Um minuto com Chico Xavier

Um minuto com Chico Xavier

Regina Stella Spagnuolo

Conta-nos o Prof. Lauro Pastor, residente em Campinas, amigo de Chico Xavier desde Pedro Leopoldo, que certa vez, ao visitá-lo, caminhando em sua companhia pelas ruas da cidade, se depararam com uma procissão. A igreja-matriz de Pedro Leopoldo ficava, como fica, na mesma rua onde se ergueu o Centro Espírita “Luiz Gonzaga”; à época, os católicos organizavam algumas procissões ditas de desagravo contra os espíritas. Observando que a procissão, com diversos acompanhantes e andores, se aproximava, o Prof. Lauro sugeriu a Chico que apressassem o passo, pois, caso contrário, não poderiam depois atravessar a rua – a menos que cortassem a procissão pelo meio, o que seria uma afronta.

Pedindo ao amigo que não se preocupasse, Chico parou na esquina e, enquanto a procissão seguia o seu roteiro, manteve-se o tempo todo em atitude de respeito e de oração, ainda convidando o amigo para que ambos se descobrissem, ou seja, tirassem o chapéu – sim, porquanto, naqueles idos de 1950, Chico também usava chapéu.

O Prof. Lauro disse-nos que nunca mais pôde esquecer aquela lição de tolerância religiosa que lhe foi dada por Chico, enfatizando ainda que foi dessa maneira que, aos poucos, o médium venceu a resistência de seus opositores da Doutrina.

Exemplos de Chico Xavier que, nem sempre, em nossa atual condição evolutiva, temos assimilado; fazemos da religião uma paixão clubística, sem atinarmos que Jesus não hesitava, inclusive, de comparecer às sinagogas dos judeus, sem significar, todavia, que lhes endossasse a ritualística em que “a pretexto de longas orações, devoravam as casas das viúvas”…

De: Histórias de Chico Xavier, elaborada pelo Grupo de Estudo Allan Kardec.
Extraído de:
Revista digital O Consolador, edição de 22/12/2019.

http://www.oconsolador.com.br/ano13/650/umminutocomchico.html

Jugo de Jesus é mais suave

Jugo de Jesus é mais suave

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Nas tarefas da "peregrinação" de um sábado de novembro de 1983, os comentários foram em torno do trecho de O Evangelho Segundo o Espiritismo:

"Vinde a mim, todos os que estais aflitos e sobrecarregados, que eu vos aliviarei. Tomais sobre vós o meu jugo e aprendei comigo que sou brando e humilde de coração…"

Como de de hábito, Chico convidava para expositores para fazerem uso da palavra. Havia o lembrete para que falassem em torno de dois minutos. Geralmente, o professor Tomaz Silva falava em primeiro lugar para "modular" os demais expositores.

Chico Xavier arrematou com pensamentos inspirados por Emmanuel.

Comentou que na natureza tudo progride sob o jugo e passou a estabelecer comparações: a usina que sob jugo controla a água, aproveitando-a; o animal que sob o jugo da canga se transforma em útil transportador de peso; o motor do veículo que sob jugo da disciplina torna-se em instrumento útil do processo…

No final, Chico concluiu:

"Todos estamos sob a lei do jugo, mas a do Cristo é mais suave" e concitou todos à paciência, à calma, à cooperação porque o amor e a caridade são imprescindíveis para a aceitação do jugo do Cristo.

Lembrou também que todas as vezes que as ações não sáo pautadas no amor e na caridade, pode-se aguardar as consequências…

Extraído de:

Carvalho, Antonio Cesar Perri. Chico Xavier. O homem, a obra e as repercussões. 1.ed. Cap. 1.16. Capivari: EME; São Paulo: USE-SP. 2019.

O pai espiritual de Chico Xavier

O pai espiritual de Chico Xavier

Antonio Cesar Perri de Carvalho

A leitura atenta do romance histórico inicial de Emmanuel fica evidenciado um aspecto acima de tudo paternal. Na vida de Chico Xavier, o seu orientador atua como um pai espiritual. Aliás, coerente com as necessidades de ajustes espirituais que redundaram da vivência de ambos no Século I, na relação de pai e filha, bem descritos em Há dois mil anos.

Por isso, são interessantes algumas observações do médium com relação a seu guia espiritual. O respeito que Chico nutria por Emmanuel transpareceu em inúmeros momentos, desde a orientação inicial da “disciplina” junto ao açude de Pedro Leopoldo. Emmanuel mantinha o médium dentro do planejamento espiritual, com prioridade para os livros.

No transcorrer o primeiro programa “Pinga Fogo” Chico fez o depoimento:

“Emmanuel tem sido para mim um verdadeiro pai na Vida Espiritual, pelo carinho com que me tolera as falhas e pela bondade com que repete as lições que devo aprender. Em todos esses anos de convívio estreito, quase diário, ele me traçou programas e horários de estudo, nos quais a princípio até inclui datilografia e gramática, procurando desenvolver os meus singelos conhecimentos de curso primário, em Pedro Leopoldo, o único que fiz até agora, no terreno da instrução oficial. […] O tempo de convivência com o Espírito de Emmanuel, nosso guia, parece que criou entre ele e eu um processo de conhecimento e palavra por osmose. Vão me perdoar… eu não sei definir o problema. Sei que ele está presente, mas ele não permite que faça muitas observações mediúnicas, para que eu me mantenha estritamente dentro do programa e não com qualquer distração para observações marginais.” 1

Há inúmeros casos relatados na literatura espírita e no filme “Chico Xavier” (2010) evidenciando a presença marcante de Emmanuel na vida de Chico, alguns jocosos, mas todos claramente educativos.

