros que incluem dissertações de Emmanuel e de André Luiz fundamentadas em citações a Allan Kardec. No histórico encontro inicial de Chico Xavier com o espírito Emmanuel, nos idos de 1931, junto ao açude de Pedro Leopoldo, esta Entidade alertou-o sobre a disciplina e para que sempre permanecesse fiel a Jesus e a Kardec. Nas reuniões públicas do referido médium, em Pedro Leopoldo e em Uberaba, as leituras para nortearem os estudos eram sempre O livro dos espíritos e O evangelho segundo o espiritismo. Na sequência, os visitantes escolhidos por ele faziam comentários sobre tais obras.6

De nossa parte, entendemos como indispensável que sejam estimulados os estudos diretamente nas Obras Básicas, sem intermediação de apostilas, para que os interessados conheçam os textos na fonte e saibam manusear o livro.

Sem dúvida, são claros indicativos para a fundamentação das práticas espíritas de nossos dias: disciplina e fidelidade a Jesus e a Kardec!

Referências:

1) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Religião dos espíritos. FEB.

2) Idem, ibidem. Seara dos médiuns. FEB.

3) Idem, ibidem. Livro da esperança. CEC.

4) Idem, ibidem. Justiça divina. FEB.

5) Xavier, Francisco Cândido e Vieira, Waldo. Pelo espírito André Luiz. Evolução em dois mundos. FEB.

6) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Chico Xavier – o homem, a obra e as repercussões. EME/USE-SP.

(*) Ex-presidente da USE-SP e da FEB; ex-membro da Comissão Executiva do CEI.

Extraído de:

Revista Internacional de Espiritismo, Ano XCIV. N.5. Junho de 2019.p. 244-246.