Revista espírita focaliza mensagens familiares de Chico Xavier

Revista espírita focaliza mensagens familiares de Chico Xavier

A Revista espírita, a mesma fundada por Allan Kardec, tem analisado mensagens familiares psicografadas por Chico Xavier. Sob o título “O triunfo da vida”, no exemplar do1o trimestre de 2021foi reproduzida a tradução de mensagem assinada pelo jovem Roberto Muskat, recebendo comentários muitos oportunos do periódico. Trata-se de mensagem psicografada por Chico Xavier, do espírito Roberto Muszkat, filho do médico Chyja David Muszkat e de Sonia Golcman Muszkat, vinculados ao judaísmo e residentes em São Paulo. A psicografia possui muitos pontos de identificação espiritual e envolvendo princípios israelitas. No Brasil há um livro Quando se pretende falar da vida (Ed. GEEM, 1983) contendo todos os episódios da relação da família Muszkat com Chico Xavier. Entre várias matérias, há transcrição de um discurso de Amélie Boudet, feito em setembro de 1845, em cerimônia anual de um pensionato para meninas. No Editorial, Jean-Paul Evrard, ao se iniciar o 11o ano de publicação da Revista pelo Mouvement Spirite Francophone homenageia Roger Perez e Nestor João Masotti. Essa revista francesa contém vários artigos, todos com grande valor doutrinário e divulgação das obras básicas de Allan Kardec.

De: Revue spirite, Ano 164, 1o trimestre de 2021.

Informações:

info@lmsf.org;

http://www.revue-spirite.org

As flores douradas do meu jardim

Resenha (*)

As flores douradas do meu jardim

Livro recém lançado contendo mensagens espirituais psicografadas por Alexandre Sech, editado pelo Centro Espírita Luz Eterna, de Curitiba.

A nova obra reúne 60 mensagens do espírito Joséas, comentando versículos do Novo Testamento. O autor espiritual aborda de maneira clara e objetiva, mas com profundidade temas de importância para o atual estágio da Civilização. Contém reflexões muito sugestivas para o movimento espírita. Sempre há coerência com os princípios das obras de Kardec.

O novo livro foi organizado pelo concunhado e colega de profissão Célio Trujillo Costa. Na Apresentação Célio Costa relata que “a obra já estava pronta para ser impressa quando meu querido amigo foi surpreendido por doença neurológica que lhe foi tolhendo as atividades, […] Atrevi-me a tomar de suas psicografias, porque Alexandre desejava divulgar o trabalho do Espírito Joséas, para orientação dos companheiros espíritas…” Célio também informa que o espírito autor preferiu o anonimato com o “cognome ‘Joséas’, ao invés do nome próprio da personagem que aviventou durante sua encarnação entre nós”.

Muitos espíritas conheceram Alexandre Sech como um dos dinâmicos dirigentes do “Luz Eterna”, um dos criadores do COEM-Centro de Orientação e Educação Mediúnica e expositor, e, sem dúvida, médico conceituado, inclusive com atuação no Hospital Espírita de Psiquiatria Bom Retiro, ligado à FEP.

Tivemos a felicidade de conhecê-lo, bem como sua família nos idos de 1972, estabelecendo-se um continuado e prolongado intercâmbio. Assim, além dos afazeres mais divulgados de Sech, conhecemos também o médium: psicofônico, psicográfico, vidente… Temos alguns registros desses momentos. Incluímos mensagem de Benedita Fernandes por ele psicografada em nosso livro sobre ela, desde a 1ª edição em 1982; tivemos mensagens familiares e, mais recentemente, incluímos em livro novo – no prelo -, a nossa homenagem ao amigo desencarnado em 2019 e ainda algumas informações sobre suas nuances mediúnicas.

Por isso, o livro psicográfico de Alexandre Sech não nos causou surpresa.

Sem dúvida, é uma obra que traz subsídios muito lúcidos para os estudiosos do Novo Testamento à luz do Espiritismo.

Fonte:

Sech, Alexandre. Pelo espírito Joséas. As flores douradas de meu jardim. Curitiba: Edições Luz Eterna. 2020. 202p.

Informações:

celegrafica@ig.com.br;

cele@cele.org.br

(*) Por Antonio Cesar Perri de Carvalho.

