Centro e jornal “O Clarim” completam 111 anos

Cássio Leonardo Carrara

Comemorou-se no dia 13 de agosto, em evento no auditório do Centro Espírita O Clarim, em Matão, o aniversário de 111 anos de fundação do jornal O Clarim – cuja primeira edição foi lançada em 15 de agosto de 1905 – e, consequentemente, da Casa Editora O Clarim.

A atividade programada incluiu palestra e sessão de autógrafos com o expositor Antonio Cesar Perri de Carvalho, ex-presidente da Federação Espírita Brasileira (FEB) e autor, entre outros, do livro Epístolas de Paulo à luz do Espiritismo, recém-lançado pela Casa Editora O Clarim.

Valentim Fernandes, colaborador do centro espírita e da editora, deu início à sessão e convidou o presidente da instituição, José Luiz A. Marchesan, para proferir as palavras iniciais. José Luiz relembrou o pioneirismo e o empreendedorismo de Cairbar Schutel, bem como todos os seus sucessores, que ao longo de mais de um século lutaram para manter vivo o ideal de divulgação espírita que norteia os trabalhos da editora e do centro espírita.

Na sequência, o diretor editorial da Casa Editora O Clarim, Aparecido Belvedere, fez a apresentação do orador da noite e passou-lhe a palavra. Utilizando-se de passagens de seu recente livro, Perri traçou paralelos entre as realizações em vida do apóstolo Paulo de Tarso e Cairbar Schutel, ambos missionários na divulgação da mensagem cristã que esgotaram os recursos disponíveis de cada época para a concretização efetiva do trabalho.

Perri salientou que Paulo era enérgico, mas tinha autonomia intelectual para questionar e orientar os companheiros quanto às miscelâneas praticadas na difusão da mensagem cristã, evitando-as e mantendo a fidelidade doutrinária. Cairbar Schutel, igualmente, procurava desmascarar e criticar as falsas ideias e interpretações errôneas em torno da imortalidade da alma e da espiritualidade. Paulo e Cairbar tinham a mesma firmeza de propósito. Para corroborar esta ideia, Perri citou célebre frase de Cairbar Schutel: “A nossa tarefa está limitada à difusão do conhecimento kardecista”, ação que começou com as clarinadas de luz espalhadas pelo jornal O Clarim.

Mas somente a palavra escrita não era suficiente para este espírito grandioso. Cairbar transformava em obras os ditos espíritas: tanto pelo jornal e posteriormente pela revista, quanto pelo atendimento aos mais pobres e doentes na Farmácia Schutel e nas reuniões espíritas. O Bandeirante do Espiritismo acreditava que o verdadeiro cristianismo é uma lei de amor e liberdade, porém as igrejas fizeram dele uma lei de temor e escravidão.

Perri destacou, ainda, que ocorreram momentos difíceis nas vidas de ambos, em que tiveram de reafirmar suas convicções apesar das pressões e resistências sociais. Cairbar focava-se no objetivo primeiro de difundir o Espiritismo, então não dava atenção a divergências características dos relacionamentos que pudessem atrapalhar a tarefa. Já Paulo era vigoroso e de espírito forte. “Nós não recebemos o espírito do mundo, mas o espírito que vem de Deus”, dizia Paulo de Tarso, afirmando que devemos ser todos embaixadores do Cristo.

Por fim, Perri destacou que fé, esperança e caridade eram as marcas que norteavam o trabalho de Paulo de Tarso e Cairbar Schutel e que, frente a dificuldades de toda ordem que surgem em nossas vidas e no movimento espírita, devemos nos inspirar nos exemplos desses missionários. Saulo transformou-se em Paulo, renunciando aos privilégios de doutor da lei, assim como Cairbar abdicou do prestígio político para se dedicar ao trabalho de benfeitoria ao próximo.

Ao final da palestra, Perri autografou o livro de sua autoria e os presentes confraternizaram-se em clima de paz e harmonia.

 

De: https://www.oclarim.org/noticias/129/o-clarim-completa-111-anos.html

 

Divaldo: alegria de viver na TV e vibrações pela Pátria

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Antonio Cesar Perri de Carvalho

A entrevista com Divaldo Pereira Franco no programa de Jô Soares, na TV Globo, foi marcante, na passagem do dia 1º para dia 2 de setembro. (*)

O midiático Jô Soares é conhecido por interferir e às vezes até deixar que o entrevistado fale pouco.

Com Divaldo, houve até uma brincadeira entre ambos, sobre “o baiano que fala, fala…” E Divaldo falou aproveitando muito bem o tempo disponível. Conseguiu registrar fatos desde a origem espontânea e precoce de sua mediunidade até os momentos atuais.

Claramente Jô Soares demonstrou surpresa com o vulto do trabalho liderado pelo entrevistado, em função do vídeo apresentado pela produção sobre a Mansão do Caminho.

No diálogo descontraído transpareceu em Divaldo a alegria de viver e de servir, vencendo dificuldades e impasses, e, deixando o entrevistador impactado com a informação que Divaldo tem todo um vigor aos 89 anos de idade.

Apesar do horário complicado do programa, sem dúvida, terá repercussões, com as reproduções promovidas pela própria emissora e as que circulam pela internet.

A presença de Divaldo no programa de Jô Soares contribuirá para a disseminação de uma boa imagem do Espiritismo!

Registramos nossa admiração pelo importante movimento “Você e a Paz” que Divaldo realiza e amplia em nosso país. É significativa contribuição para se divulgar o bem e paz nos vários rincões do país.

Juntamente com a cidadania, aí estão lembretes de alegria de viver, orações continuadas, esperança, bem e paz!

 (*)https://globoplay.globo.com/v/5277103/

 (O autor foi presidente da USE-SP e da FEB)

De: http://usesp.org.br/divaldo-na-tv-alegria-de-viver-e-vibracoes-pela-patria-por-cesar-perrix/

 

 

Caravana de intercâmbio e solidariedade

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Há mais de uma década o Instituto Espírita Bezerra de Menezes (Niterói, RJ) promove anualmente algumas caravanas para visitar instituições do interior do Estado do Rio de Janeiro, com objetivo de prestar apoio e de incentivar a solidariedade.

A caravana, com ônibus fretado lotado, com coordenação de Hélio Ribeiro Loureiro – um dos fundadores e ex-diretor do CEERJ -, em ambiente fraternal, se desloca para várias regiões do Estado, preferencialmente centros pequenos e instituições assistenciais que precisam de apoio. Os nomes das Caravanas direcionam os temas das palestras.

Já tivemos a oportunidade de atuar como convidado em duas Caravanas, a Chico Xavier e recentemente a Yvonne Pereira.

Nos dias 27 e 28 de agosto, proferimos palestras focalizando a obra de Yvonne Pereira e a interação com o espírito Bezerra de Menezes, evocando o dia 29 – data de nascimento deste grande vulto nacional. Enfatizamos obras de Yvonne Pereira como “Dramas da obsessão”, do espírito Bezerra, e citações e fatos ligados a Bezerra em “Memórias de um suicida”, “O evangelho aos simples”, “As três revelações”. 

Nessa última anotou Bezerra: “Estas páginas, porém, foram escritas de preferência para os adultos de poucas letras doutrinárias e não propriamente para crianças, visto que para ensinar a Doutrina Espírita aos filhos é necessário que os pais possuam noções doutrinárias, um guia, um conselheiro que lhes norteie o caminho.” Na apresentação de “O Evangelho aos simples”, Yvonne define o objetivo: “[…] oferto ao principiante este livro para auxílio ao seu aprendizado evangélico-espírita.”

No programa de visitas e palestras foram atendidas as instituições: C.E. Luiz Gonzaga, em Miguel Pereira; Lar Bezerra de Menezes, em Vassouras; C.E. Alvorecer, em Barra do Piraí. Destacamos que Yvonne Pereira residiu e atuou na cidade de Barra do Piraí. Em todos os locais ocorreram refeições ou lanches de confraternização e exposição de artesanatos e de confeitos, doces e salgados, produzidos pelas instituições anfitriãs. Em cada uma dessas casas havia intensa expectativa pela chegada da Caravana com demonstração de muito carinho e atenção.

Acoplado ao programa da Caravana e previamente a ela, proferimos palestras em outras instituições de Niterói, incluindo o Instituto Espírita Bezerra de Menezes e na sede do Conselho Espírita do Estado do Rio de Janeiro, na cidade do Rio de Janeiro. Nestas duas últimas, como eventos do XV Encontro Fluminense da Doutrina Espírita com o Direito, promovido pela Associação Jurídico Espírita do Estado do Rio de Janeiro, com tema "Valorização da Vida", mas relacionando também obras e histórias de vida de Bezerra de Menezes e de Yvonne Pereira.

