O Evangelho e seu significado na evolução

O Evangelho e seu significado na evolução
Tema do I Colóquio Bahia-Mundo de Espiritismo

A Federação Espírita do Estado da Bahia promove o I Colóquio Bahia-Mundo de Espiritismo, dentro do XVI Congresso Espírita da Bahia, entre 30/10 e 2/11/2015.

Contando com um rol de expositores convidados, inclusive do GEECX, haverá o desenvolvimento o oportuno estudo do tema “O Evangelho e seu significado na evolução”, tendo Simone Figueredo, como Coordenadora.

A referida coordenadora do tema distribuiu uma sugestiva pauta de reflexões para os expositores. Vale a pena a reflexão sobre o temário.

Destacou Simone Figueredo alguns pontos para estudo e debate para a melhor compreensão do “Evangelho e seu significado na evolução”: “Que significado tem o Evangelho no contexto da evolução? Há orientações no Evangelho que podem nos levar à superação do estágio humano?

O Espiritismo se propõe a vivência do pensamento de Jesus. Como espíritos que somos, o que podemos realizar com os seguintes “mandamentos”?

  1. “Sede vós pois perfeitos, como perfeito é o vosso Pai que está nos céus.”

(Mateus 5: 48)

O que entendemos por perfeição? Acreditamos neste estágio na condição humana?

  1. “Bom Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna?… Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e  vem, e segue-me!” (Mateus 19:16  e 19:21).

– Até que ponto somos capazes de abdicar dos bens terrenos? É possível desfrutar da riqueza material e alcançar o reino do céu? O que significa a vida eterna?

  1. “Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros, e que, assim como eu vos amei, vos ameis também uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros.” (João 13:35)

“Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.” (João 15:13)

– Como estamos vivenciando o amor nas relações? Podemos alcançar o ideal de “um só pensamento e um só coração”?

  1. "Pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele passará. Nada vos será impossível" (Mateus 17.20).

“Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai.” (João 14:12)

– Acreditamos em nosso potencial? Como vivenciar esta afirmação no cotidiano?

O que pensamos sobre a vida em comunhão com Deus? O que fazemos para desfrutar deste estado? O que podemos pensar sobre a estrutura de uma sociedade humana baseada nos princípios do Evangelho? O que será possível realizarmos como comunidade espírita centrada no Evangelho para renovar as estruturas sociais vigentes?”

O XVI Congresso Espírita da Bahia faz uma oportuna inovação estimulando para que os integrantes do grupo temático pensem em cada um dos itens/perguntas.

Aliás, é o tipo da reflexão e estudo que deveria se ampliar nas instituições e no Movimento Espírita.

Equipe GEECX

“SUPERINTERESSANTE” ANALISA TRÊS PSICOGRAFIAS DE CHICO XAVIER.

 

3 cartas inacreditáveis que Chico Xavier psicografou

Analisamos três cartas psicografadas por Chico Xavier em busca de elementos que o médium não poderia saber sobre os mortos. E ele se saiu muito bem.

Por Redação Super Atualizado em 25/09/2015

 

Texto: Sílvia Lisboa

Durante mais de 60 anos, Chico Xavier confortou pessoas desconsoladas de todo o Brasil em busca de notícias de seus parentes mortos. Teria mantido comunicação com milhares de espíritos e psicografado suas mensagens, recheadas de informações íntimas, nomes de parentes e condições da morte que só as famílias reconheciam.

Veja abaixo três cartas cheias de detalhes sobre a vida dos mortos, que o médium não teria como saber.

1. O menino que se despediu da família

Morto aos 3 anos, depois de cair de bicicleta, o pequeno Rangel teria escrito uma carta à mãe, Célia, e ao pai, Aguinaldo, psicografada por Chico Xavier, um ano após sua morte. Como morreu antes de ser alfabetizado, sua carta traz uma caligrafia de traços infantis, de quem começa a desenhar as letras. A mãe lembra que, antes de Chico ler a carta de Tetéo, em uma reunião no Centro Espírita da Prece, em Uberaba, um médium ao seu lado lhe disse: "Seu filho está aqui, correndo, e a toda hora vem lhe abraçar. Agora, ele está escrevendo a carta com a ajuda do avô", informação mencionada na mensagem escrita por Chico.

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Reprodução

Trecho 1

Querido papai Aguinaldo e querida mamãe Célia, com vovó Lia. Sou eu o Tetéo (A) . Estou com o meu avô Lico (B) e com a minha tia Gilda (C). Vovô me auxilia a escrever porque estou aprendendo. Estou vendo a tia Lé (D)

Trecho 2

Eu estou vivo e vou crescer. Estou aprendendo a escrever só para dizer ao seu carinho e ao carinho da mamãe Célia que não morri (E).

Trecho 3

Vou aprender muitas coisas e muitas lições para saber escrever melhor. Mas já estou mais adiantado que a Mariana (F) e creio que o Aguinaldinho (G) ficará satisfeito. Papai, mamãe, Vó Lia e Tia Lé, não posso escrever mais porque fiquei cansado de fazer letras. Mas quando eu puder, voltarei. Estou com muitas saudades (…)

Informações que Chico desconhecia

A. O apelido do pequeno Rangel era Tetéo.

B. Vô Lico era como Tetéo chamava o seu avô materno, Manoel Diniz, morto em 1979, que presidiu o Centro Espírita Luiz Gonzaga, fundado por Chico, em Pedro Leopoldo.

C. Tia Gilda era uma tia do pai de Tetéo, Aguinaldo. Ela morreu em 1954. O próprio Aguinaldo se lembrava pouco da tia, que faleceu quando ele tinha apenas 4 anos. Tetéo, claro, não a conheceu.

D. Tia Lé era uma amiga da família que estava na reunião no dia que supostamente o espírito de Tetéo teria escrito a carta.

