A centenária “dona Ziza” relata sobre Cairbar Schutel

A centenária “dona Ziza” relata sobre Cairbar Schutel

Trechos da entrevista: FOCALIZANDO A TRABALHADORA ESPÍRITA ADALGISA DE LOURDES ANTUNES ROSITO (DONA ZIZA).

Dona Ziza, pode nos fazer sua apresentação pessoal?

Meu nome de nascimento é Adalgisa de Lourdes Antunes. Nasci no dia 19 de julho de 1923 (portanto, beirando um século de vida…) em Matão, SP, na Fazenda Palmares, da qual meu pai Benedicto José Antunes era administrador. Minha mãe chamava-se Dna Maria Eufrozina Antunes, dona de casa. Fui a décima dentre seus onze filhos. À época de entrar para a escola primária, fui matriculada no então Grupo Escolar de Matão (hoje E. E. José Inocêncio da Costa, esta, sim, já centenária), no qual permaneci pelos quatro anos regulamentares. Na parte inicial do curso, eu me deslocava desde a Fazenda até o Grupo, sempre em dupla com uma prima, utilizando os meios disponíveis: charrete, cavalo (cujas rédeas eu mesma tomava), eventualmente automóvel, ou até mesmo a pé. Como esses deslocamentos eram um tanto penosos, minha segunda etapa no Grupo iniciou-se quando meus pais decidiram me transferir para a casa de minha avó “Marica”, na cidade. E a terceira e última etapa de meu curso primário deu-se quando da reunião da família, todos agora na cidade e debaixo de um mesmo teto.

Nessa terceira etapa, minha mãe, mesmo ainda na fazenda mas já frequentando o Centro Espírita Amantes da Pobreza (hoje renomeado Centro Espírita O Clarim), me levava com ela às sessões lá realizadas. Estabelecemos uma amizade mais próxima, porém sempre respeitosa, com o fundador e responsável pelo Centro, o Sr. Cairbar de Souza Schutel, habitualmente chamado de “Seu” Schutel. Este, além de dirigir o Centro, já tinha fundado uma Editora, a Casa Editora O Clarim, então com duas publicações mensais de divulgação espírita: o jornal O Clarim e a Revista Internacional do Espiritismo (RIE), ambas com circulação ininterrupta até a atualidade. A Editora publicava também livros sobre temas espíritas. Ademais, como “Seu” Schutel tinha familiaridade com o ofício de prático de farmácia, montou também a Farmácia Schutel. Concluído o curso primário, as opções para prosseguimento dos estudos eram muito limitadas, de modo que meus pais resolveram matricular-me no curso de Comércio do Colégio São José, sempre em Matão. Frequentei o curso. Dentre as provas de conclusão, havia uma que, curiosamente, se tornaria inesquecível para mim: a professora Yara Buck Ferreira, de Taquigrafia, perguntou à classe se algum aluno poderia indicar um nome apropriado para fazer um discurso; para nós, os futuros formandos, a prova final consistiria em taquigrafar o texto a ser proferido pelo convidado perante a classe. Apesar de meu pai privar do convívio de distinguidas figuras do município, ocorreu-me indicar o nome do “Seu” Schutel, que foi aprovado, cabendo a mim mesma convidá-lo. Pelo respeito que eu lhe dedicava, morri de medo de dirigir-lhe o convite, mas assim fiz, mesmo um tanto insegura. O convite foi aceito, o convidado compareceu para discursar e os resultados escolares foram muito bons. Lamentavelmente, não tive acesso ao texto oficial então proferido perante os alunos nem conservei as anotações taquigráficas recolhidas, mas posso garantir que, tal como ele costumava fazer, não deixou de tocar no assunto Espiritismo, divulgador diligente que era da Doutrina. Houve uma consequência muito auspiciosa: o episódio do discurso aproximou-nos mais do “Seu” Schutel, abrindo-me as portas para que, no verdor dos meus 13 ou 14 anos, logo após minha formatura no Colégio São José, eu tivesse meu nome recomendado para trabalhar na Editora, mais especificamente na Redação (aliás, “Redacção”, conforme consta na antiga placa ainda afixada à entrada do prédio, hoje Memorial Cairbar Schutel, em Matão), em atividade burocrática utilizando a datilografia e os demais conhecimentos adquiridos no Colégio. Em 1940, meu pai encerrou sua última atividade – juiz de paz – em Matão, e mudamo-nos todos para São Paulo. Na Capital, fui trabalhar numa Companhia de Seguros, onde permaneci por seis anos.

[…] Permitam-me fazer uma referência à importância que uma especial família, a Família Perche, de Matão, exerceu no ingresso dos Antunes no Espiritismo. Minha mãe fez amizade, ainda enquanto na fazenda, com essa família. Seus membros eram todos adeptos do Espiritismo e muito chegados ao “Seu” Schutel. Das irmãs Antoninha e Zélia ficaram-me recordações muito queridas. Dna Antoninha, que trabalhava ao lado do “Seu” Schutel na Editora, foi o elo de ligação entre a Família Antunes e “Seu” Schutel, tendo sido a responsável pela recomendação de meu nome para trabalhar na Redação da Editora. Num momento de grande consternação, logo após a morte dele em 1938, sucedeu-o na presidência e permaneceu no cargo por muitos anos. Já Dona Zélia, farmacêutica formada em Pindamonhangaba, SP, de início responsabilizava-se oficialmente pela Fármácia Schutel, da qual assumiu também a administração após o falecimento de “Seu” Schutel. Outra das irmãs Perches, a profª Arlinda (apelidada de Linda ou Lindinha), entrou para a Família Antunes ao desposar meu irmão Raul, estreitando ainda mais os laços entre as duas famílias. É uma cunhada cuja memória conservo com muito carinho.