Cada vez mais temos a convicção do valor da realização dessas ações regionais que estimulam a confraternização, o intercâmbio, a união dos espíritas, e, sem dúvida contribuem para a difusão do Espiritismo.

 (Ex-presidente da USE-SP e da FEB)

DR. ADOLFO BEZERRA DE MENEZES

(AMEB)

Ensina-nos o Dr. Bezerra de Menezes: “A vida, sob qualquer aspecto considerado, é dádiva de Deus que ninguém pode perturbar. Todos os seres sencientes desenvolvem um programa na escala da evolução demandando a plenitude, a perfeição que lhes é meta final.

Preservar a vida, em todas as suas expressões é dever inalienável, que assume a consciência humana no próprio desenvolvimento da sua evolução. 
Quando alguém levanta a clava para interromper propositalmente o ciclo da vida, faz-se um novo Caim, jogando sobre si mesmo a condenação da consciência de culpa e experimentando, no remorso, hoje ou mais tarde, a necessidade de depurar-se, reabilitando-se, ao nadar nos rios das lágrimas.”

Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti

Nascido na antiga Freguesia do Riacho do Sangue, hoje Solonópole, no Ceará, aos 29 dias do mês de agosto de 1831, desencarnou em 11 de abril de 1900 no estado do Rio de Janeiro.

A Infância e a Família

Seu pai, Antônio Bezerra de Menezes, capitão das antigas milícias e então tenente-coronel da Guarda Nacional, tinha fazendas de criação de gado; sua mãe chamava-se Fabiana de Jesus Maria Bezerra e era senhora do lar. Antônio era importante fazendeiro local que “nunca mediu sacrifícios, na hora de socorrer àqueles que lhe estendiam a mão”. Tanta generosidade acabou por levar sua fortuna material e em determinada altura as dívidas alcançaram níveis insuportáveis. 

Antônio foi então procurar cada um de seus credores decidido a entregar seus bens para saldar as dívidas. Os credores, contudo, reuniram-se e decidiram que o coronel Bezerra continuaria com seus bens. Assinaram um documento que afirmava com força legal que o velho Bezerra ficasse com eles e “que gozasse deles e pagasse como e quando quisesse, que eles, credores, se sujeitariam aos prejuízos que pudessem ter.” O velho Bezerra, contudo, não aceitou tal decisão. 

Depois de muita discussão, resolveu que daquela data em diante seria simplesmente um administrador dos bens para seus credores. Retirava apenas o extremamente necessário para o sustento da família e muitas vezes passou privações. A esta altura, o menino Adolfo, último filho do casal, já estava terminando o então chamado curso preparatório. Os dois filhos mais velhos tinham se formado em direito e o terceiro ainda cursava o segundo ano na Faculdade de Direito de Olinda, Pernambuco. 

O pequeno Adolfo Bezerra de Menezes tinha sete anos de idade quando foi levado pela mãe para ser matriculado na escola pública da Vila do Frade. Em dez meses o menino aprendeu a ler, escrever e fazer contas simples. Quatro anos depois, quando o pai estava sendo alvo de perseguição política, a família mudou-se para o Rio Grande do Norte. O pequeno Adolfo “foi matriculado na aula pública de latinidade, que funcionava na Serra dos Martins e era dirigida por padres jesuítas” em Maioridade, hoje cidade de Imperatriz. Após dois anos, o rapaz tornou-se tão bom na matéria que chegou a substituir o professor. 

Em 1846, o velho Bezerra voltou para a capital do Ceará, onde o pequeno Adolfo foi matriculado no Liceu, que era dirigido pelo seu irmão mais velho. Terminando seus estudos, mostrou a vontade de ser médico, e não advogado como os irmãos. Como não havia faculdade de medicina no Nordeste do país, o pai foi obrigado a mandá-lo para a então sede da Corte, a cidade do Rio de Janeiro; contou-lhe tudo que havia acontecido com os bens da família, explicando a pobreza por que passavam. Os parentes cotizaram-se e levantaram quatrocentos mil réis para pagar a viagem até o Rio. Foi assim que Adolfo Bezerra de Menezes pôde pegar o navio e chegar na então sede do Império.

O Sacerdócio na Medicina

Aos vinte e dois anos, ingressou como praticante interno no Hospital da Santa Casa de Misericórdia. Doutorou- se em 1856 pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, defendendo a tese "Diagnóstico do Cancro". Nessa altura abandonou o último patronímico, passando a assinar apenas Adolfo Bezerra de Menezes.

Como não tinha dinheiro para montar um consultório, entrou em acordo com um colega de faculdade que possuía mais recursos e passou a dividir uma sala no centro comercial da cidade. Durante os meses em que o consultório ficou aberto, quase não houve pacientes. Mas a casa onde morava o médico Bezerra ficava repleta de doentes. Começou a atender aos componentes da família e depois aos amigos. Sua fama correu pelo bairro e os clientes apareciam; mas ninguém pagava, pois eram todos gente pobre e o dinheiro nunca foi mencionado. 

Foi então que um amigo e médico militar, Dr. Manoel Feliciano Pereira de Carvalho, chefe do corpo de saúde do Exército, resolveu contratá-lo como médico militar. Dr. Feliciano era chefe da clínica cirúrgica do Hospital da Misericórdia, hospital este onde o Dr. Bezerra tinha sido praticante e interno em 1852, quando ainda cursava o segundo ano de faculdade. Ainda em 1856, o governo imperial fez a reforma do Corpo de Saúde do Exército e nomeou o Dr. Feliciano como cirurgião-mor. Ele, então, chamou Bezerra para ser seu assistente e foi assim que, com um emprego remunerado estável, começou o caminho do médico dos pobres. 

Bezerra continuava atendendo gratuitamente aqueles que não podiam pagar. Sua fama continuava a se espalhar e o consultório do centro da cidade começou a ficar movimentado, também com clientes que pagavam. O dinheiro que recebia no consultório era gasto com os seus pobres em remédios, roupas ou simplesmente auxílio em dinheiro. 

Bezerra de Menezes tinha a função de médico no mais elevado conceito, por isso, dizia ele: "Um médico não tem o direito de terminar uma refeição, nem de perguntar se é longe ou perto, quando um aflito qualquer lhe bate à porta. O que não acode por estar com visitas, por ter trabalhado muito e achar- se fatigado, ou por ser alta hora da noite, mau o caminho ou o tempo, ficar longe ou no morro, o que sobretudo pede um carro a quem não tem com que pagar a receita, ou diz a quem lhe chora à porta que procure outro – esse não é médico, é negociante de medicina, que trabalha para recolher capital e juros dos gastos de formatura. Esse é um desgraçado, que manda para outro o anjo da caridade que lhe veio fazer uma visita e lhe trazia a única espórtula que podia saciar a sede de riqueza do seu Espírito, a única que jamais se perderá nos vaivens da vida."

O Casamento e a Iniciação Política

Com a vida mais organizada, resolveu casar tendo encontrado o amor na pessoa de D. Maria Cândida Lacerda; casaram-se em 6 de novembro de 1858. Nesta época, tinha posição social: além de médico, era jornalista, escrevendo para os principais jornais da cidade; no meio militar era muito respeitado. Não demorou muito até que lhe oferecessem um lugar na chapa de um partido para as eleições do Poder Legislativo. 

D. Maria foi uma das maiores incentivadoras da candidatura de Bezerra de Menezes. Os habitantes de São Cristóvão, bairro onde morava e clinicava, também queriam tê-lo como representante na Câmara Municipal; foi assim que em 1860 foi eleito por um grupo de São Cristóvão. Mas houve uma tentativa de impugnar seu diploma sob o pretexto de que um militar não poderia ser eleito. Bezerra teve então de escolher entre a carreira militar e a política. Seguindo os conselhos de sua esposa, renunciou à patente militar e abraçou a vida política de vez. 

Contudo, o destino reservava-lhe uma difícil provação para o ano de 1863. Depois de uma doença rápida e repentina, sua esposa desencarnava em menos de vinte dias no outono deste ano. Deixava o marido com dois filhos: um com três anos e outro com um ano de idade. 

O golpe da viuvez moveu os sentimentos religiosos que a dor sempre traz à tona. Em busca de consolação, Dr. Bezerra passou a ler a Bíblia com freqüência. Verificava a expansão vertical que a dor oferece às almas dos que sofrem, ligando-os a Deus.

Re-Conhecendo Doutrina Espírita

No mundo, o Espiritismo estava a se expandir. Em 1869 desencarnava Allan Kardec em Paris, deixando consolidada para a humanidade a Codificação Espírita. As idéias de Kardec eram revolucionárias e atraíam a atenção de sérios investigadores e cientistas mundo afora. Desencarnado o Codificador, restava a Obra a arregimentar novos espíritas. 

