Livre Arbítrio

Livre Arbítrio

Que é o livre-arbítrio? Abrindo “O Livro dos Espíritos”, vamos encontrar no Capítulo X – Da Lei de Liberdade -, 3ª Parte da obra, oito questões relacionadas com o assunto livre-arbítrio (Questões 843 a 850), nas quais os Espíritos superiores instruem-nos a respeito. Logo na Questão 843, indaga o Codificador se o homem tem o livre-arbítrio de seus atos. E os Espíritos respondem que se tem a liberdade de pensar, tem igualmente a de obrar, porquanto, sem o livre-arbítrio ele seria máquina. Em resposta à Questão 845, os Espíritos afirmam que conforme se trate de Espírito mais ou menos adiantado, as predisposições instintivas podem arrastá-lo a atos repreensíveis, porém não existe arrastamento irresistível.

Basta que o Espírito (encarnado ou desencarnado), sendo consciente do mal a que esteja ou se sinta arrastado, utilize a vontade no sentido de a ele resistir. Verificamos, no contexto geral das Questões acima referidas, que não há desculpa óbvia para o mal que o homem venha a praticar, uma vez que ele, por mais imperfeito que seja, tem a consciência do ato que pratica – se é bom ou se é mau.

O livre-arbítrio é uma faculdade indispensável ao ser humano, não nos resta qualquer dúvida, pois, sem ele, já foi dito, o ser espiritual seria simples máquina ou robô, sem qualquer responsabilidade dos atos que viesse a praticar. A prática do mal pelo Espírito, encarnado ou desencarnado, não tem qualquer justificativa porque ele sabe quando obra indevidamente. Caim, no exemplo bíblico, ao matar Abel, tinha plena consciência do que fazia tanto que o fez às escondidas. O que faltou a Caim foi a compreensão de que nada há oculto aos olhos de Deus! Pode-se, verdadeiramente, lesar os homens, pode-se até mesmo lesar-se a si próprio, mas nunca lesará alguém a magnânima justiça de Deus.

Os Espíritos, todavia, em resposta à Questão 392 de “O Livro dos Espíritos”, explicam que “não pode o homem, nem deve, saber tudo. Deus assim o quer em sua sabedoria. Sem o véu que lhe oculta certas coisas, ficaria ofuscado, como quem, sem transição, saísse do escuro para o claro.” E concluem: “Esquecido de seu passado ele é mais senhor de si.” O livre-arbítrio é um dom de que o Espírito pode abusar, mas terá sempre de enfrentar as consequências desse abuso, sofrendo encarnações destinadas a purificá-lo, transformá-lo, regenerá-lo, o que não deixa de ser pena de efeito verdadeiramente misericordioso.

Os itens 16 e 17 do Capítulo III de “O Evangelho segundo o Espiritismo” são constituídos de uma mensagem de Santo Agostinho, que deve ser lida atenciosamente pelo espírita estudioso. Pois a questão livre-arbítrio confunde bastante aqueles que a conhecem apenas superficialmente, literariamente, sem analisar-lhe a profundidade científico-filosófica.

Há, ainda, aqueles que confundem livre-arbítrio com direito, quando são duas coisas diferentes. No livre-arbítrio temos uma ação voluntariosa de escolha entre alternativas diferentes em que o ator é responsável pelas conseqüências do seu ato. Na ciência do direito a responsabilidade do ato praticado decorre da lei humana.

A Doutrina está no mundo para todos. Ela não pertence aos espiritistas. Enviou-a Jesus à Humanidade. Os espiritistas somos apenas seus instrumentos de exemplificação e divulgação sem qualquer outro “privilégio” além da consciência do livre-arbítrio.

Inaldo L. Lima

(trechos de matéria digital de “Portal do Espírito”)

Marcantes exemplos de superação

Marcantes exemplos de superação

              

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Nesses dias iniciais de outubro estão presentes em nossa mente duas mulheres, coincidentemente afro-descendentes, e que foram exemplos de superação de variadas dificuldades.

O exemplar de outubro da Revista internacional de espiritismo está trazendo nosso artigo onde focalizamos Carolina Maria de Jesus (1914-1977)1, a catadora de papeis que escreveu o livro Quarto de despejo. Diário de uma favelada, publicado em 1960.2

Décadas após sua desencarnação, esse livro se transformou em best-seller, e foi traduzido para 13 idiomas e seus livros ganham força, com reedições e estudos acadêmicos.

No artigo citado realçamos que ela nasceu em Sacramento (MG). Era criança pobre, descendente de escravos libertos e precocemente com reações “estranhas”, o que levou sua genitora a procurar o conhecido médium da cidade, registrando: “O senhor Eurípedes Barsanulfo disse-me que ela é poetisa!”. Com sete anos de idade frequentou escola: “Minha mãe era pobre. Dona Maria Leite insistiu com mamãe para enviar-me à escola”. Era a instituição criada por Eurípedes Barsanulfo, posteriormente designada Colégio Allan Kardec.

Acadêmicas comentam: “orientada por uma pedagogia espírita, a escola oferecia educação aos pobres e aos órfãos de Sacramento e .contava com a caridade de diversos membros da elite local”.1,2

No seu Diário, Carolina refere-se a apoios da igreja e da atuação de espíritas junto à favela paulistana.

Após superar inúmeras dificuldades, foi homenageada com a Cidadania Paulista e por Associações Literárias.

Na visão espírita trata-se de um espírito submetido a difíceis provas e expiações, com indícios de superação nos testes de educação espiritual. Contemporâneo de Carolina, Eliseu Rigonatti revela que ela teria sido uma baronesa no Século XIX e que maltratava escravos. “Reencarnada, despojada de várias condições, teve a oportunidade de estudar por dois anos no Colégio Allan Kardec, fundado por Eurípedes Barsanulfo, onde além dos conteúdos formais eram ministradas lições de moral segundo a ética de Cristo, o que foi valioso para Carolina enfrentar a vida difícil e ser uma vencedora”.1

Outro caso notável de experiência de vida é Benedita Fernandes (1883-1947), sobre quem elaboramos uma biografia: Benedita Fernandes. A dama da caridade.3

Benedita Fernandes desencarnou aos 09/10/1947, em Araçatuba, depois cumprir um notável esforço e realizações, como uma pioneira, na área da assistência social espírita. Descendente de escravos libertos, no seio de uma família pobre, Benedita Fernandes nasceu em Campos Novos de Cunha (SP). Dominada por terrível obsessão perdeu a consciência e os contatos com a família. Apareceu um dia em Penápolis (SP), como uma “louca varrida”. Atendida por espíritas foi curada da obsessão que a subjugava. Encaminhou-se para Araçatuba onde em meados dos anos 1920, como lavadeira e junto com companheiras de trabalho, começou a dar apoio a crianças abandonadas e doentes mentais. Aos 06/03/1932 fundou em Araçatuba a Associação das Senhoras Cristãs, que originou um lar para crianças, um “asilo para doentes mentais”, escola e albergue noturno.