[…] Poderia nos falar sobre o grande vulto do Espiritismo, o Sr.Cairbar Schutel? Sim, com certeza. ”Seu” Schutel foi o começo de tudo. Um lutador em defesa de suas ideias e crenças, um batalhador pela causa espírita, uma pessoa cumprindo a missão de difundir uma doutrina na qual acreditava. Até hoje me surpreendo com todo o esforço que ele empenhou para vencer as dificuldades da fundação e da manutenção de um Centro Espírita e de uma Editora numa cidade minúscula como era a Matão da época. Enquanto as duas instituições se consolidavam, envolveu-se na tarefa de divulgar e defender o Espiritismo em ambiente nem sempre acolhedor, decorrente dos ataques oriundos de setores que enxergavam no Espiritismo uma ameaça e um perigo. Era incansável, sempre preocupado com a administração do Centro, da Editora e da Farmácia. Pessoa séria e de poucas palavras, inspirou-me respeito desde o primeiro contato, naquele episódio inocente do convite para o discurso. Como meu trabalho na Redação era manual, tínhamos um limitado contato pessoal. Mas enquanto eu cumpria minhas tarefas regulares na Redação, observava-o cuidando das questões administrativas e também escrevendo artigos e textos para O Clarim e para a RIE (muito desse material é atualmente resgatado e republicado por ambos os veículos de divulgação). Além disso, escrevia livros e fazia publicar outros autores, bem como mantinha intercâmbio de correspondências com espíritas do Brasil e com órgãos de divulgação espírita de países estrangeiros. Durante certo período, manteve também um programa de divulgação do Espiritismo na Rádio Cultura da vizinha Araraquara. Mas eu gostaria de ressaltar, além de seu perfil de administrador e de desbravador, uma outra de suas características. Elevava a caridade ao mais alto conceito que essa palavra possa ter. Sendo prático de farmácia, era quem dirigia a Farmácia Schutel. Ficou famoso o recorrente comentário de que, a qualquer tempo, nenhum necessitado que lá comparecesse sairia sem o remédio que procurava, mesmo que não pudesse pagar por ele. Outra das obras assistenciais de “Seu” Schutel foi a construção de algumas modestas casinhas para acolher doentes ou indigentes. Tais casinhas foram anteriores aos meus tempos, de modo que não tenho condição de dar maiores informações a respeito, mas elas ilustram mais uma faceta do empreendedorismo e preocupação de “Seu” Schutel para com os menos favorecidos. Uma vida tão densa me remete à recomendação de que os interessados em conhecer mais sobre a vida dessa destacada figura do Espiritismo procurem alguns livros que tratam de sua biografia; assim poderão informar-se mais detalhadamente dos feitos de sua vida, além de terem acesso a fotos variadas e fatos pitorescos que ilustram aqueles tempos pioneiros.

[…] Pela minha idade, estou impossibilitada de ler e de sair com frequência. Em compensação, os tempos modernos me proporcionaram o uso do celular e da internet, conquistas impensáveis para a minha época de infância e juventude, mas que hoje são valiosos recursos mediante os quais posso manter-me informada sobre o que ocorre no movimento espírita. Os adeptos ou simpatizantes do Espiritismo não devem sentir-se constrangidos por declararem suas crenças. Devem, antes, agradecer por estes tempos modernos, quando a doutrina já está plenamente consolidada em decorrência da luta de muitos ilustres precursores, como Kardec, Chico Xavier e Cairbar Schutel. Nossas homenagens ao notável trabalho realizado por todos eles!

(Entrevista com Dona Ziza Rosito realizada em 04-12-2021 e que contou com a presença do sobrinho Ruy Donini Antunes)

Trechos extraídos de: Boletim de Notícias do Movimento Espírita – Ismael Gobbo.

OBS: Dona Ziza completou 100 anos de idade no dia 19 de julho de 2023, sendo novamente entrevistada por Ismael Gobbo. Vide a gravação nessa home page – Seareira centenária colaborou com Schutel (copie e cole): http://grupochicoxavier.com.br/seareira-centenaria-colaborou-com-schutel/

O ChatGPT e as obras de Kardec

O ChatGPT e as obras de Kardec

Por Luciana Farias*

Pessoas de diversas áreas do conhecimento vêm explorando as funcionalidades do ChatGPT, um serviço baseado em inteligência artificial, que se propõe a auxiliar em diversas tarefas que envolvam linguagem, como responder perguntas, criar e traduzir textos. No espiritismo, seu uso ainda é incipiente e limitado a interações esporádicas, compartilhadas em grupos de discussão e posts em redes sociais. Interessa-nos saber se o ChatGPT pode ser útil aos espíritas, se essa tecnologia está pronta para um diálogo sobre a doutrina espírita.

Trago aqui a minha experiência do ‘papo’ com o ChatGPT, versão free, sobre espiritismo. Comecei com o básico, visando identificar o seu conhecimento sobre as obras de Kardec, através de diversas perguntas extremamente simples, constatando o risco de se ter como verdades as respostas fornecidas. Eis a transcrição de partes desse diálogo.

Eu: “Você conhece a obra O evangelho segundo o espiritismo?”

ChatGPT: “Sim, estou familiarizado com a obra O evangelho segundo o espiritismo. É um livro importante dentro do espiritismo, que busca estabelecer uma interpretação dos ensinamentos de Jesus à luz da doutrina espírita. Foi publicado pela primeira vez em 1864, codificado por Allan Kardec, o fundador do espiritismo.

É composto por cinco partes principais. A primeira parte contém uma introdução que aborda a importância do Evangelho na vida dos indivíduos. A segunda parte é composta por uma seleção de capítulos dos Evangelhos canônicos da Bíblia, que são analisados e comentados à luz da doutrina espírita. A terceira aborda a moral espírita, apresentando uma série de ensinamentos morais e éticos. A quarta trata das esperanças e consolações oferecidas pela doutrina espírita, incluindo temas como a vida após a morte e a lei de causa e efeito. A quinta e última parte contém uma coleção de preces e instruções sobre a prática do bem.”

Aqui já vemos que a Inteligência Artificial não ‘leu’ esse livro, uma vez que se refere a uma divisão em partes que não corresponde à estrutura do Evangelho.

Intencionando também obter um resumo do capítulo ‘Sistemas’ de O livro dos médiuns, perguntei ao ChatGPT se poderia fazê-lo, mas pedi propositalmente de forma ambígua o resumo do capítulo 4, sabendo que a obra possui duas partes e ambas contêm um capítulo 4. A resposta acabou sendo sobre o capítulo 15 da parte 2:

ChatGPT: “Certamente! O quarto capítulo do livro O livro dos médiuns, de Allan Kardec, tem como título ‘Dos médiuns escreventes ou psicógrafos’. Neste capítulo, Kardec explora o fenômeno da escrita mediúnica, no qual os médiuns são capazes de produzir textos escritos sob a influência de espíritos.”

Eu – Esse é o quarto capítulo de que parte do livro? – insisti para ver se o Chat corrigiria o erro.

E ‘a emenda foi pior do que o soneto’. Pediu desculpas pelo erro e afirmou que o capítulo ‘Dos médiuns escreventes ou psicógrafos’ não pertencia à obra, e ainda a descreveu erroneamente como composta por quatro partes, citando as partes de O livro dos espíritos. Depois, confirmou que não fazia a mínima ideia de que tinha errado novamente, por se achar capaz de me dar ‘informações precisas’:

ChatGPT: “Mais uma vez, peço desculpas pela informação imprecisa anterior. Se você tiver interesse em um capítulo específico ou em algum tema relacionado ao espiritismo, estou à disposição para ajudar com informações precisas.”

