Papel de O Clarim

Papel de O Clarim

            

 

Antonio Cesar Perri de Carvalho

No dia 15 de agosto o jornal O Clarim, fundado por Cairbar Schutel, completou 118 anos de circulação ininterrupta.

Cairbar Schutel fundou em Matão o Centro Espírita Amantes da Pobreza e aos 15 de agosto de 1905 o jornal O Clarim.

Quando definia um nome para seu jornal, houve o diálogo: "Não queremos um jornal para gritar de alto e bom som que nossa profissão de fé agora é a espírita?" obtemperou alguém – "Então chamá-lo-emos "O Clarim". Que clarinadas seriam? Aquelas originárias do pioneirismo de Cairbar Schutel na Casa Editora O Clarim, de Matão, que apresenta um clarim do Espiritismo sobre o mundo.

Destacamos que Cairbar de Souza Schutel (1868-1938) foi destacado cidadão radicado em Matão (SP), tendo atuado como farmacêutico, primeiro Prefeito Municipal da cidade, histórico pioneiro e divulgador espírita. Era conhecido com o título de "O pai dos pobres", pelo fato de doar remédio de graça aos carentes e utilizava sua própria casa para acolher doentes. Conquistou o respeito da população da cidade e região, superando muitas perseguições de natureza religiosa.

Em 1925 lançou a Revista internacional de espiritismo. A RIE desde os tempos iniciais divulgou textos de autoria de lideranças espíritas de várias partes do mundo. Cairbar Schutel mantinha correspondência com Léon Denis, Gabriel Delanne, Oliver Lodge e outros luminares dos estudos e pesquisas espíritas.

Editou dezenas de livros e foi autor de outro tanto.

Representantes de O Clarim viajavam pelo interior do Estado de São Paulo, inclusive para Araçatuba, nossa terra natal, nos tempos de Benedita Fernandes, para propagação do Espiritismo e divulgação dos livros e periódicos editados em Matão.

O dinamismo de Schutel aparece em registros de ações diversas: apoiou a Coligação Pró-Estado Leigo (1931); criou entidade que pode ser considerada predecessora de ações de união, a Associação Espírita de Propaganda do Estado de São Paulo (1931); iniciou a ação de divulgação sobre imortalidade da alma por ocasião do dia de finados; proferiu aos domingos, as conhecidas quinze "Conferências Radiofônicas", através da Rádio Cultura PRD-4, de Araraquara (1936-1937); compareceu à Semana Metapsíquica de São Paulo em 31 de março de 1937, oportunidade em que conheceu pessoalmente Chico Xavier e ocorreu uma célebre psicografia especular em inglês, assinada por Emmanuel, por intermédio do médium mineiro.

E, sem dúvida, as polêmicas que mantinha com adversários do Espiritismo; as distribuições de O Clarim por ocasião de “finados”; resenhas de livros; noticiário bem variado.

Há pouco, a centenária “dona Ziza” (Adalgisa de Lourdes Antunes), que completou 100 anos em julho de 2023, relatou contatos que teve com Cairbar Schutel, em Matão:

“ ‘Seu’ Schutel, abrindo-me as portas para que, no verdor dos meus 13 ou 14 anos, logo após minha formatura no Colégio São José, eu tivesse meu nome recomendado para trabalhar na Editora, mais especificamente na Redação (aliás, ‘Redacção’, conforme consta na antiga placa ainda afixada à entrada do prédio, hoje Memorial Cairbar Schutel, em Matão), em atividade burocrática utilizando a datilografia e os demais conhecimentos adquiridos no Colégio”.

De nossa parte, colaborador como articulista de O Clarim e da RIE, há mais de 50 anos, reconhecemos que as atividades de Matão fundadas por Cairbar Schutel representam um marco na história do Espiritismo. Muitas vezes recorremos a O Clarim para obter registros históricos e informações sobre ações de vários vultos. Inclusive nosso livro Benedita Fernandes. A dama da caridade, contém muitas informações que obtivemos do tradicional jornal criado por Schutel. Graças a O Clarim, obtivemos valiosas informações que foram utilizadas nessa biografia.

Esse fato aponta sobre a importância de registros escritos da imprensa espírita.

Além de divulgar a Doutrina Espírita, Schutel alimentava os leitores com notícias do movimento espírita do Brasil e de vários países.

Daí nosso respeito, homenagem e gratidão ao nobre vulto e à suas obras pioneiras.

Fontes:

- Entrevista com Dona Ziza Rosito – Trechos extraídos de: Boletim de Notícias do Movimento Espírita – Ismael Gobbo.

- Carvalho, Antonio Cesar Perri. Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. Araçatuba: Cocriação. 2021. 632p.

Dirigente Espírita e O Céu e o Inferno

Dirigente Espírita e O Céu e o Inferno

            


A revista digital Dirigente Espírita, órgão da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo enfatizou o livro O Céu e o Inferno, na edição de julho/agosto de 2023:
“No mês de agosto comemoramos os 158 anos de O Céu e o Inferno, quarta obra da codificação de Allan Kardec.
A 1ª obra é O Livro dos Espíritos, que inaugura o Espiritismo sobre a face da Terra. Em seguida, vem O Livro dos Médiuns e O Evangelho segundo o Espiritismo.
Na Palavra da Presidência, Rosana Gaspar aborda o referido livro que relata a situação do Espírito durante e depois da morte, assim como a consequência das atitudes, quando encarnado e como atua a justiça divina.
Cesar Perri faz uma apresentação do conteúdo de O Céu e o Inferno, sob o título “E os futuros “céu” e “inferno”?
Focando a obra O Céu e o Inferno, Luiz Monteiro aborda o tema o céu e o inferno e a valorização da vida: no plano físico e espiritual, Ana Maria de Souza sobre o estudo aprofundado de O Céu e o Inferno;
Uma boa leitura! Julia Nezu – Editora”


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“No mês de agosto, o livro O céu e o inferno ou a Justiça Divina segundo o Espiritismo completa 158 anos do seu lançamento. Obra fundamental que tem como objetivo principal relatar a situação do Espírito durante e depois da morte, assim como a consequência das atitudes, quando encarnado, e como atua a justiça divina. Este assunto praticamente foi proibitivo por muitos anos no meio acadêmico, sendo considerado qualquer pesquisador interessado no assunto, um místico e assim, desprezado.”
Transcreve trecho do livro:
“Cada um desses exemplos é um estudo, onde todas as palavras têm o seu valor para aquele que nelas refletir com atenção, porque de cada ponto brilha uma luz sobre a situação da alma após a morte, e sobre a passagem, até aqui tão obscura e tão temida, da vida corporal para a vida espiritual (O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina segundo o Espiritismo- Kardec, Allan/ Noleto Bezerra, Evandro, 2. ed. Brasília: FEB, 2013. Prefácio).
Se a casa espírita ainda não estudou, este é um bom momento para conhecer, refletir e divulgar esta obra tão importante, mas desconhecida até no meio espírita, O Céu e o Inferno.”
Rosana Amado Gaspar – presidente da USE-SP.
Fonte (copie e cole):

https://usesp.org.br/wp-content/uploads/2023/08/reDE-196-julho-agosto-2023.pdf

Estudo de casos de estados de alma

Estudo de casos de estados de alma

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Allan Kardec viveu em período de avanços culturais e científicos, entremeados com problemas políticos e profundos impasses no âmbito da religião. Nesse complexo contexto e com seu preparo intelectual cumpriu o papel de elaborador humano de um conjunto sistematizado de informações espirituais originando o Espiritismo.