No Brasil, principalmente na Capital, a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, as influências européias modificavam a vida local. A homeopatia popularizava-se aos poucos, principalmente nos meios espíritas. Teve como um dos seus primeiros experimentadores o baluarte da República José Bonifácio de Andrada e Silva; “Desde 1818, o Brasil principiara a ouvir falar da homeopatia. O Patriarca da Independência correspondia-se com Hahnemann”, o criador da Homeopatia. Como médico, as discussões sobre a terapêutica homeopática também interessaram ao Dr. Bezerra de Menezes e notícias de curas creditadas a essa terapêutica chegaram a seus ouvidos.

O Dr. Carlos Travassos havia empreendido a primeira tradução das obras de Allan Kardec e levara a bom termo a versão portuguesa de "O Livro dos Espíritos". Logo que esse livro saiu do prelo levou um exemplar ao deputado Bezerra de Menezes, entregando- o com dedicatória. O episódio foi descrito do seguinte modo pelo futuro Médico dos Pobres: "Deu- mo na cidade e eu morava na Tijuca, a uma hora de viagem de bonde. Embarquei com o livro e, como não tinha distração para a longa viagem, disse comigo: ora, adeus! Não hei de ir para o inferno por ler isto… Depois, é ridículo confessar- me ignorante desta filosofia, quando tenho estudado todas as escolas filosóficas. Pensando assim, abri o livro e prendi- me a ele, como acontecera com a Bíblia. Lia. Mas não encontrava nada que fosse novo para meu Espírito. Entretanto, tudo aquilo era novo para mim!… Eu já tinha lido ou ouvido tudo o que se achava no "O Livro dos Espíritos". Preocupei- me seriamente com este fato maravilhoso e a mim mesmo dizia: parece que eu era espírita inconsciente, ou, mesmo como se diz vulgarmente, de nascença".

 Medicina e Espiritismo 

A Doutrina Espírita difundia-se, em muito ajudada pelas práticas de médicos homeopatas e espíritas, que passaram a prestar a Caridade também através de sua mediunidade . Um desses médicos era João Gonçalves do Nascimento ; muitos colegas de Bezerra de Menezes falavam das curas operadas através deste médium e tanto falaram que um dia Bezerra resolveu pedir-lhe uma receita enviando um pedaço de papel que dizia: “Adolfo, tantos anos, residente na Tijuca”). Logo recebeu uma resposta com o diagnóstico correto de seu problema de estômago. 

Ficou tão impressionado que resolveu pedir receitas também para pessoas que apresentavam problemas psíquicos — a loucura foi uma das áreas que Dr. Bezerra mais estudou. Acompanhou o desenvolvimento do tratamento em seus pacientes e depois de simplesmente assistir aos trabalhos desobsessivos, resolveu participar ativamente nesse tipo de tratamento. Na visão da Doutrina Espírita, os portadores de doenças psíquicas são pessoas que podem apresentar problemas mentais devido às causas biológicas detectáveis pela ciência humana e também devido à influência de espíritos de desencarnados, também doentes.

Segundo Casamento e a Carreira Política

Em 1864, Bezerra foi reeleito vereador e casou-se com D. Cândida Augusta de Lacerda Machado , irmã materna da sua primeira esposa. Com ela, sua esposa até o leito de morte, teve sete filhos. 

Deu continuidade à sua carreira política. Em 1867 foi aclamado e eleito deputado geral. Em 1878 foi reeleito deputado, tornou-se presidente da Câmara Municipal (correspondente ao atual cargo de Prefeito Municipal) e líder do seu partido, permanecendo no cargo até 1881. Manteve diversas lutas políticas, sendo conhecido como homem público que não comprometia seus princípios para colher favores ou posições.

A exemplo do que ocorre com todos os políticos honestos, uma torrente de injúrias que cobriu o seu nome de impropérios. Entretanto, a prova da pureza da sua alma deu- se quando, abandonando a vida pública, foi viver para os pobres, onde houvesse um mal a combater, levando ao aflito o conforto de sua palavra de bondade, o recurso da ciência de médico e o auxílio da sua bolsa minguada e generosa. 

Desviado interinamente da atividade política e dedicando- se a empreendimentos empresariais, criou a Companhia de Estrada de Ferro Macaé a Campos, na então província do Rio de Janeiro. Depois, empenhou- se na construção da via férrea de S. Antônio de Pádua, etapa necessária ao seu desejo, não concretizado, de levá-la até o Rio Doce. Era um dos diretores da Companhia Arquitetônica que, em 1872, abriu o "Boulevard 28 de Setembro", no então bairro de Vila Isabel, cujo topônimo prestava homenagem à Princesa Isabel. Em 1875, era presidente da Companhia Carril de S. Cristóvão.

Retornando à política, foi eleito vereador em 1876, exercendo o mandato até 1880. Foi ainda presidente da Câmara e Deputado Geral pela Província do Rio de Janeiro, no ano de 1880.

A Organização do Movimento Espírita

O amor e dedicação de Bezerra pela Doutrina Espírita deram bons frutos e ele veio a exercer papel fundamental no Movimento Espírita brasileiro. Nessa época o Espiritismo no Brasil buscava organizar-se: em 1876 surgia a primeira sociedade espírita no Rio de Janeiro; em 1883, Augusto Elias da Silva , interessado na difusão dos ensinos espíritas, fundava a revista O Reformador e punha-se a procurar colaboradores. 

O espiritismo sofria perseguições e era combatido veementemente. A imprensa era fonte diária de críticas ferozes; os sermões enchiam os púlpitos de insultos e insinuações contra a Doutrina. Elias da Silva foi então buscar em Bezerra de Menezes conselhos sobre como revidar toda a animosidade contra o Movimento Espírita. A resposta dada pelo Dr. Bezerra foi o de não seguir o caminho do ataque, de não combater o ódio com o ódio, mas antes combater o ódio com o amor . A tônica deste conselho norteou toda a vida e o trabalho de Bezerra, dentro e fora do Movimento Espírita brasileiro.

Pela Unificação do Movimento Espírita

Em 1883, reinava um ambiente francamente dispersivo no seio do Espiritismo brasileiro e os que dirigiam os núcleos espíritas do Rio de Janeiro sentiam a necessidade de uma união mais bem estruturada e que, por isso mesmo, se tornasse mais indestrutível.

A cisão era profunda entre os chamados "místicos" e "científicos", ou seja, espíritas que aceitavam o Espiritismo em seu aspecto religioso, e os que o aceitavam simplesmente pelo lado científico e filosófico.

No dia 27 de dezembro de 1883, Augusto Elias da Silva faz uma reunião com os 12 companheiros que o ajudavam no REFORMADOR. Nesse encontro, eles decidem fundar uma nova instituição, que não fosse nem mística, nem científica, deveria ser ideologicamente neutra.

Assim, no dia 1° de janeiro de 1884 foi fundada a Federação Espírita Brasileira (FEB), que promoveria a doutrinação, a disciplina e o intercâmbio de experiências entre os diversos centros já existentes. Bezerra foi um dos primeiros a ser convidado para assumir a posição de presidente da organização, mas não aceitou por não se considerar capaz de tamanha responsabilidade. Seu primeiro presidente foi o Marechal Ewerton Quadros e o REFORMADOR torna-se o órgão oficial da FEB.

Em 1887, o Médico dos Pobres passou a escrever uma série chamada “Espiritismo — Estudos Filosóficos”, que saía aos domingos no jornal “O País ”, com o pseudônimo de Max . Vale lembrar que na época esse era o jornal mais lido no Brasil. Continuaria a série de artigos até o Natal de 1894. Escreveria depois, com o mesmo pseudônimo, em outros dois jornais sempre em defesa dos postulados do Cristo Jesus, calcado na visão espírita.

Em 1888, logo no início da série de artigos, Dr. Bezerra perdeu dois filhos. Reagiu e continuou trabalhando. Durante cinco anos, escreveu sobre a Doutrina, elucidou muitas pessoas e arrebanhou outras tantas para as fileiras espíritas.

Em 1889, o Marechal Ewerton Quadros foi transferido para Goiás, ficando impossibilitado de permanecer à frente da FEB.

Para seu lugar, foi eleito o famoso médico e deputado Adolfo Bezerra de Menezes, que, há cerca de três anos, havia chocado a sociedade carioca com a sua conversão ao Espiritismo. A intenção dos febianos era colocar um elemento de grande prestígio e força moral na presidência, a fim de fortalecer o processo de unificação.

Em 1889, o Dr. Bezerra tornou-se presidente da Federação Espírita, onde tentou a todo custo promover a união de todos os espíritas, inspirado principalmente por mensagem ditada mediunicamente por Allan Kardec em janeiro do mesmo ano, através do médium Frederico Júnior , chamada “Instruções de Allan Kardec aos Espíritas do Brasil”.