Batuíra – Verdade e luz

Resenha (*)

Batuíra – Verdade e luz

Oportuno livro sobre Batuíra, um marcante pioneiro espírita da cidade de São Paulo, foi lançado em janeiro de 2021 pelo Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa Espírita Eduardo Carvalho Monteiro, de São Paulo.

O autor da obra Eduardo Carvalho Monteiro, desencarnado em 2005, lançou o livro no ano de 1999 e que se encontrava há muito tempo esgotado. Interessante é que possuímos a 1ª edição, com autógrafo do autor amigo.

Agora o livro ressurge pelo CCDPE, detentor de notável acervo, e que numa merecida homenagem tem o nome do autor.

Em 160 páginas, pode-se adentrar em cenas da capital paulista da 2ª metade do século XIX, ilustradas com fotos e mapas da época, ambiente em que atuou o imigrante português António Gonçalves da Silva (1839-1909) e que marcou época em ambientes da imprensa, culturais, políticos e espíritas da então capital da Província.

Nas páginas introdutórias, aparece o projeto do filho de Humberto de Campos em escrever sobre Batuíra, encargo passado para Eduardo Carvalho Monteiro em 1998. O trabalho espírita de Batuíra é descrito em função dos seus atendimentos a pessoas doentes e carentes; sua atuação durante a epidemia da varíola; as ações da Instituição Beneficente Cristã “Verdade e Luz”, uma das mais antigas do país; do jornal Verdade e Luz, também dos primeiros periódicos espíritas; criação de grupos e centros espíritas em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro; de seu relacionamento com dirigentes da então novel FEB; do seu pioneirismo ao fundar um órgão voltado ao movimento espírita, a União Espírita do Estado de São Paulo (1908). Fato marcante é que a rua onde ele iniciou suas atividades espíritas é oficialmente denominada “Rua Espírita”, limite dos bairros Liberdade e Cambuci, perto do centro da cidade de São Paulo. Desde quando Batuíra estava encarnado, as pessoas espontaneamente se referiam à “rua do espírita”.

No capítulo “Cenas de uma vida edificante” há relatos sobre casos e pessoas atendidas por Batuíra. Exemplos de uma vida de renúncia e de muita nobreza de caráter. Inclusive, as obras que ele manteve em alguns bairros de São Paulo foram construídas com recursos dele próprio.

O livro também destaca informações sobre a atuação espiritual de Batuíra, em várias psicografias de Chico Xavier, notadamente o livro Mais luz (Ed. GEEM).

Batuíra sempre foi reconhecido pelo seu dinamismo e dedicação ao próximo. Aliás, o apelido Batuíra, é uma comparação alusiva ao pássaro ágil e rápido que habitava as várzeas da cidade de São Paulo. Sem dúvida, um “pássaro” diferenciado que se destacou e semeou o bem!

Informações e pedidos – CCDPE-ECM:

Fone 11-5072-2211;

E-mail: contato@ccdpe.org.br

Fonte:

Monteiro, Eduardo Carvalho. Batuíra. Verdade e luz. São Paulo: CCDPE. 2021. 160p.

(*) Antonio Cesar Perri de Carvalho, colaborador do CCDPE-ECM; ex-presidente da USE-SP e da FEB.

A tradução do Novo Testamento originalmente adotada por Emmanuel e suas razões

Artigo

A tradução do Novo Testamento originalmente adotada por Emmanuel e suas razões

Flávio Rey de Carvalho (*)

Desde as comemorações do centenário de nascimento de Francisco Cândido Xavier, ocorridas em 2010, seguidas pelos 150 anos de O Evangelho segundo o Espiritismo, em 2014, o interesse pelo estudo de aspectos do Novo Testamento, à luz das obras de Emmanuel, aumentou consideravelmente. Sob a euforia dessas circunstâncias, nem todas as pessoas teriam se inteirado dos pressupostos adotados por esse autor espiritual, na coerente exposição de seu pensamento.

Nesse sentido, este artigo procura destacar alguns pontos essenciais para a compreensão do evangelho segundo Emmanuel. Nos últimos anos, em dissonância com os critérios adotados por Emmanuel, a harmonia do conjunto de suas obras teria sido comprometida, terminando por prejudicar a coesão de suas ideias em torno do evangelho redivivo.