Sabe-se que as obras do Codificador surgem no momento de um grande esforço espiritual para se restabelecer a fé, e, em bases racionais. Entre as obras básicas, há 158 anos surgia O céu e o inferno ou a Justiça Divina segundo o Espiritismo. Na edição de julho de 1865 a Revista espírita anunciava a disponibilidade para o dia 1o/08/1865, de O céu e o inferno, a nova obra de Allan Kardec.1

Essa Revista informa no mês seguinte em “notícias bibliográficas”: “O título desta obra indica claramente o seu objetivo. Nela reunimos todos os elementos destinados a esclarecer o homem quanto ao seu destino. Como em nossas publicações anteriores sobre a Doutrina Espírita, nada colocamos neste livro que seja produto de um sistema preconcebido ou de uma concepção pessoal, que, aliás, não teria nenhuma autoridade. Tudo foi deduzido da observação e da concordância dos fatos”.1

Essa frase também constava no Prefácio da obra por ocasião do seu lançamento, que ficou ausente na 4a edição francesa (1869) e em muitas traduções.2

Em novembro de 1865, a Revista espírita contém o seguinte comentário: “Quem quer que tenha lido e meditado nossa obra O céu e o inferno segundo o Espiritismo e, sobretudo, o capítulo sobre o temor da morte, compreenderá a força moral que os espíritas haurem em sua crença, diante do flagelo que dizima as populações.”1

Na 1a Parte de O céu e o inferno dispõe-se do exame comparado de diversas crenças sobre: o porvir e o nada; temor da morte; céu; inferno; purgatório; as penas futuras segundo o Espiritismo; anjos; demônios; intervenção dos demônios nas modernas manifestações. Dentro do capítulo “as penas futuras segundo o Espiritismo”, há comentários de fundamental importância sobre o “código penal da vida futura”. Kardec pondera que não “formula um código de fantasia no que respeita ao futuro da alma”, mas deduz a partir “das observações de fatos”2.

Evidentemente que dentro dessa visão naufragam as teorias das penas eternas e de seus desdobramentos com a adoção de penitências, indulgências e dos complexos de culpa. Para fundamentar a nova visão, na 2a Parte, Kardec analisa estados de alma com base nas comunicações de espíritos desencarnados. Há registros de numerosos casos de manifestações espirituais que sustentam a teoria. Kardec detalha algumas circunstâncias, lembrando que “a certeza da vida futura não exclui as apreensões quanto à passagem desta para a outra vida”.

Nesse sentido, O céu e o inferno é um livro histórico e inédito, registrando o estudo pioneiro de manifestações espirituais e da identidade do comunicante, cotejando-as com dados sobre a existência do manifestante, enquanto encarnado. A coerência das mensagens espirituais, com diversidade dos tempos e dos lugares onde foram obtidas, é importante e robustecem a linha mestra da nova visão sobre imortalidade da alma.

Kardec, de acordo com suas características, sem pieguismo e com método de estudo, analisa as manifestações dentro de uma classificação que estabeleceu de: Espíritos felizes; Espíritos em condições medianas; Espíritos sofredores; Suicidas; Criminosos arrependidos; Espíritos endurecidos; Expiações terrestres.

Eis algumas ilustrações que selecionamos.

Sobre espíritos felizes: Sanson, membro da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, informa que “ao fim de oito horas” após a morte do corpo é que recobrou “a lucidez das ideias”. Sobre a manifestação da viúva Foulon – que o Codificador conheceu quando encarnada na cidade litorânea de Saint Adresse, momentos em que ele redigia O evangelho segundo o espiritismo” naquele balneário -, Kardec considera que ela sentiu: “[…] como libertação que lhe era das cadeias terrestres, ao mesmo tempo que lhe abria as portas da vida espiritual, com a qual se identificara no estudo do Espiritismo”.

Entre os espíritos considerados “sofredores”, há o relato de Novel: “Meu espírito, preso ao corpo por elos materiais, teve grande dificuldade em desembaraçar-se – o que já foi, por si, uma rude angústia”.

As manifestações dos suicidas são dolorosas. Um conhecido ateu, homem instruído, chamado M. J.-B. D., fez seu depoimento como espírito desencarnado: “Sofro. Sou um réprobo. […] Sofro pelo constrangimento em que estou de crer em tudo quanto negava. Meu Espírito está como num braseiro, horrivelmente atormentado”.

Como depoimento de espírito arrependido, focalizamos o caso do padre Verger, que assassinou o arcebispo de Paris em janeiro de 1857, foi rapidamente julgado e sofreu a pena de morte. O espírito declarou: “[…] Fiz mal em matar, mas isso fui levado pelo meu caráter, que não podia tolerar humilhações… […] lamento o que fiz e isso me faz sofrer. […] Sou punido porque tenho consciência de minha falta, e para ela peço perdão a Deus”. Na manifestação, o espírito mostra-se arrependido e disposto e tem consciência que poderá reparar suas faltas em uma nova oportunidade reencarnatória.

Esses dois últimos casos deixam claro o respeito que deve ser mantido com a vida corpórea.

O estudo de casos sobre dezenas de manifestações espirituais faz de O céu e o inferno um livro de comprovações, contribuindo para a identificação dos espíritos comunicantes e oferecendo evidências importantes para a compreensão da imortalidade da alma. Os diferentes estados de alma identificados por Kardec, se enquadram no tradicional conceito de que “a Natureza não dá saltos”, pois o raciocínio é válido num continuum de espírito encarnado/processo de desencarnação/espírito desencarnado. O importante é o estado de alma e o nível e profundidade de como “a lei divina se encontra escrita na consciência” de cada um.

O espírito Emmanuel celebrou o Centenário das obras de Kardec, elaborando pela psicografia de Chico Xavier oportunas análises. O céu e o inferno, foi homenageado e focalizado pelo espírito Emmanuel, com a obra Justiça divina (1962), realçando: “[…] o serviço interpretativo da palavra libertadora de Allan Kardec” e detalha ensinos do Mestre: “[…] ensinou-nos Jesus, claramente: ‘O Reino de Deus está dentro de vós”. Emmanuel traça orientações para a vida cotidiana, com base nesse livro básico, e pondera: “[…] o céu começará sempre em nós mesmos e o inferno tem o tamanho da rebeldia de cada um”.