Pouco recordado é o relato Ramiro Gama, amigo do médium dos tempos de Pedro Leopoldo, sobre um conhecido confrade de São Paulo que certa feita chegou ao Centro Espírita Luiz Gonzaga. Abraça o médium e diz: “- Vim de São Paulo especialmente para lhe dar um beijo. E dando-lhe o beijo na face, conclui: beijando-o, tenho a impressão de que beijei seu querido Guia Emmanuel. E o Chico com toda candidez e humildade: – Não, meu caro Irmão, você não beijou Emmanuel mas sim o seu burrinho, que sou eu”.2

Particularmente, ouvimos comentários muito significativos durante visitas que fizemos ao médium em Uberaba. Em visita a Chico Xavier em sua residência, em janeiro de 1977, cerca de dois meses após sofrer um enfarte, ouvimos sobre a advertência do pai espiritual enérgico. Chico mostrou-nos a quantidade de medicamentos que estava utilizando. Sempre fazendo brincadeiras dizia, sorrindo, que estava escravo deles… Porém, ficando sério, contou ao grupo de visitantes que, certa feita, contrapondo-se a momentos passageiros de desânimo, Emmanuel afirmou-lhe incisivo: "A vida é dura para quem é mole…"3

E não parou por aí. Chico estava acamado, em convalescença após o enfarte e, segundo ele próprio, preocupado com seu estado e suas atividades. Emmanuel surgiu e saindo daquela costumeira linguagem evangélica de seus livros, disse-lhe: "Saia dessa cama senão você irá para a tumba!" Chico esforçou-se mais ainda no processo de recuperação e de retorno aos seus afazeres. Sempre de bom humor, naquele mesmo dia Chico comentou que não seria daquela vez que partiria e que não era o desejo dele também: "Partir agora e depois perder uns vinte anos de bobeira na nova reencarnação até começar trabalhar, eu prefiro continuar trabalhando agora…"3

Realmente, Chico sobreviveu mais 25 anos dedicados ao trabalho mediúnico.

Meses depois, em outra visita ao médium, acompanhávamos a "peregrinação" no bairro dos Pássaros Pretos. Estávamos ao lado de Chico e sua equipe de colaboradores. Chico entregava pães e dirigia palavras de bom ânimo aos necessitados que se postavam em fila. A certo momento, alguém fez alguma reclamação sobre saúde. Chico fez, então, rápido comentário para os circunstantes, chamando atenção de que ele não era nenhum privilegiado: "Na minha infância, sofria castigos físicos aplicados pela minha madrasta. Ainda jovem fiquei cego de um olho e tenho muitas dores e trato o outro há muitos anos. Submeti-me a algumas cirurgias médicas e, há pouco, sofri um enfarte. Um dia cansado de tantos tratamentos, pedia forças. Emmanuel apareceu e disse-me: – Você veio para ser tratado e não para ser curado…"3

Referências:

1) Gomes, Saulo (Org.). Pinga-fogo com Chico Xavier. 1.ed. Catanduva: Intervidas. 2010. 269p.

2) Gama, Ramiro. Lindos casos de Chico Xavier. 5.ed. São Paulo: LAKE. 246p.

3) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Chico Xavier – o homem, a obra e as repercussões. 1.ed. Capivari: EME, São Paulo: USE-SP. 2019. 223p.

 

Chico Xavier exalava perfume

Chico exalava perfume

Nena Galves

Chico Xavier foi operado no Hospital Santa Helena em São Paulo, em 30 de agosto de 1968. Era uma noite de inverno, o frio era intenso, mantínhamos uma calma aparente, mas as expectativas nos atemorizavam.

Chico fez sua recomendações com orientações para nosso procedimento caso desencarnasse. Trazia embrulhado um pacotinho que deu ao Galves (meu marido). Suas economias, segundo ele, para pagar a cirurgia e as despesas do hospital. Galves guardou o dinheiro com lágrimas nos olhos.Chico apenas nos pedia proteção e carinho numa hora tão difícil.

Em princípio, ele seria operado da próstata, mas o plano espiritual encarregou-se de também liberar Chico de uma hérnia da qual era portador há bastante tempo. Assim foi feito. Chico foi beneficiado na mesma oportunidade com retirada de várias sequelas provenientes dos maus tratos na infância, quando sua madrinha, uma pessoa doente, como classificava Chico, espetava-lhe garfos no abdômen.

O inverno era bastante rigoroso, mas o quarto permanecia sempre aquecido sem que para isso precisássemos recorrer à aparelhagem apropriada. Mais tarde, Chico nos relatou que os espíritos benfeitores revezavam-se, em contínua vigilância, para preservar o ambiente de qualquer interferência menos benéfica a seu restabelecimento.

Chico manifestou o desejo de agradecer aos funcionários mais humildes, que muito haviam colaborado para seu bem estar em um período tão difícil. Pediu a Galves que adquirisse e lhe trouxesse ao hospital, dez dúzias de rosas coloridas. Amparado por Galves e Suzana dirigiu-se à enfermaria, à cozinha, à portaria e a agradecer as preces feitas em seu favor, oferecia rosas e beijava as mãos de quem lhe haviam servido em anonimato.Um perfume vindo do plano espiritual exalava a cada beijo ou gesto de Chico, era também um agradecimento dispensado por ele.

Voltou ao leito cansado, com lágrimas nos olhos e o coração agradecido. Os corredores e demais dependências por onde Chico havia passado permaneceram perfumados por um bom tempo. Este é um dos muitos momentos que nos revelam a grandeza espiritual deste médium. Quando Chico estava no leito, impossibilitado de movimentar-se, todos sentíamos este perfume que exalava de suas roupas, de seus travesseiros, do copo onde ele encostava seus lábios, enfim, em tudo que ele tocava. Quando orávamos em seu favor, as rajadas de perfume que recebíamos eram mensagens que os espíritos nos mandavam em agradecimento, assegurando-nos que estavam conosco.

Muitos amigos quiseram colaborar no custeio à cirurgia, mas foi desnecessário. Antes que fosse efetuado o pagamento das despesas hospitalares e profissionais, elas foram totalmente dadas por acertadas. O Hospital Santa Helena, por meio de sua diretoria, nada cobrou pelos procedimentos e hospedagem. Os médicos fizeram questão de nada cobrar, também.