Em termos práticos e efetivos, a substituição dos versículos originais, baseados na tradução de João Ferreira de Almeida (“revista e corrigida”), por versões mais “modernas” e “acadêmicas” que viessem a refletir os “avanços” realizados no campo da “crítica literária”, desde os anos 1960. Esses “avanços” teriam adquirido impulso por influência de ações emanadas do seio da Igreja Católica, durante o papado de João XXIII (1958-1963). Entre elas, destacar-se-ia a criação do Secretariado para a união dos cristãos (1961) – que, em 1968, viria a apresentar o documento A cooperação interconfessional da tradução da Bíblia, no qual consta a recomendação ao recurso às “edições críticas” do Novo Testamento grego na realização de novas traduções − e a realização do Concílio Vaticano II (1962-1965) – que, congregando os expoentes da hierarquia católica e também figuras representativas da Igreja Ortodoxa e do protestantismo, embora na posição de observadores – viria a convencionar, em 1965, a Constituição Dogmática Dei Verbum (Palavra de Deus), figurando, entre suas diretrizes, a aplicação do “método histórico-crítico” à leitura da Sagrada Escritura.[1,2] Em meio a esse processo de atualização da tradição religiosa, alguns textos tradicionais do Novo Testamento grego viriam a se tornar alvo de críticas, o que teria gerado certa resistência de segmentos religiosos mais afeiçoados a uma versão textual grega específica, originada em 1516, fruto do trabalho de compilação de manuscritos, atribuído ao humanista Erasmo de Roterdã (1466-1536).[1,3]

Esse texto serviu de pilar para um intento de regeneração da religião, subsidiando muitas das ações ligadas à Reforma Protestante, iniciada em 1517. Ao comentar o assunto, sob a visão da espiritualidade maior, Emmanuel destacou: “A essas atividades reformadoras não poderia escapar a Igreja, desviada do caminho cristão. O plano invisível determina, assim, a vinda ao mundo de numerosos missionários com o objetivo de levar a efeito a renascença da religião, de maneira a regenerar os seus relaxados centros de força. Assim, no século XVI, aparecem as figuras veneráveis de [Martinho] Lutero, [João] Calvino, Erasmo [de Roterdã], [Filipe] Melanchton e outros vultos notáveis da Reforma […]”.[4]

Assim o trabalho legado por Erasmo de Roterdã − posteriormente consagrado como Textus receptus (Texto recebido) – viria a ser escolhido, no século XVII, como a base textual do Novo Testamento grego a ser utilizada pelo religioso protestante, de origem portuguesa, João Ferreira de Almeida (1628-1691), na tradução para a língua portuguesa. Esta foi publicada em 1681, em Amsterdam, porém, em virtude dessa primeira edição apresentar muitos erros tipográficos, algumas revisões teriam sido realizadas; daí ter surgido, em 1898, uma versão denominada “revista e corrigida”, que se tornaria popular na primeira metade do século XX.

Em paralelo, com o surgimento de outras fontes textuais (na forma de pergaminhos e papiros antigos), entre meados do século XIX e os anos 1930, a fidedignidade dos conteúdos exarados no Textus receptus passaria a ser questionada por muitos “críticos literários” – preludiando a convenção chancelada pela Igreja Católica, nos anos 1960, em favor das “edições críticas” do Novo Testamento grego, bem como ao “método histórico-crítico”, para a realização de novas traduções. [3]

Apesar do acentuado impulso após os anos 1960, do ponto de vista temporal, cabe situar que o início desse processo remontaria à transição do século XVII para o XVIII: época em que teriam despontado as primeiras “críticas” às leituras confessionais, de caráter “pietista” da Bíblia, ou seja, centrado nos âmbitos da fé e do sentimento religioso.[2] Tratar-se-ia de um esforço direcionado a desqualificar – como “ingênuo” e “acrítico” − esse viés interpretativo, até então centrado na valorização da fé e do sentimento religioso, em prol de uma análise guiada pelo equacionamento de soluções “racionais”, construídas objetivamente, com base em indícios “materiais” − como “vestígios arqueológicos”, “documentos administrativos” (contas, arquivos, registros etc.) e “documentos literários” (histórias, descrições, testemunhos etc.).[1,2]