Bezerra lutou muito para apaziguar as diferenças dentro do meio espírita e tinha como objetivo promover uma liderança que abrigasse todos os espíritas do Brasil. Quanto mais aumentavam as dissensões, mais aumentava também seu esforço e trabalho.

Na falta de pregadores espíritas cristãos, assumiu ele mesmo a função. Iniciou uma sessão semanal na Federação para o estudo de O Livro dos Espíritos no dia 23 de maio de 1889 e os resultados obtidos foram os melhores possíveis, com o grande número de pessoas que lá compareciam.

Além disto, realizava conferências e reuniões em uma casa espírita chamada União. Em outra casa chamada “Centro”, que ele mesmo fundara para promover o estudo do Evangelho e de O Livro dos Espíritos, tentava conciliar as diferentes correntes de pensamento espírita. E ainda em um outro grupo, participava dos trabalhos de desobsessão.

 A mensagem “Instruções”, de Kardec, fornecia as diretrizes para o trabalho do Dr. Bezerra . A certa altura Kardec pergunta: “Onde está a escola de médiuns?” e esse ponto ficou gravado na mente de Bezerra. Na realidade, ele não encontrou uma escola de médiuns em parte alguma. A solução encontrada foi fundar ele mesmo a tal escola.

Muitos se opuseram à idéia, mas ele terminou por instalar a “Escola de Médiuns” no “Centro ”. Foi quando se viu só, pois nem mesmo os próprios membros da diretoria desta instituição freqüentavam a escola. Chamou a todos, mas ninguém comparecia.

Contudo, a Doutrina ganhava terreno em outras áreas. “A Federação inaugurava o seu período áureo, preparando-se para a projeção formidável que iria ter no futuro”. Instituiu-se o serviço filantrópico de “Assistência aos Necessitados”, que atraiu muita gente. 

Bezerra continuava esquecido no “Centro”, mas mesmo assim manteve firme seus propósitos. A situação chegou a um ponto em que a despesa e os gastos da instituição tornaram-se insustentáveis, e Bezerra já não podia usar de seus próprios recursos. Convocou por carta cada um dos membros da diretoria, para buscar a solução do problema. Ninguém atendeu ao chamado.

Na semana seguinte, convocou-os novamente. Ninguém veio. Foi à casa de um por um para convocar uma última reunião que fosse. Nem mesmo assim eles queriam comparecer. Bezerra foi então sozinho procurar abrigo em outra casa espírita, onde foi bem recebido. Mas a boa acolhida não durou muito tempo, já que apareceriam novamente as dissensões entre as correntes de pensamento espírita. O Movimento Espírita carecia de união.

A Proibição do Espiritismo

O Brasil seguia em frente fazendo sua História. Em 1889, a República foi proclamada. Nosso país não mais seria governado por um imperador, mas por um presidente eleito pelo voto.

Em outubro de 1890, entrou em vigor o então Novo Código Civil . A recém proclamada República vivia com receio de conspiração daqueles contrários ao novo regime e por isso o Código Civil impunha limites às associações das pessoas, dentre as quais as reuniões espíritas. Reuniões de qualquer natureza eram denunciadas à polícia sob suspeita de conspiração.

O Reformador teve sua publicação suspensa; as casas espíritas chegaram a fechar.

O receio fez com que as diversas organizações espíritas se unissem e tomassem uma atitude, encabeçadas pela Federação . No final de 1890, enviaram todas unidas uma “Carta Aberta” ao Ministro da Justiça e um grupo de representantes ao Governo, que entrou com recursos à Constituinte.

Na Europa, o Espiritismo vivia um clima muito voltado à pesquisa dos fenômenos mediúnicos, tendência que chegou também ao Brasil. Todos os estudos ficaram voltados para o fenômeno , dando uma menor importância aos princípios morais enfocados pela doutrina codificada por Kardec. E o Evangelho ficou relegado a um segundo plano.

Dr. Bezerra, “que não podia compreender Espiritismo sem fé religiosa”, manteve-se no seu trabalho devocional, totalmente isolado das tendências da moda. Continuava escrevendo os artigos doutrinários no “País”, ia ao “Centro Ismael ”, e trabalhou até mesmo em um romance chamado “Lázaro, o Leproso”, publicado em 1892.

Em 1893, a situação ficou crítica. Dr. Bezerra estava só e desprovido de recursos materiais. Nunca havia se preocupado muito com suas finanças e assim chegou ao fim de suas reservas. Por sua vez, a situação política do país estava muito conturbada no final daquele ano pela Revolta da Armada, e as tropas estavam acampadas nas ruas. Já em setembro, houve o fechamento de todas as sociedades, espíritas ou não. No Natal do mesmo ano Bezerra encerrou a série de "Estudos Filosóficos" que vinha publicando no "O Paiz".

Reconstruindo o Movimento Espírita

Em 1894, apesar das divergências, as diferentes correntes restauraram a Federação, e em seguida, retomaram a publicação do Reformador. As novas diretrizes tencionavam alcançar o meio termo entre Fé e Ciência , Amor e Razão ; mas as lutas entre os irmãos espíritas continuavam. 

Com as desavenças, Dias da Cruz, o então presidente da Federação, deixou o cargo. Em 1895, o presidente seguinte, Júlio Leal , também o deixou. Restaram o cargo vago e a dúvida sobre quem convocar para ocupar a presidência.

O único nome que surgiu como consenso foi o de Bezerra de Menezes, e, em julho de 1895, um grupo de membros da diretoria da Federação bateu à sua porta. Bezerra estava cansado, doente, abatido pela dissensão entre os irmãos espíritas; apesar de todos os argumentos apresentados, não aceitou o convite. “Com a perspectiva de poder conciliar a grande família espírita em torno do ideal cristão, o venerando ancião prometeu pensar”. 

No dia seguinte, foi como sempre à sessão das sextas-feiras do Grupo Ismael , onde dirigia os trabalhos. Abriu os trabalhos, mas parecia aflito, com a cabeça entre as mãos. Depois da prece de abertura, feita por Bittencourt Sampaio, permaneceu na mesma posição. Quando por fim se levantou, estava transtornado e ficou assim durante a primeira etapa dos trabalhos, que consistia do recebimento de mensagens psicografadas. No momento da explanação dos temas evangélicos, Bezerra falou visivelmente emocionado das desavenças no Movimento Espírita e sobre o convite que havia recebido. Confessou-se fraco para assumir a posição àquela altura dos acontecimentos.

Terminou a explanação pedindo auxílio à Espiritualidade e prometeu seguir o que lhe fosse indicado. Pouco depois, o espírito Agostinho manifestou-se pelo médium Frederico Júnior, o mesmo médium que anos antes havia sido instrumento de Allan Kardec (Espírito) para ditar as “Instruções de Allan Kardec aos Espíritas do Brasil ”. Agostinho instruiu que Bezerra tomasse o cargo da presidência e se pusesse como elemento conciliador capaz de unir e erguer a família espírita, prometendo auxiliá-lo em mais esta tarefa. Naquela mesma noite Bezerra de Menezes anunciou aceitar o cargo, permanecendo presidente até 1900, quando voltou a pátria espiritual.

Desencarne

Em janeiro de 1900, Dr. Bezerra sofreu violento derrame cerebral, que o prostrou em uma cama. Durante três meses Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti agonizou sem poder falar ou se movimentar. Só os olhos ainda se moviam. A notícia correu a cidade e causou verdadeira peregrinação à casa do médico, no subúrbio modesto. Assim como acontecia no seu consultório, pobres e ricos misturaram-se em sua casa para visitar o doente. 

A cena era singular: cada pessoa entrava uma a uma no quarto onde estava Bezerra, sentava-se em uma cadeira, não falava nada,— já que ele não poderia responder — ficava alguns minutos e saía comovida pelo olhar que Bezerra lhe dirigia. A procissão seguiu-se dia e noite. 

No dia 11 de abril de 1900, na casa da Rua 24 de maio, Bezerra passou suavemente para a Vida Maior. A cidade agitou-se com o seu desencarne, esteve presente no sepultamento do Médico dos Pobres e prestou-lhe homenagens. 

Na Espiritualidade, Bezerra foi recebido pelas hostes do bem com louros de amor. Os anos de trabalho como verdadeiro servo do Cristo encarnado na terra transformaram-se em luzes para seu espírito, conferiram-lhe verdadeiro galardão espiritual. “Bezerra desprendeu-se do orbe, tendo consolidado a sua missão”.

Um “Causo” do Dr. Bezerra

Digno de registro foi um caso sucedido com o Dr. Bezerra de Menezes, quando ainda era estudante de Medicina. Ele estava em sérias dificuldades financeiras, precisando da quantia de cinqüenta mil réis (antiga moeda brasileira), para pagamento das taxas da Faculdade e para outros gastos indispensáveis em sua habitação, pois o senhorio, sem qualquer contemplação, ameaçava despejá-lo.