E. Célia, a mãe de Tetéo, fazia perguntas a si mesma, no íntimo, sem compartilhá-las, sobre a morte do caçula. Uma delas era a dúvida se Tetéo continuaria seu desenvolvimento, interrompido tão precocemente – pergunta respondida na mensagem.

F. Mariana era a irmã de Tetéo. Chico podia até saber disso porque era amigo da família, mas Tetéo menciona uma característica da irmã só conhecida pelos mais próximos: que a garota não era tão aplicada nos livros.

G. Aguinaldinho era o irmão mais velho de Tetéo, conhecido por ser o CDF da família, com quem Tetéo se compara na carta.

 

2. O professor influente

Nascido em 1862, Arthur Joviano foi um educador brasileiro conhecido no final do século 19 por ter liderado a primeira reforma no ensino primário de Minas Gerais. Era professor de português e autor de livros pedagógicos. Após sua morte em 1934, ele teria voltado a fazer contato com a família através de Chico Xavier que, na época, era subordinado de seu filho, Rômulo, no Ministério da Agricultura. As cartas de Arthur Joviano marcaram o início da psicografia do médium mineiro e resultaram no livro Sementeira de Luz, com 670 páginas. A mensagem abaixo é de 13 de janeiro de 1941.

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Trecho 1

Meus caros filhos e queridos netos, seja a paz de Deus a alegria de vocês todos.Na visita afetuosa de sempre, renovo-lhes minha dedicação de cada dia. Durante quase todo o dia em que se comemorou seu aniversário, minha bondosa Maria (A), estive ao seu lado com os votos paternais de muito amor, pedindo a Deus por sua saúde e tranquilidade. À noite, sua e nossa amiga Helena (B) trouxe muitas flores. Você não as viu, mas recebeu-lhes o perfume no coração. (…)

Trecho 2

Agora que vocês se dispõem a viagens (C) novas, fiquem convencidos de que repartirei o tempo disponível entre as duas zonas opostas – norte e sul. Lembram nossa troca de ideias quando se organizavam para a primeira viagem à Fortaleza? Como veem, as experiências se repetem, apenas com a renovação dos detalhes. Estimo que Roberto (D)

Trecho 3

(…) aproveite bastante. Há sempre o que aprender no livro diário da experiência humana. Em face do "êxodo", penso nas galinhas dele e recomendo não se esquecer de recordar os que ficam. Não preciso dizer da necessidade das aves na rotina habitual dos serviços da casa. Creio que, de todas as expressões domésticas, em nos referindo a animais menores, são as aves que mais falta sentem das mãos que as assistem. Relativamente a você, Wanda, não se inquiete com respeito ao rosto (E). Havemos de auxiliar a passar esta "ponte" de dificuldades naturais. Trate-se direitinho. (…)

Informações que Chico desconhecia

1. Maria é nora de Arthur, mulher de Rômulo, seu filho, e mãe de Roberto e Wanda.

2. Helena era amiga de Maria e de suas irmãs e que morreu muito jovem.

3. Maria e Rômulo, que viviam em Pedro Leopoldo, estavam planejando ir ao Rio visitar a família Joviano que lá residia.

4. Roberto é neto de Arthur, filho de Rômulo e Maria.

5. Wanda é sua neta, irmã de Roberto, que na época estava com um problema de pele.

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Informações que Chico desconhecia

A assinatura feita por Chico bate com a assinatura de Arthur em documentos oficiais.

3. O filho que não quis partir

Quarto filho de Aníbal e Adélia Figueiredo, William nasceu em Belo Horizonte, em 1924. Aos 17 anos, ingressou no Exército, quando ficou doente por causa de um calo infeccionado. Passou meses a fio no hospital, mas a infecção progrediu para uma gangrena irreversível que o levou à morte em setembro de 1941. Apenas um mês depois, supostamente, o espírito de William começou a enviar cartas psicografadas por Chico Xavier à sua mãe e não parou mais até a morte da matriarca, na década de 1980. 

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Trecho 1

Querida mamãe, peço ao seu bom coração me abençoe e, por minha vez, rogo a Deus que nos ajude a vencer suas lutas de sempre. Sua alma sensível continua atravessando o perigoso mar das provas e prossigo ao seu lado, somando, quando lhe faltam, forças no leme para a condução do barco, sei como lhe dói a tempestade dos últimos dias. Para o espírito materno, as nuvens do horizonte dos filhos são sempre mais pesadas e mais tristes. Multiplicam-se as dores, os receios, as aflições (A)

Trecho 2

Entretanto nesse pedido, eu desejo apelar para o Wilson (B) para que ele transforme o caminho, melhorando-o. Diga-lhe, em nome de minha dedicação fraternal, que a vida humana é um eterno aprendizado divino do qual não nos desviaremos sem graves consequências. Ele (Wilson) agora é casado, é esposo e é pai. O Divino Senhor, que eu percebo melhor presentemente, conferiu-lhe deveres verdadeiramente sagrados. Lourdes (C) e o filhinho constituem-lhe agora um sublime propósito ao qual está preso por laços sacrossantos. Não é justo que se perca,

Trecho 3

Através de aventuras, complicando o futuro (D) e perdendo os melhores anos da existência. (…) Como lhe acontece, estou também preocupado com ele. Quisera voltar aos nossos com a experiência que hoje possuo a fim de despertá-los para a senda leal do espírito (…)

Trecho 4

Estou ajudando na procura do caderno perdido (E). De qualquer forma, não se incomode. A maior mensagem que eu lhe posso dar é a do meu coração e esse está constantemente ao lado do seu. Agradeço pelas maravilhosas lembranças (…)

Informações que Chico desconhecia

1. Dona Adélia, mãe de William, estava preocupada com o futuro do primogênito Wilson, que era dado à boêmia e gostava de jogos.

