Cuidados com os animais

Cuidados com os animais

Antonio Cesar Perri de Carvalho

No espaço de pouquíssimos dias assistimos a cenas inesperadas envolvendo o homem e os cuidados com animais.

Cenas inusitadas ocorreram na cercania de nosso apartamento na grande cidade. Logo cedo escutamos uma voz feminina chamando alguém. Era uma menina na sacada de pequeno prédio que chamava uma ave por um nome humano. Daí foi-se desdobrando… Ela começou a estender cabos de vassoura em direção a uma árvore contígua. Na calçada começaram a aparecer pedestres curiosos em verificar o que ocorria. Um veículo policial ao passar pelo local, atraído pela aglomeração de pessoas olhando uma menina numa sacada gritando por alguém, parou e os policiais foram se informar. Tratava-se de uma menina desesperada pela fuga de uma maritaca que ela criava. Meia hora depois chega um grande veículo do Corpo de Bombeiros. Preparam-se com escadas e redes e sobem no interior da árvore. A essa altura a maritaca faz um segundo vôo e se aloja em outra árvore. A menina com seus familiares chora e os bombeiros posicionam-se junto à nova árvore, ligam a mangueira num duto de água da calçada e começam a molhar intensamente a árvore até a maritaca cair e ser recolhida imediatamente com panos pela meninas e familiares. Todo o episódio de recuperação da maritaca durou mais de duas horas. No final, com vários espectadores, a menina abraçou os bombeiros, seguindo-se fotos, e o veículo saiu emitindo os sons típicos da buzina do veículo da corporação. No conjunto pareceu um epopéia cinematográfica!

Defecho feliz para o drama da menina e seus familiares. Sabe-se que o Corpo de Bombeiros atua em algumas situações de recuperação de animais. Evidente que seria melhor se não existissem maritacas em cativeiro doméstico.

Na sequência, em viagem familiar ficamos hospedados em residência localizada em condomínio contíguo a região rural. Na manhã do primeiro dia, ao nos dirigirmos ao carro, fomos surpreendidos por três coelhos que estavam alojados embaixo do veículo. Saíram, ficaram quietos nos observando e verificamos que havia um outro embaixo de uma tosseira no jardim da residência. Nem nós, nem eles, se assustaram, movimentamos o carro e vimos pelo retrovisor que permaneciam impassíveis. Coelhos nativos e tranquilos, desde que não haja reação violenta dos humanos. Na mesma hora lembramo-nos que há alguns estávamos em país europeu logo após a liberação do período de caça. Numa rodovia cruzamos com uma caminhonete de caçador que tinha na traseira um autêntico varal com lebres ou coelhos mortos dependurados… Triste prática, essa de caçadas a animais.

Ainda na residência citada, ao retornarmos à tarde, um cão doméstico latia insistentemente. Quando um outro começou a latir também, nossa esposa achou suspeito e resolveu verificar o que acontecia no quintal. De repente, num corredor verificou que o cão havia encurralado um enorme lagarto (Teiu), com mais de um metro de comprimento; este reagia agressivamente e o cão latia e tentava avançar no animal invasor. Combinamos a esposa, ela imobilizaria e protegeria o cão e nós tentaríamos abrir um portão próximo para afugentar o lagarto que também nos ameaçava. Deu certo, o animal invasor e de aspecto horrível se foi e o cão ainda demorou um pouco para se acalmar, pois até tremia. Os dois animais, eu e a esposa ficamos incólumes.

Na mesma casa hospedeira, uma parente nossa se dedica a criar cães e gatos abandonados. Um deles, de pequeno porte e com 15 anos, está cego e paraplégico. Recebe cuidados especiais ao longo do dia e, obviamente, a parente se recusa à opção da eutanásia que muitos recomendam. O outro, já idoso também, tem artroses e, muito manso, quer sempre ficar ao lado de alguém da casa, sendo um grande companheiro.

Muitas emoções sequenciais na relação homens-animais. Como tudo se resolveu sem vitimar nenhum animal veio-nos à mente a visão espírita sobre esse reino. E sem dúvida o respeito e naturais cuidados que eles merecem.

Há pouco tempo, ficamos surpresos ao assistir a um documentário recente, em TV por assinatura, o ”Professor polvo”, verificando-se que o polvo aprende a reconhecer nadadores frequentes.

Nosso planeta é um enorme zoológico com uma incalculável variedade de espécies animais.

Na literatura espírita há muitos subsídios esclarecedores, notadamente as obras e palestras da dra. Irvênia Prada focalizando a questão espiritual dos animais.

Mas, cremos que se torna interessante a transcrição de um trecho de O livro dos espíritos:

“Questão 593. Poder-se-á dizer que os animais só obram por instinto?” Resposta: “Ainda aí há um sistema. É verdade que na maioria dos animais domina o instinto, mas não vês que muitos obram denotando acentuada vontade? É que têm inteligência, porém limitada.”

Nesse mundo com tantas diversidades de culturas e tradições, apenas essa transcrição da obra inaugural de Allan Kardec já nos instiga muitas dúvidas; sugere estudos e reflexões e, sem dúvida, a busca pela aprendizagem do respeito aos animais.