Desesperado – uma das raras vezes em que Bezerra se desesperou na vida – e como não fosse incrédulo, ergueu os olhos ao Alto e apelou a Deus.

Poucos dias após bateram- lhe à porta. Era um moço simpático e de atitudes polidas que pretendia tratar algumas aulas de Matemática.

Bezerra recusou, a princípio, alegando ser essa matéria a que mais detestava, entretanto, o visitante insistiu e por fim, lembrando- se de sua situação desesperadora, resolveu aceitar.

O moço pretextou então que poderia esbanjar a mesada recebida do pai, pediu licença para efetuar o pagamento de todas as aulas adiantadamente. Após alguma relutância, convencido, acedeu. O moço entregou- lhe então a quantia de cinqüenta mil réis. Combinado o dia e a hora para o início das aulas, o visitante despediu- se, deixando Bezerra muito feliz, pois conseguiu assim pagar o aluguel e as taxas da Faculdade. Procurou livros na biblioteca pública para se preparar na matéria, mas o rapaz nunca mais apareceu.

No ano de 1894, em face das dissensões reinantes no seio do Espiritismo brasileiro, alguns confrades, tendo à frente o Dr. Bittencourt Sampaio, resolveram convidar Bezerra a fim de assumir a presidência da Federação Espírita Brasileira.

Em vista da relutância dele em assumir aquele espinhoso encargo, travou- se a seguinte conversação:

Bezerra – Querem que eu volte para a Federação. Como vocês sabem aquela velha sociedade está sem presidente e desorientada. Em vez de trabalhos metódicos sobre Espiritismo ou sobre o Evangelho, vive a discutir teses bizantinas e a alimentar o espírito de hegemonia.

Bittencourt Sampaio – O trabalhador da vinha é sempre amparado. A Federação pode estar errada na sua propaganda doutrinária, mas possui a Assistência aos Necessitados, que basta por si só para atrair sobre ela as simpatias dos servos do Senhor.

Bezerra – De acordo. Mas a Assistência aos Necessitados está adotando exclusivamente a Homeopatia no tratamento dos enfermos, terapêutica que eu adoto em meu tratamento pessoal, no de minha família e recomendo aos meus amigos, sem ser, entretanto, médico homeopata. Isto aliás me tem criado sérias dificuldades, tornando- me um médico inútil e deslocado que não crê na medicina oficial e aconselha a dos Espíritos, não tendo assim o direito de exercer a profissão.

Bittencourt – E por que não te tornas médico homeopata? 

Bezerra – Não entendo patavinas de Homeopatia. Uso a dos Espíritos e não a dos médicos.

Nessa altura, o médium Frederico Júnior, incorporando o Espírito de S. Agostinho, deu um aparte:

S.Agostinho – Tanto melhor. Ajudar-te-emos com maior facilidade no tratamento dos nossos irmãos.

Bezerra – Como, bondoso Espírito? Tu me sugeres viver do Espiritismo?

S.Agostinho – Não, por certo! Viverás de tua profissão, dando ao teu cliente o fruto do teu saber humano, para isso estudando Homeopatia como te aconselhou nosso companheiro Bittencourt. Nós te ajudaremos de outro modo: Trazendo- te, quando precisares, novos discípulos de Matemática…

 Referências Bibliográficas:

Xavier, Chico; “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”
Acquarone, Francisco; “Bezerra de Menezes o Médico dos Pobres”, Aliança.

Abreu, Canuto; “Bezerra de Menezes”, FEESP.

Soares, Sylvio; “Vida e Obra de Bezerra de Menezes”, FEB.

Gama, R. “Lindos Casos de Bezerra de Menezes”. São Paulo, Lake.

Movimento Espírita Kardecista:

http://www.movimentoespirita.hpg.ig.com.br/

Portal do Espírito 

http://www.espirito.org.br/portal/biografias/adolfo-bezerra.html

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Da página eletrônica da Associação Médico Espírita do Brasil: http://www.amebrasil.org.br/html/perfil_bezerra.htm

 

A fantástica história de Jorge

Adelino da Silveira

Ao longo dos anos em que ia a Uberaba, conheci muita gente. Gente boa, gente meio boa e gente menos boa. Algumas, o tempo vai apagando lentamente, mas jamais terá força suficiente para apagar de minhas lembranças a figura encantadora que vocês vão passar a conhecer.

Numa daquelas madrugadas, quando as reuniões do Grupo Espírita da Prece se estendiam até ao amanhecer, vi-o pela primeira vez. Naquela filas quase intermináveis que se formavam para a despedida ou para uma última palavrinha ainda que rápida com Chico, ele chamou-me a atenção pela alegria com que esperava a sua vez.

Vinha com passos cansados, o andar trôpego, a fisionomia abatida, mas seus olhos brilhavam à medida que se aproximava do médium. Não raro, seu contentamento se traduzia em lágrimas serenas mas copiosas.

Trajes pobres, descalço, pés rachados, indicando que raramente teriam conhecido um par de sapatos. Calça azul, camisa verde, com muitos remendos; um paletó de casimira apertava-lhe o corpo franzino.

Pele escura, cabelos enrolados nos lábios uma ferida. Chamava-se Jorge.

Creio que deve ter tomado poucos banhos durante toda a vida. Quando se aproximava, seu corpo magro, sofrido e mal alimentado exalava um odor desagradável.

Em sua boca, alguns raros tocos de dentes, totalmente apodrecidos. Quando falava, seu hálito era quase insuportável. Ainda que alguém não quisesse, tinha um movimento instintivo de recuo. Quando se aproximava, tínhamos pressa em dar-lhe algum trocado para que ele fosse comprar pipoca, doce ou um refrigerante, a fim de que saísse logo de perto da gente.

Jorge morava com o irmão e a cunhada num bairro muito pobre – uma favela, quase um cortiço.

Seu quarto era um pequeno cômodo anexado ao barraco do irmão. Algumas telhas, pedaços de tábuas, de plásticos, folhas de lata emolduravam o seu pequeno espaço.

O irmão e a cunhada eram bóias-frias. Jorge ficava com as crianças. Fazia-lhes mingau, trocava-lhes os panos, assistia-os. Alma assim caridosa, acredito que sofresse maus tratos. Muitas vezes o vi com marcas no rosto, e, ainda hoje, fico pensando se aquela ferida permanente em seu lábio inferior não seria resultante de constantes pancadas.

Pois o Chico conversava com ele, cinco,dez, vinte minutos. Nas primeiras vezes, pensava: “Meu Deus! como é que o Chico pode perder tanto tempo com ele, quando tantas pessoas viajaram milhares de quilômetros e mal pegaram sua mão?! Por que será que ele não diminui o tempo do Jorge, para dar mais atenção aos outros?”

Somente mais tarde fui entender que a única pessoa capaz de parar para ouvir o Jorge era ele.

Em casa, o infeliz não tinha com quem conversar; na rua, ninguém lhe dava atenção.

Quase todas as vezes em que lá estive, lá estava ele também.

Assim, por alguns anos, habituei-me a ver aquele estranho personagem que aos poucos me foi cativando.

Hoje , passados tantos anos, ao escrever estas linhas, ainda choro. “A gente corre o risco de chorar um pouco, quando se deixou cativar, não é mesmo?

Nunca ouvimos de sua boca qualquer palavra de queixa ou revolta.

Seu diálogo com o paciente médium era comovente e enternecedor.

– Jorge, como vai a vida?

– Ah, Tio Chico! Eu acho a vida uma beleza!

– E a viagem, foi boa?

– Muito boa, Tio Chico! Eu vim olhando as flores que Deus plantou no caminho para nos alegrar.

– Do que você mais gosta de olhar, Jorge?

– O azul do céu, Tio Chico. às vezes penso que o Sinhô Jesus tá me espiando por detrás de uma nuvem.

– Depois, o visitante falava da briga dos gatos, da goteira que molhou a cama, do passarinho que estava fazendo ninho no seu telhado.

Quando pensava que tudo havia terminado, o dono da casa ainda dizia:

– Agora, o nosso Jorge vai declamar alguns versos.

Eu chegava até me virar na cadeira, perguntando a mim mesmo: “Onde é que o Chico arruma tanta paciência?”

Jorge declamava um, dois , quatro versos.

– Bem Jorge, agora para a nossa despedida, declame o verso que mais gosto.

– Qual, tio Chico?

– Aquele da moça.

– Ah, Tio Chico! Já me lembrei. Já me lembrei.

Naquelas horas, o centro continuava lotado. As pessoas se acotovelavam, formando um grande círculo em torno da mesa.