Na esteira desse enfoque, surgiria esforço investigativo para se delinear um “Jesus histórico”, em detrimento de um “Jesus da fé”, circunscrevendo a sua vida (atos, exemplos e lições) a um conjunto de episódios próprios e limitados a uma circunstância pretérita.[2] Desse modo, o Novo Testamento passaria a ser visto como uma “obra de estudos” do “passado”, caudatária dos costumes e da cultura de seu tempo, e não como um conjunto de ensinamentos atemporais capaz de “iluminar o presente”.[2]

No entanto, Emmanuel não partilharia desse ponto de vista, pois, ao expressar o seu modo de ver o assunto, destacou que “[…] cada conceito do Cristo ou de seus colaboradores diretos adapta-se à determinada situação do Espírito, nas estradas da vida”.[5] Por isso, em manifesto tom de reprovação ao modus operandi da “crítica histórica”, adotada pelas modernas “escolas literárias”, o autor espiritual teceu o seguinte comentário em A caminho da luz: “Muitas escolas literárias se formaram nos últimos séculos, dentro da crítica histórica, para o estudo e a elucidação desses documentos. A palavra ‘apócrifo’ generalizou-se como o espantalho de todo o mundo. Histórias numerosas foram escritas. Hipóteses incontáveis foram aventadas, mas os sábios materialistas, no estudo das ideias religiosas, não puderam sentir que a intuição está acima da razão e, ainda uma vez, falharam, em sua maioria, na exposição dos princípios e na apresentação das grandes figuras do Cristianismo. A grandeza da doutrina não reside na circunstância […]; está na beleza imortal que irradia de suas lições divinas, atravessando as idades e atraindo os corações. Não há vantagem nas longas discussões […], quando o raciocínio absoluto não possui elementos para a prova concludente e necessária. A opinião geral rodopiará em torno do crítico mais eminente, segundo as convenções. Todavia, a autoridade literária não poderá apresentar a equação matemática do assunto. É que, portas adentro do coração, só a essência deve prevalecer para as almas e, em se tratando das conquistas sublimadas da fé, a intuição tem que marchar à frente da razão, preludiando generosos e definitivos conhecimentos”. [4]

Assim, fica evidente que Emmanuel não via com bons olhos os desenvolvimentos empreendidos nos últimos séculos, pelas “escolas literárias”, sob o critério racionalizante e materialista da “crítica histórica”. Seu pensamento estaria mais alinhado com os propósitos regeneradores iniciados por um grupo de Espíritos “missionários”, “veneráveis” e de “grande vulto”, que teriam atuado no século XVI − entre eles, a figura de Erasmo de Roterdã, responsável pela tarefa de restabelecer a essência primitiva dos ensinos contidos no Novo Testamento.

Portanto, considera-se que a tese da “opção” editorial direcionada a alterar as obras originais de Emmanuel, no sentido de atualizá-las sob a perspectiva dos “avanços” realizados desde os anos 1960, seria anacrônica às pré-concepções do autor espiritual.

Referências:

[1] MALZONI, Cláudio Vianney. As edições da Bíblia no Brasil. São Paulo: Paulinas, 2016, passim.

[2] MOSCONI, Luís. Para uma leitura fiel da Bíblia. 2. ed. São Paulo: Loyola, 1997, passim.

[3] KONINGS, Johan. A Bíblica, sua origem e sua leitura. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 2014, passim.

[4] XAVIER, Francisco Cândido. A caminho da Luz: história da civilização à luz do Espiritismo. Pelo Espírito Emmanuel. 37. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008, passim, grifo nosso.

[5] XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006, Cap.“Interpretação dos Textos Sagrados”.

 

(*) Flávio Rey de Carvalho é Mestre em História e Doutor em Ciência da Religião; colaborador em São Paulo do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa Espírita e do Grupo Espírita Casa do Caminho.

Extraído de:

Revista digital O Consolador, Ano 14 – N° 705 – 24 de Janeiro de 2021. Link: http://www.oconsolador.com.br/ano14/705/ca3.html

 

Ponto final – O reencontro do espiritismo com Allan Kardec

Resenha

Ponto final – O reencontro do espiritismo com Allan Kardec

Livro impresso e em forma de e-book de autoria de Wilson Garcia, lançado pela Editora EME em dezembro de 2020, com o subtítulo: “Cartas de Kardec revelam mais sobre os bastidores do espiritismo e as convicções do seu fundador”.