2. Irmão mais velho de William.

3. Mulher do irmão de William.

4. William menciona que sabe que o irmão está mesmo "se perdendo em aventuras".

5. É o caderno no qual Chico Xavier escreveu as mensagens de uma tia da família, chamada Margarida. Foi nele que William teria escrito sua primeira carta à mãe, psicografada pelo médium na madrugada de 25 de setembro de 1942, primeiro ano da morte do jovem.

 

Leia mais:

http://super.abril.com.br/historia/3-cartas-inacreditaveis-que-chico-xavier-psicografou

http://boletimsei.blogspot.com.br/

Kardec é a Base

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Outubro é assinalado pela data natalícia de Allan Kardec – dia 3 -, e, tradicionalmente há muitos eventos alusivos ao Codificador durante todo o mês.

O trabalho do Codificador é de fundamental importância. As Obras Básicas e inaugurais da Doutrina Espírita – O livro dos espíritos, O livro dos médiuns, O evangelho segundo o espiritismo, O céu e o inferno e A gênese, efetivamente representam a base e devem ser o ponto comum, de convergência, do Movimento Espírita.

Em 2012, num fato histórico a FEB, além dos já existentes ESDE e o EADE, foram implantados os cursos sobre os cinco livros básicos na sede em Brasília e na sede histórica no Rio de Janeiro. No mesmo ano foi criado o NEPE – Núcleo de Estudo e Pesquisa do Evangelho da FEB, e, que até o início de 2015 efetivou seminários e programas pela TVCEI e pela atual FEBtv, gerando a instalação de núcleos de estudo do Evangelho à luz do Espiritismo em vários Estados.1

No ano de 2014, houve grande ênfase no Sesquicentenário de O evangelho segundo o espiritismo. Foi marcante a bem sucedida experiência da realização do 4º. Congresso Espírita Brasileiro – tendo como tema central esta obra -, e efetivado simultaneamente em quatro regiões com expressivo número de participantes presenciais e virtuais, em função das transmissões ao vivo. A FEB Editora lançou obras de Kardec, em grande tiragem, em parceria com as Federativas Estaduais; a obra histórica: a 1ª. edição de Imitação do evangelho segundo o espiritismo, em versão bi-língue e mais alguns livros relacionados com a interpretação e o estudo da obra sesquicentenária.1,2

Muitas comemorações foram efetivadas em todo o país. Especificamente a USE-SP promoveu 150 comemorações em várias regiões do Estado num único dia (21/9/14).

Neste ano de 2015, há comemorações pelos 150 anos de O céu e o inferno, com eventos em todo o país.

Durante o 3º Encontro da Área de Comunicação Social Espírita do CFN da FEB, em maio de 2015, houve o lançamento da campanha Comece pelo Começo, que foi aprovada pelo CFN da FEB, em reunião de novembro de 2014.Historicamente, o lançamento original dessa campanha ocorreu em São Paulo, em 1972, pela USE na Capital, e, em 1975, pela USE Estadual. A campanha foi idealizada por Merhy Seba. O foco da campanha é a valorização das obras da Codificação Espírita – de Allan Kardec, como indicação ao estudo e conhecimento da Doutrina Espírita, consubstanciados em O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese.3,4

O espírito Emmanuel escreveu uma série de livros alusivos por ocasião do então centenário de cada Obra Básica: Religião dos espíritos, Seara dos médiuns, livro da esperança, Justiça divina.

O espírito Bezerra de Menezes é muito claro na mensagem “Unificação”, na qual dedica sete parágrafos ao Codificador e define Kardec como a base.

“Seja Allan Kardec, não apenas crido ou sentido, apregoado ou manifestado, a nossa bandeira, mas suficientemente vivido, sofrido, chorado e realizado em nossas próprias vidas. Sem essa base é difícil forjar o caráter espírita-cristão que o mundo conturbado espera de nós pela unificação” – Bezerra de Menezes (“Unificação”, psicografia de Chico Xavier, 1963).5

 

Referências:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Divulgação do Evangelho. Revista digital O Consolador. Ano 9 – Nº 433 – 27/9/2015. Acesso: http://www.oconsolador.com.br/ano9/433/ca1.html

2) O evangelho segundo o espiritismo. Reformador. Editorial. Edição de abril de 2014. P.194.

3) Campanha Comece pelo Começo, em todo o Brasil. Acesso: http://grupochicoxavier.com.br/category/noticias/page/3/

4) Informações sobre a Campanha: merhyseba@ig.com.br

5) EQUIPE SECRETARIA-GERAL DO CONSELHO FEDERATIVO NACIONAL. (Resp. Equipe: Antonio Cesar Perri de Carvalho.) Orientação aos Órgãos de Unificação. Cap. VI. Acesso: http://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2012/06/Orientacao-aos-Orgaos-de-Unificacao-sem-corte-1.pdf

O SACRIFÍCIO DE ESTEVÃO

J. Martins Peralva

 

“Então, ajoelhando-se, clamou em alta voz: Senhor, não lhes imputes este pecado.” – Atos, 7:60.

 

O comportamento de Estêvão, no supremo instante do martírio, constitui um dos mais tocantes episódios da História do Cristianismo, narrado em Atos dos Apóstolos e descrito com rara beleza em Paulo e Estêvão, majestoso romance que Emmanuel nos ofertou, por monumento extraordinário, através da mediunidade ímpar de Francisco Cândido Xavier.

Saulo, que a Visão de Damasco transformaria, oportunamente, em Paulo de Tarso, hercúlea figura dos fastos evangélicos, comandava o massacre do moço grego, no apedrejamento cruel. Cenário: o pátio do Templo.

Saulo que, di-lo a narrativa de Lucas, “assolava a igreja, entrando pelas casas e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere”.

Há muita literatura, religiosa e não religiosa, aconselhando o perdão, louvando a misericórdia, exaltando o espírito de renúncia, concitando-nos ao amor para com os adversários.

A experiência de Estêvão, contudo, é bem diferente.