As obras de Kardec devem merecer mais estudo e divulgação cotidianamente na seara espírita, com destaque para aquele que tem sido muito esquecido: O céu e o inferno!

Referências:

1) Kardec, Allan. Revista espírita. Ano 8. Julho, setembro, novembro de 1865. Trad. Bezerra, Evandro Noleto. Rio de Janeiro: FEB. 2015.

2) Kardec, Allan. O céu e o inferno. Trad. Bezerra, Evandro Noleto. 1.ed. Rio de Janeiro: FEB. 2009.

3) Xavier, Francisco Cândido. Justiça divina. 13. ed. Pelo espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB. 2008.

Transcrito - Artigo do autor, publicado em Revista Internacional de Espiritismo. Ano XCVIII. N.7. Agosto de 2023.

Mensagem de Chico Xavier sobre Benedita completa 60 anos

Mensagem de Chico Xavier sobre Benedita completa 60 anos

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Jovem e entusiasmado pelo Espiritismo, entre as leituras que tínhamos acesso, chamou-nos atenção o lançamento do Anuário espírita 1964, da Editora IDE. Entre os conteúdos variados, de repente deparamo-nos com a página "Num Domingo de Calor", psicografada por Chico Xavier, alusiva a Benedita Fernandes, vulto benemérito de Araçatuba.(1,2)

Trata-se da publicação original da mensagem “Num domingo de calor”, assinada pelo espírito Hilário Silva, psicografada por Francisco Cândido Xavier, em Uberaba, no dia 27/07/1963.(3)

Eis o texto da mensagem mediúnica que completa 60 anos:

“Benedita Fernandes, abnegada fundadora da Associação das Senhoras Cristãs, de Araçatuba, no estado de São Paulo, foi convidada para uma reunião de damas consagradas à caridade, para exame de vários problemas ligados a obras de assistência.

E porque se dedicava, particularmente, aos obsidiados e doentes mentais, não pode se esquivar. Entretanto, a presença da conhecida missionária fazia espécie.

O domingo era de imenso calor e Benedita ostentava compacto manto de lã, apenas compreensível em tempo de frio.

Mania, cochichava alguém, à pequena distância. De tanto lidar com malucos, a pobre espírita enlouqueceu – dizia elegante senhora à companheira da poltrona, em tom confidencial.

Isso é pura vaidade – falou outra. – Ela quer ser diferente. – Caso de obsessão – certa amiga lembrou, em voz baixa.

Benedita, porém, opinava nos temas propostos, cheia de compreensão e amor.

Em meio aos trabalhos, contudo, por notar agitações na assembleia, a presidente alegou que Benedita suava por todos os poros e, em razão disso, rogou-lhe, por gentileza, que tirasse o casaco. Benedita Fernandes, embora constrangida, obedeceu com humildade e só aí as damas presentes puderam ver que a mulher admirável que, em Araçatuba, atendia dezenas de enfermos, com suor do próprio rosto, envergava singelo vestido de chitão com remendos enormes.” (3,4)

Esse texto despertou-nos interesse em buscarmos informações sobre Benedita Fernandes, vulto pioneiro da assistência social espírita na região de Araçatuba. Logo depois, durante a 1a Semana Espírita de Araçatuba, em outubro de 1967, providenciamos a distribuição de um folheto alusivo aos 20 anos de desencarnação de Benedita Fernandes, a primeira homenagem que se fazia ao vulto na cidade, e reproduzimos a mensagem “Num domingo de calor”.

A partir daquela época intensificamos a busca de informações sobre a vida de Benedita Fernandes. Em consequência, elaboramos a primeira biografia sobre o vulto, o livro Dama da Caridade, lançado em 1982, reeditado e atualizado na versão Benedita Fernandes. A dama da caridade (Ed. Cocriação, Araçatuba, 2017).

O detalhe é que a designação do nosso livro e adjetivação pela qual ela ficou conhecida, inspiramo-nos na frase da mensagem sexagenária: “damas consagradas à caridade”.(2)

Nos continuados contatos pessoais que tivemos com Chico Xavier ele sempre fazia referências a Benedita Fernandes.

Fontes:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Benedita Fernandes. A dama da caridade. Araçatuba: Cocriação/USE Regional de Araçatuba. 2017. 144p.

2) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. Araçatuba: Cocriação. 2021. 632p.

3) Anuário Espírita 1964. Araras: IDE, pg. 49.

4) Xavier, Francisco Cândido. Espíritos diversos. Ideias e Ilustrações. Rio de Janeiro:FEB.1970. P. 115-116.

(*) Foi dirigente espírita em Araçatuba (SP), depois presidente da USE-SP e da FEB.

Transcrito de:

- Boletim de Notícias do Movimento Espírita – 27/07/2023 (copie e cole): https://www.noticiasespiritas.com.br/2023/JULHO/27-07-2023.htm ;

- Folha da Região, Araçatuba, 27/07/2023, p.2.

A centenária “dona Ziza” relata sobre Cairbar Schutel

A centenária “dona Ziza” relata sobre Cairbar Schutel

Trechos da entrevista: FOCALIZANDO A TRABALHADORA ESPÍRITA ADALGISA DE LOURDES ANTUNES ROSITO (DONA ZIZA).

Dona Ziza, pode nos fazer sua apresentação pessoal?

Meu nome de nascimento é Adalgisa de Lourdes Antunes. Nasci no dia 19 de julho de 1923 (portanto, beirando um século de vida…) em Matão, SP, na Fazenda Palmares, da qual meu pai Benedicto José Antunes era administrador. Minha mãe chamava-se Dna Maria Eufrozina Antunes, dona de casa. Fui a décima dentre seus onze filhos. À época de entrar para a escola primária, fui matriculada no então Grupo Escolar de Matão (hoje E. E. José Inocêncio da Costa, esta, sim, já centenária), no qual permaneci pelos quatro anos regulamentares. Na parte inicial do curso, eu me deslocava desde a Fazenda até o Grupo, sempre em dupla com uma prima, utilizando os meios disponíveis: charrete, cavalo (cujas rédeas eu mesma tomava), eventualmente automóvel, ou até mesmo a pé. Como esses deslocamentos eram um tanto penosos, minha segunda etapa no Grupo iniciou-se quando meus pais decidiram me transferir para a casa de minha avó “Marica”, na cidade. E a terceira e última etapa de meu curso primário deu-se quando da reunião da família, todos agora na cidade e debaixo de um mesmo teto.