O autor se fundamenta em documentações hoje disponibilizadas em meios digitais, como as cartas e textos de Kardec do acervo obtido por Canuto de Abreu e agora sob a guarda e conservação do CDOR da Fundação Espírita André Luiz, de São Paulo. Ao reproduzir esses documentos o novo livro apresenta também o QR Code dos mesmos.

Para ser fiel aos documentos, grande parte inéditos, e ao texto do autor do novo livro, reproduzimos alguns trechos significativos que oferecem uma visão geral do conteúdo marcante de Ponto final, que tem como itens: Kardec em Bordéus; Roustaing no terreno espírita; Grupo Sayão: o roustainguismo brasileiro; História falseada e história real; Cultura espírita ou hibridismo cultural; O espiritismo reencontra Kardec.

À guisa de resumo, a seguir transcrevemos alguns destaques da obra de Wilson Garcia.

Há dados sobre o relacionamento que Roustaing manteve com o Codificador, previamente à publicação de sua obra, que não foi “estreito nem constante” e sobre as tentativas de Roustaing para evitar a viagem de Kardec a Bordéus em 1861 e cita a “prudência do codificador em relação ao futuro autor de Os quatro Evangelhos é bastante significativa”. O Codificador mantinha correspondência com a médium dessa obra, Emilie Collignon, e esta apresentava discordância de vários aspectos do texto. Depois da publicação dessa obra, Kardec não avalizou o livro e nem concordou com o “comparecimento de Roustaing e da médium Emilie Collignon na Revista Espírita depois de 1866”.

Wilson Garcia analisa as discrepâncias do conteúdo da obra organizada por Roustaing com as obras básicas de Kardec, no tocante ao “corpo fluídico de Jesus”, culpa e evolução. Entre os registros sobre as ações distorcidas efetivadas por Pierre Gaétan Leymarie, aponta que “Roustaing foi levado às páginas da Revista Espírita e ao poder na Sociedade Anônima, penetrando, assim, no terreno espírita pouco depois da partida de Allan Kardec”.

Ao analisar o início do Espiritismo na cidade do Rio de Janeiro, Wilson disseca vários tópicos da obra Trabalhos espíritas de pequeno grupo de crentes humildes, publicado em 1893 pelo Grupo Sayão, organizado por Antonio Luís Sayão. Como desdobramento deste, foi publicado em 1896 um segundo livro: Trabalhos espíritas de pequeno grupo de crentes humildes – Estudos dos Evangelhos de S.Mateus, S.Lucas, S.Marcos em Espírito e Verdade. Wilson Garcia anota: “Este segundo livro será reeditado, com alterações, inclusive de estilo, pela FEB em 1933, sob o título de Elucidações Evangélicas e a coordenação de Guillon Ribeiro. Sobre a edição inicial de 1893, Garcia conclui: “o objetivo era propagar a missão do grupo revelada e reforçada pelas mensagens dadas supostamente por grandes nomes, entre eles, Allan Kardec, Anjo Ismael e os Evangelistas. […] garantiam a missão especial que o grupo possuía, isto é, de levar avante a disseminação do roustainguismo em sua aliança com o espiritismo. […] um misticismo exacerbado e de crença absoluta nas personalidades invisíveis”. Wilson admite que para o Grupo citado “Roustaing seria aquele que completou a doutrina construída por Kardec, atingindo um grau que o Mestre não conseguiu”. Na prática hipervalorizaram o papel do “guia espiritual”, algumas efemérides e posturas católicas… O objetivo desse Grupo: “crença total em Roustaing e sua missão de completar o trabalho de Allan Kardec”. Para o autor de Ponto Final, “em lugar do lema consagrado por Kardec – fé e razão – os espíritos do Grupo Sayão proclamam “fé e crença”, uma redundância que esconde o pilar racional da fé” e chega o rotular essas reuniões como um “processo de fascinação”. Esclarecemos que versão recente de Elucidações Evangélicas (12ª edição, 2003) não contém as aludidas mensagens.

