Reportagem sobre João de Deus

Reportagem sobre João de Deus (2016)

Com adendo de atualização (2020)

 

Veja-João de Deus   João de Deus-Araçatuba-1988-Perri

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

A revista “Veja”, edição no. 2.485, do dia 6/7/2016, estampou na capa a manchete “A luta de João de Deus contra o câncer” (1), com chamada para a reportagem de várias páginas de autoria de Adriana Dias Lopes. A matéria é muito bem elaborada, registrando um longo acompanhamento que a repórter fez do conhecido médium da cidade de Abadiânia (Go).

A jornalista Adriana Dias Lopes destaca casos registrados de bons resultados após as cirurgias espirituais, inclui entrevistas com personalidades destacadas no cenário brasileiro e cita pessoas que o visitaram como a conhecida apresentadora da TV americana Oprah Winfrey; relata a rotina do atendimento na Casa Dom Inácio, em Abadiânia; comenta sobre a simplicidade e autenticidade do médium que prossegue “discreto e indiferente à fama”. Lê-se na revista que “aos que o procuram em decorrência de problemas de saúde, sistematicamente recomenda que consultem um médico.” A repórter deu ênfase ao fato de que ele é o “médium que atende cerca de 1000 pessoas diariamente” e foi se socorrer da ciência para tratar de seu câncer. João de Deus respondeu com uma indagação: “O barbeiro corta o próprio cabelo?”

Conhecemos pessoalmente João de Deus e acompanhamos atendimentos dele em meados de 1988, em uma chácara nos arredores da cidade de Araçatuba (SP), cidade em que residíamos à época. O médium compareceu àquela cidade a convite de um grupo de pessoas que costumavam frequentar as atividades dele em Abadiânia. Na oportunidade, comentamos a anunciada visita dele na “coluna espírita” de que éramos responsável em jornal local (2). Inclusive fotografamos alguns atendimentos de João de Deus.

Residindo em Brasília, nunca tivemos informações desabonadoras, mas notícias de pessoas da região e até do exterior que foram por ele atendidas na cidade – que é próxima – de Abadiânia. Em viagens doutrinárias pelo Conselho Espírita Internacional, tivemos conhecimento nos EUA e em países da Europa de excursões que são organizadas para trazerem a Abadiânia, pessoas carentes de atendimento espiritual.

No período em que estivemos na presidência da Federação Espírita Brasileira, recebemos visitas de pessoas vinculadas às equipes da Casa de Dom Inácio e de algumas caravanas de visitantes estrangeiros trazidos por Leonor V. Feu Rosa e por Arthur Rios. Algumas providências foram agilizadas, como o atendimento pela Editora EDICEI de livros espíritas publicados em vários idiomas, para comercialização pela Livraria Lápis de Luz, pois há muitos estrangeiros visitando o local de atendimento de João de Deus. Outro fato foi efetivação de contratos com a Casa Dom Inácio para licença de impressão e de tradução de livros editados pela FEB. Soubemos que a Casa Dom Inácio também tem sede na Finlândia.

Assim, seguindo os trâmites da FEB, a Casa de Dom Inácio, que funciona na Finlândia, por meio da sra. Anja Banks (tradutora) obteve licença de impressão do livro Nos domínios da mediunidade, em 2013, e para comercializar em formato e-book, naquele país, as traduções para o finlandês de várias obras de Emmanuel e André Luiz , e, também autorização para adaptação para o teatro das referidas obras.

O assunto “cura espiritual” é sempre muito discutido nas lides espíritas e espiritualistas. É sabido que vários fatores interagem, com íntima relação com a “lei de causa e efeito”. Allan Kardec desenvolve o tema "curas" em várias de suas obras. A Associação Médico Espírita do Brasil e a Internacional têm analisado o tema e apresentado-os em seus congressos. 

Fontes:

  1. Lopes, Adriana Dias. A luta contra o câncer. Veja. Edição 2.485. Ano 49. No. 27. 6 de julho de 2016. P. 72-81.
  2. Coluna espírita. Médium João de Abadiânia. Jornal A Comarca. Araçatuba, 28/05/1988. P. 8.

(*) Ex presidente da USE-SP e da FEB (interino 2012/2013 e efetivo 2013/2015).

ADENDO DE ATUALIZAÇÃO:

O artigo acima transcrito foi publicado em julho de 2016 a propósito de reportagem publicada à época pela revista Veja (edição de julho de 2016). Atualmente reafirmamos o que escrevemos na época: “[…] nunca tivemos informações desabonadoras, mas notícias de pessoas da região e até do exterior que foram por ele atendidas…” Também deixamos claro que não mantínhamos contatos com médium e a única vez que assistimos atendimentos dele foi no ano de 1988. O propósito que anotamos no artigo de, em atendimento a solicitações de colaboradores da instituição de Abadiânia, de facilitarmos a difusão de obras espíritas pela editora EDICEI, consideramos que foi válido para a época. Por isso, no final do ano de 2018 ficamos extremamente chocados com o aparecimento das primeiras notícias de atos desabonadores de João de Deus. Na sequência, as reportagens, inquéritos e decisões judiciais ficaram inquestionáveis. Com relação à conduta do médium, punida pela Justiça, não nos cabe comentários. Torna-se oportuno apenas lembrarmos que João de Deus não se declarava espírita. Aliás, o escândalo do final de 2018 não chegou a comprometer o movimento espírita. Mas é oportuna a consideração doutrinária, com base em O livro dos médiuns, de Allan Kardec: “O desenvolvimento da mediunidade guarda relação com o desenvolvimento moral dos médiuns? – Não; a faculdade propriamente dita se radica no organismo; independe do moral. O mesmo, porém, não se dá com o seu uso, que pode ser bom ou mau, conforme as qualidades do médium.” (Cap.XX, item 226- 1ª). A nosso ver esse item de obra de Kardec é muito claro. Quanto ao mais, não nos cabe julgar.

Antonio Cesar Perri de Carvalho, junho de 2020.