Drama dos refugiados e as portas de acolhimento e solidariedade

Drama dos refugiados e as portas de acolhimento e solidariedade

Antonio Cesar Perri de Carvalho

A invasão da Ucrânia provocou inimagináveis dramas humanos em níveis sociais gerais e familiares. Dados da ONU registram que esse triste episódio gerou a maior crise humanitária da Europa após a 2ª Guerra Mundial. Quem poderia imaginar que no período de um mês ocorreu o maior fluxo migratório da história européia recente, pois mais de três milhões e setecentos mil pessoas precisaram sair da Ucrânia em direção aos países europeus das fronteiras a oeste, principalmente para a Polônia.

Aliás, a solidariedade política e humana foi indelevelmente marcada pela Polônia, recebendo refugiados ou servindo como local de trânsito para outros países. Nas proximidades da fronteira com a Ucrânia foram montados postos de atendimento, tendas de apoio estabelecidas por pessoas físicas e organizações internacionais de apoio humanístico. Inclusive, vimos registros da presença da tradicional organização Cáritas, ligada à Igreja Católica. A Europa e vários países se abriram para receber os refugiados vindos da Ucrânia. Inclusive, informações oriundas da Polícia Federal do Brasil dão conta que até a 3ª semana de março, cerca de 900 ucranianos já haviam desembarcado no país.

É sabido que alguns Estados do Sul do país contém antigas colônias de imigrantes daquele país. As fugas de refugiados para países europeus, sem dúvida, também têm cenas de desrespeito aos direitos humanos. Mas no momento tem predominado o acolhimento a eles. Aliás, nas primeiras décadas do Século XX o Brasil acolheu milhares de refugiados provenientes da Ucrânia, Armênia, antiga Rússia e outros países próximos, em virtude das revoluções e guerras locais. E, sem dúvida, de muitos judeus.

Na nossa infância chegamos a conhecer uma idosa e excelente professora de piano em nossa terra natal, a sra. Camila Tomashinsky, que orientou familiar nossa. A família dela precisou fugir da Rússia porque eram ligados artisticamente ao último Czar Romanov, em seguida à queda do monarca. A cidade de Araçatuba a homenageou colocando seu nome em Escola Municipal de Ensino Básico.

Nos últimos anos, nosso país recebeu grandes contingentes de imigrantes da Venezuela, do Haiti, vários países da África, do Oriente Médio e Afeganistão.

Em novembro de 2015, em viagem doutrinária para Viena, tivemos a oportunidade de conhecer um posto da organização Cáritas, para atendimento a refugiados principalmente sírios. Ficamos impressionados com as situações das famílias atendidas e recebemos informações sobre o apoio do governo da Áustria da época. Fizemos o registro artigo na Revista Internacional de Espiritismo e depois no nosso recente livro Pelos caminhos da vida. Memória e reflexões.(1)

O drama dos refugiados e as oportunidades que se abrem em tarefas de acolhimento e de solidariedade criam cenários muito marcantes na atualidade.

A propósito, nada mais oportuno do que transcrevermos trechos de texto do espírito Emmanuel:

“Em Doutrina Espírita falas de calamidades e tempos difíceis, simbolizando a própria situação como sendo a de alguém que se vê ante o rigor da tempestade. […] Não te esqueças, assim, dos companheiros expostos à intempérie, que te batem às portas do coração. Chegam de todas as procedências. Trilharam caminhos ásperos à procura de entendimento. […] Acolhe-os como puderes e faze-lhes o bem que possas. São refugiados em tua construção de fé sem serem ainda viajores de espírito perfeito. Qual nos ocorre, erigem-se por agora à posição de criaturas em evolução, entre erro e acerto, sombra e luz. E se alguém te recriminar porque lhes estendas braços fraternos, insiste no bem e estende o bem, recordando as palavras do próprio Cristo quando asseverou não ter vindo à Terra para curar os sãos”.(2)

O pensamento de Emmanuel é muito sugestivo para profundas reflexões.

Referências:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. Cap. 5.9. Araçatuba: Cocriação. 2021.

2) Xavier, Francisco Cândido. Espíritos diversos. Caminhos de volta. Cap. Renovação em toda parte. São Bernardo do Campo: GEEM. 1975.