Benedita Fernandes superou perseguições espirituais, pobreza material, preconceitos e conquistou o respeito de toda a cidade e do movimento espírita. Notável exemplo de superação!

Referências:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Carolina, do Quarto de despejo, e Eurípedes Barsanulfo. Revista internacional de espiritismo. Ano XCVII. N.9. Outubro de 2022.

2) Jesus, Carolina Maria. Quarto de despejo. Diário de uma favelada. São Paulo: Ática. 2014.

3) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Benedita Fernandes. A dama da caridade. Araçatuba: Cocriação. 2017.

Kardec – nascimento, obras e valorização

Kardec – nascimento, obras e valorização

    

Antonio Cesar Perri de Carvalho

O dia 3 de outubro é tradicionalmente recordado no movimento espírita para se evocar a data de nascimento de Allan Kardec, ocorrida no ano de 1804, em Lyon.

É fato sabido que Hipppolyte Léon Denizard Rivail apenas nasceu naquela cidade francesa. Na realidade, nunca lá residiu e foi criado com a família de sua genitora em Bourg en Bresse e Saint Denis les Bourg, duas cidades do Departamento de Ain, próximas a Lyon; depois estudou em Yverdon (Suíça) e atuou como professor em Paris, onde veio a executar seu papel como Codificador do Espiritismo.

Passados mais de um século e meio após a publicação dos livros do Codificador é sempre oportuno e necessário que sejam valorizadas as chamadas obras básicas, de sua autoria, e que representam a base do Espiritismo.

As obras de Kardec contém os princípios do Espiritismo e ele define na Revista espírita de 1866: “Inscrevendo no frontispício do Espiritismo a suprema lei do Cristo, abrimos o caminho para o Espiritismo cristão; assim, dedicamo-nos a desenvolver os seus princípios, bem como os caracteres do verdadeiro espírita sob esse ponto de vista”.1

Há uma importante proposta do Codificador: “A bandeira que desfraldamos bem alto é a do Espiritismo cristão e humanitário, em torno da qual já temos a ventura de ver, em todas as partes do globo, congregados tantos homens, por compreenderem que aí é que está a âncora de salvação, a salvaguarda da ordem pública, o sinal de uma era nova para a humanidade.” 2

Registro significativo de Kardec é seu conceito de que o Espiritismo é uma religião diferente das tradicionais: "Qual é, pois, o laço que deve existir entre os espíritas? Eles não estão unidos entre si por nenhum contrato material, por nenhuma prática obrigatória. Qual o sentimento no qual se deve confundir todos os pensamentos? É um sentimento todo moral, todo espiritual, todo humanitário…"3

Neste ano completa-se 160 anos do lançamento de sua obra Viagem espírita em 1862, importante repositório de informações sobre os pioneiros intercâmbios que Kardec empreendeu com lideranças e interessados em Espiritismo que estavam surgindo em dezenas de cidades francesas, e, também contendo as anotações de seus valorosos pronunciamentos. O tradutor Wallace Rodrigues comenta no seu prefácio que “entretanto tudo começa, não exatamente em 1862, como o título sugere, mas, dois anos antes. O Novo ‘Atos’ se inicia nos derradeiros dias do outono de 1860”.4

A nosso ver, entendemos que com essas viagens e significativos contatos doutrinários, Kardec deu início ao movimento espírita. A leitura dos seus registros de viagem nos enriquecem com anotações da experiência de vida nos albores do trabalho do Codificador. Vale a pena nos dedicarmos ao estudo do conteúdo do livro Viagem espírita em 1862.4

A continuada e necessária propagação das obras de Allan Kardec conta com a cinquentenária “Campanha Comece pelo Começo”. Marco importante implantado pela União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo no ano de 1972, a partir de proposta do publicitário Merhy Seba. Em novembro de 2014, durante nossa presidência, a Campanha foi aprovada pelo Conselho Federativo Nacional da FEB. Portanto há 50 anos, desde a USE-SP, é divulgada a Campanha: “Conheça o Espiritismo através das Obras Básicas da Codificação”.5

É importante o bom senso para se divulgar o Espiritismo com base nas obras de Allan Kardec!

Referências:

1) Kardec, Allan. Trad. Abreu Filho, Júlio. Revista espírita. Ano IX, V.4. Abril de 1866. São Paulo: Edicel.

2) Kardec, Allan. Trad. Ribeiro, Guillon. O livro dos médiuns. Parte 2: Cap. XVII, item 200; Cap. XXIX, itens 220, 331, 332, 348, 350; Cap. XXX. Brasília: FEB.

3) Kardec, Allan. Trad. Abreu Filho, Júlio. Revista espírita. Ano XI. V.12. Dezembro de 1868. São Paulo: Edicel.

4) Kardec, Allan. Trad. Rodrigues, Wallace Leal Valentim. Viagem espírita em 1862. Matão: O Clarim. 128p.

5) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. Araçatuba: Cocriação. 2021. 632p.

Por quê tratarmos da nossa permanência espírita nos 2% da população nacional?

Por quê tratarmos da nossa permanência espírita nos 2% da população nacional?

André Ricardo de Souza (*)

Não coloco o critério da quantidade acima da qualidade quanto à adesão ao espiritismo, mas é, sim, realmente importante fazê-lo crescer para que se possa evitar o mal a mais pessoas, principalmente o suicídio (Kardec, 2022, p. 79-81), além de propiciar a elas esclarecedora consolação.

Embora o Brasil seja o maior país espírita do mundo, o espiritismo sempre se constituiu aqui como um segmento religioso minoritário. Cabe dizer que só foi possível apontar o tamanho real dele a partir do censo demográfico feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 1980. Isto porque, nos censos anteriores,os espíritas eram contados junto com os adeptos dos cultos afro-brasileiros: umbanda e candomblé.

Comparativamente, o tamanho pequeno do espiritismo se deve sobremaneira a três fatores:

1)não ser uma religião trazida e propagada pelos colonizadores portugueses, lugar ocupado pelo catolicismo, a maior do país; 

2) ser um grupo religioso composto predominantemente por pessoas de classe média e razoável escolaridade (Lewgoy, 2020), algo oposto à condição dos evangélicos, que constituem o segundo maior segmento religioso nacional, abrangendo (com sua vertente pentecostal), predominantemente, os mais pobres e menos escolarizados (Mariz; Gracino Junior 2013; Prandi 2013, p. 211-212);

3) o fato de uma parte (não grande) dos espíritas responderem ao IBGE dizendo que não têm religião, pois rejeitam a identidade religiosa do espiritismo (Arribas 2010;Lewgoy, 2013).

