Violências e tragédias

Violências e tragédias

Antonio Cesar Perri de Carvalho

O início do ano de 2023 está sendo assinalado por algumas situações de violências e de tragédias.

Evidentemente que se constituem em processos, consequências de várias condições que já evoluíam.

Entre essas, as repercussões da prolongada pandemia do COVID-19, a guerra da invasão da Ucrânia, diversas agudizações de paixões e radicalizações político-partidárias e também consequências de políticas de não valorização das condições de vida, desde o respeito à existência corpórea até ao meio ambiente.

Simultaneamente, o globo terrestre tem movimentações e adequações naturais e cíclicas. Em consequência, diferentes focos geológicos e atmosféricos provocam cataclismos.

O conjunto pode gerar reações que variam do susto à perplexidade e até a revoltas.

Torna-se oportuna a releitura e a reflexão de textos marcantes da literatura espírita. Os conceitos de imortalidade da alma e o mecanismo das vidas sucessivas dentro do parâmetro da evolução espiritual, coerentes com a essência dos ensinos de Jesus são fundamentais.

Em O Evangelho segundo o Espiritismo há registro sobre as causas anteriores das aflições: “[…] se há males nesta vida cuja causa primária é o homem, outros há também aos quais, pelo menos na aparência, ele é completamente estranho e que parecem atingi-lo como por fatalidade. Tal, por exemplo, a perda de entes queridos e a dos que são o amparo da família. Tais, ainda, os acidentes que nenhuma previsão poderia impedir; os reveses da fortuna, que frustram todas as precauções aconselhadas pela prudência; os flagelos naturais, as enfermidades de nascença, sobretudo as que tiram a tantos infelizes os meios de ganhar a vida pelo trabalho: as deformidades, a idiotia, o cretinismo”.(1)

Na sua última obra, A Gênese, Kardec analisa a frase bíblica “são chegados os tempos” e pondera: “São chegados os tempos, dizem-nos de todas as partes, marcados por Deus, em que grandes acontecimentos se vão dar para regeneração da humanidade. Em que sentido se devem entender essas palavras proféticas? Para os incrédulos, nenhuma importância têm; aos seus olhos, nada mais exprimem que uma crença pueril, sem fundamento. Para a maioria dos crentes, elas apresentam qualquer coisa de místico e de sobrenatural, parecendo-lhes prenunciadoras da subversão das leis da natureza. São igualmente errôneas ambas essas interpretações: a primeira, porque envolve uma negação da Providência; a segunda, porque tais palavras não anunciam a perturbação das leis da natureza, mas o cumprimento dessas leis”.(2)

E sem misticismo ou messianismo comenta: “A fraternidade será a pedra angular da nova ordem social; mas, não há fraternidade real, sólida, efetiva, senão assente em base inabalável e essa base é a fé, não a fé em tais ou tais dogmas particulares, que mudam com os tempos e os povos e que mutuamente se apedrejam, porquanto, anatematizando-se uns aos outros, alimentam o antagonismo, mas a fé nos princípios fundamentais que toda a gente pode aceitar e aceitará: Deus, a alma, o futuro, o progresso individual indefinito, a perpetuidade das relações entre os seres. Quando todos os homens estiverem convencidos de que Deus é o mesmo para todos; de que esse Deus, soberanamente justo e bom, nada de injusto pode querer; que não dele, porém dos homens vem o mal, todos se considerarão filhos do mesmo Pai e se estenderão as mãos uns aos outros”.(2)

A propósito, Emmanuel à questão em O Consolador: “– Deve o homem terrestre enxergar nas comoções geológicas do globo elementos de provação para a sua vida?”

Responde: “- Os abalos sísmicos não são simples acidentes da Natureza. O mundo não está sob a direção de forças cegas. As comoções do globo são instrumentos de provações coletivas, ríspidas e penosas. Nesses cataclismos, a multidão resgata igualmente os seus crimes de outrora e cada elemento integrante da mesma quita-se do pretérito na pauta dos débitos individuais”.(3)

Mas, mesmo com esclarecimentos e conformação, não deve existir a indiferença.

A partir da regra “amar o próximo como a si mesmo: fazer pelos outros o que quereríamos que os outros fizessem por nós”, Kardec aponta que “é a expressão mais completa da caridade, porque resume todos os deveres do homem para com o próximo”. E destaca: “Com que direito exigiríamos dos nossos semelhantes melhor proceder, mais indulgência, mais benevolência e devotamento para conosco, do que os temos para com eles? A prática dessas máximas tende à destruição do egoísmo. Quando as adotarem para regra de conduta e para base de suas instituições, os homens compreenderão a verdadeira fraternidade e farão que entre eles reinem a paz e a justiça. Não mais haverá ódios, nem dissensões, mas tão somente união, concórdia e benevolência mútua”.(1)

Referências:

1) Kardec, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Capítulos 5, 11.

2) Kardec, Allan. A gênese. Cap.18.

3) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. O Consolador. Questão 88.