Resenha – Pelos caminhos da vida. Memórias e Reflexões

Resenha

Pelos caminhos da vida. Memórias e Reflexões

Aylton Paiva

O autor Antonio Cesar Perri de Carvalho convida-nos a uma viagem pelos caminhos da vida, acompanhando-o em suas memórias e reflexões por setenta anos. Essa admirável caminhada tem marcos indeléveis relatados em três livros interligados: uma trilogia.

O marco de saída para a caminhada é bem sugestivo: Definições do Roteiro de Existência. Como diz o autor: “O assunto – família – perpassa nossos registros”. Relata a saga dos imigrantes da família Perri e seus descendentes revelando uma família que sofreu muito, lutou muito, em um clima de união, solidariedade, acolhimento, cuidados e alegrias, e o cultivo de tradições. Por revelação mediúnica (Divaldo Franco), o tio Lourival Perry Chefaly escreveu: “Nossos vínculos, que remontam de longínquo passado, têm se mantido através dos séculos, permitindo-nos o ir-e-vir das reencarnações, saindo das trevas para a luz.” Os fortes laços familiares marcaram o pequeno Cesar e após, como espírita estudioso e de ação, viria a se dedicar, juntamente com a esposa Célia, ao trabalho em prol dos fundamentos, dinâmica e valores da família pela ótica espírita.

Por sua iniciativa surgem estudos e seminários sobre a família, desde jovem com a Mocidade Espírita e na sequência em atuações na USE de Araçatuba e na Regional, na União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, culminando com o lançamento nacional da Campanha Viver em Família, pelo Conselho Federativo Nacional da FEB.

Embora a mãe Josefina tivesse tido alguns contatos com fatos espíritas, a família era tradicionalmente católica. Narra Cesar: “na faixa dos oito anos de idade, para espanto e preocupação da família ele começou a ter falas estranhas que se repetiam de maneira inconsciente, inclusive em alguns ambientes com presença de muitas pessoas. Ao recobrar a consciência tínhamos – e mantemos até hoje – apenas a lembrança de cenas bem vivas e coloridas: uma delas estávamos envolvidos na tragédia de erupção vulcânica de Pompéia (ano 79 d.C.)”. Reminiscência de vivências na Roma Imperial, reafirmadas diversas vezes em outras situações.

Os familiares levaram-no a médicos especializados que nada diagnosticaram. Pela repetição dos episódios, sua mãe, por conselho de amigas, levou-o a ter assistência de religiões espiritualistas e, posteriormente, de grupos espíritas. A criança Cesar, pelas circunstâncias, leva a mãe Josefina, ou Dona Bebé, como carinhosamente era chamada, e outros familiares ao centro espírita.

Essa aproximação não foi ao acaso, para Cesar e familiares, pois estes se tornaram dedicados trabalhadores e divulgadores da seara espírita. Após a graduação como odontólogo, é convidado a compor o quadro de professores da Faculdade de Odontologia de Araçatuba e torna-se cirurgião bucomaxilofacial. Além desse campo específico, sua preocupação era ampla no quadro da educação e, por consequência, chegou até ao cargo de Pró- Reitor da Universidade Estadual Paulista (UNESP). Mercê da sua capacidade também foi convidado a funções de assessoria e consultoria em órgãos educacionais do Governo Federal.

Concomitantemente, Perri também se destacava no movimento espírita juvenil por seu dinamismo, liderança e inovação nas ações. Na caminhada natural, ele assumiu sucessivamente cargos de presidente da União Municipal Espírita de Araçatuba, atuação no Conselho Regional Espírita de Araçatuba, presidente da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, diretor e posteriormente presidente da Federação Espírita Brasileira (também naturalmente do Conselho Federativo Nacional da FEB). Foi solicitado a participar do Conselho Espírita Internacional ao lado de Nestor João Masotti.

Desde jovem relacionou-se com Francisco Cândido Xavier, com visitas periódicas que a ele fazia, juntamente com a dedicada consorte Célia, que sempre os recebeu com muito carinho e atenção. Da mesma forma, com o médium Divaldo Pereira Franco seu contato foi intenso e até mais íntimo; Dona Bebé, sua mãe, hospedou o admirável tribuno e, depois de algum tempo, ele e esposa eram anfitriões de Divaldo. Manteve contatos com Yvonne do Amaral Pereira; mais tarde, já presidente da FEB, colaborou no resgate para publicação de livros inéditos por ela psicografados.

A caminhada para Cesar Perri, como é natural em um planeta de provas e expiações, não foi fácil. Tendo assumido a presidência da FEB, primeiro interinamente, em virtude da doença do presidente Masotti, e depois, efetivamente, deparou-se com alguns graves problemas de natureza administrativa e financeira que lhe exigiram enérgicas e prontas providências. Em abril de 2014, de modo inovador, ocorreriam reuniões do 4º Congresso Espírita Brasileiro, desdobradas nas quatro regiões do CFN da FEB. Para cooperar na organização desse Congresso, o presidente Cesar solicitou a participação do eficiente trabalhador José Antonio Luiz Balieiro, ex-presidente da USE-SP. Apesar do sucesso do Congresso, com a descentralização realizada, algumas Federações da Região Sul não concordaram com a competência atribuída a assessores designados pelo presidente do CFN da FEB, e começaram traçar planos de ação para manifestar o descontentamento, se articulando com alguns diretores da FEB para que na próxima eleição houvesse uma chapa concorrente aos cargos. O que não era usual até então. Na eleição da nova diretoria da FEB, realizada em 21/03/2015, o Conselho Superior, composto por sócios pessoas físicas, rejeitou a chapa encabeçada por Perri, elegendo a chapa concorrente. Findava-se sua ação de presidente na FEB e de seu CFN.

Muitos foram os testemunhos de solidariedade a Perri da parte de lideranças e dos gestores do movimento de unificação espírita do Brasil e do exterior. Perri sofre, não se abate, continua em suas atuações no movimento, retornando às bases, no contato solidário e fraterno. E prossegue em sua condição de claro e lúcido expositor e escritor de obras espíritas que pesquisam, esclarecem e orientam.

Ao final da “caminhada pela vida”, reflexionamos com o autor: “combateu o bom combate”, contudo não acabou a carreira e sempre guardará a fé. Citou Paulo, 2 Timóteo,4:7.

Pelos Caminhos da Vida. Memórias e Reflexões. Cocriação Editora, Junho de 2021; cocriacaobencultural@gmail.com

Extraído de:

Dirigente espírita. Órgão da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo. Ano 32. N. 185. Setembro-outubro de 2021. P.62-63:

copie e cole: https://usesp.org.br/wp-content/uploads/2021/08/DE185.pdf