Deve-se ponderar ainda que uma parcela das pessoas que se declaram espíritas nas pesquisas são, na verdade, umbandistas (Lewgoy, 2013).

A enorme audiência do programa televisivo Pinga Fogo, da antiga TV Tupi, contendo longas entrevistas com Chico Xavier (exibidas em 27/28 de julho e 20/21 dedezembro de 1971), certamente, deu bastante impulso ao crescimento espírita. Infelizmente, isso não pode ser dimensionado devido à limitação censitária então vigente, como apontado acima. 

Em 1980, 1991, 2000 e 2010, o IBGE registrou, respectivamente, as seguintes proporções espíritas: 0,7%, 1,1%, 1,3% e 2,0%.

Por sua vez, os católicos tiveram: 89%, 83,3%, 73,9% e 64,6%; já os evangélicos marcaram: 6,6%, 9,0%, 15,6% e 22,2%; e, por fim, o contingentedos sem religião obteve: 1,6%, 4,7%, 7,4% e 8,0.

Cabe lembrar que devido à pandemia do Covid-19 e à combinação de irresponsabilidade e incompetência do atual governo federal o recenseamento de 2020 só começou a ser feito em agosto de 2022, não havendo ainda previsão de resultados. Chegou-se a imaginar que as comemorações pelo centenário do nascimento de Chico Xavier, em 2010 (principalmente os filmes de grandes bilheterias no cinema e audiências televisivas: “Chico Xavier” e “Nosso Lar”) dessem relevante impulso de expansão ao segmento espírita. Ao menos foi isso que a pesquisa amostral do Instituto Datafolha indicou em janeiro de 2017, apontando os espíritas com 4% da população nacional.

Ocorre que a pesquisa do mesmo Datafolha, feita em janeiro de 2022, mostrou o contingente espírita com 3% e a de junho de 2022 apontou apenas 2%.

Mesmo ponderando que o instituto considera em seus levantamentos a margem de erro de dois pontos percentuais para cima e para baixo, o fato objetivo é que, tanto o censo de 2010 quanto a pesquisa amostral de junho de 2022 registraram o espiritismo com apenas 2% da população brasileira. Lembrando-se que, como visto acima, em todos os censos anteriores houve crescimento espírita. Nos levantamentos do Datafolha, feitos entre janeiro e junho de 2022, o instituto mostrou um índice bem maior do grupo dos sem religião, se comparado ao censo de 2010, nada menos que 14%. Chamou bastante atenção a proporção de jovens em tal segmento: 25% . Talvez a pandemia tenha contribuído para o crescimento desse contingente dos sem religião.

A razão de haver alto índice de jovens que afirmam não ter religião passa pelo caráter inerente a eles de experimentações e pela diversidade de suas redes de sociabilidade, diferentes da religião, algo que abrange: escolas, redes sociais, grupos artísticos e de entretenimento. A grande elevação de jovens sem religião se mostra como principal ingrediente na explicação do fato de todo o segmento espírita, após 12 anos, permanecer com os mesmos 2% da população nacional.

Embora tenham surgido, na última década, grupos de jovens voltados a estudos bíblicos, à luz da literatura espírita (Torres, 2019), istonão foi capaz de mudar tal realidade.

Por um lado, as atividades nos centros espíritas, infelizmente, não se mostram efetivamente atraentes ao público juvenil. Por outro, posicionamentos polêmicos de determinadas lideranças espíritas parecem ter repelido jovens, sobremaneira os universitários, que são mais bem informados e críticos também. Isto se deu, ainda em 2018, através de controversos pronunciamentos político-ideológicos, abrangendo inclusive questões de gênero e sexualidade: orientação ou opção sexual (Barbosa 2019, p. 171; Arribas 2020, p. 615-617; Camurça 2021, p. 139-142; Souza; Torres, 2022, p. 229-231).

Diante de tal quadro o desafio maior do segmento espírita brasileiro parece ser o de fazer-se mais atraente e acolhedor aos jovens (Carvalho, 2022). Isto passa, necessariamente, pela priorização nas federações e nos núcleos espíritas do trabalho voltado a crianças e jovens, contemplando mais as causas do que efeitos, em termos de problemas espirituais.Implica em desenvolver atividades educativas, lúdicas, criativas, artísticas,dinâmicas, descontraídas e alegres, algo que não é contraditório com a seriedade cristã, cabe ressaltar. 

Os centros espíritas precisam ser bem menos sisudos, ou seja, fazerem-se mais leves e alegremente sóbrios. Talvez a valorização maior da música, contemplando a combinação de estilos juvenis e mensagens edificantes, seja o caminho mais fácil para iniciar tal mudança.

Ademais é preciso refletir seriamente sobre o que o Jesus Cristo faria, hoje, na Terra, em relação aos jovens considerados diferentes (socialmente discriminados, ainda). Tal desafio abrange a abertura para o diálogo responsável sobre questões que permeiam a juventude contemporânea, inclusive as relacionadas a gênero e sexualidade. Embora este seja tema de livros dos espíritos André Luiz e Emmanuel (Xavier; Vieira; Xavier, 2014; Guimarães, 2018), e tenha sido tratado por Chico Xavier no Pinga Fogo, é ainda um tabu nos núcleos espíritas. Trata-se de algo complexo que precisa ser valente e caridosamente enfrentado.

Referências bibliográficas:

ARRIBAS, Célia da Graça. Afinal, espiritismo é religião? São Paulo: FAPESP; Alameda, 2020. ______ Política, gênero e sexualidade: controvérsias espíritas entre progressistas e conservadores”. Contemporânea. vol. 10, nº 2, 2020, p. 613-638.

BARBOSA, Allan Wine Santos. A construção espírita do problema do aborto: ordem espiritual e discurso público. Religião e Sociedade. vol. 39, nº 3, 2019, p. 152-172.

CAMURÇA, Marcelo Ayres. Conservadores x progressistas no espiritismo brasileiro: tentativa de interpretação histórico-hermenêutica. Plural, vol. 28, 2021, 136-160.

CARVALHO, Antonio Cesar Perri. Juventude: alertas sobre contextos sociais e espirituais. Boletim do GEECX. 27 de julho de 2022. http://grupochicoxavier.com.br/juventude-alertas-sobre-contextos-sociais-e-espirituais/

GRACINO JUNIOR, Paulo; SOUZA, Carlos Henrique Pereira de. (2020), “Evangélicos e conservadorismo – afinidades eletivas: as novas configurações da democracia no Brasil”. Horizonte. vol. 18, nº 57, p. 1188-1225.

KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo (Capítulo 5: “Bem aventurados os aflitos” – “O suicídio e a loucura”). Araras, IDE, 2002.

LEWGOY, Bernardo. Os espíritas e as letras: um estudo antropológico sobre cultura escrita e oralidade no espiritismo kardecista. São Paulo, Tese de doutorado em antropologia social, USP, 2000.

________ A contagem do rebanho e a magia dos números: nota sobre o espiritismo no Censo 2010. In:TEIXEIRA, Faustino; MENEZES, Renata (Orgs.). Religiões em movimento: o censo de 2010. Petrópolis, Vozes, 2013.

MARIZ, Cecília Loreto; GRACINO JUNIOR, Paulo. As igrejas pentecostais no censo de 2010. In:TEIXEIRA, Faustino; MENEZES, Renata (Orgs.). Religiões em movimento: o censo de 2010. Petrópolis, Vozes, 2013.

PRANDI, Reginaldo. As religiões afro-brasileiras em ascensão e declínio. In:TEIXEIRA, Faustino; MENEZES, Renata (Orgs.). Religiões em movimento: o censo de 2010. Petrópolis, Vozes, 2013.

SOUZA, André Ricardo de;TORRES, Natália Canizza. As duas faces evangélicas do espiritismo brasileiro. Religião e Sociedade. 2022, v. 42, n1, p. 221-239.

TORRES, Natália Cannizza. “Jesus a porta, Kardec a chave”: a apropriação do Novo Testamento pelo segmento espírita. São Carlos. Dissertação de mestrado em sociologia, UFSCar, 2019.

XAVIER, Francisco Cândido. Vida e sexo. Pelo espírito Emmanuel. 27ª edição. Brasília, FEB, 2007.

XAVIER, Francisco Cândido; VIEIRA, Waldo.Sexo e Destino. Pelo espírito André Luiz. 64ª edição. Brasília, FEB, 2014.

(*) Professor de sociologia da UFSCar; autor de livros; colaborador do Núcleo Espírita Coração de Jesus, de São Paulo.

Novas tendências para estudo e divulgação

Novas tendências para estudo e divulgação

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Nos últimos anos e notadamente com o contexto do prolongado distanciamento social em decorrência da pandemia do COVID-19, desenvolveram-se novas formas de comunicação na seara espírita.

Ao longo de décadas fomos observando e vivenciando várias modalidades de estudo, intercâmbio e divulgação. Nas décadas de 1940 a 1960, os eventos jovens assinalaram ricos momentos, culminando com a histórica 1a Concentração de Mocidades e Juventudes Espíritas do Brasil (COMJEB), realizada em Marília (SP), em abril de 1965.1

[…] Um marco, a nosso ver, concretizou-se com o 8o Congresso Estadual de Espiritismo, promovido pela USE-SP no ano de 1992, na cidade de Ribeirão Preto. Pela primeira vez definiu-se um público alvo, os dirigentes e colaboradores dos centros espíritas.

[…] Um evento histórico e com mudanças na execução aconteceu com o 4o Congresso Espírita Brasileiro, de 11 a 13 de abril de 2014. A Federação Espírita Brasileira, através de seu Conselho Federativo Nacional – estávamos presidente da instituição -, promoveu um Congresso com várias inovações. Pela primeira vez um congresso nacional saiu da tradição da centralização na capital federal. Esse último grande evento nacional, o 4o Congresso Espírita Brasileiro, foi descentralizado e realizado simultaneamente em quatro capitais – sedes do Congresso no mesmo período -, com o objetivo de facilitar maior presença de pessoas das diferentes regiões do país.1

No contexto daquele período e tendo como objetivo o estímulo ao estudo do Evangelho, na época como presidente interino da FEB, propusemos a criação do NEPE – Núcleo de Estudo e Pesquisa do Evangelho, junto à FEB em setembro de 2012. Naquele período, até sua desativação em 2015, entre várias ações a antiga TVCEI gravou dezenas de vídeoaulas sobre estudo do Novo Testamento à luz do Espiritismo que foram disponibilizadas na internet, favorecendo milhares de acessos.1 O desapontamento com a cessação das atividades do citado NEPE central foi logo superado com os desdobramentos espontâneos da propagação dessa proposta de estudo. Em Dissertação de Mestrado da UFSCar, no ano de 2019, Natália Cannizza Torres apontou que o estudo do Novo Testamento vem, aos poucos, tornando-se uma nova prática estrutural espírita. […]

Mais recentemente, temos a informação que já somam cerca 100 NEPEs funcionando no país formando uma rede virtual que é o atual NEPE Brasil. Ou seja, a proposta inicial repercutiu e se replicou, de maneira autônoma, com vinculações a instituições locais e com adaptações de formas de estudo.

Na fase da pandemia, rapidamente o movimento espírita se adequou ao emprego das transmissões virtuais para principalmente estudos e eventos. Mesmo com abrandamento do distanciamento social, muitos centros mantém reuniões expositivas e cursos híbridos, o que leva ao rompimento das barreiras geográficas.

[…] Assim, surgiu um mega evento, cremos que o maior, realizado pela Rede Amigo Espírita – RAETV, com apoio de Zook Comunicação, em homenagem aos 110 anos de nascimento de Chico Xavier. Com a coordenação de José Aparecido dos Santos foi um evento on line intenso durante dois dias, 22 e 23 de agosto de 2020. Até o final da noite do último dia ocorreram 408.036 visualizações.

[…] Outro evento on line significativo e de nível internacional foi o “Mês Espírita Mundial”, efetivado durante o mês de abril de 2022. Esse evento virtual contou com participação de 120 expositores de 36 países e empregando 10 vários idiomas, com traduções, desenvolvendo palestras (lives) e TEDs (20 minutos). A sigla TED significa "Tecnologia, Entretenimento e Design", e surgiu de conferências rápidas em que esses temas são apresentados. Esse “Mês Mundial” teve como objetivo a homenagem pelos 165 anos de publicação de O livro dos espíritos. […] No final da programação quantificou-se os acessos nos países envolvidos: 31.301 às TEDs e 17.772 às lives, com um promédio de 921 acessos às TEDs e 889 acessos às lives. Esses acessos depois aumentaram pelo fato das gravações estarem disponíveis na página eletrônica da Fundação Espírita André Luiz (de São Paulo), que apoiou o evento e que foi transmitido pelo canal do You Tube da TV Mundo Maior.