Wilson analisa várias incoerências doutrinárias nas mensagens, com fragilidades de forma e conteúdo, publicadas no livro original do Grupo Sayão. Transcreve na íntegra e analisa passo a passo a incoerência do pensamento e obras do Codificador, com a aludida “mensagem que seria assinada por Allan Kardec, recebida por Frederico Jr. na Sociedade Espírita Fraternidade, tendo sido publicada com o título: INSTRUÇÕES DE ALLAN KARDEC AOS ESPÍRITAS DO BRASIL. A mensagem tornou-se, com o tempo, um dos textos preferidos pelos adeptos brasileiros de Roustaing, especialmente os da FEB…” Aliás, consta que essa mensagem teria sido divulgada numa reunião nacional há poucos anos atrás.

Na realidade, o “Grupo Sayão não estudava as obras de Allan Kardec. Sua orientação provinha da obra de Roustaing, que era visitada em todas as sessões e tida como suficiente para o conhecimento espírita”. O autor lembra que quando há referências ao Evangelho, para os roustainguistas seria referência a Os Quatro Evangelhos e não a O Evangelho segundo o Espiritismo. Para Garcia, o conjunto de ações do Grupo Sayão “reforça a tese das bases culturais sobre as quais ergueu-se e se constituiu o espiritismo brasileiro capitaneado pela FEB”.

Em Ponto Final, há transcrições de documentos de grupos sediados no Rio de Janeiro e acabaram passando por momentos de dissenções e de transformações, antes de surgir a FEB. Inclusive, destaca o “perfil progressista” inicial da FEB que depois se alterou. Com base em textos e documentos originais transcritos, Wilson analisa o artigo “Escorço Histórico da Federação Espírita Brasileira”, de autoria de Juvanir Borges de Souza e divulgado em 1984. É de opinião que “a informação mais uma vez é dedutiva não amparada em documentos, além de não dar aos fatos o tratamento devido e necessário a uma história sustentável”.

O autor da nova obra, entre outros fatos, comenta que “a Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade não é herdeira da Sociedade Espírita Deus, Cristo e Caridade, mas da fusão dela e outras três. […] o qualificativo “espírita” foi substituído pelo “acadêmica”, não só não é verdadeira como é injusta, implicando conotação elitista e anti-evangélica, […] o termo acadêmico foi uma solução para superar impasses políticos e religiosos que impediam os adeptos do espiritismo de se organizarem livremente”.

Wilson focaliza alguns aspectos da atuação de Bezerra de Menezes em seu segundo mandato como presidente da FEB, a chamada ação discricionária, e o “combate ao Centro da União e àqueles que por ele falavam ou os integravam, especialmente Torteroli, que considerava a cabeça pensante do Centro União,…” Episódios que são registrados em artigos assinados por Bezerra, nos quais ele “reforça a visão roustainguista de que o Evangelho é o ‘ensino da salvação’. […] Deve-se, portanto, a Bezerra de Menezes ir a Federação Espírita Brasileira para o trilho de Roustaing…”

Garcia analisa os vários Estatutos da FEB: o original de 1884 e os seguintes, aprovados nos anos: 1901, 1905, 1912, 1917, 1954, 1991, 2003, 2019. Comprova que “a FEB não nasceu sob o signo de Roustaing”; desenvolveu-se uma cultura propícia, e: “Foi em 1917 que o estudo da obra de Roustaing foi introduzido no Estatuto da Federação Espírita Brasileira […] Mas desde o final do século XIX a cultura roustainguista estava em gestação ali…” A respeito da reforma estatutária de agosto de 2019 em que foi retirada a indicação da obra de J.B.Roustaing em um artigo, Garcia estuda outros artigos vigentes, como o 45, que cita o “programa da Federação” e que as associações que aderem ao Conselho Federativo Nacional da FEB são concordes com o “Pacto Áureo”. E, este se fundamenta no livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, que cita Roustaing, ou seja para Wilson, “artigos que anulam qualquer ganho em relação à supressão feita na reforma de 2019”.

O autor também comenta o aparecimento de ideias federativas, inexistentes no Estatuto original, e bem diferentes ao longo do tempo.