(Galves, Nena. Até Sempre Chico Xavier. São Paulo: CEU)

Um olhar diferente acerca das aflições humanas

Um olhar diferente acerca das aflições humanas

Entrevista com Deusa Samu,  por Orson Peter Carrara

Deusa Maria Samú, natural de Piripiri (PI), reside em São Paulo, capital. Psicóloga clínica e hospitalar pós-graduada em Tanatologia, é espírita desde 1990. Vinculada à instituição Seara Bendita, é expositora e coordenadora da Reunião de Pais da Área de Infância e Juventude. Palestrante bastante requisitada, tem-se especializado em falar sobre o luto, com o objetivo de confortar famílias. Suas respostas na presente entrevista abordam essa e outras questões pertinentes às aflições humanas.

P – Como se tornou espírita?

R – Tornei-me espírita na década de 1990 quando minha vizinha me emprestou o livro "A Reencarnação de Perter Proud", um best-seller de Max Ehrlich. Fiquei fascinada, fui estudar e não parei mais.

P – E seu gosto pela Psicologia, como foi?

R – O gosto pela Psicologia foi acidental porque eu queria Psiquiatria, mas como tinha que passar o dia todo na faculdade, e eu tinha um bebê para cuidar, optei pela Psicologia.

P – Donde vem seu interesse pelo luto, tema constante de suas abordagens?

R – O interesse pelo luto veio após o desencarne do meu segundo filho, Rafael. Eu já havia optado pela área hospitalar e queria muito intermediar a interação entre equipe médica e família.

P – Que fato mais lhe chama atenção nas aflições humanas?

R – O que mais me chama a atenção nas aflições humanas é a percepção da falta de Deus na vida das pessoas. Independente de religião, esse é um ponto crucial.

P – Nos atendimentos profissionais e mesmo nos atendimentos fraternos da atividade espírita, o que se destaca?

R – Atendendo profissionalmente ou fraternalmente, o que mais se destaca é a ausência de "respostas" na fala das pessoas em sofrimento, que entendo que seja decorrente da ausência de Deus.

P – Há uma maneira eficaz de alterar essa realidade relativa às angústias humanas?

R – Para alterar essa realidade pertinente às angústias, lanço mão da questão 919 de O Livro dos Espíritos, na qual aprendemos que o autoconhecimento é a melhor opção. Entender nossa identidade de espíritos imortais temporariamente na carne é decisivo para refinarmos nossa atuação no mundo.

P – Qual é sua percepção da atuação do movimento espírita em favor das criaturas humanas que frequentam e participam dos centros espíritas?

R – A atuação do movimento espírita é de crucial importância porque aparelha as pessoas para lidar melhor com os desafios típicos de um planeta de provas e expiações.

P – Se pudesse algo sugerir aos espíritas, o que seria?

R – Minha sugestão aos espíritas seria o estudo aprofundado da doutrina e usaria também a frase de Emmanuel: "Fazer é a melhor maneira de aconselhar". Logo, praticar o que se prega aponta para a vitória da coerência.

P – De suas lembranças, que fato sobressai?

R – Das minhas lembranças o que sobressai é a percepção clara da presença dos bons espíritos me inspirando a ir muito além da técnica e me aproximar da dimensão humana do irmão que me procura. Eu não vejo o "paciente" e sim um "irmão".

P – Algo mais que gostaria de acrescentar?

R – Eu acrescento aqui a necessidade de não "separarmos" a nossa fé e os postulados dessa doutrina abençoada da nossa prática profissional. De outra forma, é preciso evitarmos "dupla personalidade".

P – Suas palavras finais.

R – Minhas palavras finais seriam dizer da minha gratidão por esta oportunidade e apelar para você que lê minhas palavras: Conceber Deus e assumir sua identidade de espírito imortal, vivenciando o Amor em todas as oportunidades que se lhes apresente, é a melhor opção que você pode fazer hoje. A frase que mais ouço (atendendo pacientes terminais) é: "não deu tempo"; então o tempo é hoje, agora.

Transcrito de:

Revista digital O Consolador, edição 645, de 17 de novembro de 2019: http://www.oconsolador.com.br/ano13/645/entrevista.html

Joana d’Arc, a santa clariaudiente

Joana d’Arc, a santa clariaudiente

Inúmeras são, sem dúvida alguma, as polêmicas que envolvem, até os dias atuais, a vida militar, política, religiosa e espiritual da santa católica Joana d’Arc.

Conforme alguns sociólogos e historiadores contemporâneos, Joana nasceu, possivelmente, em 1412, no Reino de Lorena, o qual pertencia à França medieval.

Não podemos negar, de certa maneira, que esta santa revelou, ainda muito jovem, enorme sensibilidade humana para as coisas relacionadas com o mundo metafísico, sobrenatural ou espiritual. De fato, Joana afirmava abertamente que recebia mensagens espirituais orais do santo são Miguel, da santa Catarina de Alexandria, bem como da santa Margarida de Antioquia.

Assim, e segundo os ensinamentos técnicos, filosóficos e científicos do moderno kardecismo europeu, Joana realmente pode ter recebido mensagens espirituais através de vozes, pois ela é considerada pela história uma verdadeira paranormal clariaudiente, isto é, espécie de dom mediúnico em virtude do qual o médium ouve vozes e sons, os quais não podem ser percebidos pelos sentidos biológicos considerados comuns pela medicina materialista.

Ressalte-se, ainda, que essa santa teve significativa participação militar, política, religiosa e espiritual no que tange à Guerra dos Cem Anos, a qual, como sabemos, foi travada entre a França e a Inglaterra durante os séculos XIV e XV. Realmente, e conforme alguns relatos históricos ligados à Idade Média, esta médium europeia comandou, algumas vezes e com certo êxito, o exército francês contra as invasões promovidas pela Inglaterra.