É a própria vítima, cruelmente apedrejada de todos os ângulos, que intercede pelos desumanos algozes, junto à Divina Misericórdia: Senhor, não lhes imputes este pecado.

É um jovem, quase uma criança, no verdor dos anos, inflamado de ternura, convertido num monte de carne ensanguentada, o belo rosto dilacerado pela pedras, que sobrepõe o entendimento, que gera o perdão sublime, à sua própria amargura, buscando compreender, na justificação carinhosa, o espírito voluntarioso, embora sincero, de outro moço, noivo de sua irmã, que defende princípios de justiça que a Mensagem do Carpinteiro de Nazaré indicava como respeitáveis, mas contrários à suavidade dos Céus.

As escrituras falavam, realmente, de justiça.

E Saulo, ardoroso defensor da Lei Antiga, fiel servidor de Moisés, assimilara-lhe a interpretação dogmática, nos encontros do Sinédrio, o famoso tribunal israelita, onde a hegemonia da letra, em detrimento do espírito, era uma constante nas longas discussões de rabinos eruditos.

Estêvão, alma sensível, coração meigo e delicado, conhecia, desde as primeiras horas da existência, no lar em Corinto, a mensagem antiga, cultivada com acendrado amor por seus honrados e nobres antepassados; sua alma, todavia, sublimava-se em manifestações de ternura e bondade, de que se opulentavam os ensinos de Jesus.

Na concepção de Saulo, matar aquele moço, irresistível e fascinante em sua humildade, significava extinguir a influência do Carpinteiro Galileu.

Estêvão, no entanto, entendia que se imolar por amor a Jesus, simbolizado na mensagem de eterna ressurreição por Ele trazida, significava a glória maior para um ser humano: oferecer tributo de reconhecimento àquele que viera ao mundo para redimi-lo.

Saulo era, assim, o paladino da Justiça.

Estêvão, o suave jardineiro do Amor.

O primeiro, vinculado à tradição, apegara-se a Moisés, o enérgico legislador hebreu, que se lhe instalara no cérebro privilegiado, incendiando-lhe o coração na arena dos conflitos religiosos.

O segundo, respirava paz interior. Alimentava-se no clima de Amor com que o Mestre aquecera a Terra, desde o primeiro momento da manjedoura singela.

Saulo queria a morte de um homem, em sua expressão corpórea, na ilusão de que se perderiam com ele, no pó da sepultura, eternos conceitos de fraternidade.

Estêvão aceitava o desprendimento físico, a libertação do Espírito, na certeza de que a Imortalidade brilharia em favor dos homens, para todos os tempos, em função dos sublimados ideais que o Divino Emissário, sacrificado à ira humana aos trinta e três anos, deixara na Terra como régio presente do Céu.

A morte de Estêvão, em circunstâncias extremamente bárbaras, enfrentada com um estoicismo que somente mais tarde Paulo viria a entender, marcaria, para sempre, o espírito e o coração daquele moço ardoroso, que, anos depois, amadurecido na luta e no sofrimento, encarnaria a mais notável figura do Cristianismo nascente.

Dos despojos de Estêvão, o jovem mártir, no pátio do Templo, nasceria o indomável Apóstolo da Gentilidade.

A vítima pedir em favor dos algozes?!…

A indagação alojara-se no espírito do moço tarsense, à maneira da semente que fecunda o trato de solo, fendido pelo golpe do lavrador, para se converter depois em frondosa árvore.

Saulo, que durante longo tempo “respirava ameaças e morte contra os discípulos do Senhor”, não resistira à lembrança do pedido de clemência de Estêvão: Senhor, não lhes imputes este pecado.

Suas últimas resistências desmoronar-se-iam na ensolarada estrada conducente a Damasco, quando, enfurecido, buscava “os homens do Caminho”, para infligir-lhes a humilhação e o açoite, o cárcere e a morte.

O gesto de Estêvão, rogando compreensão para Saulo e seus agressivos companheiros, reeditando o “Pai, perdoa- -lhes porque não sabem o que fazem”, preparava o encontro pessoal do tapeceiro de Tarso com o próprio Senhor, a quem combatia, desesperada e incessantemente.

Imolou-se, realmente, uma grande vida, no apedrejamento insano.

Dilacerou-se, na verdade, um corpo jovem, em plenitude vital, para que uma alma idealista e generosa, calejada em milenárias experiências, ressurgisse no Plano Espiritual, triunfante em sua gloriosa missão, enquanto Paulo, no Plano Físico, nascia para a Verdade e a Luz.

Milhões de almas, espalhadas nos continentes terrestres, recolhem, hoje, as bênçãos da semeadura evangélica, realizada com destemor pelo ex-verdugo dos cristãos – semeadura que revelava não apenas a sabedoria de suas inolvidáveis epístolas, a ação valorosa e constante no disseminar as claridades da Boa-Nova, mas, igualmente, plena identificação com os ideais do Senhor: Já não sou eu quem vive, mas o Cristo que vive em mim!

Quem ama, perdoa.

Estêvão amava a Jesus, a Saulo, a humanidade inteira.

Só o amor, em sua mais elevada expressão, pode conduzir-nos aos páramos da Glória Imarescível.

Fonte: Reformador, ano 88, n. 3, mar. 1970, p. 11(55)-12(56).

Guillon Ribeiro – Visão e ação

Guillon Ribeiro, há 76 anos, em palestra proferida no ano de 1939 discorreu sobre a finalidade da FEB, com a percepção de "casa espiritual" e seu papel nos laços de fraternidade e da caridade sob a proteção da "árvore do Evangelho".

Os 140 anos de nascimento de Guillon Ribeiro foram comemorados entre janeiro e março de 2015 em São Luís (sua terra natal) e nas dependências da FEB em Brasília, Rio de Janeiro e Santo Antônio do Descoberto.