Por fim, indaguei com base no nome do capítulo: "De que livro de Allan Kardec é o capítulo ‘O método’?" Em vez de responder que era de O livro dos médiuns (capítulo 3 da parte 1), o ChatGPT afirmou ser de O livro dos espíritos.

A experiência mostrou que o ChatGPT não conhece o texto completo das obras de Kardec. E, assim como Marco Milani alertou na edição passada do Correio sobre a possibilidade da Inteligência Artificial gerar falsas comunicações mediúnicas, também vale destacar ser o ChatGPT um péssimo companheiro de estudos para quem quer aprender verdadeiramente sobre espiritismo, cuja melhor fonte continua sendo as obras de Allan Kardec.

Ambiguidades e incorreções
O que realmente impressiona no ChatGPT é o uso de expressões e formas de linguagem humana para simular respostas, dando a impressão de um diálogo real com outra pessoa. O encantamento pode dar a falsa impressão de que essa ‘máquina-pessoa’ é extremamente inteligente e tudo que responde está correto.
O serviço, em fase experimental e com informações até setembro de 2021, às vezes, escreve respostas que parecem plausíveis, porém são incorretas ou sem sentido. O fabricante, OpenAI, tem ciência dessas falhas e convida os usuários a utilizá-lo gratuitamente e a dar feedback de seus erros e acertos.
Embora a versão paga, Plus, prometa corrigir erros, como a dificuldade de lidar com ambiguidades ou de identificar que não sabe responder, é preciso lembrar que há limitações da tecnologia que os humanos ainda não conseguiram resolver.

Quem ainda não experimentou, pode acessar o serviço em https://chat.openai.com/

*Luciana Farias é analista de Tecnologia da Informação. Pesquisadora junto ao CSI do Espiritismo (Codification Séances Investigation) https://www.facebook.com/HistoriaDoEspiritismo/ e do Museu AKOL www.allankardec.online. Participa do portal Obras de Kardec www.obrasdekardec.com.br.

Transcrito de:
Correio News (copie e cole): https://correio.news/especial/o-chatgpt-e-as-obras-de-kardec

Revolução de 1932 – aspectos históricos e relatos familiares

Revolução de 1932 – aspectos históricos e relatos familiares

    

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Uma das principais datas cívicas do Estado de São Paulo é o dia 9 de julho que, há tempos, foi transformada em feriado estadual.

Trata-se da comemoração da Revolução Constitucionalista de 1932, quando o Estado de São Paulo se levantou contra a ditadura de Getúlio Vargas, exigindo uma Constituição Federal.

No contexto de nossa família, desde a infância acompanhamos os relatos e repercussões relacionados com a Revolução Constitucionalista. Vivemos as histórias e comemorações sobre a efeméride desde a infância.(1)

Um dos estopins do movimento foi o assassinato por militares dos estudantes Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo, na Praça da República, em São Paulo, no dia 23 de maio de 1932, no momento em que se manifestavam contrariamente ao governo Vargas. Na Praça de República, em São Paulo, há uma placa alusiva ao local em que ocorreram os assassinatos.

Desses fatos surgiram, entre outros logradouros públicos em São Paulo, a Rua MMDC, e, sem fazer alusão aos nomes dos quatro estudantes; o Obelisco da Revolução no Parque do Ibirapuera e a Avenida 23 de Maio.

A família Miragaia estabeleceu-se em Biriguí, onde há a avenida Euclides Miragaia.O jovem herói Euclides Miragaia era dos irmãos mais velhos de Benedita Miragaia, casada com nosso tio avô Rolando Perri. E tínhamos muita convivência com esses tios avós.

O irmão mais velho de nosso genitor, Valdomiro Graça de Carvalho (residia em Olímpia, SP), faleceu nas lutas da Revolução. Atualmente, somos o depositário do Diploma da Medalha "M.M.D.C." outorgada post mortem ao nosso tio.

No convívio familiar em Araçatuba, lembramos do prof. Joaquim Dibo, casado com nossa tia avó Olga Perri que, no dia 09 de julho, tinha o hábito de falar sobre a Revolução na sua Escola privada e na Rádio Cultura, destacando os heróicos versos "Nossa Bandeira" de Guilherme de Almeida, o "Poeta da Revolução" Também como lembrança de infância recordamos de Elias Daia, cunhado do tio Joaquim Dibo, que como ex-combatente, certa feita participou de desfile cívico ostentando medalha de combatente da Revolução.

Registramos que os tios avós Rolando Perri e Joaquim Dibo foram políticos respeitados em Araçatuba. Ainda na infância ouvíamos os relatos de tias avós de Araçatuba, Gertrudes e Olga, que integraram grupos de costura para confecção de fardas.

De nossa genitora, que na época da Revolução era criança e residia na cidade de São Paulo, ouvíamos alguns registros dos receios e cuidados dos vários familiares. Quando residimos em São Paulo, durante etapa da infância, nossos pais mostraram-nos as marcas das balas de tiros na fachada da igreja de Nossa Senhora da Conceição Santa Efigênia, no centro da capital paulista. Em 1957, juntamente com nossos pais e irmãos, com entusiasmo, assistimos às comemorações do Jubileu de Prata da Revolução Constitucionalista, em São Paulo. Estávamos próximos ao Obelisco do Ibirapuera, que foi inaugurado dois anos antes; e à noite, os aviões jogavam flâmulas laminizadas ofertadas pelas Indústrias Pignatari, e que cintilavam com as luzes dos holofotes que eram direcionados para o céu. Um espetáculo inesquecível!

Em entrevista para o Blog de Bruno Tavares, de Recife, sobre momentos de nossa vida, no final de 2022, focalizamos os episódios familiares relacionados com guerras e a Revolução de 1932.(2)

Enfim, histórias de idealismo e de valorização da bandeira de uma Constituição para o país!

Foi muito bom ouvirmos com atenção e vivermos esse ambiente na infância. São fatos marcantes ligados à História!

Fontes:

1) Trechos do autor, extraídos do livro Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. Araçatuba: Cocriação, 2021.

2) Entrevista para o Blog Bruno Tavares (copie e cole): http://grupochicoxavier.com.br/participacao-de-familiares-nas-1a-e-2a-guerras-e-revolucao-constitucionalista/

Fatos da ação de Benedita Fernandes em telas de artistas

Fatos da ação de Benedita Fernandes em telas de artistas

 Ilustração da palestra de Perri sobre atendimento de Rosana Perri   

   Lisiane com casal Cesar e Célia 

      Lisiane e tela sobre atendimento de Rosana Perri 

     Alexis Essama, autor da tela sobre atendimento de Rosana por Benedita

Antonio Cesar Perri de Carvalho

A cidade em que Benedita Fernandes se notabilizou com trabalho assistencial espírita pioneiro – Araçatuba (SP) -, sediou evento comemorativo dos 140 anos de nascimento do vulto histórico, nos dias 24 e 25 de junho de 2023.