Não obstante o enorme sucesso de suas campanhas militares, essa heroína francesa foi capturada pelas tropas inimigas no ano de 1430, e foi entregue aos cuidados do bispo Pierre Cauchon. Logo após a sua prisão, esta mártir cristã foi levada a julgamento perante as autoridades responsáveis de sua época, e foi acusada, entre outros aspectos, da prática de crimes militares, sociorreligiosos e políticos. Por conseguinte, Joana d’Arc acabou, com apenas 19 anos de idade, sendo condenada à morte na fogueira em maio de 1431. De acordo com vários pesquisadores do assunto, a execução de Joana foi presenciada por milhares de pessoas na cidade de Ruão, e suas cinzas foram, logo em seguida, jogadas no famoso rio Sena.

Alguns anos após a sua injusta e lamentável morte na fogueira, o processo que condenou Joana foi rigorosamente revisado por ordem do papa Calisto III, e os responsáveis pela revisão consideraram o processo jurídico e canônico totalmente inválido. Consequentemente, essa heroína francesa foi absolvida, entre outros aspectos, das acusações de heresias, de bruxarias e de feitiçarias.

Assim, Joana d’Arc se tornou, a partir de então, uma verdadeira mártir do cristianismo medieval, moderno e pós-moderno. Ressalte-se, por fim, que Joana foi beatificada e canonizada pela Igreja Católica Apostólica Romana somente no século XX pelo papa Bento XV.

Ricardo Lebourg Chaves

Colaborador de “O Tempo”, de Belo Horizonte.

Nota do GEECX:

Sugerimos aos interessados a leitura do livro:

Denis, Léon. Joanna D’Arc, médium. FEB.

Yvonne Pereira – orientadora sempre atual e necessária

Yvonne Pereira – orientadora sempre atual e necessária

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

A convite do Grupo Espírita Casa do Caminho, de São Paulo, desenvolvemos um estudo sobre mediunidade com base nos capítulos VI e VII do portentoso livro Memórias de um suicida, do espírito Camilo Cândido Botelho, psicografado por Yvonne Pereira. O tema central é o atendimento de espíritos suicidas prestado pelo Instituto Correcional Maria de Nazaré no Mundo Espiritual e a atuação da Legião dos Servos de Maria.

Nos capítulos citados o autor espiritual focaliza as relações do Instituto e da Legião com agremiações de estudo e experiências mediúnicas. Os depoimentos do autor – o destacado escritor luso Camilo Castelo Branco -, mas utilizando um pseudônimo, se desdobram em profundos e oportunos esclarecimentos. Quantos cuidados, amor e dedicação por parte da Legião junto ao centro espírita que serviu de base para os atendimentos fraternos!

Em função da preparação de nosso estudo, fizemos uma autêntica viagem no tempo, relembrando episódios da vida missionária de Yvonne Pereira e de momentos que vivemos na relação com sua obra e pessoa. Temos conhecimentos das dificuldades que a médium enfrentou para a publicação do livro Memórias de um suicida, que veio a lume em 1954, anos após a conclusão.

Yvonne do Amaral Pereira (1900-1984) sempre nos suscitou admiração pelos seus exemplos de vida, pela sua obra mediúnica, culminando com o privilégio de a conhecermos em janeiro de 1977, juntamente com a esposa Célia, em seu lar no Rio de Janeiro, onde residia com a irmã Amália Pereira Lourenço, levados pelo amigo comum Altivo Pamphiro, então presidente do Centro Espírita Léon Denis, da mesma cidade. Aliás, no Centro citado havia a colaboração de uma sobrinha de Yvonne, juntamente com o esposo. No nosso histórico encontro desenvolveu-se um diálogo muito instrutivo e esclarecedor. Em parte sobre alguns fatos já anteriormente registrados em Devassando o invisível, e outros episódios mais detalhadamente relatados por ela, pouco tempo depois, na revista Reformador, utilizando o pseudônimo de Frederico Francisco.

Yvonne manteve amizade, muitos contatos e correspondência com Chico Xavier. Durante uma longa fase de sua vida fazia palestras. Nos livros, palestras e diálogos era lídima defensora das obras de Allan Kardec e das ações simples. Dezenas de luminares espirituais se manifestaram pela sua mediunidade, mas Bezerra de Menezes era um orientador constante e inclusive no receituário homeopático.

Em atividades como diretor da FEB, tivemos a oportunidade de visitar e desenvolver trabalhos doutrinários em cidades fluminenses em junho de 2010, juntamente com Edmar Cabral Jr. (da equipe da secretaria geral do CFN da FEB) e acompanhados pelo diretor do CEERJ Humberto Portugal e proferimos palestra alusiva aos 124 anos do Grêmio Espírita da Beneficência, em Barra do Piraí (RJ), onde ela atuou e há um pequenino museu. Já liberado de encargos na FEB, em agosto de 2016, a convite do Instituto Espírita Bezerra de Menezes, de Niterói, integramos a Caravana Yvonne Pereira, coordenada por Hélio Ribeiro, e proferimos palestras sobre a obra da médium, em várias cidades: Niterói, Rio de Janeiro, Miguel Pereira, Vassouras, Barra do Piraí e Valença.

Sempre fomos admirador da vida e dos livros mediúnicos de Yvonne Pereira. Alguns livros por ela redigidos estavam “perdidos”. Graças à compreensão da família dela, a intercessão e o apoio do então diretor da FEB Affonso Soares – esperantista e amigo de Yvonne -, foi possível recuperar e publicar nos anos 2013 e 2014, durante nossa gestão na FEB (*), quatro volumes inéditos da dedicada médium – A família espírita, Evangelho aos simples, As três revelações, Contos amigos -, que constituem uma série de obras voltada à família, a crianças e jovens e à reunião do Evangelho no lar. Esses livros foram elaborados pela médium entre 1964 e 1971 e contam com orientação e mensagens de Bezerra de Menezes.