Guillon foi tradutor de várias obras, presidente da FEB (1920-1921 e 1930-1943) e durante sua gestão, com atuação de Manuel Quintão, ocorreu o apoio e o início das publicações das obras de Chico Xavier.

Homenagem do GEECX

Acesse:

– A palestra de 1939     (Acesso ao arquivo: Guillon-FEB-jan.1939);

www.youtube.com/watch?v=ojLP8XpCfLs

http://www.souleitorespirita.com.br/reformador/noticias/guillon-ribeiro-alem-das-traducoes/

DIVULGAÇÃO DO EVANGELHO

Antonio Cesar Perri de Carvalho

No final do ano de 2011, a diretoria da FEB aprovou por unanimidade a criação de um novo curso “Reunião de Estudo de O Evangelho segundo o Espiritismo”, por proposta nossa como diretor da instituição. O então presidente Nestor J.Masotti foi um entusiasta e esteve presente em algumas reuniões do citado curso, nos momentos iniciais nos primeiros meses de 2012, antes de se afastar da presidência, e depois, no final de 2013 e início de 2014, depois de retornar dos tratamentos a que se submeteu em São Paulo. Neste ínterim foi criado o NEPE, que contou até a pouco, com uma grande equipe e muitas ações diversificadas e abrangentes.

O conjunto de esforços pela difusão de O evangelho segundo o espiritismo chegou ao ponto máximo durante o ano de 2014, com as comemorações dos 150 anos de publicação do livro de Kardec, e a realização simultânea do bem sucedido 4º. Congresso Espírita Brasileiro, em quatro regiões do país, tendo o importante livro como tema básico.

Em nossos dias temos constatado em viagens e contatos que há grande interesse pelo esforço de se estudar e difundir o livro básico de Kardec.

Em diferença de poucos dias, estivemos em pontos extremos do país, em eventos relacionados com o tema do estudo do Evangelho à luz do Espiritismo.

No extremo nordeste, em Parnaíba (Piauí), depois de evento em sessão solene da Câmara de Vereadores de Parnaíba tivemos sessão de autógrafos do livro “O Evangelho segundo o Espiritismo. Orientações para o Estudo” (edição FEB) e desenvolvemos seminário sobre Estudo do Evangelho, nas dependências de uma escola, contando com a presença de representantes dos centros locais. E, na sede da Federação Espírita Piauiense, em Teresina, proferimos palestra sobre tema evangélico.

Poucos dias depois, com promoção da União Municipal Espírita de Volta Redonda foi efetivado nessa cidade do Estado do Rio de Janeiro, uma sequência de palestras e seminários onde abordamos temas similares dentro do projeto do projeto local “Evangelho para todos”.

É crescente e muito oportuno o interesse pelo estudo e pela compreensão do livro de Kardec que trata do ensino de moral de Jesus.

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“Espiritismo é Cristianismo e Cristianismo quer  dizer Cristo em nós para estender o Reino de Deus e servir em seu nome” – Emmanuel (Xavier, Francisco Cândido. Pelo Espírito Emmanuel. Livro da esperança. Uberaba: CEC. Cap. 73).

 

Informações: https://www.facebook.com/centroespiritacaridadeefe; https://www.facebook.com/UMEVOR; https://www.facebook.com/gestudoschicoxavier; www.grupochicoxavier.com.br

Junto aos simples nas montanhas da Guatemala

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Em viagem a convite da Cadena Heliosophica Guatemalteca, membro do Conselho Espírita Internacional, na condição de dirigente da FEB e do CEI, comparecemos em junho de 2014 juntamente com a esposa, a eventos na Guatemala, em sua capital Ciudad de Guatemala e na cidade de San Marcos.

Além de nossa atuação na capital, na sede da Escuela Luz y Caridad e da Obra Assistencial Bezerra de Menezes, participamos do IV Congresso Espírita Guatemalteco, com desenvolvimento de temas sobre a educação moral, e realizado em San Marcos. Esta cidade se localiza nos chamados altiplanos guatemaltecos e durante a viagem se vislumbram vários vulcões. Na região há predomínio de descendentes dos maias.

Num dia frio e chuvoso, chamou-nos a atenção que os frequentadores do Congresso, descem das montanhas, muitos a pé, e chegam aos grupos, com suas famílias. Alguns chegam com vestes típicas e com as crianças pequenas presas em suas costas. Permanecem atentos às palestras o tempo todo. Seus filhos, crianças e jovens, tiveram participação artística e doutrinária, relacionadas com o tema do evento. 

Ao cumprimentarmos ou dialogarmos com os moradores da região, sentíamos que demonstravam um grande respeito pelos visitantes. E de nossa parte sentíamos um forte impacto, motivado pela extrema simplicidade deles e as manifestações de intenso interesse pelos assuntos espíritas. Aliás, um conhecimento ancestral, ligado à tradição dos nativos – os maias -, daquele país.

Ao final, cada familia levava livros espíritas para casa, doados pela equipe do Congresso. Houve farta distribuição de livros espíritas em espanhol, ofertados pelo Conselho Espírita Internacional, e, em grande quantidade, pela Mensaje Fraternal/IDE. Esta última, há mais de 35 anos, tem efetiva atuação na região, doando livros editados em espanhol de Chico Xavier e de Allan Kardec.

Ressaltamos que o apoio aos habitantes dos altiplanos daquele país da América Central é um trabalho sistemático e continuado, de décadas, efetivado por equipes da organização espírita nacional, a Cadena Heliosophica Guatemalteca.

Essa atuação na Guatemala, como outras que participamos em vários Estados de nosso país, despertam nossa percepção para a necessidade do Movimento Espírita de chegar às bases – ao pretender atuar em todas as faixas sociais -, e, provavelmente, à grande maioria da população, ao se considerar a “pirâmide social” do país.