Contou com palestras, roda de conversa, exposição de telas sobre ações de Benedita e apresentação especial do filme “Benedita Fernandes – legado de superação” (a ser lançado comercialmente). O filme é dirigido por Sirlei Nogueira que também foi responsável pelo evento comemorativo.

Na abertura do evento, proferimos palestra com base em fatos registrados em nosso livro biográfico “Benedita Fernandes. A dama da caridade”, lançado em 1982 e com reedição recente pela Cocriação de Araçatuba1. Focalizamos nuances significativos do trabalho de Benedita, o contexto e as relações com vultos de sua época como Cairbar Schutel, Chico Xavier e Leopoldo Machado.

Nessa apresentação relatamos o atendimento que Benedita realizou à nossa bisavó Rosana Casale Perri, no início de 1939, na residência de Albino Marinelli e Gertrudes Perri Marinelli, em Araçatuba. Nossa bisavó estava há dias em estado do tipo letargia e, após tentativas infrutíferas de tratamento, houve a recomendação que chamassem a lidadora que tinha uma certa fama de curadora. Nossa genitora, Josefina Perri Cefaly de Carvalho (Bebé), que contava 14 anos de idade e residia naquele lar, testemunhou o episódio. Desde criança ouvíamos essa informação e esse registro escrito pela nossa genitora foi introduzido na biografia que elaboramos sobre Benedita Fernandes.1

Em seguida à nossa palestra surgiu a surpresa.

Uma das convidadas do evento, a artista Lesiane Lazzarotti Ogg, chamou-nos para conhecer a exposição de telas sobre o trabalho de Benedita que estava montada na sede do Centro Espírita anfitrião – C.E. “Irmã Angélica”.

Esclarecemos que a Lesiane Lazzarotti Ogg, do Rio de Janeiro, é formada em Letras, Arte Educação e Arteterapia; tem sido orientadora e idealizadora de vários projetos sociais de arte, como veículos de transformação e auxílio social, com ações no Brasil e na África. Expôs e foi premiada em vários países.2 Foi responsável pelo projeto de marcante exposição sobre “Arte, Cura e Afeto”, entre junho e agosto de 2022, na sede histórica dos Correios, no centro de São Paulo, e que contou com extensa parte “Arte, Cura e Espiritualidade”, contando a história de Benedita Fernandes.3

Ao nos ciceronear na exposição em Araçatuba, Lesiane relatou que as referidas telas, de autoria dela e de várias pessoas envolvidas pelo seu trabalho, foram baseadas nos registros de nosso livro sobre Benedita. De repente, a artista nos mostrou a tela que focaliza o atendimento de nossa bisavó (sem identificá-la) e, surpreendente, foi pintada por um artista, Alexis Essama, que reside na República dos Camarões (África).

Ante esse momento inusitado, naturalmente, tivemos interesse em eventual contato com o artista que, bem à distância com a orientação de Lesiane, se inspira em registros de nosso livro e, inclusive, num fato ligado à nossa bisavó.

Em sua palestra, Lesiane fez referência à utilização de nosso livro como inspiração para vários artistas que ela orienta.

É notável que Lesiane Lazzarotti Ogg atua há quase duas décadas em diversas comunidades carentes, com diversas propostas artísticas, atendendo além de crianças, mulheres, idosos e pessoas com diversas deficiências. E, incluiu Benedita Fernandes nas inspirações artísticas!

Fontes:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Benedita Fernandes. A dama da caridade. Cap. 15. Araçatuba: Cocriação. 2017.

2) Academia Brasileira de Belas Artes (copie e cole): https://academiabrasileiradeartes.org.br/especial/academico-livre,cadeira-25-academico-livre/lesiane-maria-lazzarotti-ogg-l-lazzarotti-ogg/;

3) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Benedita Fernandes em “Diálogos de corpo e alma” em São Paulo. Boletim de Notícias do Movimento Espírita, 04/08/2022 (copie e cole): https://www.facebook.com/search/top?q=boletim%20de%20not%C3%ADcias%20do%20movimento%20esp%C3%ADrita%2C%2004%2F08%2F2022

Benedita, Schutel e O Clarim

Benedita, Schutel e O Clarim

Antonio Cesar Perri de Carvalho

No final de junho deste ano, ocorre em Araçatuba evento alusivo aos 140 anos de nascimento de Benedita Fernandes.

Nascida aos 27/06/1883, em Campos Novos de Cunha (SP), notabilizou-se pelo seu trabalho pioneiro e dinâmico em Araçatuba. Após ser tratada de terrível obsessão, fixou-se em Araçatuba onde fundou a Associação das Senhoras Cristãs em 1932, a primeira instituição assistencial espírita da região noroeste do Estado de São Paulo.

Essa instituição pioneira, desdobrou-se em ações voltadas ao atendimento de doentes mentais, crianças órfãs e abandonadas, e pessoas carentes em trânsito pela cidade. Essas obras foram um marco na cidade e região e ela se tornou um vulto respeitado pelos contemporâneos e lembrada até a atualidade.

Destacamos que Benedita Fernandes manteve correspondência com Cairbar Schutel e, mesmo após a desencarnação dele, O Clarim publicava muitas notícias sobre as obras dela. Vale a pena apresentarmos sínteses de algumas dessas matérias estampadas em O Clarim.(1) Várias transcrevemos em nosso livro Dama da Caridade (1982), agora ampliado: Benedita Fernandes. A dama da caridade.(2)

Três meses após Benedita ter fundado a Associação das Senhoras Cristãs, há informação sobre a participação dela em Assembleia da União Espírita Paz e Caridade, de Araçatuba, citando-a como “directora do Albergue Noturno” (O Clarim) , 18/06/1932). Ela mantinha intensas relações e colaborava com essa instituição, a primeira fundada naquela cidade.

O Clarim (30/03/1935) divulgou a composição de nova diretoria da Associação das Senhoras Cristãs: presidente, Benedita Fernandes; secretário, Manoel Clemente Gonçalves; tesoureiro, Maria Bogalho Gonçalves. No mesmo ano noticia-se a visita à novel obra de Benedita de caravana de Penápolis, liderada pelo Sr. João Marchesi, presidente do Centro Espírita Discípulos de Jesus (O Clarim, 03/08/1935). Marchesi foi um dos responsáveis pela cura da antiga obsidiada.