Encontro internacional diferenciado e presencial, o 22o Simpósio da Francofonia, está programado para 10 e 11 de setembro de 2022 no Castelo Wégimont, em Soumagne (Bélgica). […] Promovido Le Mouvement Spirite Francophone reúne participantes vinculados ao idioma francês de distintas nacionalidades. Promove a reunião de francofônicos interessados em Espiritismo sem definir origem territorial.

Os formatos diferentes e inéditos de eventos que tivemos a oportunidade de vivenciar apontam para a necessidade de nos adequarmos a contextos diferentes e rompermos com tradições de meras repetições de confraternizações e congressos sem clara definição de objetivos, conteúdo e público alvo.

A vivência e as observações que apresentamos são corroboradas por alguns resultados de recente pesquisa do instituto de opinião pública “Datafolha”, divulgada em maio de 2022. Analisaram a religiosidade nos jovens de 16 a 24 anos. Concluíram que o percentual dos jovens sem religião chega a 25% em âmbito nacional. […] Entre vários aspectos comentam que entre os fatores que podem explicar esse quadro há o aumento de famílias plurirreligiosas, a ampla rede de múltiplas fontes de informação e a tendência de “desinstitucionalização”. Os especialistas opinam que o sujeito está afastado das instituições religiosas, mas ele pode ter uma visão de mundo e até mesmo práticas pessoais informadas por crenças religiosas e que há uma trajetória de busca e experimentação nas novas gerações, podendo ser “outros modos de ter fé". Esses dados sugerem atenção ao público alvo para as nossas atividades.3

No conjunto de nossos relatos se destacam alguns indícios: palestras curtas e objetivas; adequação às condições do público alvo; diversificação no emprego das várias modalidades de mídias; tendências de desinstitucionalização; superação da rigidez de territorialidade; intercâmbios amplos, diretos e diversificados. Essas vertentes da atualidade rompem com algumas situações existentes de formalidades e ampliam a propagação das ideias espíritas.

As evidentes profundas mudanças no cenário social devem estimular estudos e reflexões para que as instituições espíritas se adequem às formas e tendências de comunicação considerando as novas realidades do mundo atual.

A nosso ver é cabível o raciocínio se não estaríamos caminhando para novos momentos para o movimento espírita. Provavelmente condizentes com o pensamento de Kardec:

“O laço estabelecido por uma religião, seja qual for o seu objetivo, é, pois, essencialmente moral, que liga os corações, que identifica os pensamentos, as aspirações, […] O efeito desse laço moral é o de estabelecer entre os que ele une, como consequência da comunhão de vistas e de sentimentos, a fraternidade e a solidariedade, a indulgência e a benevolência mútuas."4

Referências:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. Araçatuba: Cocriação. 2021. 632p.

2) Torres, Natália Cannizza. “Jesus a porta, Kardec a chave”: a apropriação do Novo Testamento pelo segmento espírita. Dissertação (Mestrado em Sociologia). Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de São Carlos. 2019. 91p. Disponível no site: https://repositorio.ufscar.br

3) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Juventude – alertas sobre contextos sociais e espirituais. Revista internacional de espiritismo. Ano XCVII. N.6. Julho de 2022. P. 288-290; também: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/05/09/jovens-sem-religiao-superam-catolicos-e-evangelicos-em-sp-e-rio.ghtml; consulta em 30/07/2022.

4) Kardec, Allan. Trad. Noleto, Evandro Bezerra. O Espiritismo é uma religião? Revista espírita. Dezembro de 1868. Ano XII. FEB. 2005.

O autor foi presidente da FEB, da USE-SP e membro da Comissão Executiva do CEI.

(Síntese de artigo do autor publicado em: Revista Internacional de Espiritismo. Ano XCVII. N. 8. Setembro de 2022. P.407-409).

O médium Arigó em “Predestinado” e nos livros

O médium Arigó em “Predestinado” e nos livros

   


Antonio Cesar Perri de Carvalho

Desde o dia 1o setembro vários cinemas do país estão exibindo o filme “Predestinado. Arigó e o espírito dr. Fritz”.
O filme focaliza o médium conhecido como Arigó – José Pedro de Freitas (1921-1971) -, um homem simples que com a esposa Arlete, morava em Congonhas do Campo, Minas Gerais.
Arigó se notabilizou como médium, realizando cirurgias espirituais e tratamentos com atuação do espírito dr. Fritz. Durante a década de 1950, época em que havia grande preconceito contra os médiuns e o Espiritismo, Arigó tornou-se um símbolo de esperança através de suas cirurgias e curas espirituais. Sua atuação prosseguiu durante os anos 1960, tendo desencarnado em acidente automobilístico em janeiro de 1971.
O filme deu foco nas ações mediúnicas e seus resultados positivos, as perseguições e condenações contra Arigó e o interesse popular que o médium suscitava.
O ator Dalton Mello faz o papel de Arigó e a atriz Juliana Paes, encenou a esposa do médium Arlete. Com 110 minutos de duração o filme foi dirigido por Gustavo Fernández e conta com a distribuição de Imagem Filmes.
Assistimos ao filme no início de sua exibição em São Paulo.
O enredo e as cenas cinematográficas provocaram-nos recordações dos tempos de nossa juventude, contemporâneo do fenômeno Arigó, quando acompanhamos os impactos e as polêmicas sobre o médium cirurgião na imprensa leiga e espírita e pelos livros, envolvendo jornalistas e pesquisadores. Após sua desencarnação prosseguiram as repercussões.
Naquela época escrevíamos sobre o médium no jornalzinho “Mocidade”, da Instituição Nosso Lar), em “colunas espíritas” de jornais de Araçatuba e, logo depois enviando matérias e notícias para as edições da Casa Editora O Clarim.
Recordamos que o presidente Juscelino Kubitschek chegou a procurar e era simpático ao médium e inclusive o indultou de uma condenação do ano de 1958.
A visita e os estudos do médico, com patente militar e parapsicólogo americano Henry Karel Puharic (1918-1995), conhecido pelo apelido Andrija, com equipe de especialistas envolvidos com pesquisas de médiuns, foram muito significativos e bem divulgados na época.
As análises e publicações de Jorge Rizzini e Herculano Pires foram marcantes, inclusive se antepondo às tendenciosas elocubrações do padre Quevedo, que se apresentava como parapsicólogo. Foi muito significativa a edição em 1963 do livro Arigó: vida, mediunidade e martírio, de autoria de Herculano Pires.
No histórico programa Pinga-Fogo, na TV Tupi de São Paulo, em julho de 1971, atendendo a uma pergunta, Chico Xavier comentou: “Conheci pessoalmente José Arigó durante três anos de convivência muito estreita, de 1954 a 1956. Sempre me pareceu um apóstolo legitimo da nossa causa espírita e, sobretudo, da mediunidade a serviço do bem, um pai de família exemplar, um amigo de todos os sofredores. Depois da nossa mudança para Uberaba, em 1959, perdemos contato mais direto com Arigó.”
O jornalista americano John G. Fuller (1913-1990), interessado em fenômenos paranormais, lançou em 1974 o livro Surgeon of the Rusty Knife, no Brasil editado com o título Arigó: O Cirurgião da Faca Enferrujada.
O jornalista e pesquisador britânico Guy Lyon Playfair (1935-2018) viveu no Brasil, no Rio de Janeiro e São Paulo, onde trabalhou como repórter e tradutor para diversas revistas americanas, britânicas e brasileiras. Em São Paulo, interessou-se pelas pesquisas de fenômenos mediúnicos e reencarnação, junto ao pesquisador Hernani Guimarães Andrade. Seus contatos com Arigó e Chico Xavier, estão relatados no seu livro The Flying Cow (1975), traduzido para o português e publicado com o título A Força Desconhecida. Chegamos a visitar Playfair em sua residência em Londres quando lançava um livro sobre Chico Xavier.
Nossa expectativa é que o filme contribua para o resgate histórico do marcante vulto da história do Espiritismo, estimule o interesse pelos fatos mediúnicos, e, inclusive pelos livros citados, disponíveis no mercado livreiro.