Torna-se oportuna a evocação das experiências do cristianismo primitivo como meios de incentivo a essas reflexões e adequações em todas as áreas de atuação. No livro “Boa Nova”, psicografado por Chico Xavier, há oportuna crônica sobre o Sermão do Monte e que antes de proferir as Bem-Aventuranças – pobres e aflitos; sedentos de justiça e misericórdia; pacíficos e simples de coração – Jesus teria dialogado com interlocutores de Cafarnaum: “É também sobre os vencidos da sorte, sobre os que suspiram por um ideal mais santo e mais puro do que as vitórias fáceis da Terra, que o Evangelho assentará suas bases divinas.”1

Também são marcantes as recomendações do Doutor da Lei – Paulo de Tarso – que se transformou em homem do povo: “Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Tudo faço por causa do evangelho, com o fim de me tornar cooperador dele” (I Coríntios, 9:22-23).

A experiência guatemalteca também nos faz meditar na epopéia de Francisco de Assis e na ação rotineira de Chico Xavier em Pedro Leopoldo e em Uberaba.

 

Fonte:

  1. Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Humberto de Campos. Boa nova. 36. ed. Cap. 11. Brasília: FEB.

Transcrito de “Revista Internacional de Espiritismo”, edição de setembro de 2015.

 

Bezerra de Menezes e Chico Xavier – O Médico e o Médium

Jorge Damas Martins (*)

 

O nobre Dr. Eurico Branco Ribeiro, a maior autoridade sobre a vida do Evangelista Lucas – Médico, Pintor e Santo -, discorre com propriedade sobre o sacerdócio na medicina, na Antiguidade e na Idade Média, no seu livro Lucas, o Médico Escravo:

Naquela época, bem como ainda no Século XV, o médico não podia casar-se. Tinha de ser celibatário. Era a tradição que assim impunha. Como é notório, o exercício da Medicina era feito pelos clérigos ou sacerdotes e esses não contraíam matrimonio. Assim, quando, ao tempo dos romanos, os escravos gregos eram encaminhados às escolas médicas, tiravam-lhes o direito de constituir família, pois deviam consagrar-se, inteiramente, a exemplo dos sacerdotes, aos cuidados assistenciais dos enfermos da carne e do espírito. Daí veio a concepção de que a prática da Medicina é um sacerdócio (capítulo 3, p. 18).

            Tal jugo foi abolido em 1452, continua o Dr. Eurico Ribeiro, numa bula apresentada pelo Cardeal Destouville na França, em que se permitia o casamento dos médicos.

            O nosso Dr. Bezerra de Menezes – o Médico dos Pobres – foi casado, e muito bem casado por duas vezes, mas concebia a Medicina como um sacerdócio, onde se podia exercer, da forma mais ampla, a divina caridade.

Bezerra, então, vai surpreender a sua tradicional família, de ricos fazendeiros, políticos e advogados, ao decidir de forma determinada o seu destino profissional: Quero ser médico!

            Alguns, porém, do seu círculo mais íntimo tentaram demovê-lo da Medicina – inclusive seu pai (A Casa Assombrada, p. 124[1]) -, e, galhofando, replicavam o provérbio citado por Jesus sobre as dificuldades de aceitação, tanto dos profetas como dos médicos em sua terra natal: Médico, cura-te a ti mesmo (Lc., 4:23). E, insistiam:

Desgraçada profissão! Pode o que adotou empenhar o maior esforço e o maior saber por salvar da morte um ente querido dos que o chamam. Desde que a Ciência não vence o mal, porque o mal, é invencível, porque as fontes da existência se têm esgotado, maldições lhe chovem em cima. Foi o médico que matou o doente! Se, pelo contrário, a força de saber e solicitude, arranca à morte e aos vermes uma vida preciosa, nenhum merecimento se lhe reconhece. Foi Deus quem salvou o doente! (A Casa Assombrada, p. 118).

            Então – continuavam – por que estudar a Medicina?

            O nosso Adolfo perseverava:

Por duas razões do maior alcance, direi eu: a primeira é que o médico goza da maior independência; e não é coisa de pouca valia ter-se garbo de abusar da sua autoridade. A segunda é que o médico, muito mais que o sacerdote, tem meios de exercer a divina caridade. Eu falo daquele que faz de sua profissão um sacerdócio, e não do que a utiliza como indústria rendosa (p. 118).

            Mais tarde, o Dr. Bezerra vai traçar com precisão cirúrgica o verdadeiro perfil da medicina missionária:

O médico, o verdadeiro médico é isto: não tem o direito de acabar a refeição, de escolher a hora, de inquirir se está longe ou perto o gemido que lhe chega aos ouvidos, a pedir-lhe, ao menos, o bálsamo da consolação, que já é suma caridade. O que não acode, por estar com visitas, por ter trabalhado muito e achar-se fatigado, por ser alta noite, ou ser mau o tempo, ou ficar muito longe e muito alto o lugar para onde é chamado; o que, sobretudo, pede um carro a quem não tem com quem pagar a receita, como meio de se esquivar ou de sondar se o chamado, lhe rende, e, na falta, diz ao que lhe chora à porta: “chame outro”; esse não é médico, é um negociante de medicina, que trabalha para recolher capital e juros do que gastou para se formar. Esse é um desgraçado, que manda para outro o anjo da caridade que lhe veio fazer uma visita e que lhe trazia a única espórtula que podia saciar a sede de riquezas de seu espírito, porque é a única que jamais perderá na carreira de suas vidas, embora os vaivéns de todas elas (Casamento em Mortalha, capítulo XV, Reformador, 1° de setembro de 1898, p. 3, col. 3).

* * *

            A Mediunidade missionária também é um sacerdócio!

            A principal referência sobre a mediunidade caritativa está alicerçada na rocha granítica das palavras do Médium de Deus, Jesus de Nazaré: De graça recebestes, de graça daí (Mt., 10:8). A única ressalva feita pelo Mestre é quando o médium se encontrar em visita fraterna ou em viagem de divulgação missionária, onde poderá receber hospedagem e comer e beber o que vos derem (Lc., 10:7). Esse é o único salário que merece o médium trabalhador.