[…] Notas sobre comemorações de Natal em 1935, 1936 e em 1937. […] No exemplar de 12/03/1938, há informações sobre palestra do dr. João Baptista Pereira, residente em São Paulo, e que foi presidente da Sociedade de Metapsíquica de S. Paulo e da FEESP.

Em 25/02/1939, O Clarim noticia sobre os esforços da Associação das Senhoras Cristãs e do Asilo Dr. Jayme de Oliveira, que prestam assistência a indigentes, e informa o primeiro aniversário do menino Allan Kardec, nascido na Associação, filho de uma indigente internada. Chegamos a conhecer o Allan Kardec Marçal Costa.(2)

Na edição de 07/12/1940, registra-se que o representante de O Clarim, Leonardo Severino, voltando de viagem a Mato Grosso, proferiu conferências em Araçatuba: na Associação, na União Espírita Paz e Caridade e na Rádio Cultura.

De acordo com O Clarim (24/05/1941), João Leão Pitta – um dos propagandistas do jornal-, proferiu palestras na Associação das Senhoras Cristãs e no Córrego da Prata (Município de Araçatuba).

O Clarim (12/09/1942) noticia a fundação da União Espírita Regional de Araçatuba. Em 02/08/1942, espíritas da cidade reuniram-se em assembleia, para tratar da eleição da diretoria da União Espírita Regional da Noroeste, sendo dirigida por Benedita Fernandes e com o destaque de que ela representou O Clarim. Trabalho inédito de Benedita.(2)

A Associação promoveu homenagem a Kardec, no dia 03/10/1942, na sede da União Espírita Paz e Caridade, com atuação de Gedeão Fernandes de Miranda e Júlio Monteagudo, dezenas de crianças declamando poesias e “foi servido jantar a 247 pessoas pobres” (O Clarim, 07/11/1942).

Em nota sobre a comemoração do 139o aniversário de nascimento de Kardec, registra-se a participação de cerca de 300 adultos e crianças, farta distribuição de doces, seguida de sessão noturna na União Espírita Paz e Caridade (O Clarim, 20/11/1943).

[…] A notícia sobre o passamento de Benedita Fernandes, a partir de informação recebida de Vicente S. Neto, representante de O Clarim em São Paulo, foi publicada de imediato (edição de 25/10/1947). A redação desse jornal homenageia a lidadora: “uma das figuras mais populares no seio da família espírita pelas suas obras no campo da assistência social seu trabalho, pela sua grande fé, e pelo seu trabalho produtivo e perseverante na difusão da doutrina, embora fosse quase analfabeta. Corajosa, ativa, inteligente, cheia daquela boa vontade que opera prodígios”.

De matéria significativa de autoria de Leopoldo Machado – notável líder radicado em Nova Iguaçu (RJ) – sobre a desencarnação de Benedita (O Clarim, 08/11/1947), realçamos alguns trechos: "Fomos a Araçatuba, porque recebemos inte¬ressante carta dela, dizendo de sua geral decepção, quase, com os espíritas de cartaz. Gostaria de decepcionar-se conosco. Não podia visitar-nos, porque estava velha e doente. Pedia, portanto, que a visitássemos, pois, gostaria de conhecer-nos, antes de seu desencarne. Que fôssemos, assim, a Araçatuba. Fomos, com a querida esposa, decep¬cioná-la de perto. E com ela passamos cinco dias, a ouví-la nas suas experiências e observações; a admirá-la e a querê-la muito, de perto".

Eis uns comentários e diálogos do conhecido líder: “Com a nossa visita veio também a notícia de que o governo do Estado lhe concedera o auxílio de cem mil cruzeiros para concluir mais um pavilhão de sua obra formidável. Obra que se esparrama por todo um quarteirão, desbordando para outro, compreendendo escola, al¬bergue noturno, manicômio para os dois sexos, socorro e assistência a indigentes e necessitados, hospital, casa das crianças, etc, etc… Então pergunto: Como pode construir tudo isso?”

Ela respondeu: “- Eu não fiz nada. A obra é dos patrões. Sou apenas uma empregada que procura servir, direitinho, a seus patrões, que estão lá em cima. (E apontou o céu)

“- E o dinheiro para tudo isto?” Benedita: “- Aparece. Os patrões são ricos. Têm sempre, e muito, para dar. É só a gente saber pedir e bater, como deles pôs no Evangelho.” […] Em outra oportunidade, Benedita retomou o assunto com Leopoldo Machado, expressando suas preocupações. Assim ele anota no mesmo artigo que ela se preocupava como ficaria “a obra dos patrões”.

[…] Essas evocações homenageiam Benedita Fernandes, que sempre interagia com instituições e lideranças espíritas; vários aparecem nas notas transcritas. Também ensejam a reflexão sobre a importância de registros escritos. Graças a O Clarim, obtivemos essas informações que, inclusive, foram utilizadas na biografia que elaboramos sobre o vulto marcante.(2)

Referências:

1) Arquivos da Casa Editora O Clarim.

2) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Benedita Fernandes. A dama da caridade. Araçatuba: Cocriação. 2017. 144p.

Síntese de artigo do autor publicado em:

Revista internacional de espiritismo. Ano XCVIII. N.5. Junho de 2023. P. 233-235.

O Paradigma Emergente e a Educação do Espírito

O Paradigma Emergente e a Educação do Espírito

Ilza Godinho*

Dentre as teorias que buscam explicar as contradições e as anomalias da Ciência, cita-se a teoria dos paradigmas.

O paradigma compreende um modelo de pensar e agir em um dado momento histórico. Quando o paradigma vigente não consegue emoldurar as questões em sua plenitude, entra em crise paradigmática, enunciando o paradigma emergente (PE). Neste contexto, pode-se citar o geocentrismo, de Ptolomeu, que, ao deixar de atender à realidade que se apresentava, originou o heliocentrismo, de Nicolau Copérnico.

Mudanças em nossa visão de mundo ante aos novos conceitos da física quântica do século XX, encaminharam a concepção mecanicista, reducionista e materialista para uma visão holística, cujo termo “holismo” fora criado por Jan Smuts e Arthur Koestler, contribuindo para o PE. Também são consideráveis as contribuições de Teillard de Chardin com uma visão integradora da Ciência e a Fe Cristã; de Fritjof Capra, com o livro “O Ponto de Mutação”; de Rupert Sheldrake, com o estudo dos Campos Mórficos e Corpo Etérico e de Gustav Jung, integrando a abordagem holística na psicologia.

A sociedade de hoje está em crise paradigmática e de percepção, fazendo-se necessária, a visão do homem como um ser biopsicossocial-espiritual-ecossistêmico, que o paradigma vigente não mais oferece.