Wilson Garcia analisa documentos referentes a movimentos que se desenvolveram na primeira metade do século XX, como a Constituinte Espírita Nacional; a Liga Espírita do Brasil; a fundação da USE-SP em congresso estadual com presença de representantes de mais de 500 centros paulistas; o Congresso Brasileiro de Unificação; os indícios de alteração no livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho introduzindo o nome Roustaing, incoerente com livro anterior Crônicas de Além Túmulo; a fundação da Confederação Espírita Panamericana; a forma abrupta e sem discussão como o presidente da FEB propôs o “Pacto Áureo”, fundamentado justamente no único livro de Chico Xavier em que há uma citação a Roustaing: Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho; e as reações de lideranças espíritas ao referido “Pacto”.

O autor conclui que “Em nome de uma união pelo bem da doutrina espírita, aceita-se ou releva-se, admite-se ou tolera-se tudo isso, demonstrando-se o quão é pequena a capacidade dos homens de perceber o imenso prejuízo que causa uma agir dessa ordem. O imobilismo impera”, e, também anota: “o fim da jornada é o ponto de partida, em que a trajetória será reencetada. É o ponto final, onde o espiritismo reencontra Kardec e abandona a parcela da carga que não lhe pertence…”

O livro de Wilson Garcia contempla informações que não aparecem na chamada “história oficial” e se fundamenta em documentos de Kardec e dos primórdios do Espiritismo na França e no Brasil, Atas, livros e artigos publicados na imprensa espírita. Ao se acessar o novo livro, a nosso ver, não é se posicionar a favor ou contra o conteúdo do mesmo, mas se fazer a leitura atenta da obra, seguindo-se de reflexões e se houver dúvidas, para quem puder, atualmente não é complicado acessar-se documentos digitalizados.

Fonte:

Garcia, Wilson. Ponto final. O reencontro do espiritismo com Allan Kardec. Capivari: EME. 2020. 320p.

(Resenha por Antonio Cesar Perri de Carvalho)

Revista espírita atual em francês

Revista espírita atual em francês

A Revista espírita atual em francês, continuadora do periódico criado por Allan Kardec, é editada sob responsabilidade de Le Mouvement Spirite Francophone (LMSF). No exemplar do 3o trimestre de 2020, no Editorial assinado por Jean-Paul Évrard homenageia Roger Perez e Nestor Masotti porque o próximo numero assinalará os 10 anos que esses companheiros garantiram a edição da Revista pelo LMSF. Na série “O triunfo da vida”, prosseguem focalizando cartas familiares psicografadas por Chico Xavier. Há artigos comentando obras de Kardec e de Léon Denis, filósofos com ideias predecessoras do Espiritismo, além de divulgação das obras básicas do Codificador. Apresentação gráfica excelente.

Informações:

www.revue.spirite.org

Adulterações em obras: copistas?

Adulterações em obras: copistas?

 

No cap. 6.1 do livro União dos espíritas. para onde vamos? são tratados os cenários do movimento espírita. Algumas situações identificáveis em instituições espíritas de nossos dias merecem ser analisadas, entre elas:

“- No caso de livros espíritas, há situações em que as citações de versículos do Novo Testamento (ou de partes deles, as perícopes), originalmente utilizadas em obras nacionais e estrangeiras, foram substituídas por outras traduções bíblicas de diferentes das adotadas pelo autor. Isso não lembraria as alterações dos copistas religiosos do passado?”

(Carvalho, Antonio Cesar Perri. União dos espíritas. Para onde vamos? Cap. 6.1. Capivari: EME. 2018)

MELHOR COMPREENSÃO DO EVANGELHO SEGUNDO EMMANUEL E AS TRADUÇÕES BÍBLICAS

MELHOR COMPREENSÃO DO EVANGELHO SEGUNDO EMMANUEL E AS TRADUÇÕES BÍBLICAS

Em artigo com aspectos acadêmicos e doutrinários – publicado na página eletrônica "Autores Espíritas Clássicos" -, Flávio Rey de Carvalho esclarece sobre a história e alguns objetivos das traduções bíblicas e a opção adotada por Emmanuel em obras psicografadas por Chico Xavier. O autor é mestre em História pela UnB e Doutor em Ciência da Religião pela PUC-SP. Foi um dos fundadores do NEPE da FEB; autor e co-autor de livros, articulista, de textos acadêmicos e espíritas; em São Paulo é colaborador do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa Espírita e do Grupo Espírita Casa do Caminho.