O conjunto dessas quatro obras de Yvonne A. Pereira constitui um formidável repositório para utilização em várias situações da difusão dos princípios espíritas, facilmente adaptáveis para diversas faixas etárias e sociais e se enquadrando em distintos contextos para o ensino espírita. Essas obras de Yvonne podem servir de roteiro ou texto básico não apenas para as reuniões com crianças e adolescentes e de Evangelho no lar, mas também em reuniões com adultos, notadamente em ambientes cujo público alvo seja constituído de pessoas mais simples.

Os livros mediúnicos de Yvonne Pereira devem merecer mais atenção, difusão e estudo no movimento espírita!

(*) – O autor foi presidente interino da FEB -2012/2013- e presidente – 2013/2015.

As reflexões sobre o Pacto Áureo e o futuro do movimento espírita

Especial

As reflexões sobre o Pacto Áureo e o futuro do movimento espírita

Eliana Haddad

Na tarde de 19 de outubro, sábado, foi realizado na sede da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo o Seminário "70 anos do Pacto Áureo – História e Reflexão", com considerações alusivas ao passado, presente e futuro do movimento espírita.

Contando com a presença de representantes de órgãos espíritas paulistas e das entidades inicialmente patrocinadoras a Federação Espírita do Estado de São Paulo (Roberto Watanabe), a Liga Espírita do Estado de São Paulo (Silvio Neris da Silva e Alcides Barbosa) e a Sinagoga Espírita Nova Jerusalém (Daniel Quinto e Sergio Ruiz Piovesan), o evento analisou o histórico acordo assinado em 5 de outubro de 1949 entre o presidente da Federação Espírita Brasileira e representantes de algumas federativas estaduais do Sul e do Sudeste e que resultou na criação do Conselho Federativo Nacional da FEB.

O seminário (coordenado por Maurício Romão, diretor da USE-SP), contou com exposições de Antonio Cesar Perri de Carvalho sobre "Da fundação da USE até o Pacto Áureo"; Júlia Nezu sobre “A prática do Pacto Áureo”, e Rosana Amado Gaspar, atual presidente interina da USE, sobre o tema "Construindo o futuro".

Em seguida, os expositores responderam a perguntas, formuladas pelos presentes, dirigentes de centros e órgãos da USE, principalmente da Capital e alguns do interior.

Além de representantes da USE Regional de São Paulo e dos órgãos que a compõem, estiveram presentes os representantes das USEs Intermunicipais de São José do Rio Preto (Silvana Aparecida Correa), Catanduva e Mauá.

Seguem abaixo trechos das exposições e respostas ao público dos palestrantes.

Sobre o presente

“Uma reflexão que fazemos para o momento atual é com respeito ao Conselho Federativo Nacional. Diz o Pacto Áureo que a FEB criará um Conselho Federativo Nacional permanente com a finalidade de executar, desenvolver e ampliar os planos da sua organização federativa. O CFN hoje congrega os 27 estados brasileiros e não podemos tirar o mérito do Conselho. Apesar de hoje funcionar como um órgão subordinado à FEB, e sua estrutura não ser ideal no nosso modo de ver, sua ação contribuiu para o crescimento e a difusão do espiritismo no Brasil inteiro, principalmente nos estados do Norte e Nordeste. No Sul, por exemplo, os cursos começaram a ser adotados pelas casas espíritas, tivemos o Edgard Armond que fundou as escolas na Federação Espírita do Estado de São Paulo e outras iniciativas. Assim, não tivemos por aqui carências tão grandes dessa ajuda mútua que acontece no CFN.

Não estamos aqui para tirar os méritos daquilo que já aconteceu e também a importância desse trabalho conjunto realizado pelo CFN.

Na época do Nestor Masotti e do Cesar Perri [ex-presidentes da FEB], pensamos que teríamos algumas aberturas, com participação mais coletiva do movimento espirita através das federativas dentro do CFN. Havia um regimento e essa abertura foi uma tentativa para democratizar um pouco mais e para que as federativas pudessem ter maior poder de ação.

Ao nosso ver, o Pacto Áureo serviu para esses 70 anos, construiu-se muito, e ninguém nega o valor do trabalho que as federativas realizaram, o trabalho dos diretores e seus esforços em levar o movimento espírita com uma direção segura.

Penso que o Pacto Áureo foi escrito para um tempo, mas ele continua norteando algumas coisas no movimento espírita e talvez seja sobre isso que tenhamos que refletir. Não é alterar o Pacto Áureo, mas seria um novo pensar, um novo direcionamento, uma adequação aos tempos atuais para a exigência de um movimento espirita mais amadurecido.” (Júlia Nezu)

Sobre o futuro

“Quando falamos de movimento espírita, de construção de futuro, percebemos que o passado pode alterar o nosso presente. E começamos a ter um ponto de vista diferente do que tínhamos quando estudamos a história, constatando que é com as nossas ações no presente que podemos mudar o futuro.

As ações corajosas do Pacto Áureo conseguiram consolidar, fortalecer o CFN – Conselho Federativo Nacional. Os Estados têm suas federativas, que são exitosas e atuantes.

De certa maneira, graças a esses homens e à participação da Federação Espirita Brasileira, conseguimos ter um CFN fortalecido atualmente e é por conta disso mesmo que estamos conversando sobre este assunto.

Vemos que no Pacto Áureo alguns itens geram polêmicas, como seu primeiro item, e que em algumas gestões vários itens foram atualizados através de documentos, como: Orientação ao centro espírita e Orientação aos órgãos de unificação.

Kardec diz que não há nenhum documento, nenhum contrato entre os espíritas para que eles se reúnam. O que deve haver é a fraternidade entre os homens. E, também, que um dos maiores obstáculos que poderiam entravar a propagação da doutrina seria a falta da unidade.

Jesus conclama para que coloquemos a candeia acima do alqueire e a nossa postura é de construção sempre. Não é de dissensão, de desarmonia, mas de construir, de modificar, de melhorar o que já está estabelecido." (Rosana Amado Gaspar)

Um documento histórico

"No movimento espírita, a gente tem uma ideia de conservação, mas vamos lembrar quantas constituições o Brasil já teve nesses anos. Existe alguma coisa mais importante do que a constituição do país? Ou um acordo de união escrito num momento histórico significativo, marcante, um documento cabível para aquele momento? Temos que pensar nisso. O que é documento histórico e o que é vigente.