Nessa terceira etapa, minha mãe, mesmo ainda na fazenda mas já frequentando o Centro Espírita Amantes da Pobreza (hoje renomeado Centro Espírita O Clarim), me levava com ela às sessões lá realizadas. Estabelecemos uma amizade mais próxima, porém sempre respeitosa, com o fundador e responsável pelo Centro, o Sr. Cairbar de Souza Schutel, habitualmente chamado de “Seu” Schutel. Este, além de dirigir o Centro, já tinha fundado uma Editora, a Casa Editora O Clarim, então com duas publicações mensais de divulgação espírita: o jornal O Clarim e a Revista Internacional do Espiritismo (RIE), ambas com circulação ininterrupta até a atualidade. A Editora publicava também livros sobre temas espíritas. Ademais, como “Seu” Schutel tinha familiaridade com o ofício de prático de farmácia, montou também a Farmácia Schutel. Concluído o curso primário, as opções para prosseguimento dos estudos eram muito limitadas, de modo que meus pais resolveram matricular-me no curso de Comércio do Colégio São José, sempre em Matão. Frequentei o curso. Dentre as provas de conclusão, havia uma que, curiosamente, se tornaria inesquecível para mim: a professora Yara Buck Ferreira, de Taquigrafia, perguntou à classe se algum aluno poderia indicar um nome apropriado para fazer um discurso; para nós, os futuros formandos, a prova final consistiria em taquigrafar o texto a ser proferido pelo convidado perante a classe. Apesar de meu pai privar do convívio de distinguidas figuras do município, ocorreu-me indicar o nome do “Seu” Schutel, que foi aprovado, cabendo a mim mesma convidá-lo. Pelo respeito que eu lhe dedicava, morri de medo de dirigir-lhe o convite, mas assim fiz, mesmo um tanto insegura. O convite foi aceito, o convidado compareceu para discursar e os resultados escolares foram muito bons. Lamentavelmente, não tive acesso ao texto oficial então proferido perante os alunos nem conservei as anotações taquigráficas recolhidas, mas posso garantir que, tal como ele costumava fazer, não deixou de tocar no assunto Espiritismo, divulgador diligente que era da Doutrina. Houve uma consequência muito auspiciosa: o episódio do discurso aproximou-nos mais do “Seu” Schutel, abrindo-me as portas para que, no verdor dos meus 13 ou 14 anos, logo após minha formatura no Colégio São José, eu tivesse meu nome recomendado para trabalhar na Editora, mais especificamente na Redação (aliás, “Redacção”, conforme consta na antiga placa ainda afixada à entrada do prédio, hoje Memorial Cairbar Schutel, em Matão), em atividade burocrática utilizando a datilografia e os demais conhecimentos adquiridos no Colégio. Em 1940, meu pai encerrou sua última atividade – juiz de paz – em Matão, e mudamo-nos todos para São Paulo. Na Capital, fui trabalhar numa Companhia de Seguros, onde permaneci por seis anos.

[…] Permitam-me fazer uma referência à importância que uma especial família, a Família Perche, de Matão, exerceu no ingresso dos Antunes no Espiritismo. Minha mãe fez amizade, ainda enquanto na fazenda, com essa família. Seus membros eram todos adeptos do Espiritismo e muito chegados ao “Seu” Schutel. Das irmãs Antoninha e Zélia ficaram-me recordações muito queridas. Dna Antoninha, que trabalhava ao lado do “Seu” Schutel na Editora, foi o elo de ligação entre a Família Antunes e “Seu” Schutel, tendo sido a responsável pela recomendação de meu nome para trabalhar na Redação da Editora. Num momento de grande consternação, logo após a morte dele em 1938, sucedeu-o na presidência e permaneceu no cargo por muitos anos. Já Dona Zélia, farmacêutica formada em Pindamonhangaba, SP, de início responsabilizava-se oficialmente pela Fármácia Schutel, da qual assumiu também a administração após o falecimento de “Seu” Schutel. Outra das irmãs Perches, a profª Arlinda (apelidada de Linda ou Lindinha), entrou para a Família Antunes ao desposar meu irmão Raul, estreitando ainda mais os laços entre as duas famílias. É uma cunhada cuja memória conservo com muito carinho.

[…] Poderia nos falar sobre o grande vulto do Espiritismo, o Sr.Cairbar Schutel? Sim, com certeza. ”Seu” Schutel foi o começo de tudo. Um lutador em defesa de suas ideias e crenças, um batalhador pela causa espírita, uma pessoa cumprindo a missão de difundir uma doutrina na qual acreditava. Até hoje me surpreendo com todo o esforço que ele empenhou para vencer as dificuldades da fundação e da manutenção de um Centro Espírita e de uma Editora numa cidade minúscula como era a Matão da época. Enquanto as duas instituições se consolidavam, envolveu-se na tarefa de divulgar e defender o Espiritismo em ambiente nem sempre acolhedor, decorrente dos ataques oriundos de setores que enxergavam no Espiritismo uma ameaça e um perigo. Era incansável, sempre preocupado com a administração do Centro, da Editora e da Farmácia. Pessoa séria e de poucas palavras, inspirou-me respeito desde o primeiro contato, naquele episódio inocente do convite para o discurso. Como meu trabalho na Redação era manual, tínhamos um limitado contato pessoal. Mas enquanto eu cumpria minhas tarefas regulares na Redação, observava-o cuidando das questões administrativas e também escrevendo artigos e textos para O Clarim e para a RIE (muito desse material é atualmente resgatado e republicado por ambos os veículos de divulgação). Além disso, escrevia livros e fazia publicar outros autores, bem como mantinha intercâmbio de correspondências com espíritas do Brasil e com órgãos de divulgação espírita de países estrangeiros. Durante certo período, manteve também um programa de divulgação do Espiritismo na Rádio Cultura da vizinha Araraquara. Mas eu gostaria de ressaltar, além de seu perfil de administrador e de desbravador, uma outra de suas características. Elevava a caridade ao mais alto conceito que essa palavra possa ter. Sendo prático de farmácia, era quem dirigia a Farmácia Schutel. Ficou famoso o recorrente comentário de que, a qualquer tempo, nenhum necessitado que lá comparecesse sairia sem o remédio que procurava, mesmo que não pudesse pagar por ele. Outra das obras assistenciais de “Seu” Schutel foi a construção de algumas modestas casinhas para acolher doentes ou indigentes. Tais casinhas foram anteriores aos meus tempos, de modo que não tenho condição de dar maiores informações a respeito, mas elas ilustram mais uma faceta do empreendedorismo e preocupação de “Seu” Schutel para com os menos favorecidos. Uma vida tão densa me remete à recomendação de que os interessados em conhecer mais sobre a vida dessa destacada figura do Espiritismo procurem alguns livros que tratam de sua biografia; assim poderão informar-se mais detalhadamente dos feitos de sua vida, além de terem acesso a fotos variadas e fatos pitorescos que ilustram aqueles tempos pioneiros.

[…] Pela minha idade, estou impossibilitada de ler e de sair com frequência. Em compensação, os tempos modernos me proporcionaram o uso do celular e da internet, conquistas impensáveis para a minha época de infância e juventude, mas que hoje são valiosos recursos mediante os quais posso manter-me informada sobre o que ocorre no movimento espírita. Os adeptos ou simpatizantes do Espiritismo não devem sentir-se constrangidos por declararem suas crenças. Devem, antes, agradecer por estes tempos modernos, quando a doutrina já está plenamente consolidada em decorrência da luta de muitos ilustres precursores, como Kardec, Chico Xavier e Cairbar Schutel. Nossas homenagens ao notável trabalho realizado por todos eles!