            Chico Xavier é o maior exemplo do daí de graça

            Vejamos um pouco de história…

Na Grécia antiga a pitonisa ou médium do Templo de delfos, o mais famoso de todos, era chamada de sacerdotisa. Ela era treinada para o serviço da transmissão mediúnica passando por purificações que incluíam da abstinência sexual ao jejum.

O oráculo de Delfos funcionava em uma área específica, o adito ou área proibida, no núcleo do templo – hoje são as salas de reunião medianímica no centro espírita -, e por meio de um orientador específico, a pitonisa era escolhida para falar, como um médium de incorporação, em nome de Apolo, o deus da profecia. A pitonisa era mulher, algo surpreendente se levarmos em conta a misoginia grega. E, contrastando com a maioria dos sacerdotes e sacerdotisas gregas, a pitonisa não herdava sua posição pela nobreza de seus vínculos familiares. Ela poderia ser velha ou jovem, rica ou pobre, bem-educada ou analfabeta.

O nosso Chico Xavier foi treinado durante séculos, em inúmeras reencarnações, para o serviço da sensibilidade fenomênica. Sua entrega foi total ao serviço do mandato mediúnico, chegando mesmo à abstinência do casamento, não por restrição biológica ou preconceituosa, mas para uma dedicação exclusiva a tarefa que o Alto lhe traçou.

Escreveu mais de 400 livros, muitos best sellers, tendo todos os direitos autorais revestidos ao serviço da caridade sem limites. Não tinha hora para levantar nem para dormir, para mais servir seus semelhantes.

Ele dizia que sua felicidade era ser médium:

Eu me sinto feliz de ser obstinadamente médium. Eu gosto de ser médium, gosto dessa palavra. Quero ser médium. É tudo que eu sempre quis ser.

Não posso ser vaidoso de mim mesmo, pois tudo que fiz, não foi feito por mim, mas pelos espíritos.

Sei que a obra é de Jesus, que o serviço é do Alto, mas não ignoramos que os Mensageiros Divinos precisam de mãos humanas. (100 Anos de Chico Xavier – Fenômeno Humano e Mediúnico, p. 433)

            É, um dos Mensageiros que se serviu da mediunidade abençoada de Chico Xavier foi o Dr. Bezerra de Menezes, coordenando duas quartas partes das atividades do grande medianeiro: O atendimento médico com receituário homeopático e a chamada escola mediúnica do além, de onde os desencarnados das mais diversas procedências, viam consolar mães, pais, parentes e amigos, fortalecendo-os na fé inabalável da eternidade da vida…

Bibliografia:

Ribeiro, Eurico Branco. Lucas, o Médico Escravo.  Livraria Martins Editora, São Paulo (SP), 1974.

Martins, Jorge Damas. Os Bezerra de Menezes e o Espiritismo – A Família, o Médico, o Político, o Empresário e o Espírita. Novo Ser Editora, 1ª Edição, Rio de Janeiro (RJ), 2011.

Martins, Jorge Damas. Entrevista “Paulo, Bezerra e Chico Xavier”. Reformador, março de 2015.

Menezes, Adolfo Bezerra. A Casa Assombrada.  Editora Camille Flammarion, 2ª edição, novembro/2001, Rio de Janeiro (RJ).

Baccelli, Carlos A. 100 Anos de Chico Xavier – Fenômeno Humano e Mediúnico. 2ª edição, LEEPP – Livraria Espírita Edições Pedro e Paulo, Uberaba (MG), 2010.

——. A Casa Assombrada. Editora Camille Flammarion, 2ª edição, 2001, São Paulo (SP).

——. Evangelho do Futuro. FEB, 2009, Brasília (DF).

 

(*) – Autor do livro Bezerra de Menezes e Chico Xavier – O Médico e o Médium. Rio de Janeiro: Ed. Ideia Jurídica, 2014.

 

1] Bezerra de Menezes tinha no estudo do Direito a “sua principal distração” (Evangelho do Futuro, p. 385). Ele também escreve: “estudava diariamente por duas horas, as matemáticas, que eram meu estudo favorito” (A Casa Assombrada, p. 121).

A edificação na 1a Epístola aos Coríntios

Antonio Cesar Perri de Carvalho

A 1ª. Epístola aos Coríntios é considerada a quarta carta de Paulo e foi escrita entre os anos 52/55 d.C. quando ele se encontrava em Éfeso.1,2,3 Consta que a primeira carta (I Cor., 5:9) teria se perdido2, o que levou à elaboração desta 1ª. Epístola aos Coríntios. O autor aborda várias questões éticas e práticas, como as ligadas à conduta ética na vida diária da população daquela cidade e que estariam sendo incorporadas na agremiação cristã nascente, e, interferências de uma variedade de crenças e práticas aberrantes.2

Daí a razão do estudioso Champlin1 registrar que seria a “história de uma querela” e citar a situação dos “ataques dos legalistas, dos falsos mestres e dos detratores do apóstolo Paulo, que ameaçavam destruir não somente a obra realizada ali por Paulo, mas também a sua reputação e autoridade como apóstolo do Cristo.” Nos cultos de Corinto claramente surgiam facções, “cada uma das quais com o seu suposto líder ou herói, como Paulo, Pedro, Apolo e Jesus Cristo”1 e havia a influência dos que exaltavam dons espirituais miraculosos. Paulo destaca a fidelidade ao Cristo e incita à união.

Entre os vários temas abordados por Paulo, destacamos um trecho relacionado com a conduta e sempre lembrado e citado na seara espírita.

 

“Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas nem todas edificam.” (I Cor., 10:23)

Paulo inicia por citar o chavão da época, em Corinto: “todas as coisas são lícitas”, todavia aponta para o fato de que muitas não teriam conteúdo moral e não seriam edificantes. A colocação de Paulo se adequa perfeitamente ao mundo de nossos dias quando há predominância de ambientes de liberdade de pensamento, de contextos legais e dos meios de comunicação. A mensagem essencial da Boa Nova fortalece princípios e o cultivo de virtudes.