O mais importante é que haja uma maior atuação administrativa das federativas no CFN. Pressupõe-se que o presidente de uma federativa tenha vivência espírita de seu estado e isso deve ser valorizado no Conselho. Essa era uma ideia do ex-presidente Nestor Masotti e nossa, que o sucedemos. Todavia há dificuldade em se compreender por que a diretoria da FEB é eleita por um conselho superior, composto por pessoas físicas e não por federativas. E essas pessoas físicas são indicadas pela diretoria da FEB. Em mais de 130 anos de existência, a FEB teve apenas dois presidentes que caminharam efetivamente (pelo Movimento Espírita) do tempo de mocidade espírita, direção de centro espírita, direção de órgão de unificação, direção de federativa, até chegar à presidência.” (Antonio Cesar Perri de Carvalho)

Transcrito de:

Jornal Dirigente Espírita, USE-SP, São Paulo. Ano XXX, No. 174. Novembro/Dezembro de 2019. P. 8 e 9.

Base para interpretação das profecias

Base para interpretação das profecias

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Há pouco tempo ocorreram dois fatos coincidentes: recebi convite para desenvolver palestra sobre o tema “Profecias espíritas: sim ou não?” no Centro Espírita N.S.Nazaré, em Itupeva (SP); o outro fato ocorreu num grupo de mensagens onde um confrade escreveu: “Há espíritas fazendo mais previsões do que ciganos…”

De imediato, lembramos que em função de algumas interpretações que são feitas sobre a chamada “transição planetária”, reunimos a equipe da antiga secretaria geral do Conselho Federativo Nacional da FEB que fez um estudo, em seguida publicado em série de três artigos na revista Reformador1, tendo como fundamentação as obras de Allan Kardec, notadamente A Gênese.

Realmente é um tema que deve merecer estudo na seara espírita, principalmente à luz da sesquicentenária obra A Gênese. Aliás, esta tem como subtítulo “Os milagres e as predições segundo o Espiritismo”, e, no final, dois capítulos: “Os tempos são chegados” e “Sinal dos tempos”.2 Logicamente, a partir desta obra estabelecemos a linha de raciocínio para desenvolvermos a palestra proposta.

De início, cabe um breve retrospecto à “Escatologia”, que significa "estudo das últimas coisas", um ramo do conhecimento que trata dos acontecimentos do fim dos tempos descritos na Bíblia e é um tema que surge em muitos livros da Bíblia. A escatologia bíblica cristã, ao considerar a consumação de todas as coisas, cuida de explicar a vida após a morte, o fim dos tempos, o retorno de Jesus, a ressurreição, o Juízo Final. Ocupa-se também do estudo do final dos tempos e da segunda vinda do Cristo. Paulo de Tarso tece considerações sobre tais temas em suas epístolas e chega a lutar com dificuldades em virtude de deturpações e extremismos criadas pela temática, conforme registra em sua 2ª Epístola aos Tessalonissenses. Da mesma forma, o apóstolo sempre lutou contra os chamados “falsos profetas”.

A essa altura devemos fazer um registro pois na história e tradição judaica têm destaque os profetas.

O chamado profetismo bíblico deve merecer atenção à parte conforme destaque feito por Herculano Pires em sua obra O Espírito e o Tempo3. Em síntese, Herculano Pires considera: o profeta tinha ligações diretas do Deus individual com o indivíduo humano e não necessita mais dos sacerdotes, nem dos deuses; profeta hebreu seria um indivíduo tridimensional: o social; o mediúnico; e o espiritual. Eram plenos de dignidade pessoal, de consciência da sua missão divina, e não temiam denunciar os poderosos do tempo. A tônica da tendência religiosa hebraica responde pela característica espiritual do profetismo, que atinge a sua maior amplitude graças ao fato histórico da vulgarização do monoteísmo.3

Desses fatos pode-se compreender a origem das informações proféticas e anúncios de finais do mundo que sempre estiveram presentes notadamente na trajetória do Cristianismo. Todavia, torna-se importante recorrermos à Obra da Codificação.

Em A Gênese, há trechos marcantes do Codificador: “O resultado final de um acontecimento pode, pois, ser certo, já que está nos desígnios Deus. Mas, como frequentemente, os detalhes e o modo de execução são subordinados às circunstâncias e ao livre-arbítrio dos homens; os caminhos e os meios podem ser eventuais. Os Espíritos podem nos alertar sobre o conjunto, se for útil que sejamos prevenidos. Mas para precisar o lugar e a data, eles deveriam conhecer previamente a decisão que tal ou qual indivíduo tomará.”2

Inclusive Kardec comenta sobre “a forma misteriosa e cabalística da qual Nostradamus nos oferece o exemplo mais completo dá-lhe certo prestígio aos olhos do homem comum, que lhe atribui tanto mais valor quanto mais sejam incompreensíveis.”2

Em outra parte, Kardec lembra que “a humanidade contemporânea tem também seus profetas; mais de um escritor, poeta, literato, historiador ou filósofo pressentiu, em seus escritos, a marcha futura dos acontecimentos que se veem realizar atualmente. […] Mas, frequentemente também, ela é o resultado de uma clarividência especial…”2

Sobre o futuro, o Codificador também alerta que “a fraternidade será a pedra angular da nova ordem social, mas não há fraternidade real, sólida e efetiva sem estar apoiada sobre uma base inabalável. Essa base é a fé; não a fé em tais ou quais dogmas particulares que mudam com o tempo e os povos e que se apedrejam mutuamente…”2

Portanto, Kardec pondera que “a época atual é a da transição: os elementos das duas gerações se embaralham. Colocados no ponto intermediário, presenciamos a partida de uma e a chegada da outra, a cada qual se distingue no mundo pelas características que lhe são próprias.”2

Na sequência, tece considerações sobre a “nova geração marchará para a realização de todas as ideias humanitárias compatíveis com o grau de adiantamento ao qual tenha chegado. […] A nova geração, devendo fundar a era do progresso moral, distingue-se por uma inteligência e uma razão geralmente precoces, somadas ao sentimento inato do bem e das crenças espiritualistas. É o sinal incontestável de um certo grau de adiantamento anterior.”2

Interessante é que Kardec dá mais importância às transformações morais e espirituais do que às alterações físicas cíclicas de nosso orbe.