(Entrevista com Dona Ziza Rosito realizada em 04-12-2021 e que contou com a presença do sobrinho Ruy Donini Antunes)

Trechos extraídos de: Boletim de Notícias do Movimento Espírita – Ismael Gobbo.

OBS: Dona Ziza completou 100 anos de idade no dia 19 de julho de 2023, sendo novamente entrevistada por Ismael Gobbo. Vide a gravação nessa home page – Seareira centenária colaborou com Schutel (copie e cole): http://grupochicoxavier.com.br/seareira-centenaria-colaborou-com-schutel/

O ChatGPT e as obras de Kardec

O ChatGPT e as obras de Kardec

Por Luciana Farias*

Pessoas de diversas áreas do conhecimento vêm explorando as funcionalidades do ChatGPT, um serviço baseado em inteligência artificial, que se propõe a auxiliar em diversas tarefas que envolvam linguagem, como responder perguntas, criar e traduzir textos. No espiritismo, seu uso ainda é incipiente e limitado a interações esporádicas, compartilhadas em grupos de discussão e posts em redes sociais. Interessa-nos saber se o ChatGPT pode ser útil aos espíritas, se essa tecnologia está pronta para um diálogo sobre a doutrina espírita.

Trago aqui a minha experiência do ‘papo’ com o ChatGPT, versão free, sobre espiritismo. Comecei com o básico, visando identificar o seu conhecimento sobre as obras de Kardec, através de diversas perguntas extremamente simples, constatando o risco de se ter como verdades as respostas fornecidas. Eis a transcrição de partes desse diálogo.

Eu: “Você conhece a obra O evangelho segundo o espiritismo?”

ChatGPT: “Sim, estou familiarizado com a obra O evangelho segundo o espiritismo. É um livro importante dentro do espiritismo, que busca estabelecer uma interpretação dos ensinamentos de Jesus à luz da doutrina espírita. Foi publicado pela primeira vez em 1864, codificado por Allan Kardec, o fundador do espiritismo.

É composto por cinco partes principais. A primeira parte contém uma introdução que aborda a importância do Evangelho na vida dos indivíduos. A segunda parte é composta por uma seleção de capítulos dos Evangelhos canônicos da Bíblia, que são analisados e comentados à luz da doutrina espírita. A terceira aborda a moral espírita, apresentando uma série de ensinamentos morais e éticos. A quarta trata das esperanças e consolações oferecidas pela doutrina espírita, incluindo temas como a vida após a morte e a lei de causa e efeito. A quinta e última parte contém uma coleção de preces e instruções sobre a prática do bem.”

Aqui já vemos que a Inteligência Artificial não ‘leu’ esse livro, uma vez que se refere a uma divisão em partes que não corresponde à estrutura do Evangelho.

Intencionando também obter um resumo do capítulo ‘Sistemas’ de O livro dos médiuns, perguntei ao ChatGPT se poderia fazê-lo, mas pedi propositalmente de forma ambígua o resumo do capítulo 4, sabendo que a obra possui duas partes e ambas contêm um capítulo 4. A resposta acabou sendo sobre o capítulo 15 da parte 2:

ChatGPT: “Certamente! O quarto capítulo do livro O livro dos médiuns, de Allan Kardec, tem como título ‘Dos médiuns escreventes ou psicógrafos’. Neste capítulo, Kardec explora o fenômeno da escrita mediúnica, no qual os médiuns são capazes de produzir textos escritos sob a influência de espíritos.”

Eu – Esse é o quarto capítulo de que parte do livro? – insisti para ver se o Chat corrigiria o erro.

E ‘a emenda foi pior do que o soneto’. Pediu desculpas pelo erro e afirmou que o capítulo ‘Dos médiuns escreventes ou psicógrafos’ não pertencia à obra, e ainda a descreveu erroneamente como composta por quatro partes, citando as partes de O livro dos espíritos. Depois, confirmou que não fazia a mínima ideia de que tinha errado novamente, por se achar capaz de me dar ‘informações precisas’:

ChatGPT: “Mais uma vez, peço desculpas pela informação imprecisa anterior. Se você tiver interesse em um capítulo específico ou em algum tema relacionado ao espiritismo, estou à disposição para ajudar com informações precisas.”

Por fim, indaguei com base no nome do capítulo: "De que livro de Allan Kardec é o capítulo ‘O método’?" Em vez de responder que era de O livro dos médiuns (capítulo 3 da parte 1), o ChatGPT afirmou ser de O livro dos espíritos.

A experiência mostrou que o ChatGPT não conhece o texto completo das obras de Kardec. E, assim como Marco Milani alertou na edição passada do Correio sobre a possibilidade da Inteligência Artificial gerar falsas comunicações mediúnicas, também vale destacar ser o ChatGPT um péssimo companheiro de estudos para quem quer aprender verdadeiramente sobre espiritismo, cuja melhor fonte continua sendo as obras de Allan Kardec.

Ambiguidades e incorreções
O que realmente impressiona no ChatGPT é o uso de expressões e formas de linguagem humana para simular respostas, dando a impressão de um diálogo real com outra pessoa. O encantamento pode dar a falsa impressão de que essa ‘máquina-pessoa’ é extremamente inteligente e tudo que responde está correto.
O serviço, em fase experimental e com informações até setembro de 2021, às vezes, escreve respostas que parecem plausíveis, porém são incorretas ou sem sentido. O fabricante, OpenAI, tem ciência dessas falhas e convida os usuários a utilizá-lo gratuitamente e a dar feedback de seus erros e acertos.
Embora a versão paga, Plus, prometa corrigir erros, como a dificuldade de lidar com ambiguidades ou de identificar que não sabe responder, é preciso lembrar que há limitações da tecnologia que os humanos ainda não conseguiram resolver.

Quem ainda não experimentou, pode acessar o serviço em https://chat.openai.com/

*Luciana Farias é analista de Tecnologia da Informação. Pesquisadora junto ao CSI do Espiritismo (Codification Séances Investigation) https://www.facebook.com/HistoriaDoEspiritismo/ e do Museu AKOL www.allankardec.online. Participa do portal Obras de Kardec www.obrasdekardec.com.br.

Transcrito de:
Correio News (copie e cole): https://correio.news/especial/o-chatgpt-e-as-obras-de-kardec

Revolução de 1932 – aspectos históricos e relatos familiares

Revolução de 1932 – aspectos históricos e relatos familiares

    

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Uma das principais datas cívicas do Estado de São Paulo é o dia 9 de julho que, há tempos, foi transformada em feriado estadual.