Dentro do PE, nosso propósito é contextualizar Benedita Fernandes (1883) e seu contemporâneo Eurípedes Barsanulfo (1880), que juntos propuseram a educação do Espírito, calcados nos três pilares do Espiritismo: Ciência, Filosofia e Religião e em seus princípios: Crença em Deus, Imortalidade da Alma, demais Mundos Habitados, Reencarnação e na Comunicabilidade dos Espíritos.

Benedita, aprisionada por um processo de loucura, fora atendida por Elpídio e Marchesi, conhecedores das interferências espirituais, em uma Psiquiatria Iluminada, identificaram o seu estado de loucura como um processo obsessivo (loucura em novo prisma). Assim, trataram-na com água fluidificada, passes magnéticos e vibrações de amor, tornando-se os seus “psicoterapeutas do amor”, pois no acolhimento afetuoso, mudaram-lhe a sintonia vibratória desfazendo laços espirituais menos felizes. Benedita, com um tom vibracional diferenciado ouviu além dos cinco sentidos “se abraçares com amor a criança, os obsidiados, os carentes de corpo e do Espírito, daqui saíras curada!” Aceitara e cumprira! Fez se a resiliência!

A vida em amor incondicional ao próximo, uma educação para além da materialidade – a educação do Espírito. Eurípedes, outro grande educador do Espírito, após a leitura do livro “Depois da Morte de Leon Denis”, adentrou aos conhecimentos espíritas e notabilizou-se no atendimento a processos obsessivos e na Educação. Fundou o Colégio Espírita Allan Kardec, ainda na ativa sob direção da educadora espírita, Alzira Bessa. Por influência do seu trabalho nasceu a cidade espírita Palmelo.

Um lugar especialíssimo reserva-se a Chico Xavier, com mais de 400 obras editadas, dentre elas “Nos domínios da mediunidade” (1955), em que descreve a mente como um núcleo de forças inteligentes gerando um plasma sutil, constantemente exteriorizado de nossa mente e “materializando” as figuras de nossa imaginação.

Em “Pensamento e Vida” (1958), destaca que a mente se divide em cinco departamentos: inteligência, imaginação, desejo e memória, regidos pelo departamento da vontade. Portanto, da sublimação dos departamentos da mente, emergirá um novo paradigma.

Bibliografia de apoio:

Capra, F. O Ponto de Mutação. Cultrix, SP, 1982.

Jung, C. G. Memórias, Sonhos e Reflexões. Nova Fronteira, RJ, 1963.

Linhares, A. M. B.; Sales, T. M. Psiquiatria, Espiritismo Ciência. Atenas, 2022.

Kardec, A. O Livro dos Espíritos. IDE, Araras-SP, 2008.

Carvalho, A. C. P. Benedita Fernandes. A Dama da Caridade. Cocriação, Araçatuba-SP, 2017.

Novelino, C. Euripedes – o Homem e a Missão. IDE, Araras-SP, 1991.

Xavier, F. C. Nos Domínios da Mediunidade. FEB, RJ, 1955.

Xavier, F. C. Pensamento e Vida. FEB, RJ, 1958.

(*) – Atuante em Blumenau (SC); colaboradora da Estação Dama da Caridade Benedita Fernandes (Araçatuba, SP).

A pioneira Benedita em evento comemorativo

Benedita – a pioneira na assistência social

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Os 140 anos de nascimento de Benedita Fernandes, serão comemorados nos dias 24 e 25 de junho com marcante evento em Araçatuba intitulado: “Benedita Fernandes: O Legado da Educação. Passado. Presente. Futuro”.

Nascida aos 27/06/1883, em Campos Novos de Cunha (SP), notabilizou-se pelo seu trabalho pioneiro e dinâmico em Araçatuba.

Após ser tratada de terrível obsessão, fixou-se nessa cidade onde fundou a Associação das Senhoras Cristãs em 1932, a primeira instituição assistencial espírita da região noroeste.

Essa instituição pioneira, desdobrou-se em ações voltadas ao atendimento de doentes mentais, crianças órfãs e abandonadas, e pessoas carentes em trânsito pela cidade.

Benedita tornou-se um vulto respeitado pelos contemporâneos e lembrada até a atualidade.

O evento terá dois momentos temáticos. Inicialmente, um histórico e biográfico com alusões à homenageada e relações com vultos espíritas da época como Cairbar Schutel e Chico Xavier. Será enfatizada a divulgação da obra de Benedita no tradicional jornal “O Clarim”, nos anos 1930/40, criado por Cairbar Schutel, em Matão (SP). Haverá também referência à obra do apóstolo Paulo, com lançamento de livro recente de nossa autoria. Na sequência, haverá foco na criança e na educação, com base na vivência de Benedita em ações com crianças – como a Casa da Criança, a Escola Mista do Abrigo João de Deus e a Escola Dr. Valadão Furquim, com convênio com a Prefeitura Municipal -, e várias mensagens espirituais dela pela psicografia de Divaldo Pereira Franco.

No citado evento será focalizado o cinquentenário da primeira mensagem espiritual de Benedita, “Emergência para a criança”, psicografada por Divaldo Pereira Franco, no lar da família Perri de Carvalho, em Araçatuba.

Em informe sobre o evento comenta-se que estarão atuando “especialistas em educação para ‘avaliar’ a educadora por excelência”. Na divulgação do programa consta: “Uma ‘banca de examinadores’ formada por Doutor, Mestre e por educadores com décadas de vivências foi convidada para o evento Benedita Fernandes: O Legado da Educação. Dentre os convidados: Cesar Perri, Doutor em Ciências (foi Pró-Reitor da Unesp) e biógrafo da personagem; Ana Jaicy Guimarães, educadora e dona de casa; Luiz Carlos Barros Costa (ex-UniCastelo/Universidade Brasil, de Fernandópolis); Célia Rey, Mestre em Educação; Ilza Godinho, com especialização em Metodologia do Ensino Superior e poetisa; escritor Orson Peter Carrara; educadores espíritas Hélio Matos, Gregório Carlos Rodrigues e Marco Antônio de Sousa.”

Esse marcante encontro comemorativo será realizado no Centro Espírita Irmã Angélica (Rua Tancredo de Paiva Morel, 511, Jardim Sumaré, Araçatuba), a partir das 13 horas do dia 24 de junho (sábado), encerrando-se no dia 25 (domingo) no horário do almoço. A inscrição será gratuita sendo opcional a doação de um quilo de alimento não perecível.

Informações com Sirlei Nogueira: fone 18-99709.4684; e-mail (copie e cole): sirleinogueira@yahoo.com.br

Publicado em:

Folha da Região. Araçatuba, 07/06/2023. P.2.