Em histórica obra elaborada antes da eclosão da 2ª Guerra Mundial, Emmanuel discorre sobre o porvir, de uma forma bem geral, analisando no capítulo “A América e o futuro” alguns aspectos como: “Em torno dos seus celeiros econômicos, reunir-se-ão as experiências europeias, aproveitando o esforço penoso dos que tombaram na obra da civilização do Ocidente para a edificação do homem espiritual, que há de sobrepor-se ao homem físico do planeta, no pleno conhecimento dos grandes problemas do ser e do destino. […] Nos campos exuberantes do continente americano estão plantadas as sementes de luz da árvore maravilhosa da civilização do futuro.”4

E surgem algumas anotações sérias sobre o futuro da Humanidade: “Mas é chegado o tempo de um reajustamento de todos os valores humanos. Se as dolorosas expiações coletivas preludiam a época dos últimos ''ais'' do Apocalipse, a espiritualidade tem de penetrar as realizações do homem físico, conduzindo-as para o bem de toda a Humanidade. […] O cajado do pastor conduzirá o sofrimento na tarefa penosa da escolha e a dor se incumbirá do trabalho que os homens não aceitaram por amor. Uma tempestade de amarguras varrerá toda a Terra. […] Condenada pelas sentenças irrevogáveis de seus erros sociais e políticos, a superioridade europeia desaparecerá para sempre, como o Império Romano, entregando à América o fruto das suas experiências, com vistas à civilização do porvir. Vive-se agora, na Terra, um crepúsculo, ao qual sucederá profunda noite; e ao século XX compete a missão do desfecho desses acontecimentos espantosos.”4

As anotações de Emmanuel são, no geral, coerentes com textos evangélicos: “No mundo tereis grandes tribulações, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (João, 16,33). O versículo seguinte, no entendimento espírita, pode ser interpretado como intensos intercâmbios com o “céu aberto”, ou seja, manifestações de ordem espiritual: “Na verdade, na verdade vos digo que daqui em diante vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem” (João, 1, 51).

A essa altura, são cabíveis as advertências registradas no Novo Testamento com relação aos “falsos profetas”. Entre outras: “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, … Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? […] Portanto, pelos seus frutos os conhecereis. (Mateus, 7, 15, 20).

As interpretações deturpadoras e alarmantes de profecias e previsões de domínio público e ainda outras que são atribuídas a médiuns já desencarnados muitas vezes causam inseguranças e temores. Isso sem se discutir a questão doutrinária e a coerência do perfil e das obras públicas dos eventuais envolvidos. Sobre isso, Emmanuel analisa em tom esclarecedor: “[…] em sobrevindo a divisão das angústias da cruz, muitos aprendizes fogem receando o sofrimento e revelando-se indignos da escolha. Os que assim procedem, categorizam-se à conta de loucos, porquanto, subtrair-se à colaboração com o Cristo, é menosprezar um direito sagrado.”5

E, finalmente, para os novos crentes na “parusia” – que ainda aguardam um retorno do Cristo -, Emmanuel anotou de forma clara: “Os homens esperam por Jesus e Jesus espera igualmente pelos homens.”6

Nessas rápidas pinceladas sobre o polêmico tema profecias, entendemos que merece ser estudado e analisado com base nas Obras Básicas da Codificação e aquelas que são coerentes e complementares às mesmas. Há necessidade de bom senso e fundamentação em conhecimentos científicos atuais e, no nosso caso, fidelidade às obras de Allan Kardec. O pouco estudado livro A Gênese, deve merecer mais atenção na seara espírita!

Referências:

1) Equipe Secretaria Geral do CFN da FEB (Org.) Transição para a Nova Era. Reformador. N. 126. Outubro de 2010; A transição e o caminho para a Nova Era. Reformador. N.127. Novembro de 2010; A transição e o papel do Espiritismo. Reformador. N.128. Dezembro de 2010.

2) Kardec, Allan. A gênese. Os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Cap. XVII e XVII. São Paulo: FEAL. 2018.

3) Pires, José Herculano. O espírito e o tempo. 1ª parte. Cap. IV. São Paulo: Ed.Pensamento, 1964.

4) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. A caminho da luz. Cap. 24 e 25. Brasília: FEB. 2013.

5) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Pão nosso. Cap. 104. Rio de Janeiro: FEB. 2005.

6) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Fonte viva. Cap. 17. Rio de Janeiro: FEB. 2005.

(Extraído de: Revista Internacional de Espiritismo, edição de agosto de 2019)

(*) Ex-presidente da FEB e da USE-SP.

Homenagem a Alexandre Sech

Homenagem a Alexandre Sech

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Desencarnou Alexandre Sech, em Curitiba, no dia 2 de outubro de 2019. Nasceu em Ponta Grossa (Paraná) no dia 17/10/1936. Era casado com Maderli, sendo pais de oito filhos, tendo netos e bisneto.

Atuou no movimento espírita desde os tempos de Mocidade Espírita em Ponta Grossa. Participou da reorganização do Centro Espírita “Luz Eterna”, de Curitiba, na década de 1960. Neste local, junto com a esposa, amigos como dr. Célio Trujillo Costa, Ney de Meira Albach e Neuton de Meira Albach, deram início em 1970 ao programa de estudos conhecido como COEM – Centro de Orientação e Educação Mediúnica.