PARA UMA MELHOR COMPREENSÃO DO EVANGELHO SEGUNDO EMMANUEL

Flávio Rey de Carvalho

RESUMO

Este estudo procura fornecer elementos para se compreender melhor a perspectiva de Emmanuel sobre o estudo do evangelho. A última década foi marcada pelo aumento de interesse, no meio espírita, pelo estudo do Novo Testamente à luz das obras desse autor espiritual. No entanto, sem se ancorar nos pressupostos adotados autor, há a possibilidade de surgir “mal entendidos” no processo de interpretação de suas ideias. Com o objetivo de contornar esses inconvenientes, objetivou-se expor alguns dos posicionamentos emitidos por esse autor, em algumas de suas obras, que insinuam a sua preferência por uma tradição textual bíblica específica, adotada por ele na elaboração de seus comentários sobre a Boa-nova. Nesse sentido, sustenta-se, mediante o recurso às categorias analíticas de “paradigma”, “horizonte” e “autoridade”, apreendidas das reflexões de Thomas S. Kuhn e Hans Georg-Gadamer, que qualquer intento direcionado a “atualizar” Emmanuel, por critérios distintos dos adotados por ele, configuraria um ato de “alteração” de seu trabalho e de “desrespeito” à sua posição de autor, que, consciente de suas escolhas, saberia, melhor do que ninguém, os motivos da sua opção pelo uso da tradução de João Ferreira de Almeida nas epígrafes evangélicas constantes em muitas de suas mensagens. Palavras-chave: Emmanuel; Critérios do Autor; Tradução; Novo Testamento; Alteração; Atualização.”

ARQUIVO COMPLETO EM PDF:

Artigo – Para uma melhor compreensão do evangelho segundo Emmanuel-PDF

 

Link da publicação na página eletrônica de "Autores Espíritas Clássicos" (COPIE E COLE):

http://www.autoresespiritasclassicos.com/Autores%20Espiritas%20Classicos%20%20Diversos/FLAVIO%20REIS/Fl%C3%A1vio%20Rey%20de%20Carvalho%20-%20Emmanuel.htm

Jornal “Dirigente Espírita” traz temas atuais e reais

Jornal “Dirigente Espírita” traz temas atuais e reais

Órgão da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, edição novembro/dezembro de 2020, o jornal “Dirigente Espírita” traz a tona assuntos do momento com análises doutrinárias e do movimento espírita com base em vivências e discussões coletivas. É um veículo de informação bem diferenciado.

Link para acesso (copie e cole):

https://usesp.org.br/wp-content/uploads/2020/11/DE180-1.pdf

O espiritismo moral

Resenha

O espiritismo moral

O livro O espiritismo moral, pelo espírito Yvonne A. Pereira, foi psicografado por Wagner Gomes da Paixão. Na apresentação o espírito Honório Onofre de Abreu comenta que “já liberto do ‘macacão de carne´”, prosseguiria na “boa luta, colocando-nos à disposição de Jesus”.

A autora espiritual desenvolveu 40 capítulos focalizando várias nuances e situações ligadas ao tema central do livro. Considera “O Espiritismo moral é essa flor divina, incrustada na haste filosófica que se ergue, graças às raízes que a nutrem e que resumem a ciência, ou seja, os fenômenos naturais”. Em outra parte: “A espiritualização proposta pelo Espiritismo, sintetiza o conteúdo moral da Mensagem de Jesus aos homens, pois essa proposta doutrinária ‘disseca’ os processos existenciais e aponta para os sagrados objetivos da evolução: a vida abundante e bela no seio do Criador, que é toda a Criação em suas infinitas instâncias de usufruto e aprendizado”. No livro se destaca que “a proposta moral do Espiritismo, sintetizada no lema ‘fora da caridade não há salvação’, nos remete à conscientização que liberta e à bondade que inclui e acolhe, trazendo do Evangelho de Jesus os espírito da fraternidade”.

Essa obra mediúnica desenvolve temas que eram sempre presentes em comentários, palestras e textos de autoria de Yvonne A. Pereira. Contribui para estudos e reflexões relacionados com a essência da moral ensinada por Jesus.

Obra:

Paixão, Wagner Gomes. Pelo espírito Yvonne A. Pereira. O espiritismo moral. Mário Campos: Grupo Espírita da Bênção. 2020. 188p.

Informações (copie e cole):

www.grupodabencao.org.br;

atendimento@grupodabencao.org.br