“Nosso Lar” – memórias e homenagens

“Nosso Lar” – memórias e homenagens

 

Instituição "Nosso Lar" na época da inauguração. Acima os fundadores: Rolandinho, entre Bebé e Emília Santos

Antonio Cesar Perri de Carvalho

No dia 02 de junho transcorreram 62 anos da inauguração da Instituição Nosso Lar, em Araçatuba, nossa terra natal.

Essa efeméride de 1961 nos sensibiliza pois, adolescente, acompanhamos os familiares fundadores, tio Rolandinho e a genitora Bebé, e a amiga Emília Santos. A fundação data de 07 de outubro de 1960, mas foi apenas um registro protocolar em Ata.

A Instituição Nosso Lar, construída em bairro na época nascente e periférico, tinha por finalidade abrigar transitoriamente famílias necessitadas e para centralizar tarefas assistenciais do Grupo de Estudos Evangélicos João Luiz dos Santos, que era informal e familiar, e que também participamos desde o início de seu funcionamento em dezembro de 1959.

Com a inauguração da Instituição Nosso Lar, passamos a acompanhar o tio Rolandinho e nossa genitora que levava os três filhos nas atividades domingueiras naquele local: reunião pública sobre O livro dos espíritos, sobre o Evangelho com a participação, respectivamente, de Francisco Martins Filho e Lauro Bittencourt, manifestações espirituais pela médium Emília Santos e passes, seguindo-se a sopa para todos os frequentadores do bairro e para os residentes na Instituição que funcionava como um lar transitório para famílias de desempregados.

Naquele local, conhecemos muitos espíritas visitantes, da cidade.

No início do ano de 1964 engajamo-nos em ações específicas.

A médium e também fundadora da Instituição, Emília Santos, embora sexagenária, era responsável pelas Aulas de Moral Cristã Neio Lúcio. Dona Emília sabendo de nosso gosto pelo estudo e facilidade de desenho solicitou que elaborássemos mapas sobre as regiões bíblicas do Oriente Médio, para que ela utilizasse nas aulas. Quando entregamos os mapas ela nos surpreendeu: “- Agora peço que você mesmo apresente às crianças!” Ainda não havíamos completado 16 anos de idade, e apresentamos duas exposições sobre os mapas, para o público infanto-juvenil. E o desafio prosseguiu por parte dela: “- Você tem facilidade, precisa me ajudar…” E assim foi feito. Como se diz: “mordemos a isca…”

Repentinamente, em setembro do mesmo ano ela sofreu um enfarte e não sobreviveu. Acabamos substituindo-a como responsável pelas Aulas de Moral Cristã. Adquirimos o Catecismo espírita, de autoria de Cairbar Schutel (Ed. O Clarim), para distribuir às crianças e adolescentes. E logo depois introduzimos aulas com projeções de diapositivos (slides).

Como identificamos que vários jovens frequentavam a Instituição, acompanhando seus pais, a pedido de nosso tio Rolandinho, em 1964, fundamos e organizamos a Mocidade Espírita Irma Ragazzi Martins, como uma atividade departamental de “Nosso Lar”.

Dois anos depois já assumíamos as exposições domingueiras sobre O Livro dos Espíritos na Instituição. Dessa maneira, iniciamos nossas tarefas espíritas.

Em função desses compromissos, no segundo semestre de 1965, sendo menor emancipado, pudemos ser designado representante da Instituição Nosso Lar junto à União Municipal Espírita de Araçatuba, onde assumimos o encargo de responsável pelo Departamento de Mocidades e responsável pelo programa radiofônico semanal “Momento Espírita”, em fase de criação, na Rádio Cultura da cidade.

As atividades da Instituição Nosso Lar cresceram e se diversificaram e houve o desdobramento em outras dependências, entre 1962 e 1972, onde também atuamos: Casa Transitória, Casa da Sopa Emília Santos, Creche João Luiz dos Santos e Centro Espírita Luz e Fraternidade.

Passadas várias décadas e pela passagem da efeméride de inauguração de “Nosso Lar”, naturalmente rememoramos momentos marcantes e expressamos gratidão e homenagens aos fundadores.

Fonte:

Carvalho, Antonio Cesar Perri. Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. Araçatuba: Ed. Cocriação. 2021. 632p.

Cinquentenário de título paulistano com revelações de Chico Xavier

Cinquentenário de título paulistano com revelações de Chico Xavier

 

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Há 50 anos atrás, no dia 19 de maio de 1973, assistimos em nossa terra natal a transmissão ao vivo da concorrida solenidade pública (e televisada), realizada no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, em que Chico Xavier recebia o título de “Cidadão Paulistano”.

Hospedado na residência dos amigos, o casal Nena e Francisco Galves, Chico foi conduzido ao Estádio em carro oficial e a comissão o transportou diretamente à recepção. A cerimônia foi presidida pelo vereador Brasil Vita, que convidou o vereador Celso Matsuda como orador oficial. Ao final de suas palavras, Celso Matsuda leu uma mensagem de Emmanuel psicografada por Chico. Vê-se claramente que Emmanuel dedicou a Chico essa mensagem, e que Chico soube honrar com louvor sua tarefa!

Junto à mesa diretora, além dos vereadores citados, estavam o deputado federal Freitas Nobre e Cyro Albuquerque, Secretário de Estado de Esporte e Turismo (irmão do líder espírita desencarnado Ivan Albuquerque).

Naquela cerimônia da Câmara de Vereadores, em seu discurso de agradecimento Chico Xavier deu destaque ao vulto do padre Manuel da Nóbrega, fundador da cidade. Entre outras revelações, eis uns trechos da alocução de Chico Xavier:

“Conta-se que ao celebrar a primeira missa, na manhã de 29 de agosto de 1553, no alto do Inhapuambuçu, hoje pátio do colégio, nesta capital, o eminente padre dr. Manuel da Nóbrega, fundador de São Paulo, considera presentemente a cidade mais importante do hemisfério sul, foi visitada pelo apóstolo São Paulo, que lhe pareceu nimbado de intensa luz. Redivivo o amigo da gentilidade apontou-lhe as campinas circunjacentes e lhe pediu, fundasse, no planalto Piratiningano, uma cidade, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que se estabelecesse sobre as quatro colunas básicas do cristianismo: amor e fé, trabalho e instrução. […] Manuel da Nóbrega, impressionado, medita na revelação com que fora distinguido e recorda o encontro de Jesus com o mesmo apóstolo São Paulo, às portas de Damasco, nos dias do Cristianismo primitivo. Delibera inaugurar as obras do Real Colégio de Piratininga na data que relembra a conversão do notável doutor de Tarso, 25 de janeiro, o qual remete a 25 de janeiro de 1554, com o estabelecimento definitivo da grande instituição. Atento ainda à divina mensagem que fizera objeto, no dia mencionado, Nóbrega entrega o ofício da missa ao Reverendo padre Manoel de Paiva e designa Anchieta para que desempenhe as funções de acólito na grande solenidade, e ele mesmo ora, na expectativa de visões novas que lhe trouxessem mais amplos esclarecimentos. Entretanto, ao invés de novas revelações, obtém na oração renovadas energias para trabalhar cada vez mais na consolidação da obra nascente. A cidade de São Paulo surgia, desse modo, ao calor da prece, entre o artesanato e o altar, no clima de fraternidade que Jesus nos legou, em bases de amor ao próximo e respeito recíproco, o único realmente capaz de assegurar-nos a ordem e a tranquilidade na sustentação do trabalho e no alicerce das instituições que nos garantem a felicidade e o progresso”.1,2,3