Jorge colocava, então, o colarinho da camisa para fora, abotoava o único botão de seu surrado paletó, colocava as mãos para trás, à semelhança de uma criança quando vai declamar na escola ou perante uma autoridade, olhava para ver se o estavam observando e sapecava, inflado de orgulho:

“Menina, penteia o cabelo.

Joga as tranças para a cacunda.

Queira Deus que não te leve de domingo pra segunda!”

Quando terminava, o riso era geral. Ele também sorria. Um sorriso solto e alegre, mas ainda assim doído, pois a parte inferior de seus grossos lábios se dilatava, fazendo sangrar a ferida.

Aí, ele se aproximava do médium, que lhe dava uma pequena ajuda em dinheiro. Em todos aqueles anos, nunca consegui ver quanto era. Depois, colocava o dinheiro dentro de uma capanga, onde já havia guardado as pipocas, os doces, dando um nó na alça do pano.

Para se despedir, ele não se abraçava ao Chico: ele se jogava, sim, todo por inteiro em cima do Chico! Falava quase dentro do nariz do Chico e eu nunca o vi ter aquele recuo instintivo como eu tivera tantas vezes.

Beijava-lhe a mão, o qual também beijava a mão e a face dele, ao que ele retribuía, beijando os dois lados da face do Chico, onde ficavam manchas de sangue deixadas pela ferida aberta em seus lábios. Nunca vi o Chico se limpar na presença dele nem depois que ele se tivesse ido. Eu, que muitas vezes, ao chegar à casa dele, molhava um pano e limpava o que passamos a chamar carinhosamente de “o beijo do Jorge…”

Não saberia dizer quantas vezes pensei em levar um presente àquele pobre irmão – uma camisa…um par de sapatos…uma blusa. Infelizmente, fui adiando e o tempo passando. Acabei por não lhe levar nada.

Lembro-me disto com tristeza e as palavras do Apóstolo Paulo se fazem mais fortes nos recessos de minha alma: “Façamos o bem, enquanto temos tempo.”

Enquanto temos tempo. De repente, fica tarde demais. Jorge desencarnou. Desencarnou numa madrugada fria. Completamente só em seu quarto. Esquecido do mundo, esquecido de todos, mas não de Deus.

Contou-me o Chico que foi este nosso irmão de pele escura, cabelos enrolados, ferida nos lábios, pés rachados, mau cheiro e mau hálito que ao desencarnar, Jesus Cristo veio pessoalmente buscar. Entrou naquela quarto de terra batida, retirou Jorge do corpo magro e sofrido, envolto em trapos imundos, aconchegou-o de encontro ao peito e voou com ele para o espaço, como se carregasse o mais querido dos seus irmãos!

“Eis que estarei convosco até o fim dos séculos.”

“Não vos deixarei órfãos.”

Ele não faria uma promessa que não pudesse cumprir.

 

Extraído de: http://www.kardecriopreto.com.br/a-fantastica-historia-de-jorge-o-humilde-cidadao-que-quando-desencarnou-foi-recebido-no-plano-espiritual-por-jesus-de-nazare/

O APÓSTOLO PAULO E OS JOGOS OLÍMPICOS

Simbolo

De 5 a 21 de agosto, atletas de mais de 200 países estarão no Rio de Janeiro participando, numa das 42 modalidades esportivas, de mais uma Olimpíada. Os jogos olímpicos tiveram seu início em Olímpia, na Grécia Antiga, ao longo do tempo ampliaram-se para o mundo, promovendo o intercâmbio e o convívio fraterno entre os povos dos cinco continentes.

O que nem todos sabem, ou atentam, é que no Novo Testamento há várias referências aos chamados jogos olímpicos, mais precisamente nas cartas, ou epístolas, do apóstolo Paulo, quem mais levou a mensagem de Jesus a outras terras. O convertido de Damasco faz referência a alguns tipos de esportes nas quatorze missivas a ele atribuídas, notando-se nisso o claro objetivo de facilitar o entendimento dos ensinos do Evangelho e de transmitir orientações às comunidades cristãs de diferentes regiões por meio de algo que lhes era familiar.

Paulo, vale lembrar, nasceu em Tarso, cidade da Turquia, na região histórica da Cilícia, com cerca de 300 mil habitantes, que promovia, de tempos em tempos, competições com diferentes modalidades: corridas, lutas, lançamento de discos, arremesso de dardos… Eram os jogos olímpicos gregos.

O Espírito Emmanuel, no monumental “Paulo e Estêvão”, psicografado por Chico Xavier, edição da Federação Espírita Brasileira, menciona no capítulo “Nas estradas de Jope”, em mais de uma oportunidade, a paixão do apóstolo dos gentios pelos esportes. Como nesta passagem: “Recordava [Paulo], satisfeito, o esporte a que se afeiçoara na cidade natal, tão ao gosto grego em que fora educado, graças à solicitude paterna. Olhos fixos nos cavalos árdegos e velozes, vinham- -lhe à mente as vitórias alcançadas, entre os parceiros de jogos na sua descuidosa adolescência.”

O texto psicografado, se pode dizer assim, preenche uma lacuna no Evangelho, no qual apenas se consegue depreender, sem nenhuma citação específica, a importância que os esportes tiveram na vida do apóstolo, sobretudo na sua juventude como o judeu Saulo, pois, se assim não fosse, homem maduro já convertido no cristão Paulo, não teria deixado transparecer, de maneira tão intensa, tal influência na pregação da Boa Nova.

Retornando à questão das citações contidas nas cartas que evidenciam a marca do esportismo na vida de Paulo, destacamos, como exemplo, esta, quando escreve à sua comunidade grega da cidade portuária de Corinto, fazendo menção a duas modalidades olímpicas, a corrida e a luta: “Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível, nós, porém, uma incorruptível. Pois eu assim corro, não como a coisa incerta: assim combato, não como batendo no ar” (I Coríntios, 9:24-26).

Ou esta, dirigida aos Gálatas, na qual escreve fazendo comparação com as corridas no estádio: “[…] e lhes expus o Evangelho que prego entre os gentios, e particularmente aos que estavam em estima; para que de maneira alguma não corresse ou não tivesse corrido em vão” (Gálatas, 2:2, 5 e 7).

Escrevendo aos habitantes de Filipos: “Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Filipenses, 3:14).

Aos hebreus: “[…] deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta” (Hebreus, 12:1).

E, já ancião, preso em Roma e condenado à morte, despede-se de Timóteo, escrevendo esta que se tornou uma das suas mais célebres e conhecidas frases, um resumo de sua vida de lutas e superação por amor ao Cristo: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé” (II Timóteo, 4:7).

Imbuídos do espírito olímpico que nos cerca com maior intensidade nesses dias, que possamos, tal como Paulo, viver como atletas do bem, superando obstáculos e crescendo, com Jesus, um pouco mais a cada dia.

(De: Editorial, Serviço Espírita de Informações, edição 2262, Julho de 2016;

http://www.redeamigoespirita.com.br/profiles/blogs/o-ap-stolo-paulo-e-os-jogos-ol-mpicos?xg_source=msg_appr_blogpost)

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ACESSE também: http://grupochicoxavier.com.br/por-que-epistolas-de-paulo/

 

 

Brasil sem Aborto: Dez anos do Movimento serão lembrados em São Paulo e em Brasília

Rubens Toledo

A norte-americana Rebecca Kiessling, defensora dos direitos do nascituro e mulheres vítimas de estupro, e o presidente da Federação Espírita do Uruguai, Eduardo Santos, discursarão na Câmara Federal, em Brasília, nesta terça-feira, 12 de julho, nas comemorações dos dez anos do Movimento Nacional de Cidadania pela Vida — Brasil sem Aborto. No Brasil, o aborto é permitido em três situações: quando a vida da mãe (gestante) corre risco de morte; quando a gravidez é resultado de estupro, e, também agora, depois de decisão do STF, quando o feto apresentar sinais de anencefalia, mas há processos tramitando no Congresso Nacional que visam aprovar a descriminalização do aborto.  Rebecca e Santos vêm demonstrar por que a autorização do aborto em seus países de origem não significou o fim do problema, mas apenas agravou o estado psicológico das mulheres que cometeram o ato.

E um desses testemunhos será dado pela própria Rebecca, cuja gestação foi iniciada após brutal e covarde ato de estupro. “Minha mãe biológica esteve prestes a fazer o aborto, e foi orientada pelas autoridades policiais a procurar uma clínica, em condições muito precárias. Mas a verdade é que eu nasci. Fui entregue à adoção, quando tinha 6 anos. Aos 18, conheci minha mãe biológica”, conta Rebecca. Desde 1995, Rebecca tem trabalhado em defesa das mulheres vítimas de estupro, bem como dos nascituros.