O versículo de Paulo é importante no contexto da Doutrina Espírita com o conceito do livre-arbítrio, dentro dos parâmetros conceitos que emanam do conhecimento de vida imortal e de reencarnação, e, dos compromissos do ser espiritual consigo mesmo e com a sociedade.

Ou seja, muito diferente das posturas do passado de proibições e condenações, a edificação ocorre com base no conhecimento e na conscientização espiritual.

Sobre o tema, entre outros comentários em diversas obras, destacamos de Emmanuel:

“Em ação espírita evangélica é preciso saber, antes de tudo, que nos achamos na edificação do Reino de Deus, a começar do burilamento de nós mesmos”.4

 

Bibliografia:

1. Champlin, Russel Norman, O Novo Testamento Interpretado: versículo por versículo. Vol. 4. Introdução, Cap.12 e 13. São Paulo: Hagnos, 2014.

2. Ryrie, Charles C. A Bíblia de Estudo Anotada/Expandida. Trad. Klassin, Susana. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2007.

3. Walker, Peter. Pelos caminhos do apóstolo Paulo. Trad. Mariz, Andréa. Introdução e Cap. 9. São Paulo: Ed.Rosari. 2009.

4. Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Bênção de paz. Cap. 42 e 47. São Bernardo do Campo: Ed. GEEM. 2010.

 

(Trecho parcial e adaptado do artigo do mesmo autor: 1a Epístola aos Coríntios – edificação, dons espirituais e amor. Revista Internacional de Espiritismo. Ano XC. N.7. Edição de agosto de 2015)

 

 

Evangelho para os simples

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Conheci o Espiritismo na infância, acompanhando minha mãe e um tio (Bebé e Rolandinho Perri Cefaly) em reuniões espíritas em Araçatuba e em Biriguí. Também participava de atividades de visitas a instituições e hospitais, quando levávamos lanches. Nos idos de 1961, adolescente ainda, acompanhei o início de funcionamento da Instituição Nosso Lar, no então bairro nascente e periférico – o loteamento do Planalto, em Araçatuba. Frequentava a reunião pública dos domingos, com explanações sobre “O Evangelho segundo o Espiritismo” e o “O Livro dos Espíritos” e passes. Lembro-me do salão bem simples, onde havia também a oferta de sopa aos frequentadores. O lugar era mesmo bem singelo, com suas salas sem forro e mobiliário recebido por doações.

Nas décadas seguintes, visitei outros ambientes que também me marcaram bastante. Um deles foi um grupo espírita dirigido por Gedeão Fernandes de Miranda, no bairro do Goulart, pioneiro do espiritismo em Araçatuba, então nonagenário. Localizava-se em um sítio, no Bairro do Goulart. Outra experiência foi assistir às reuniões de Chico Xavier, no Grupo Espírita de Prece, e participar dos atendimentos da chamada “peregrinação”, em Uberaba. Também vêm à minha lembrança o centro dirigido por Langerton Neves, num sítio de Peirópolis (MG) e o Centro Espírita Fé e Amor, fundado por Sinhô Mariano – tio de Eurípedes Barsanulfo –, na Fazenda Santa Maria, em Sacramento (MG). A simplicidade ficou em evidência, no grupo espírita de Manaquiri (AM), localizado a duas horas de barco de Manaus, e que se reunia em um ambiente tipo choupana indígena, sem energia elétrica, às margens de um pequeno rio amazônico.

Uma experiência marcante no exterior foi nossa participação no IV Congresso Espírita Guatemalteco, com temas sobre educação moral, e realizado em San Marcos. Esta cidade se localiza nos chamados altiplanos guatemaltecos e durante a viagem se vislumbram vários vulcões. Na região há predomínio de descendentes dos maias. Num dia frio e chuvoso, chamou-nos a atenção que os frequentadores do Congresso, descem das montanhas, muitos a pé, e chegam aos grupos, com suas famílias. Alguns chegam com vestes típicas e com as crianças pequenas presas em suas costas. Permanecem atentos às palestras o tempo todo. Seus filhos, crianças e jovens, tiveram participação artística e temática, relacionadas com o Congresso. Ao dialogarmos com os moradores da região, demonstravam um grande respeito pelos visitantes. E de nossa parte sentíamos um forte impacto, motivado pela extrema simplicidade deles e as manifestações de intenso interesse pelos assuntos espíritas. Aliás, um conhecimento ancestral, ligado à tradição dos nativos maias daquele país. Ao final, cada familia levava livros espíritas para casa, pois houve farta distribuição de livros espíritas em espanhol,

É assim que me permito recordar também as experiências do cristianismo primitivo como meios de incentivo a essas reflexões e adequações em todas as áreas de atuação. No livro “Boa Nova”, psicografado por Chico Xavier, há oportuna crônica sobre o Sermão do Monte e que antes de proferir as Bem-Aventuranças – pobres e aflitos; sedentos de justiça e misericórdia; pacíficos e simples de coração – Jesus teria dialogado com interlocutores de Cafarnaum: “É também sobre os vencidos da sorte, sobre os que suspiram por um ideal mais santo e mais puro do que as vitórias fáceis da Terra, que o Evangelho assentará suas bases divinas.”

Entre elas, as recomendações do Doutor da Lei – Paulo de Tarso – que se transformou em homem do povo: “Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Tudo faço por causa do evangelho, com o fim de me tornar cooperador dele” (I Coríntios, 9:22-23).

Antonio Cesar Perri de Carvalho residiu em Araçatuba até 1989. Foi presidente da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo e da Federação Espírita Brasileira.

Artigo publicado em Folha da Região, Araçatuba, 5/8/2015, p.2.