Trata-se da comemoração da Revolução Constitucionalista de 1932, quando o Estado de São Paulo se levantou contra a ditadura de Getúlio Vargas, exigindo uma Constituição Federal.

No contexto de nossa família, desde a infância acompanhamos os relatos e repercussões relacionados com a Revolução Constitucionalista. Vivemos as histórias e comemorações sobre a efeméride desde a infância.(1)

Um dos estopins do movimento foi o assassinato por militares dos estudantes Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo, na Praça da República, em São Paulo, no dia 23 de maio de 1932, no momento em que se manifestavam contrariamente ao governo Vargas. Na Praça de República, em São Paulo, há uma placa alusiva ao local em que ocorreram os assassinatos.

Desses fatos surgiram, entre outros logradouros públicos em São Paulo, a Rua MMDC, e, sem fazer alusão aos nomes dos quatro estudantes; o Obelisco da Revolução no Parque do Ibirapuera e a Avenida 23 de Maio.

A família Miragaia estabeleceu-se em Biriguí, onde há a avenida Euclides Miragaia.O jovem herói Euclides Miragaia era dos irmãos mais velhos de Benedita Miragaia, casada com nosso tio avô Rolando Perri. E tínhamos muita convivência com esses tios avós.

O irmão mais velho de nosso genitor, Valdomiro Graça de Carvalho (residia em Olímpia, SP), faleceu nas lutas da Revolução. Atualmente, somos o depositário do Diploma da Medalha "M.M.D.C." outorgada post mortem ao nosso tio.

No convívio familiar em Araçatuba, lembramos do prof. Joaquim Dibo, casado com nossa tia avó Olga Perri que, no dia 09 de julho, tinha o hábito de falar sobre a Revolução na sua Escola privada e na Rádio Cultura, destacando os heróicos versos "Nossa Bandeira" de Guilherme de Almeida, o "Poeta da Revolução" Também como lembrança de infância recordamos de Elias Daia, cunhado do tio Joaquim Dibo, que como ex-combatente, certa feita participou de desfile cívico ostentando medalha de combatente da Revolução.

Registramos que os tios avós Rolando Perri e Joaquim Dibo foram políticos respeitados em Araçatuba. Ainda na infância ouvíamos os relatos de tias avós de Araçatuba, Gertrudes e Olga, que integraram grupos de costura para confecção de fardas.

De nossa genitora, que na época da Revolução era criança e residia na cidade de São Paulo, ouvíamos alguns registros dos receios e cuidados dos vários familiares. Quando residimos em São Paulo, durante etapa da infância, nossos pais mostraram-nos as marcas das balas de tiros na fachada da igreja de Nossa Senhora da Conceição Santa Efigênia, no centro da capital paulista. Em 1957, juntamente com nossos pais e irmãos, com entusiasmo, assistimos às comemorações do Jubileu de Prata da Revolução Constitucionalista, em São Paulo. Estávamos próximos ao Obelisco do Ibirapuera, que foi inaugurado dois anos antes; e à noite, os aviões jogavam flâmulas laminizadas ofertadas pelas Indústrias Pignatari, e que cintilavam com as luzes dos holofotes que eram direcionados para o céu. Um espetáculo inesquecível!

Em entrevista para o Blog de Bruno Tavares, de Recife, sobre momentos de nossa vida, no final de 2022, focalizamos os episódios familiares relacionados com guerras e a Revolução de 1932.(2)

Enfim, histórias de idealismo e de valorização da bandeira de uma Constituição para o país!

Foi muito bom ouvirmos com atenção e vivermos esse ambiente na infância. São fatos marcantes ligados à História!

Fontes:

1) Trechos do autor, extraídos do livro Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. Araçatuba: Cocriação, 2021.

2) Entrevista para o Blog Bruno Tavares (copie e cole): http://grupochicoxavier.com.br/participacao-de-familiares-nas-1a-e-2a-guerras-e-revolucao-constitucionalista/

Fatos da ação de Benedita Fernandes em telas de artistas

Fatos da ação de Benedita Fernandes em telas de artistas

 Ilustração da palestra de Perri sobre atendimento de Rosana Perri   

   Lisiane com casal Cesar e Célia 

      Lisiane e tela sobre atendimento de Rosana Perri 

     Alexis Essama, autor da tela sobre atendimento de Rosana por Benedita

Antonio Cesar Perri de Carvalho

A cidade em que Benedita Fernandes se notabilizou com trabalho assistencial espírita pioneiro – Araçatuba (SP) -, sediou evento comemorativo dos 140 anos de nascimento do vulto histórico, nos dias 24 e 25 de junho de 2023.

Contou com palestras, roda de conversa, exposição de telas sobre ações de Benedita e apresentação especial do filme “Benedita Fernandes – legado de superação” (a ser lançado comercialmente). O filme é dirigido por Sirlei Nogueira que também foi responsável pelo evento comemorativo.

Na abertura do evento, proferimos palestra com base em fatos registrados em nosso livro biográfico “Benedita Fernandes. A dama da caridade”, lançado em 1982 e com reedição recente pela Cocriação de Araçatuba1. Focalizamos nuances significativos do trabalho de Benedita, o contexto e as relações com vultos de sua época como Cairbar Schutel, Chico Xavier e Leopoldo Machado.

Nessa apresentação relatamos o atendimento que Benedita realizou à nossa bisavó Rosana Casale Perri, no início de 1939, na residência de Albino Marinelli e Gertrudes Perri Marinelli, em Araçatuba. Nossa bisavó estava há dias em estado do tipo letargia e, após tentativas infrutíferas de tratamento, houve a recomendação que chamassem a lidadora que tinha uma certa fama de curadora. Nossa genitora, Josefina Perri Cefaly de Carvalho (Bebé), que contava 14 anos de idade e residia naquele lar, testemunhou o episódio. Desde criança ouvíamos essa informação e esse registro escrito pela nossa genitora foi introduzido na biografia que elaboramos sobre Benedita Fernandes.1

Em seguida à nossa palestra surgiu a surpresa.

Uma das convidadas do evento, a artista Lesiane Lazzarotti Ogg, chamou-nos para conhecer a exposição de telas sobre o trabalho de Benedita que estava montada na sede do Centro Espírita anfitrião – C.E. “Irmã Angélica”.

Esclarecemos que a Lesiane Lazzarotti Ogg, do Rio de Janeiro, é formada em Letras, Arte Educação e Arteterapia; tem sido orientadora e idealizadora de vários projetos sociais de arte, como veículos de transformação e auxílio social, com ações no Brasil e na África. Expôs e foi premiada em vários países.2 Foi responsável pelo projeto de marcante exposição sobre “Arte, Cura e Afeto”, entre junho e agosto de 2022, na sede histórica dos Correios, no centro de São Paulo, e que contou com extensa parte “Arte, Cura e Espiritualidade”, contando a história de Benedita Fernandes.3

Ao nos ciceronear na exposição em Araçatuba, Lesiane relatou que as referidas telas, de autoria dela e de várias pessoas envolvidas pelo seu trabalho, foram baseadas nos registros de nosso livro sobre Benedita. De repente, a artista nos mostrou a tela que focaliza o atendimento de nossa bisavó (sem identificá-la) e, surpreendente, foi pintada por um artista, Alexis Essama, que reside na República dos Camarões (África).

