DIRETRIZES PARA O ESTUDO DA BOA-NOVA EXTRAÍDAS DE O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

DIRETRIZES PARA O ESTUDO DA BOA-NOVA EXTRAÍDAS
DE O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

Flávio Rey de Carvalho

Inter-relacionamento de partes do Novo Testamento

Em muitas das transcrições de trechos do Novo Testamento, constantes em O evangelho segundo o espiritismo, é comum se deparar com a indicação, ao final de cada uma delas, de capítulos e versículos de mais de um evangelista. Tal procedimento adotado por Kardec permite que mais luzes possam ser lançadas aos conteúdos de muitos dos excertos bíblicos constantes na obra em questão.

Recurso a trechos do Velho Testamento

Além de inter-relacionar partes do Novo Testamento, Kardec, complementarmente, também recorreu, quando julgou oportuno, a trechos do Velho Testamento para melhor compreender os fundamentos pregressos da Revelação Divina subjacentes ao cristianismo.

Comparação de diferentes traduções

Kardec – em alguns itens de capítulos de O evangelho segundo o espiritismo – comparou uma mesma ideia em diferentes traduções, pois, conforme ele mesmo ponderou, em alguns casos, é de supor que “o sentido primitivo” dos ensinos de Jesus, “[…] ao passar de uma língua para outra, pode ter sofrido alguma alteração”.

Consulta ao conhecimento produzido por especialistas

Para se ampliar o horizonte de compreensão acerca das circunstâncias – históricas, geográficas, culturais, linguísticas, etc. – em que se deram as lições de Jesus, Kardec manifestou: “É necessário […] levar-se em conta os costumes e o caráter dos povos, pela influência que exercem sobre o gênio particular de seus idiomas. Sem esse conhecimento, escapa o sentido verdadeiro de certas palavras”. Por isso, torna-se imprescindível a consulta ao conhecimento produzido por especialistas (em saberes úteis à compreensão dos textos bíblicos).

Auxílio da chave espírita

No início de O evangelho segundo o espiritismo, Kardec ponderou: “Muitos pontos do Evangelho […] em geral só são ininteligíveis, parecendo até irracionais, por falta de chave que nos faculte compreender o seu verdadeiro sentido. Essa chave está completa no Espiritismo […]”. E, mais adiante na obra, o Codificador afirmou: “O Espiritismo é a chave com o auxílio da qual tudo se explica com facilidade.” Por isso que “o evangelho” por ele elaborado é “segundo o espiritismo”, pois dialoga com as demais obras publicadas por Kardec. Complementarmente, podem ser associadas à Codificação Kardequiana as chamadas “obras subsidiárias”, entre as quais se destacam as da lavra de Emmanuel – além das de Humberto de Campos, Neio Lúcio, entre outros espíritos.

***

Acerca da eventual aplicação das diretrizes apresentadas para o estudo da Boa-Nova, ressalva-se que, apesar de terem sido expostas separadamente (por questão de didatismo), tais procedimentos são fluídos entre si, visto que, não raro, entrelaçam-se uns aos outros. Cabe salientar também que a adequabilidade do uso de cada uma dessas diretrizes deve ser avaliada caso a caso, pois – tal como o Codificador procedeu ao longo de O evangelho segundo o espiritismo – não há a obrigatoriedade utilizá-las, de maneira conjugada, a todo o momento. Fora isso, cumpre ainda ponderar que, ao menos no meio espírita, os conhecimentos obtidos mediante o recurso a tais procedimentos devem convergir, na medida do possível, à busca pela compreensão da essência do “ensino moral” legado por Jesus.

***

(O texto apresentado é uma síntese do artigo “Nos passos de Kardec: diretrizes para o estudo da Boa Nova extraídas de O evangelho segundo o espiritismo” – publicado na revista Reformador, em novembro de 2014.)