Rebecca já está no Brasil, desde o início da semana, acompanhada de Lenise Garcia, presidente do Movimento Nacional de Cidadania pela Vida — Brasil sem Aborto. Antes da sua conferência em Brasília, Rebecca deverá falar também na Assembleia Legislativa, neste feriado de 9 de julho, na capital paulista.  No caso do presidente da FEU, Eduardo Santos só participa da sessão na Câmara Federal. (Eduardo integrou comitiva da Federação Espírita do Uruguai no encontro da Comissão Regional Sul do CFN-FEB realizado em abril de 2013, na cidade de Embu, na Grande São Paulo.)

A USE e o MNCV Brasil sem Aborto
A União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, entidade federativa representante do movimento espírita paulista no Conselho Federativo Nacional da Federação Espírita Brasileira, tem apoiado o Movimento Nacional de Cidadania pela Vida — Brasil sem Aborto, desde seu início.

“O primeiro grande ato público em defesa da vida e contrário ao aborto ocorreu na cidade de São Paulo no dia 24 de março de 2007, realizado na Praça da Sé, promovido por nossa diretora do Departamento Jurídico, a doutora Marília de Castro”, lembra Julia Nezu, presidente da USE. O ato teve apoio de representantes do Governo de São Paulo, parlamentares federais, estaduais e municipais, entidades civis e religiosas. A FEB esteve representada também por Cesar Perri, que era então o presidente”, acrescenta Julia.

Em junho de 2013, quando o Movimento passou por uma reestruturação, a USE ofereceu sua sede, no bairro Santana, para abrigar o Comitê paulista do MNCV – Brasil sem Aborto. Naquela ocasião, uma comitiva liderada pelo vice-presidente do MNCV, Jaime Ferreira Lopes, foi recebida pela presidente Julia Nezu.

“Nesse encontro, o Comitê paulista passou a contar com novos membros: a professora Irvênia Santis Prada assumiu a coordenação geral. O casal Joana e Marcelo Croxato, pais da menina Vitória de Cristo, um dos símbolos do Movimento, assumiram a vice-coordenação”, lembra Julia, que por sua vez assumiu também, com  a então vice-presidente da USE, Neyde Schneider, os trabalhos da Secretaria no Comitê.

Em novembro e dezembro do mesmo ano, a USE apoiou a diivulgação do filme Blood Money, do diretor americano David Kyle, que denuncia a indústria do aborto nos Estados Unidos. A distribuição de Blood Money no Brasil  foi uma iniciativa da Distribuidora Estação Luz, do nosso confrade cearense Luiz Eduardo Girão (um dos pioneiros do chamado “cinema espírita” com o filme Bezerra de Menezes — o Diário de um Espírito).

Extraído de: http://usesp.org.br/brasil-sem-aborto-dez-anos-do-movimento-serao-lembrados-em-sao-paulo-e-em-brasilia/

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Acesse também: http://grupochicoxavier.com.br/seminario-internacional-em-defesa-da-vida-na-camara-federal/

 

Herculano Pires e o evangelho

Herculano-Evangelho

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Mais uma obra de autoria de José Herculano Pires (1914-1979) – professor, filósofo, jornalista e escritor – veio a lume nos primeiros meses de 2016: "O evangelho de Jesus em espírito e verdade", pela Editora Paidéia.(1)

Trata-se de obra inédita, organizada por Célia Arribas, e resultante do trabalho de degravação da parte dos comentários sobre o Evangelho, de 100 programas radiofônicos selecionados de Herculano Pires, intitulados "No Limiar do Amanhã", semanalmente transmitidos pela Rádio Mulher, de São Paulo, durante os anos 1970, e retransmitidos pela Rádio Morada do Sol, de Araraquara (SP), e Rádio Difusora Platinense, de Santo Antonio da Platina (Pr).

O autor trabalha a essência pura e vigorosa da mensagem de Jesus com um linguajar simples, pois se apresenta no estilo da linguagem falada e em programas destinados ao público em geral. Como sempre, muito lúcido e com abordagens profundas e com base no Codificador Allan Kardec.

Entre os capítulos: A universalidade da mensagem de Jesus; A Bíblia, o Evangelho e o Espiritismo; O nascimento de Jesus; Religião em espírito e verdade; A crucificação do Cristo e sua ressurreição; O nascimento da igreja cristã; Paulo e Estêvão; O consolador prometido; vários capítulos sobre Paulo e sobre manifestações espirituais.

Para o autor, "O espiritismo se confirma, portanto, ao contrário do que dizem os seus adversários, nas próprias palavras e nos próprios ensinos dos evangelhos". Referindo-se aos princípios e cuidados no movimento espírita, pondera: "O que nos deve interessar não é nosso opinião nisso ou naquilo, mas sim a firmeza com que pudermos seguir os princípios da doutrina espírita. E esses princípios estão firmados, como nós sabemos na codificação de Allan Kardec. E estes princípios, por sua vez, têm a sua base mais profunda, as suas raízes mais penetrantes nos próprios evangelho de Jesus."

Ao comentar a vida e obra do apóstolo Paulo, Herculano destaca que: "Ele libertava a religião da política e do negócio. Para ele, a religião tinha que ser vivida em si mesma e vivida com toda a independência moral".  A propósito de trecho de Atos sobre "muitos milagres e prodígios entre o povo pelas mãos dos apóstolos" o autor aponta que ali se encontra "uma das mais belas confirmações evangélicas da realidade e da verdade do Espiritismo e das suas práticas como continuação do cristianismo em espírito e verdade aqui na terra."

Para Herculano Pires o problema fundamental do cristianismo é o mandamento do "amai-vos uns aos outros". Conclui: "este é o princípio fundamental do evangelho que Jesus nos oferece para a nossa compreensão espiritual."

Herculano Pires é autor de dezenas de livros. Ficaram muitos conhecidos os publicados pela Editora GEEM, em que ele comenta mensagens psicografadas por Chico Xavier, como "Chico Xavier pede licença", "Diálogos dos vivos" e "Somos seis". Várias obras do autor, em geral publicadas pela Editoria Paidéia, estão relacionadas com religião e o Evangelho, como: "Lázaro" (trilogia "A conversão do mundo"), "Madalena" (trilogia "A conversão do mundo"), "O espírito e o tempo", "O reino", "O ser e a serenidade", "Revisão do cristianismo", "Agonia das religiões" e outros.(2)

Consideramos muito elucidativa e oportuna a obra postumamente publicada de Herculano Pires, e que deve merecer espaço nos estudos dos centros espíritas.

Fontes:

1) Pires, José Herculano. Org. Arribas, Célia. O evangelho de Jesus em espírito e verdade. 1.ed. São Paulo: Editora Paidéia. 2016. 385p.

2) Editora Paidéia: https://paideia.lojavirtualfc.com.br/ListaProdutos.asp?IDLoja=9461&IDCategoria=71595

Primeiro romance espírita – 150 anos

Antonio Cesar Perri de Carvalho

O Codificador Allan Kardec comenta na edição de março de 1866 da Revista Espírita, o lançamento do primeiro romance com temática espírita, que se intitula “Espírita” (1865). O grande diferencial é que o autor era o famoso escritor francês Pierre Jules Théophile Gautier (1811-1872), também poeta, jornalista e crítico literário; foi contemporâneo e entusiasta da obra de Victor Hugo.

Nos comentários de Kardec nas edições dos anos 1866 e 1867 da revista citada, vê-se que o livro foi alvo de vários comentários e resenhas na imprensa francesa, contribuindo para a divulgação do pensamento espírita.

Da primeira nota de Kardec, tendo por título “Espírita. História fantástica, por Théophile Gautier”, destacamos:

“Na Revista de dezembro último dissemos algumas palavras sobre esse romance, aparecido em folhetins no Moniteur universel e que hoje está publicado em um volume. Lamentamos que o espaço não nos permita fazer-lhe uma análise mais detalhada e, sobretudo, citar algumas de suas passagens, cujas ideias são incontestavelmente bebidas na própria fonte do Espiritismo; como, certamente, a maior parte dos nossos leitores já o leu, o relato detalhado seria supérfluo. Diremos apenas que a parte consagrada ao fantástico é certamente um pouco grande e que não se deve tomar todos os fatos ao pé da letra; não se trata, absolutamente, de um tratado de Espiritismo. A verdade está no fundo das ideias e pensamentos, que são essencialmente espíritas e narrados com uma delicadeza e uma graça encantadoras, muito mais que nos fatos, cuja possibilidade por vezes é contestável. Embora romance, esta obra não deixa de ter grande importância, primeiro pelo nome do autor, e porque é a primeira obra capital saída dos escritores da imprensa, onde a ideia espírita é afirmada sem rodeios, e surgida no momento em que parecia um desmentido lançado na onda de ataques dirigidos contra esta ideia.