Ante esse momento inusitado, naturalmente, tivemos interesse em eventual contato com o artista que, bem à distância com a orientação de Lesiane, se inspira em registros de nosso livro e, inclusive, num fato ligado à nossa bisavó.

Em sua palestra, Lesiane fez referência à utilização de nosso livro como inspiração para vários artistas que ela orienta.

É notável que Lesiane Lazzarotti Ogg atua há quase duas décadas em diversas comunidades carentes, com diversas propostas artísticas, atendendo além de crianças, mulheres, idosos e pessoas com diversas deficiências. E, incluiu Benedita Fernandes nas inspirações artísticas!

Fontes:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Benedita Fernandes. A dama da caridade. Cap. 15. Araçatuba: Cocriação. 2017.

2) Academia Brasileira de Belas Artes (copie e cole): https://academiabrasileiradeartes.org.br/especial/academico-livre,cadeira-25-academico-livre/lesiane-maria-lazzarotti-ogg-l-lazzarotti-ogg/;

3) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Benedita Fernandes em “Diálogos de corpo e alma” em São Paulo. Boletim de Notícias do Movimento Espírita, 04/08/2022 (copie e cole): https://www.facebook.com/search/top?q=boletim%20de%20not%C3%ADcias%20do%20movimento%20esp%C3%ADrita%2C%2004%2F08%2F2022

Benedita, Schutel e O Clarim

Benedita, Schutel e O Clarim

Antonio Cesar Perri de Carvalho

No final de junho deste ano, ocorre em Araçatuba evento alusivo aos 140 anos de nascimento de Benedita Fernandes.

Nascida aos 27/06/1883, em Campos Novos de Cunha (SP), notabilizou-se pelo seu trabalho pioneiro e dinâmico em Araçatuba. Após ser tratada de terrível obsessão, fixou-se em Araçatuba onde fundou a Associação das Senhoras Cristãs em 1932, a primeira instituição assistencial espírita da região noroeste do Estado de São Paulo.

Essa instituição pioneira, desdobrou-se em ações voltadas ao atendimento de doentes mentais, crianças órfãs e abandonadas, e pessoas carentes em trânsito pela cidade. Essas obras foram um marco na cidade e região e ela se tornou um vulto respeitado pelos contemporâneos e lembrada até a atualidade.

Destacamos que Benedita Fernandes manteve correspondência com Cairbar Schutel e, mesmo após a desencarnação dele, O Clarim publicava muitas notícias sobre as obras dela. Vale a pena apresentarmos sínteses de algumas dessas matérias estampadas em O Clarim.(1) Várias transcrevemos em nosso livro Dama da Caridade (1982), agora ampliado: Benedita Fernandes. A dama da caridade.(2)

Três meses após Benedita ter fundado a Associação das Senhoras Cristãs, há informação sobre a participação dela em Assembleia da União Espírita Paz e Caridade, de Araçatuba, citando-a como “directora do Albergue Noturno” (O Clarim) , 18/06/1932). Ela mantinha intensas relações e colaborava com essa instituição, a primeira fundada naquela cidade.

O Clarim (30/03/1935) divulgou a composição de nova diretoria da Associação das Senhoras Cristãs: presidente, Benedita Fernandes; secretário, Manoel Clemente Gonçalves; tesoureiro, Maria Bogalho Gonçalves. No mesmo ano noticia-se a visita à novel obra de Benedita de caravana de Penápolis, liderada pelo Sr. João Marchesi, presidente do Centro Espírita Discípulos de Jesus (O Clarim, 03/08/1935). Marchesi foi um dos responsáveis pela cura da antiga obsidiada.

[…] Notas sobre comemorações de Natal em 1935, 1936 e em 1937. […] No exemplar de 12/03/1938, há informações sobre palestra do dr. João Baptista Pereira, residente em São Paulo, e que foi presidente da Sociedade de Metapsíquica de S. Paulo e da FEESP.

Em 25/02/1939, O Clarim noticia sobre os esforços da Associação das Senhoras Cristãs e do Asilo Dr. Jayme de Oliveira, que prestam assistência a indigentes, e informa o primeiro aniversário do menino Allan Kardec, nascido na Associação, filho de uma indigente internada. Chegamos a conhecer o Allan Kardec Marçal Costa.(2)

Na edição de 07/12/1940, registra-se que o representante de O Clarim, Leonardo Severino, voltando de viagem a Mato Grosso, proferiu conferências em Araçatuba: na Associação, na União Espírita Paz e Caridade e na Rádio Cultura.

De acordo com O Clarim (24/05/1941), João Leão Pitta – um dos propagandistas do jornal-, proferiu palestras na Associação das Senhoras Cristãs e no Córrego da Prata (Município de Araçatuba).

O Clarim (12/09/1942) noticia a fundação da União Espírita Regional de Araçatuba. Em 02/08/1942, espíritas da cidade reuniram-se em assembleia, para tratar da eleição da diretoria da União Espírita Regional da Noroeste, sendo dirigida por Benedita Fernandes e com o destaque de que ela representou O Clarim. Trabalho inédito de Benedita.(2)

A Associação promoveu homenagem a Kardec, no dia 03/10/1942, na sede da União Espírita Paz e Caridade, com atuação de Gedeão Fernandes de Miranda e Júlio Monteagudo, dezenas de crianças declamando poesias e “foi servido jantar a 247 pessoas pobres” (O Clarim, 07/11/1942).

Em nota sobre a comemoração do 139o aniversário de nascimento de Kardec, registra-se a participação de cerca de 300 adultos e crianças, farta distribuição de doces, seguida de sessão noturna na União Espírita Paz e Caridade (O Clarim, 20/11/1943).

[…] A notícia sobre o passamento de Benedita Fernandes, a partir de informação recebida de Vicente S. Neto, representante de O Clarim em São Paulo, foi publicada de imediato (edição de 25/10/1947). A redação desse jornal homenageia a lidadora: “uma das figuras mais populares no seio da família espírita pelas suas obras no campo da assistência social seu trabalho, pela sua grande fé, e pelo seu trabalho produtivo e perseverante na difusão da doutrina, embora fosse quase analfabeta. Corajosa, ativa, inteligente, cheia daquela boa vontade que opera prodígios”.