Centenário de amigo de Chico Xavier

Centenário de amigo de Chico Xavier

      

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Arnaldo Rocha (1922-2012) – testemunha de importantes momentos com Chico Xavier – teria completado centenário de nascimento no dia 29 de agosto.

Arnaldo ficou viúvo de Irma de Castro Rocha, que se tornou autora de inúmeros textos pela psicografia de Chico Xavier, com o pseudônimo de Meimei. Num segundo casamento, com Neuza tiveram uma filha e netos.

Amigo pessoal de Chico Xavier, colaborador nos tempos de Pedro Leopoldo e um dos fundadores do Grupo Meimei, que funcionou entre 1952 e 1956, organizou os livros Instruções psicofônicas e Vozes do grande além, obtidos por transcrição de gravações das psicofonias de Chico Xavier nesse Grupo.

A Casa Editora O Clarim publica obras relacionadas com Arnaldo: sobre Meimei, elaborado junto com seu amigo Wallace Leal Valentim Rodrigues (Meimei, vida e mensagem); relatos e entrevistas: Chico, diálogos e recordações..., de autoria de Carlos Alberto Braga Costa.

Em várias viagens que fizemos a Belo Horizonte e Pedro Leopoldo nos preparativos para as comemorações do Centenário de Chico Xavier Arnaldo fazia questão de nos buscar no Aeroporto de Confins, fomos seu hóspede juntamente com a esposa Célia em sua residência. Também ele se hospedou em nossa residência em Brasília. Ele possuía muita consideração com nossa esposa. A afeição do espírito Meimei pela nossa esposa já era sabido. Numa dessas oportunidades nós o entrevistamos para a revista Reformador.1

Atuou em vários congressos espíritas, inclusive no alusivo ao Centenário de Chico Xavier, o 3o Congresso Espírita Brasileiro, em abril de 2010, em Brasília. Na sede da União Espírita Mineira acompanhamos algumas reuniões dirigidas por Arnaldo e constatamos sua experiência, vinda dos tempos de Chico Xavier, como dialogador em manifestações psicofônicas. Arnaldo foi agraciado com a “Comenda da Paz Chico Xavier”, outorgada pelo Governo do Estado de Minas Gerais (2011). A nosso convite, como presidente interino da FEB, em julho de 2012 participou do lançamento do DVD "Instruções Psicofônicas & Vozes do Grande Além", na sede da FEB, em Brasília, em companhia de Oceano Vieira de Melo, responsável pela edição da Versátil, de São Paulo.1

No mês de setembro de 2012 estivemos em duas oportunidades com Arnaldo em Belo Horizonte e nossa esposa Célia o visitou em sua residência e fizeram sua última foto. Uma semana depois ele desencarnou em sua residência, em Belo Horizonte, aos 90 anos de idade. Ocupado com compromissos na presidência da FEB, nossa esposa e diretora da FEB Célia representou a Instituição, no velório e sepultamento realizado no dia 30 de outubro, na capital mineira.1

Arnaldo demonstrou muita atenção e carinho pela nossa família e nossas atividades.

Sempre fiel às obras de Allan Kardec e de Chico Xavier, com posições marcantes, enérgicas em alguns momentos, mas com muita sinceridade. Mantinha diálogos frutíferos, agradáveis e até com lances pitorescos, com suas valiosas recordações de Chico Xavier.

Fonte:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. Cap. 6.2. Araçatuba: Cocriação. 2021.