[…] No Courrier du Monde illustré de 16 de dezembro de 1865, lê-se o seguinte: ‘É preciso crer, sem duvidar, sem professar a doutrina, sem mesmo ter sondado muito essas insondáveis questões de Espiritismo e sonambulismo, que o poeta Théophile Gautier, só pela intuição de seu gênio poético, acertou na mosca, fugiu com o dinheiro do caixa e encontrou o abre-te Sésamo das evocações misteriosas, porque o romance que publicou em folhetins no Moniteur, sob o título de Espírita, agitou violentamente todos os que se ocupam dessas perigosas questões.

[…] Quantas pessoas repelem as crenças espíritas, não pelo temor de se tornarem perfeitas, mas simplesmente pelo de serem obrigadas a emendar-se! Os Espíritos lhes causam medo porque falam do outro mundo e este tem terrores para elas. É por isto que tapam os olhos e os ouvidos.”1

Por aí vê-se que Gautier criou um fato literário no mundo cultural e na imprensa da época, abrindo espaço para a circulação de ideias espíritas.

Enfim, o romance sesquicentenário foi um divisor de águas no meio cultural francês. Sobre isso comentou Kardec:

 “Viu-se com que parcimônia e embaraço os próprios amigos de Théophile Gautier falaram de seu romance Espírita.”2

Interessante é que o romance de Gautier sensibilizou intensamente um espírita brasileiro – dedicado e culto – Wallace Leal Valentim Rodrigues (1924-1988), que teve a iniciativa de traduzí-lo e publicá-lo em 1972 pela Casa Editora O Clarim com o título “O Ignorado Amor”.

Em síntese, sobre o conteúdo do livro, nas palavras de Wallace:

“Tudo se passa na elegante Paris do Século XIX, neste romance que vai prender a atenção do leitor. Uma estória de amor onde as lembranças do passado com os espíritos se fazem presentes. Conceitos espíritas, como descrição do mundo espiritual e a possibilidade do intercâmbio entre os dois mundos, são descritos por Théophile Gautier de uma forma suave onde a sua sensibilidade e a beleza de seu estilo se confundem com uma obra mediúnica, como se fossem os próprios envolvidos narrando suas experiências através da psicografia. Belíssimas descrições, valiosos ensinos e um estilo cativante, de ímpar beleza literária, onde a inteligência do autor e a impecável tradução empolgam o leitor.”3

 

Referências:

  1. Kardec, Allan. Revista Espírita. Trad. Noleto, Evandro Bezerra. Ano IX. No. 3. Março de 1866. Brasília: FEB.
  2. Idem. Ano X. Março de 1867.
  3. Rodrigues, Wallace Leal Valentim. Apresentação. In: Gautier, Théophile. O ignorado amor. Matão: Casa Editora O Clarim.

(Síntese de artigo do autor publicado na Revista Internacional de Espiritismo, Ano XCI, no. 6, edição de julho de 2016, p.314-315)

 

Reportagem sobre João de Deus

Reportagem sobre João de Deus (2016)

Com adendo de atualização (2020)

 

Veja-João de Deus   João de Deus-Araçatuba-1988-Perri

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

A revista “Veja”, edição no. 2.485, do dia 6/7/2016, estampou na capa a manchete “A luta de João de Deus contra o câncer” (1), com chamada para a reportagem de várias páginas de autoria de Adriana Dias Lopes. A matéria é muito bem elaborada, registrando um longo acompanhamento que a repórter fez do conhecido médium da cidade de Abadiânia (Go).

A jornalista Adriana Dias Lopes destaca casos registrados de bons resultados após as cirurgias espirituais, inclui entrevistas com personalidades destacadas no cenário brasileiro e cita pessoas que o visitaram como a conhecida apresentadora da TV americana Oprah Winfrey; relata a rotina do atendimento na Casa Dom Inácio, em Abadiânia; comenta sobre a simplicidade e autenticidade do médium que prossegue “discreto e indiferente à fama”. Lê-se na revista que “aos que o procuram em decorrência de problemas de saúde, sistematicamente recomenda que consultem um médico.” A repórter deu ênfase ao fato de que ele é o “médium que atende cerca de 1000 pessoas diariamente” e foi se socorrer da ciência para tratar de seu câncer. João de Deus respondeu com uma indagação: “O barbeiro corta o próprio cabelo?”

Conhecemos pessoalmente João de Deus e acompanhamos atendimentos dele em meados de 1988, em uma chácara nos arredores da cidade de Araçatuba (SP), cidade em que residíamos à época. O médium compareceu àquela cidade a convite de um grupo de pessoas que costumavam frequentar as atividades dele em Abadiânia. Na oportunidade, comentamos a anunciada visita dele na “coluna espírita” de que éramos responsável em jornal local (2). Inclusive fotografamos alguns atendimentos de João de Deus.

Residindo em Brasília, nunca tivemos informações desabonadoras, mas notícias de pessoas da região e até do exterior que foram por ele atendidas na cidade – que é próxima – de Abadiânia. Em viagens doutrinárias pelo Conselho Espírita Internacional, tivemos conhecimento nos EUA e em países da Europa de excursões que são organizadas para trazerem a Abadiânia, pessoas carentes de atendimento espiritual.

No período em que estivemos na presidência da Federação Espírita Brasileira, recebemos visitas de pessoas vinculadas às equipes da Casa de Dom Inácio e de algumas caravanas de visitantes estrangeiros trazidos por Leonor V. Feu Rosa e por Arthur Rios. Algumas providências foram agilizadas, como o atendimento pela Editora EDICEI de livros espíritas publicados em vários idiomas, para comercialização pela Livraria Lápis de Luz, pois há muitos estrangeiros visitando o local de atendimento de João de Deus. Outro fato foi efetivação de contratos com a Casa Dom Inácio para licença de impressão e de tradução de livros editados pela FEB. Soubemos que a Casa Dom Inácio também tem sede na Finlândia.

Assim, seguindo os trâmites da FEB, a Casa de Dom Inácio, que funciona na Finlândia, por meio da sra. Anja Banks (tradutora) obteve licença de impressão do livro Nos domínios da mediunidade, em 2013, e para comercializar em formato e-book, naquele país, as traduções para o finlandês de várias obras de Emmanuel e André Luiz , e, também autorização para adaptação para o teatro das referidas obras.

O assunto “cura espiritual” é sempre muito discutido nas lides espíritas e espiritualistas. É sabido que vários fatores interagem, com íntima relação com a “lei de causa e efeito”. Allan Kardec desenvolve o tema "curas" em várias de suas obras. A Associação Médico Espírita do Brasil e a Internacional têm analisado o tema e apresentado-os em seus congressos. 

Fontes:

  1. Lopes, Adriana Dias. A luta contra o câncer. Veja. Edição 2.485. Ano 49. No. 27. 6 de julho de 2016. P. 72-81.
  2. Coluna espírita. Médium João de Abadiânia. Jornal A Comarca. Araçatuba, 28/05/1988. P. 8.

(*) Ex presidente da USE-SP e da FEB (interino 2012/2013 e efetivo 2013/2015).

ADENDO DE ATUALIZAÇÃO:

O artigo acima transcrito foi publicado em julho de 2016 a propósito de reportagem publicada à época pela revista Veja (edição de julho de 2016). Atualmente reafirmamos o que escrevemos na época: “[…] nunca tivemos informações desabonadoras, mas notícias de pessoas da região e até do exterior que foram por ele atendidas…” Também deixamos claro que não mantínhamos contatos com médium e a única vez que assistimos atendimentos dele foi no ano de 1988. O propósito que anotamos no artigo de, em atendimento a solicitações de colaboradores da instituição de Abadiânia, de facilitarmos a difusão de obras espíritas pela editora EDICEI, consideramos que foi válido para a época. Por isso, no final do ano de 2018 ficamos extremamente chocados com o aparecimento das primeiras notícias de atos desabonadores de João de Deus. Na sequência, as reportagens, inquéritos e decisões judiciais ficaram inquestionáveis. Com relação à conduta do médium, punida pela Justiça, não nos cabe comentários. Torna-se oportuno apenas lembrarmos que João de Deus não se declarava espírita. Aliás, o escândalo do final de 2018 não chegou a comprometer o movimento espírita. Mas é oportuna a consideração doutrinária, com base em O livro dos médiuns, de Allan Kardec: “O desenvolvimento da mediunidade guarda relação com o desenvolvimento moral dos médiuns? – Não; a faculdade propriamente dita se radica no organismo; independe do moral. O mesmo, porém, não se dá com o seu uso, que pode ser bom ou mau, conforme as qualidades do médium.” (Cap.XX, item 226- 1ª). A nosso ver esse item de obra de Kardec é muito claro. Quanto ao mais, não nos cabe julgar.

Antonio Cesar Perri de Carvalho, junho de 2020.