De matéria significativa de autoria de Leopoldo Machado – notável líder radicado em Nova Iguaçu (RJ) – sobre a desencarnação de Benedita (O Clarim, 08/11/1947), realçamos alguns trechos: "Fomos a Araçatuba, porque recebemos inte¬ressante carta dela, dizendo de sua geral decepção, quase, com os espíritas de cartaz. Gostaria de decepcionar-se conosco. Não podia visitar-nos, porque estava velha e doente. Pedia, portanto, que a visitássemos, pois, gostaria de conhecer-nos, antes de seu desencarne. Que fôssemos, assim, a Araçatuba. Fomos, com a querida esposa, decep¬cioná-la de perto. E com ela passamos cinco dias, a ouví-la nas suas experiências e observações; a admirá-la e a querê-la muito, de perto".

Eis uns comentários e diálogos do conhecido líder: “Com a nossa visita veio também a notícia de que o governo do Estado lhe concedera o auxílio de cem mil cruzeiros para concluir mais um pavilhão de sua obra formidável. Obra que se esparrama por todo um quarteirão, desbordando para outro, compreendendo escola, al¬bergue noturno, manicômio para os dois sexos, socorro e assistência a indigentes e necessitados, hospital, casa das crianças, etc, etc… Então pergunto: Como pode construir tudo isso?”

Ela respondeu: “- Eu não fiz nada. A obra é dos patrões. Sou apenas uma empregada que procura servir, direitinho, a seus patrões, que estão lá em cima. (E apontou o céu)

“- E o dinheiro para tudo isto?” Benedita: “- Aparece. Os patrões são ricos. Têm sempre, e muito, para dar. É só a gente saber pedir e bater, como deles pôs no Evangelho.” […] Em outra oportunidade, Benedita retomou o assunto com Leopoldo Machado, expressando suas preocupações. Assim ele anota no mesmo artigo que ela se preocupava como ficaria “a obra dos patrões”.

[…] Essas evocações homenageiam Benedita Fernandes, que sempre interagia com instituições e lideranças espíritas; vários aparecem nas notas transcritas. Também ensejam a reflexão sobre a importância de registros escritos. Graças a O Clarim, obtivemos essas informações que, inclusive, foram utilizadas na biografia que elaboramos sobre o vulto marcante.(2)

Referências:

1) Arquivos da Casa Editora O Clarim.

2) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Benedita Fernandes. A dama da caridade. Araçatuba: Cocriação. 2017. 144p.

Síntese de artigo do autor publicado em:

Revista internacional de espiritismo. Ano XCVIII. N.5. Junho de 2023. P. 233-235.

O Paradigma Emergente e a Educação do Espírito

O Paradigma Emergente e a Educação do Espírito

Ilza Godinho*

Dentre as teorias que buscam explicar as contradições e as anomalias da Ciência, cita-se a teoria dos paradigmas.

O paradigma compreende um modelo de pensar e agir em um dado momento histórico. Quando o paradigma vigente não consegue emoldurar as questões em sua plenitude, entra em crise paradigmática, enunciando o paradigma emergente (PE). Neste contexto, pode-se citar o geocentrismo, de Ptolomeu, que, ao deixar de atender à realidade que se apresentava, originou o heliocentrismo, de Nicolau Copérnico.

Mudanças em nossa visão de mundo ante aos novos conceitos da física quântica do século XX, encaminharam a concepção mecanicista, reducionista e materialista para uma visão holística, cujo termo “holismo” fora criado por Jan Smuts e Arthur Koestler, contribuindo para o PE. Também são consideráveis as contribuições de Teillard de Chardin com uma visão integradora da Ciência e a Fe Cristã; de Fritjof Capra, com o livro “O Ponto de Mutação”; de Rupert Sheldrake, com o estudo dos Campos Mórficos e Corpo Etérico e de Gustav Jung, integrando a abordagem holística na psicologia.

A sociedade de hoje está em crise paradigmática e de percepção, fazendo-se necessária, a visão do homem como um ser biopsicossocial-espiritual-ecossistêmico, que o paradigma vigente não mais oferece.

Dentro do PE, nosso propósito é contextualizar Benedita Fernandes (1883) e seu contemporâneo Eurípedes Barsanulfo (1880), que juntos propuseram a educação do Espírito, calcados nos três pilares do Espiritismo: Ciência, Filosofia e Religião e em seus princípios: Crença em Deus, Imortalidade da Alma, demais Mundos Habitados, Reencarnação e na Comunicabilidade dos Espíritos.

Benedita, aprisionada por um processo de loucura, fora atendida por Elpídio e Marchesi, conhecedores das interferências espirituais, em uma Psiquiatria Iluminada, identificaram o seu estado de loucura como um processo obsessivo (loucura em novo prisma). Assim, trataram-na com água fluidificada, passes magnéticos e vibrações de amor, tornando-se os seus “psicoterapeutas do amor”, pois no acolhimento afetuoso, mudaram-lhe a sintonia vibratória desfazendo laços espirituais menos felizes. Benedita, com um tom vibracional diferenciado ouviu além dos cinco sentidos “se abraçares com amor a criança, os obsidiados, os carentes de corpo e do Espírito, daqui saíras curada!” Aceitara e cumprira! Fez se a resiliência!

A vida em amor incondicional ao próximo, uma educação para além da materialidade – a educação do Espírito. Eurípedes, outro grande educador do Espírito, após a leitura do livro “Depois da Morte de Leon Denis”, adentrou aos conhecimentos espíritas e notabilizou-se no atendimento a processos obsessivos e na Educação. Fundou o Colégio Espírita Allan Kardec, ainda na ativa sob direção da educadora espírita, Alzira Bessa. Por influência do seu trabalho nasceu a cidade espírita Palmelo.

Um lugar especialíssimo reserva-se a Chico Xavier, com mais de 400 obras editadas, dentre elas “Nos domínios da mediunidade” (1955), em que descreve a mente como um núcleo de forças inteligentes gerando um plasma sutil, constantemente exteriorizado de nossa mente e “materializando” as figuras de nossa imaginação.

Em “Pensamento e Vida” (1958), destaca que a mente se divide em cinco departamentos: inteligência, imaginação, desejo e memória, regidos pelo departamento da vontade. Portanto, da sublimação dos departamentos da mente, emergirá um novo paradigma.

Bibliografia de apoio:

Capra, F. O Ponto de Mutação. Cultrix, SP, 1982.

Jung, C. G. Memórias, Sonhos e Reflexões. Nova Fronteira, RJ, 1963.

Linhares, A. M. B.; Sales, T. M. Psiquiatria, Espiritismo Ciência. Atenas, 2022.

Kardec, A. O Livro dos Espíritos. IDE, Araras-SP, 2008.

Carvalho, A. C. P. Benedita Fernandes. A Dama da Caridade. Cocriação, Araçatuba-SP, 2017.

Novelino, C. Euripedes – o Homem e a Missão. IDE, Araras-SP, 1991.

Xavier, F. C. Nos Domínios da Mediunidade. FEB, RJ, 1955.

Xavier, F. C. Pensamento e Vida. FEB, RJ, 1958.

(*) – Atuante em Blumenau (SC); colaboradora da Estação Dama da Caridade Benedita Fernandes (Araçatuba, SP).