A cada novo ano…

A cada novo ano…

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Nas passagens de anos são naturais as expectativas de melhorias em todos sentidos.

Afinal a esperança é indispensável para alimentar ideais.

A História demonstra e o Espiritismo esclarece que “a natureza não dá saltos” em todas suas nuances. O progresso ocorre passo a passo. Detalhe importante é que o Espiritismo não aceita a ideia de milagre.

Na obra de Allan Kardec há judiciosos comentários a propósito do aperfeiçoamento da Humanidade e até estabelecendo algumas relações entre passado, presente e futuro.

No capítulo “São chegados os tempos”, em A Gênese, o Codificador pondera: “A humanidade tem realizado, até o presente, incontestáveis progressos. Os homens, com a sua inteligência, chegaram a resultados que jamais haviam alcançado, sob o ponto de vista das ciências, das artes e do bem-estar material. Resta-lhes ainda um imenso progresso a realizar: o de fazerem que entre si reinem a caridade, a fraternidade, a solidariedade, que lhes assegurem o bem-estar moral. Não poderiam consegui-lo nem com as suas crenças, nem com as suas instituições antiquadas, restos de outra idade, boas para certa época, suficientes para um estado transitório, mas que, havendo dado tudo o que comportavam, seriam hoje um entrave. Já não é somente de desenvolver a inteligência o de que os homens necessitam, mas de elevar o sentimento e, para isso, faz-se preciso destruir tudo o que superexcite neles o egoísmo e o orgulho”.1

Kardec deixa claro: “Trata-se de um movimento universal, a operar-se no sentido do progresso moral. Uma nova ordem de coisas tende a estabelecer-se, e os homens, que mais opostos lhe são, para ela trabalham a seu mau grado. A geração futura, desembaraçada das escórias do velho mundo e formada de elementos mais depurados, se achará possuída de ideias e de sentimentos muito diversos dos da geração presente, que se vai a passo de gigante”.1

Com base no raciocínio de Kardec, fundamentado nas informações espirituais presentes em suas obras, parece-nos que são incabíveis os exageros daqueles que fixam datas e até admitem que estaria próximo o chamado “mundo de regeneração”.

Haja vista a situação do povo em geral e das várias nações… O “bem-estar moral” destacado por Kardec dependerá da adoção na prática das leis morais apregoadas por Jesus, fundamentadas no respeito ao próximo como a si mesmo. O cenário geral ainda é sombrio, mas há cintilações de algumas réstias de luz.

Por outro lado, o conjunto se faz do esforço das partes. A sociedade somente estará mais equilibrada e harmônica quando parcela expressiva de seus integrantes estiverem animados por propósitos de aperfeiçoamento moral e social.

Portanto, outra análise de Kardec é pertinente: “Jesus não faz da caridade apenas uma das condições de salvação, mas a única condição. Se houvessem outras a preencher, Ele as mencionaria. Se Ele situa a caridade no primeiro patamar das virtudes, é porque ela encerra implicitamente todas as outras: a humildade, a mansidão, a benevolência, a indulgência, a justiça etc., e porque ela é a negação absoluta do orgulho e do egoísmo.”2

A cada ano que se inicia, torna-se interessante a auto-avaliação sobre nossos esforços em superar as expressões do orgulho e do egoísmo, dando condições para substituições por virtudes.

Assim, a cada novo ano, cabem os esforços para a superação de dificuldades e a concretização de uma prática moral assentada na mensagem de Jesus e robustecida pela certeza que somos espíritos imortais.

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“… paz na terra entre os homens de boa vontade” (Lucas 2,14)

Referências:

1) Kardec, Allan. Trad. Ribeiro, Guillon. A gênese. Cap. XVIII. Itens 5 e 6. FEB.

2) Kardec, Allan. Trad. Ribeiro, Guillon. O evangelho segundo o espiritismo. Cap. XV. Item 3. FEB.