Reflexões sobre falsos profetas, de textos bíblicos às redes sociais

Reflexões sobre falsos profetas, de textos bíblicos às redes sociais
Antonio Cesar Perri de Carvalho
Nos vários livros que integram a Bíblia há referências às ações dos profetas, e, também dos falsos profetas.
Em O evangelho segundo o espiritismo, Allan Kardec, dedica o capítulo XXI ao tema: “Haverá falsos cristos e falsos profetas”.1 Judiciosamente, analisa e inclui mensagens espirituais sobre versículos do Novo Testamento:
“A árvore que produz maus frutos não é boa e a árvore que produz bons frutos não é má; porquanto, cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto” (Lucas, 6:43). – “Guardai-vos dos falsos profetas que vêm ter convosco cobertos de peles de ovelha e que por dentro são lobos rapaces. Conhecê-los-eis pelos seus frutos” (Mateus, 7:15). – “Meus bem-amados, não creais em qualquer Espírito; experimentai se os Espíritos são de Deus, porquanto muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” (João, 1a Epístola, 4:1).
Na ação de Paulo de Tarso há fatos e registros sobre o que se enquadra como falsos profetas. Entre várias situações: o caso dos sete irmãos judeus exorcistas (Atos 19:13-17); do mago que tentava curar o procônsul romano Sérgio Paulo (Atos, 13:6-8) e da pitonisa de Filipos (Atos 16:16-40). Nas suas Epístolas, Paulo constantemente alertava sobre os falsos profetas.
Herculano Pires, em sua magistral obra O espírito e o tempo, analisa o profetismo bíblico e a dimensão do verdadeiro profeta considerando a individualização mediúnica e espiritual e anota: “O profeta é o elo entre a terra e o céu. A individualização social produziu a individualização mediúnica, e esta, por sua vez, produz a individualização espiritual, através do aprimoramento dos atributos éticos do profeta”.2
Há claros e bem fundamentados conceitos para se compreender com base no Espiritismo o papel de profetas e dos médiuns em geral.
Recentemente, em estudo virtual promovido pelo Grupo Espírita Casa do Caminho, de São Paulo, abordamos o acima citado capítulo de O evangelho segundo o espiritismo.
Mas, procuramos estimular reflexões sobre a abundância de mensagens mediúnicas escritas e gravadas e declarações de variadas pessoas que procuram relacionar episódios da sociedade que vivemos com pretensas informações de origem espiritual.
A análise racional de várias delas e em cotejo com os princípios espíritas apontam inúmeras distorções, sugerindo eventual enquadramento nos temas alertados por Kardec em capítulos de O livro dos médiuns que abordam o papel dos médiuns nas comunicações espíritas, influência moral do médium, obsessões, e, a identidade dos espíritos.3
Naturalmente surge a questão da atualidade em que ocorrem, precipitadas e sem análises cuidadosas, a divulgação pelas redes sociais de mensagens e comentários duvidosos. Seriam enquadráveis no dizer tradicional, de falso profetismo, e, na atualidade, de.como fake news.
Esse alerta sugere que nós, os espíritas, devemos evitar os “compartilhamentos” apressados de mensagens recebidas pelas redes sociais. Antes precisam ser analisadas cuidadosamente com o bom sendo aurido do conhecimento doutrinário.
A propósito, consideramos oportuna a transcrição de trechos de autoria do espírito Emmanuel, extraídos de obras psicografadas por Chico Xavier:
“A mentira é a ação capciosa que visa o proveito imediato de si mesmo, em detrimento dos interesses alheios em sua feição legítima e sagrada; e essa atitude mental da criatura é das que mais humilham a personalidade humana, retardando, por todos os modos, a evolução divina do Espírito”.4
“Obscurecer, falsear, iludir constituem armas invisíveis e mortíferas dos que operam a confusão. O discípulo de Cristo não deve ignorar que se encontra em luta permanente contra o mal, em si mesmo, e não deve desconhecer que a falência nasce do engano, da insegurança e vacilação. Quando tantas coletividades se aprestam à defesa da ordem e dos princípios cristãos, lembremos que o Mestre não esqueceu de incluir a coluna da mentira, entre os mais implacáveis inimigos da humanidade liberta”.5
“Forçoso distinguir sempre o exterior do conteúdo. Exterior atende à informação e ao revestimento. Conteúdo, porém, é substância e vida. Exterior, em muitas ocasiões, afeta unicamente os olhos. Conteúdo alcança a reflexão. Simples lições de cousas aclaram-nos o propósito”.6
Como sugestão de reflexão, destacamos trecho sobre a relação entre parecer e ser:
“Ninguém que se consagre realmente à verdade dará testemunho de nós pelo que parecemos, pela superficialidade de nossa vida, pela epiderme de nossas atitudes ou expressões individuais percebidas ou apreciadas de passagem, mas sim pela substância de nossa colaboração no progresso comum, pela importância de nosso concurso no bem geral”.7
Referências:
1) Kardec, Allan. (Trad. Ribeiro, Guillon). O evangelho segundo o espiritismo. Cap. XXI. Brasília: FEB.
2) Pires, José Herculano. O espírito e o tempo. 1ª. parte, cap. IV. São Paulo: Paideia.
3) Kardec, Allan (Trad. Ribeiro, Guillon). O livro dos médiuns. 2ª parte. Brasília: FEB.
4) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. O consolador. Q. 192. Brasília: FEB.
5) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Harmonização. Cap. Não vos enganeis. São Bernardo do Campo: GEEM.
6) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Livro da esperança. Cap. Exterior e conteúdo. Uberaba: CEC.
7) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Fonte viva. Cap.7. Brasília: FEB.

Junto aos simples e fracos

Junto aos simples e fracos

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Ao longo de nossa existência tivemos contato com algumas realidades mais próximas de situações de vida das pessoas que vivem na periferia de grandes cidades.

Em atividade junto a um centro espírita que atua em bairro da capital federal e que presta apoio a famílias carentes, integramos a equipe que visita lares. Várias situações dramáticas vieram à tona. Entre elas, em visita a um casebre extremamente precário, próximo a uma ribanceira – e, paradoxalmente, com vista a distância para um belo bairro da cidade – vários dramas estavam presentes. A senhora responsável pela família, já com mais de 40 anos, estava grávida. Relatou que a gestação era resultante de violência sexual, mas que ela se recusou a praticar o aborto porque entendia que a criança não tinha nada a haver com a triste ocorrência. Um de seus filhos foi levado à força para o Estado de origem de ex-companheiro. O casal de filhos adolescentes, que conhecemos, também já tinham sido vítimas de violência sexual.

A impunidade de tanta tragédia se oculta pela localização da “moradia” e de seus “vigilantes”… Além do apoio material e moral, o grupo espírita visitante prestava também apoio espiritual. Ao se abrir O Evangelho segundo o Espiritismo – e que coincidência – foi lida a página “Os infortúnios ocultos” (Cap.XIII), seguida de uma prece.

Há uns tempos atrás, em outro momento totalmente distinto, precisamos comparecer a um órgão previdenciário. Foi difícil e tivemos que esperar o encerramento de uma greve. Esta era motivada por desatenções à situação salarial dos funcionários. Devido à sobrecarga de demandas após a conclusão da greve somente conseguimos agendar um comparecimento mais próximo no tempo, em agência de bairro periférico. Ao chegarmos ao local, enquanto aguardávamos nosso atendimento, observávamos o público presente: que tristeza! Pessoas idosas, doentes, com deficiências de locomoção; mães com crianças no colo e nas mãos… A aparência geral era sugestiva de vida extremamente difícil. E o detalhe extra, pois imaginávamos o óbvio, de que os presentes ali chegaram vencendo ainda distâncias grandes a pé ou de ônibus.

De outra feita, em outro ambiente, nos saguões de hospitais, observamos a situação terrível dos usuários da assistência de saúde estatal e a brutal diferença dos que tem garantia financeira ou de um razoável plano de saúde. Estes, em poucos minutos, passam pela burocracia do atendimento inicial e já tem acesso até a exames e tratamentos sofisticados.

Nesses três “flashes” vivenciados em poucos meses – um autêntico “choque de realidades” – provocaram-nos profundas reflexões.

Evidentemente que passamos a pensar no papel dos espíritas junto ao meio social.

