Marcantes exemplos de superação
Antonio Cesar Perri de Carvalho
Nesses dias iniciais de outubro estão presentes em nossa mente duas mulheres, coincidentemente afro-descendentes, e que foram exemplos de superação de variadas dificuldades.
O exemplar de outubro da Revista internacional de espiritismo está trazendo nosso artigo onde focalizamos Carolina Maria de Jesus (1914-1977)1, a catadora de papeis que escreveu o livro Quarto de despejo. Diário de uma favelada, publicado em 1960.2
Décadas após sua desencarnação, esse livro se transformou em best-seller, e foi traduzido para 13 idiomas e seus livros ganham força, com reedições e estudos acadêmicos.
No artigo citado realçamos que ela nasceu em Sacramento (MG). Era criança pobre, descendente de escravos libertos e precocemente com reações “estranhas”, o que levou sua genitora a procurar o conhecido médium da cidade, registrando: “O senhor Eurípedes Barsanulfo disse-me que ela é poetisa!”. Com sete anos de idade frequentou escola: “Minha mãe era pobre. Dona Maria Leite insistiu com mamãe para enviar-me à escola”. Era a instituição criada por Eurípedes Barsanulfo, posteriormente designada Colégio Allan Kardec.
Acadêmicas comentam: “orientada por uma pedagogia espírita, a escola oferecia educação aos pobres e aos órfãos de Sacramento e .contava com a caridade de diversos membros da elite local”.1,2
No seu Diário, Carolina refere-se a apoios da igreja e da atuação de espíritas junto à favela paulistana.
Após superar inúmeras dificuldades, foi homenageada com a Cidadania Paulista e por Associações Literárias.
Na visão espírita trata-se de um espírito submetido a difíceis provas e expiações, com indícios de superação nos testes de educação espiritual. Contemporâneo de Carolina, Eliseu Rigonatti revela que ela teria sido uma baronesa no Século XIX e que maltratava escravos. “Reencarnada, despojada de várias condições, teve a oportunidade de estudar por dois anos no Colégio Allan Kardec, fundado por Eurípedes Barsanulfo, onde além dos conteúdos formais eram ministradas lições de moral segundo a ética de Cristo, o que foi valioso para Carolina enfrentar a vida difícil e ser uma vencedora”.1
Outro caso notável de experiência de vida é Benedita Fernandes (1883-1947), sobre quem elaboramos uma biografia: Benedita Fernandes. A dama da caridade.3
Benedita Fernandes desencarnou aos 09/10/1947, em Araçatuba, depois cumprir um notável esforço e realizações, como uma pioneira, na área da assistência social espírita. Descendente de escravos libertos, no seio de uma família pobre, Benedita Fernandes nasceu em Campos Novos de Cunha (SP). Dominada por terrível obsessão perdeu a consciência e os contatos com a família. Apareceu um dia em Penápolis (SP), como uma “louca varrida”. Atendida por espíritas foi curada da obsessão que a subjugava. Encaminhou-se para Araçatuba onde em meados dos anos 1920, como lavadeira e junto com companheiras de trabalho, começou a dar apoio a crianças abandonadas e doentes mentais. Aos 06/03/1932 fundou em Araçatuba a Associação das Senhoras Cristãs, que originou um lar para crianças, um “asilo para doentes mentais”, escola e albergue noturno.
Benedita Fernandes superou perseguições espirituais, pobreza material, preconceitos e conquistou o respeito de toda a cidade e do movimento espírita. Notável exemplo de superação!
Referências:
1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Carolina, do Quarto de despejo, e Eurípedes Barsanulfo. Revista internacional de espiritismo. Ano XCVII. N.9. Outubro de 2022.
2) Jesus, Carolina Maria. Quarto de despejo. Diário de uma favelada. São Paulo: Ática. 2014.
3) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Benedita Fernandes. A dama da caridade. Araçatuba: Cocriação. 2017.