EMERGÊNCIA PARA A CRIANÇA

EMERGÊNCIA PARA A CRIANÇA

Esse problema de emergência – o menor abandonado – deve ser atendido por todas as pessoas criteriosas, visando-se a solucioná-lo com urgência.

Enquanto não se empreenda uma campanha clarificada pelas luzes do Evangelho, com os altos objetivos de erradicar-se a indiferença da Sociedade em relação à orfandade infantil, aqui incluídos os que são de "pais vivos", a bem pouco ficam reduzidas as expressões de ventura que a maioria pretende usufruir.

A questão decorre do inditoso hábito do egoísmo que aprisiona o homem, lavrando desordenado em torno de si mesmo, em detrimento dos demais.

Buscam-se valores para garantia da família, equilíbrio da ordem e prosperidade comunal; todavia, se a criança não passar à meta urgente, os esforços relevantes que se empreendem redundarão inoperantes.

Assustadoramente se multiplicam as escolas do crime e da corrupção nos guetos da sordidez e nas vielas do vício, escorregando para as avenidas largas do conforto em multiforme agressão com que se desforçam os apaniguados do abandono, que se nutriram, a distância, com o alimento do ódio e da inveja, recolhido nos depósitos de lixo do desperdício social.

Intoxicados pelos vapores do desespero a que foram desde cedo relegados, arregimentaram os recursos da insânia para sobreviver, guindando-se às posições de desregramento em que sobrenadam, aguardando oportunidade de desforço.

Inútil apontar-se o drama trágico em que vegetam, sem que se responsabilizem todos pela transformação das causas que os geram, atendendo-os liminarmente em emergência e,em longo prazo, educando-os.

Qualquer técnica assistencial retardada resultará em perigo multiplicado.

No princípio, a sós, depois, em grupos, transformam-se em cobradores inescrupulosos, vítimas que têm sido largamente do cativeiro da miséria em que se encontram atirados.

Têm demonstrado as "máquinas administrativas" de alto porte a ineficiência dos seus métodos, quando os reunindo em depósitos com boas ou más instalações faltam os preciosos dons do amor e da paciência humana.

Ninguém educa, senão mediante as emoções idealistas. Podem-se transmitir conhecimentos, técnicas de higiene e de alimentação, recursos profissionais e disciplina, no entanto, se tais labores não se fizeram acompanhar dos santos óleos, da compreensão fraternal e da bondade cristã à semelhança de vernizes externos, não suportam a canícula das paixões, a umidade da solidão, a ferrugem da inquietude íntima.

Casais sem filhos, rebelados pela impossibilidade da procriação, em regime punitivo, em face dos passados ultrajes praticados, não se resolvem adotar outra carne que abençoaria suas existências, mantendo os conjugues em clima de edificante e mútua realização.

Pessoas solitárias, aquinhoadas com fartas moedas, são escravizadas a "animais de estimação" aos quais aplicam somas elevadas e negam-se à contribuição por uma vida infantil em estiolamento, que poderia transformar-se no farol para lhes iluminar a pesada noite de velhice que os colherá, amarguradas.

Ociosos de todos os matizes, que se autoaniquilam, cultivando enfermidades imaginárias ou em viagens extravagantes quão inócuas, para lhes preencher o vazio da vida fútil, desdenham a oportunidade de recebê-los, na condição de afetos espontâneos, para serem por eles defrontados na condição de salteadores ousados.

Aos educadores com "horas vazias", caberia preenchê-las através de uma contribuição pedagógica, em campos de depósitos ou exíguas salas, convertidas em santuário escolar, assegurando autoconfiança, amizade, segurança íntima.

O conflito existente desaparecerá quando o dominador liberte o escravo da ignorância, a estroinice produza pães e a soberba se faça solidariedade.

Dando-se a mão a um petiz, sem dúvida, pode-se alçá-lo à idade madura, a fim de fazê-lo progredir e marchar firme.

Todo investimento – e ninguém se pode eximir do dever de ajudar – aplicado no rumo do menor em abandono é de alta valorização, porquanto os seus juros demandam a eternidade.

Quando se atende a um órfão, assegura-se um lugar para um homem no futuro. Mas quando se permite que ele rasteje nos lôbregos sítios em que sobrevive, por culpa de todos, arma-se um bandido para a intranquilidade geral.

Negativos os métodos policiais coercitivos, infelizes os ajuntamentos em reformatórios e as punições exorbitantes pela pancadaria desenfreada e o sadismo contumaz. Tais produzem esquizoides violentos, alienados em degeneração apressada, animais em fúria contida, aguardando ensejo…

O amor, porém, aliado aos recursos educativos por todos os meios hábeis, cuidará desses sêmens da humanidade e fará que se floresçam, na Terra, os jardins de paz, com abençoados frutos de felicidade a que todos almejamos".

Benedita Fernandes

(Página recebida pelo médium Divaldo Pereira Franco, em Araçatuba-SP, em 24/4/1973, na residência dos pais de Cesar Perri. Divulgada pela União Municipal Espírita de Araçatuba, 1973. Incluída no livro Sementes de Vida Eterna, psicografia de Divaldo Pereira Franco, Livraria Espírita Alvorada; Carvalho, Antonio Cesar Perri. Benedita Fernandes. A dama da caridade. Ed. Cocriação)