Antes disso, estiveram em Uberaba onde receberam mensagem de Bezerra, psicografada por Chico Xavier, no dia 17/5/1969, de onde destacamos um trecho: “Trabalhemos, visando a essa bendita realização: a mediunidade ajustada a Kardec, para que o ensinamento de Jesus seja realmente vivido”.1 No Centro citado criaram também o “Programa Básico de Doutrina Espírita”.

Conhecemos Alexandre e toda a equipe a partir da amizade em comum com Divaldo Pereira Franco, iniciando por visita de Alexandre em atividade deste orador em Araçatuba, em abril de 1972. Seguidas de viagens nossas a Curitiba. Em fevereiro de 1974, fomos responsáveis pela implantação do programa "Centro de Orientação e Educação Mediúnica" (COEM), no Centro Espírita "Luz e Fraternidade", em Araçatuba (SP). Esta foi a adoção pioneira no Estado de São Paulo do programa elaborado pelo Centro Espírita "Luz Eterna" (de Curitiba), sob a liderança de Alexandre Sech, Célio T. Costa, Ney e Neuton Albach.2

O COEM é um programa de estudos que tem por base O livro dos médiuns e demais obras da Codificação, bem como algumas obras subsidiárias e utiliza o processo preconizado por Allan Kardec do aprendizado gradativo e sistemático, partindo do simples para o complexo. Os bons resultados da aplicação do referido programa foram evidentes favorecendo a formação de equipe de trabalho e a expansão de atividades do Centro Espírita. Em seguida esse programa de estudos foi adotado em vários locais do Estado de São Paulo, como o Grupo Espírita Batuíra, de São Paulo, e instituições de Santos, Bauru, Araraquara, Osasco, Rancharia e Franca; também de vários outros Estados e alguns países.

Juntamente com Alexandre e Maderli e nossa esposa Célia, estivemos juntos em visita a Chico Xavier na Comunhão Espírita de Uberaba. E em vários eventos no Estado de São Paulo, Curitiba, Ponta Grossa e no Rio de Janeiro. Alexandre Sech atuou também como médium, inclusive psicógrafo. Sech foi atuante junto à Federação Espírita do Paraná durante várias décadas. Ligado à FEP foi durante anos médico e também diretor do Hospital Psiquiátrico Bom Retiro, tendo a esposa, que é psicóloga, como diretora administrativa.

Em Araçatuba, onde éramos dirigente da então União Municipal Espírita, hoje USE Intermunicipal de Araçatuba, iniciamos eventos regionais anuais como a Jornada sobre Mediunidade e depois a Confraternização de Espíritas da Alta Noroeste, sempre com a atuação de Alexandre e equipe do Centro Espírita Luz Eterna, de Curitiba. Naquela época Alexandre contribuiu a com a publicação Encontro com a Cultura Espírita (Ed. O Clarim). Proferiu palestras nas várias regiões do país.

Algum tempo depois em entrevista realizada em Araçatuba com Divaldo Pereira Franco, a respeito de desenvolvimento mediúnico este se referiu à experiência local nos idos de 1983: “O melhor método de orientação ao desenvolvimento mediúnico ainda é o COEM, para estudo, porque predispõe, ensino; como o próprio nome diz orienta, naturalmente que adaptado a cada necessidade local. Como por exemplo, sei que aqui em Araçatuba – com conversei muito com o Cesar, através dos anos -, a aplicação do COEM é realizada dentro das chamadas necessidades do movimento espírita de Araçatuba […] Mas este é o método kardequiano: estudo, reflexão, exercício, meditação…”2

Anos depois com nossas mudanças de cidades e atuações junto à União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, na capital paulista, e em Brasília, junto à Federação Espírita Brasileira e Conselho Espírita Internacional, estivemos com Sech em outros eventos, como encontro promovido pelo CEI, na sede da FEB, em 2002, e, no 4º. Congresso Espírita Mundial, em Paris, em 2004.

Nosso último encontro ocorreu por ocasião de palestra nossa, na condição de presidente da FEB, por ocasião de comemoração do centenário do Centro Espírita Mensageiro da Paz, na sede da Federação Espírita do Paraná, em 2013.

Há alguns anos Alexandre estava adoentado e afastado de suas atividades espíritas e profissionais. Alexandre Sech encerrou sua atuação profissional como psiquiatra. O Conselho Regional de Medicina do Paraná homenageou-o em 2013 quando completou 50 anos de sua formatura como médico pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná. Recebeu em solenidade do Dia do Médico, o Diploma de Mérito Ético-Profissional por ter alcançado os 50 anos de formado com histórico exemplar. Na ocasião, foi o filho médico quem lhe entregou a comenda. Teve participação ativa na constituição de entidades representativas do setor hospitalar.3

Registramos nossa homenagem e gratidão ao amigo Alexandre Sech que durante décadas interagimos em ações espíritas e familiares, explicitando que sua influência foi muito importante no início dos anos 1970, decisiva para a reorganização do Centro Espírita “Luz e Fraternidade”, de Araçatuba, que fomos um dos fundadores, e também para a ativação do movimento espírita naquela região.

Fontes:

1) Centro de Orientação e Educação Mediúnica – COEM. Centro Espírita Luz Eterna, Curitiba. Vol. 1, 2010 (apostila).

2) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Centro Espírita. Prática espírita e cristã. Cap. 5.4.4 . São Paulo: USE. 2016.

3) https://www.crmpr.org.br/Nota-de-pesar-psiquiatra-Dr-Alexandre-Sech-CRMPR-1469-11-52515.shtml (consulta em 14/10/2019).

(*) – Foi dirigente espírita em Araçatuba (SP); presidente da USE-SP e da FEB; ex-membro da Comissão Executiva do CEI.

Obs.- fotos: homenagem no CRM-Pr, 2013; Jornada sobre Mediunidade em Araçatuba (1976), Sech com esposa, Ney Albach, Célio Costa e esposa. 

(Texto publicado em: Boletim de Notícias (de Ismael Gobbo), e, Revista digital O Consolador)