Nena Galves relata em livro3:

“Terminada a cerimônia oficial, Chico não aparecia. O povo impacientava-se esperando para os cumprimentos. O pânico tomou conta dos companheiros, principalmente de [Francisco] Galves e de mim, que relembrávamos o sonho anterior. Procuramos Chico por todos os lugares, os políticos não estavam mais no local da cerimônia. Ocorreu-nos a lembrança de procurá-lo em nossa casa, que é muito perto do Estádio. Lá estava Chico, assustado e preocupado com sua retirada às pressas do Estádio. Contou-nos que o vereador Brasil Vita, que o havia ido buscar em casa, dissera: ‘Chico, eu tenho muita responsabilidade com você, eu tirei você desta residência para levá-lo à festividade, eu o trago de volta! Termina aqui minha responsabilidade. Você é uma figura muito importante!’. Chico pediu a Galves que o levasse de volta ao Estádio. Cumprimentou a todos que o esperavam com alegria!”3

Dias depois, Chico Xavier ofertou o Diploma de Cidadão Paulistano ao casal amigo e anfitrião com a dedicatória:

“Aos queridos amigos Sr. Francisco Galves e a sua digna Esposa, D. Encarnação Blasques Galves, transfiro a posse desta Honrosa Distinção com que São Paulo assinalou a nossa Doutrina, conquista essa que lhes pertence pelo devotamento à nossa Causa Espírita-Cristã. Sempre reconhecidamente, Francisco Cândido Xavier. São Paulo, 30 de agosto de 1973”.3

O título de Cidadão Paulistano a Chico Xavier teve muitas repercussões na época, pelo fato de ter sido transmitido pela TV. E sem dúvida, pelo significado de homenagem feita pela maior cidade de hemisfério sul e do discurso do médium com revelações marcantes.

Referências:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Chico Xavier – o homem, a obra e as repercussões. São Paulo: USE, Capivari: EME.

2) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Emmanuel. Trajetória espiritual e atuação com Chico Xavier. Matão: O Clarim.

3) Galves, Nena. Até Sempre, Chico Xavier! São Paulo: Ed.CEU.

Um pouco mais de tempo para a família

Um pouco mais de tempo para a família

Vladimir Alexei

Instado o jovem de 14 anos a contribuir com uma pesquisa em sala de aula, sobre seus “sonhos” (o que quer ser quando crescer), parte de sua pequena resposta foi apagada com corretivo líquido, para que a resposta não fosse analisada.

O professor levantou a folha de papel com a resposta parcialmente apagada, pelo verso, contra o sol, e conseguiu ler o título dessa pensata: o sonho dele era um pouco mais de tempo para a família.

Uma jovem, de 15 anos, respondeu a mesma pergunta sobre seus sonhos e a resposta foi que seu sonho era “dormir”… “para sempre”… de semblante cansado, ombros arqueados para baixo, a jovem transitava entre os colegas sem chamar a atenção, apenas sob o olhar do professor.

Mais de cem alunos foram ouvidos em seus sonhos.

Muitos buscam “riqueza”, porque na pobreza em que vivem, bombardeados por informações que passam a ideia de que você só será feliz se “tiver” aquele “bem ou serviço”, seja ele qual for, bem como as lutas vividas pelos pais para garantir o mínimo para a sobrevivência, parece deixá-los distantes da felicidade.

Segundo o filósofo Nietzsche, felicidade é uma sensação de aumento de poder, de algo ou alguma resistência que foi superada.

Para a maioria dos jovens ouvidos, a felicidade se tornou uma quimera, já que os principais obstáculos, as maiores resistências, residem na aquisição de recursos financeiros.

Outros tantos jovens (meninos e meninas) responderam sobre sua fé, gostariam de continuar “em Deus”, “arder em Deus”, “construir uma família em Deus” e até teve jovem que gostaria de ter a “mediunidade desenvolvida”, para surpresa do professor.

Muitos jovens de uma turma, demonstraram interesse em ajudar os pais a realizarem seus sonhos e a oferecer-lhes uma vida melhor.

O que os adultos têm feito com os jovens?

André Luiz, na obra “A verdade responde”, deixa um capítulo sobre as “características do moço cristão”, que vale a pena ser lida.

Com frases curtas, sua síntese inicia com o uso da bênção do poder como forma de garantir o direito e a paz, concluindo com a não desistência, por parte do jovem, de aplicar o Evangelho em tempo algum.

Por fim, Emmanuel nos ajuda a responder à pergunta, em “Carta a um jovem”, quando diz que “nosso maior enigma na carne é a desintegração de certas algemas pesadas que nos jungem a concepções individuais por nós cristalizadas, apaixonadamente, nos círculos do tempo.”

Poderíamos traduzir o pensamento de Emmanuel, bem como a mensagem de André Luiz, dizendo que, o adulto tem feito do jovem seu “reflexo”, ainda que existam algemas pesadas que vinculem os jovens aos seus pais, sobretudo nas tendências a serem trabalhadas.

Nesse ponto, é notório que as dificuldades do jovem, refletem, substancialmente, as mazelas que não foram trabalhadas pelos pais, influenciados e influenciando a sociedade.

A ideia não é combater o capitalismo, deixar de trabalhar, viver de “brisa”, “sombra e água fresca”.

Trabalho, conforme os Espíritos Superiores em “O Livro dos Espíritos”, é toda ocupação útil. A utilidade pode ser tanto para a vida presente, quanto para a vida futura.

O que compete aos adultos é alimentar o sonho dos jovens e auxiliá-los na melhor maneira de realizá-los e um caminho passa a ser a dedicação de mais tempo dos pais à família do que às conquistas exteriores.

(O articulista atua em Belo Horizonte, MG)