As ações espíritas em convívio mais próximo com a comunidade, tanto na atividade doutrinária como na assistencial, nos fez retroceder no tempo – há sessenta anos -, quando nos períodos de adolescência e juventude labutávamos com nossa família na Instituição Nosso Lar – que vimos nascer – localizada num então bairro periférico da cidade de Araçatuba (SP): apoio e visita a famílias, “campanha do quilo”, distribuição de sopa, evangelização muito simples para crianças, reuniões públicas sobre Evangelho e com passes, e, os jovens participando de todas essas ações. E, sem dúvida, as informações sobre o trabalho pioneiro de Benedita Fernandes – a dama da caridade -, naquela cidade.

Mesmo considerando as alterações que o país e o movimento espírita sofreram nesse período de tempo, há necessidade de se refletir sobre a atuação dos espíritas junto aos segmentos mais simples de nossa população. E há componentes agravados pela maior violência e pela disseminação das drogas.

Os centros espíritas – que são a base do movimento espírita –, local onde as ações se corporificam, devem merecer atenção de seus dirigentes promovendo estudos, análises e diálogos, sobre as demandas da cidade ou dos bairros de uma cidade, sobre a adequação dos planos de trabalho – atendendo todas as faixas etárias e sociais – à efetiva realidade em que se encontram inseridos.

Em momentos preditos como o do “Consolador Prometido” são sugestivas as ações dos primeiros agrupamentos cristãos, registradas por Emmanuel nos livros Paulo e Estêvão, 50 anos depois e em Ave, Cristo! O registro do ex-doutor da Lei é muito oportuno, ao se tornar homem do povo como o apóstolo Paulo: "Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns. E eu faço isto por causa do evangelho, para ser também participante dele" (I Coríntios 9,22-23).

Com essas anotações reiteramos as preocupações já externadas em artigos que divulgamos na imprensa espírita e em livros nossos1, onde registramos experiências espíritas notáveis em ambientes simples em algumas situações no Brasil, incluindo o exemplo de Chico Xavier, e no exterior.

Referências:

1. Carvalho, Antonio Cesar Perri. Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. 1.ed. Araçatuba: Cocriação. 2021. 632p.

O marco histórico do Centro de Cultura e Documentação

O marco histórico do Centro de Cultura e Documentação

    


Antonio Cesar Perri de Carvalho

O Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo Eduardo Carvalho Monteiro – CCDPE, localizado no bairro Planalto Paulista, em São Paulo, comemorou 18 anos de fundação na manhã do dia 07 de agosto.
O CCDPE é uma associação científica, cultural, sem fins econômicos, que objetiva conservar e colocar à disposição do público, livros, documentos, fitas de áudio e vídeo, DVD, CD, jornais, revistas, microfilmes, objetos, quadros, etc. de valor histórico, pertencentes ao acervo cultural espírita. Inclusive tem editado livros nas linhas de pesquisa e de biografia.
A sede própria do CCDPE estava lotada de pessoas vinculadas, pesquisadores e colaboradores, e visitantes.
A presidente Júlia Nezu fez apresentação audiovisual focalizando o fundador e primeiro presidente Eduardo Carvalho Monteiro, que viveu em São Paulo (1950-2005) e é a origem principal do precioso acervo; fez também uma retrospectiva das ações do Centro até nossos dias. Houve homenagem aos fundadores e integrantes da primeira diretoria que estavam presentes e também a dirigentes da USE-SP atualmente integrados ao CCDPE e presentes no evento: a atual presidente Rosana Gaspar e os ex-presidentes Cesar Perri, Júlia Nezu e Aparecido Orlando.
Na oportunidade, Adair Ribeiro Júnior, colaborador do CCDPE e coordenador do AKOL doou e entregou tela original sobre Kardec adquirida em Paris. Houve uma Mini Exposição Kardec, mostra de obras raras e visita ao acervo do Centro.
Em seguida houve um almoço mediante adesão.
Recentemente, o Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo Eduardo Carvalho Monteiro, de São Paulo, disponibilizou uma mostra de seus documentos e acervos, no Congresso Estadual da USE-SP, nos dias 24 a 26 de junho. Houve apresentação de uma linha do tempo sobre o Espiritismo na França e contexto mundial (1857 a 1915), fotos, pôster, livros raros, documentos e manuscritos de Kardec. As equipes do acervo e de pesquisas, com coordenação de Pedro Nakano, organizaram e acompanharam a mostra. Houve parceria de “Allan Kardec On Line” (AKOL), com atuação de Adair Ribeiro Júnior e Carlos Seth, que também colaboram com o CCDPE. Entre os visitantes, Washington Luiz Nogueira Fernandes, doador de significativo acervo.
O acervo de livros, documentos, etc, pertencentes ao CCDPE tem recebido doações de vários acervos de escritores e colecionadores. Com a coordenação de Pedro Nakano, alguns pesquisadores e colaboradores do CCDPE, uns presenciais e outros à distância, estão atuando nessa organização. Algumas reuniões de estudo da instituição tem sido efetivadas de forma virtual.
Vários livros com interface acadêmica e biografias tem sido editados pelo Centro.
Pessoalmente tivemos muitos contatos com Eduardo Carvalho Monteiro, notadamente no período em que exercemos a presidência da USE-SP na década de 1990. Naquela época o designamos responsável pelo Projeto Pró-Memória da USE-SP que foi montado nas dependências do Instituto Espírita de Educação, em utilização pela USE. Eduardo é autor de dezenas de livros sobre pesquisas de vultos e fatos espíritas e também sobre maçonaria. Em várias atividades estivemos juntos na seara espírita e eventos maçônicos.
Na época de fundação do CCDPE residíamos em Brasília. Mas nos primeiros anos do funcionamento viemos na condição de diretor da FEB juntamente com a esposa Célia para acompanhar evento sobre educação e evangelização promovido pela USE, que acontecia no Centro, e com atuação de nossa amiga Adalgiza Balieiro.
Logo depois, dentro de programa que coordenávamos da secretaria geral do Conselho Federativo Nacional da FEB, o CCDPE sediou um seminário com apoio da USE-SP sobre preparação de dirigentes espíritas.
Após nossas desincumbências da FEB e retorno de residência em São Paulo, passamos a colaborar com o CCDPE com oferta de cursos presenciais e, com a pandemia, passaram a ser virtuais.
Em junho de 2021, o CCDPE sediou também transmitido pela internet, o lançamento de nosso livro “Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões” (Ed.Cocriação, Araçatuba).
O CCDPE tem sido local de convergência de estudiosos e pesquisadores do Espiritismo e também um local acolhedor e fraterno. É um marco na história do Espiritismo em São Paulo.
Há um vídeo elaborado por Ery Lopes, sobre o CCDPE (copie e cole):

http://grupochicoxavier.com.br/o-extraordinario-acervo-do-ccdpe-sp/