TRIBULAÇÕES

                                                            Clara Lila Gonzalez de Araújo

“Então os que estiverem na Judéia fujam para os montes; o que estiver sobre o terraço, não desça para pegar as coisas de dentro da sua casa; quem estiver no campo, não volte atrás para pegar sua veste. Ai das grávidas e das que amamentarem naqueles dias. (…) Pois haverá, nesse tempo, grande provação como não tem havido desde o princípio do mundo até agora, nem jamais haverá”. (Mateus XXIV: 16-19, 21).

                 A passagem de Mateus, também registrada pelos evangelistas Marcos (XIII: 16-19, 21) e Lucas (XXI: 21-24), se refere a pequeno trecho do Sermão Profético de Jesus, proferido por ocasião das respostas dadas pelo Mestre, às perguntas feitas pelos discípulos acerca do seu advento e do final dos tempos, bem como sobre os sinais prenunciadores desses eventos. A passagem evangélica, de forma integral, Mateus: v. 1 a 31, Marcos: v. 1 a 27 e Lucas: v. 5 a 27, vaticina grandes tribulações sobre a Terra: guerras, rebeliões, desastres naturais, doenças, pestes, fome, falsos cristos e falsos profetas, diminuição da caridade, perseguições, violências e tantas outras coisas que abalariam a vida daqueles que aqui estivessem. Interessante é analisar os períodos atuais e verificarmos que muitas situações preditas por Jesus estão causando grandes transtornos para as sociedades terrenas. 

                É hora de grandes transformações! É tempo de transição para uma Nova Era, trazendo sofrimentos e dores para todos, nesses momentos de muitas conturbações.            

                Nenhum continente ou nação, atingidos por diferentes formas de crise, deixou de ser prejudicado por uma fatalidade. Confirma-se a previsão de Jesus, o Grande Agente da Providência Divina, de que haveríamos de passar por padecimentos inomináveis, mas com o beneplácito do socorro divino, que sempre esteve ao nosso lado, fazendo-nos   conhecer às realidades espirituais e às verdades eternas.

                 No versículo 19 do trecho evangélico, citado na referência inicial, sentimos certa comoção nas palavras de Jesus ao destacar as mulheres grávidas e as que amamentam seus filhos como um augúrio de perigos reais a serem vividos por elas em épocas ominosas. Sem dúvida, as mães do mundo suportam dores superlativas causadas pelas inúmeras desgraças que enfrentam, principalmente, nas situações de guerras fratricidas, destruindo seus lares, deixando-as na miséria, junto aos filhos, e com graves doenças infantis, algumas incuráveis. No entanto, chama a nossa atenção a época atual em que grupos de mães brasileiras, de determinadas regiões do Brasil, estão sendo atingidas pelo mosquito aedes aegypti, que transmite o zika vírus, além da dengue e da febre chikungunya, que causam moléstias invulgares, como a microcefalia nos nascituros. As estatísticas apontam centenas de recém-nascidos nessa situação e outros a serem detectados ainda na fase de gestação. Essa realidade nos deixa estupefatos e, ao mesmo tempo, preocupados com o número de abortos que poderão ocorrer, caso a mãe não queira receber seu filho nesse estado.

                   Sem querer relacionar, de modo seguro, a ocorrência dos fatos acima com as profecias do Cristo, não é possível deixar de admirar a grandeza do Mestre Nazareno em anunciar os seus presságios para alertar-nos sobre problemas excessivamente sérios, que devem ser merecedores de atenções e estudos de cada um de nós. A esse respeito, disse Cairbar Schutel:

Foi nessa ocasião que Jesus falou aos discípulos dos tempos que haviam de chegar e das ocorrências que se desenrolariam no mundo, até a iniciação de uma nova fase de vida para Humanidade.

Sem outro exórdio que pudesse desviar a atenção dos admiráveis painéis por meio dos quais mostrou aos que o cercavam os fatos que se desenrolariam depois da sua passagem para a espiritualidade, começou Jesus a falar do grande e suntuoso Templo de Jerusalém, do qual não ficaria pedra sobre pedra.

Era esse o sinal maior dos acontecimentos que estavam próximos, e foi justamente o que se realizou.

Do Templo de Jerusalém, não ficou pedra sobre pedra, como também não ficará pedra sobre pedra de todos os monumentos que o orgulho, a vaidade e o egoísmo humano edificaram em nome de Deus! (1).

 

                   As revelações divinas nem sempre foram compreendidas pelos homens, confundindo os ensinamentos cristãos, a partir de sua interpretação meramente literal, sem entender o verdadeiro sentido das palavras de Jesus ao transmitir sua mensagem de amor e de caridade.

                   Que tempos são esses em que vivemos aturdidos por tantas adversidades? Mesmo ao ouvir as lições de Jesus, não conseguimos aceitar as lutas que nos esperam nesse emaranhado de situações terrenas aflitivas, em que as ideias contraditórias do materialismo fizeram brotar na mente dos homens indiferentes e egoístas o desamor e a crueldade.

                   Gostaríamos de ser mais generosos, mas nem sempre estamos preparados para o serviço de amor que o Mestre nos convida a executar em benefício do próximo, pois é a maneira de obtermos a coragem moral que precisamos para não esmorecer e não desanimar. Allan Kardec nos alerta para importante ensinamento sobre as dificuldades que sentimos ao querermos desenvolver nossos “bons sentimentos”, pois somos frutos do egoísmo, sem saber dominá-lo:

(…) O egoísmo, verme roedor, continua a ser a chaga social. É um mal real, que se alastra por todo o mundo e do qual cada homem é mais ou menos vítima. Cumpre, pois, combatê-lo como se combate uma enfermidade epidêmica. Para isso, deve-se proceder como procedem os médicos: ir à origem do mal. Procurem-se em todas as partes do organismo social, da família aos povos, da choupana ao palácio, todas as causas, todas as influências que ostensiva ou ocultamente excitam, alimentam e desenvolvem o sentimento do egoísmo. Conhecidas as causas, o remédio se apresentará por si mesmo. Só restará então destruí-las, senão totalmente, de uma só vez, ao menos parcialmente, e o veneno pouco a pouco será eliminado. Poderá ser longa a cura, porque numerosas são as causas, mas não é impossível. Contudo, ele só se obterá se o mal for atacado em sua raiz, isto é, pela educação, não por essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas pela que tende a fazer homens de bem. A educação, convenientemente entendida, constitui a chave do progresso moral (…) (2). LE comentários de Kardec, questão 917.

 

                 A importante contribuição do Codificador nos remete aos programas de Educação Espírita e do Evangelho, sobretudo para crianças e jovens, conforme orientação dos Mentores Espirituais.  Infelizmente, contudo, há escassez de propostas dessa natureza, em várias instituições e centros espíritas, como luta imprescindível e eficaz em função da melhoria e da evolução espiritual de todos os homens.    

                  É urgente a conscientização dos pais quanto à importância desse processo educacional! Não há mais tempo para deixarem de fazer o que lhes compete, colaborando com os educadores, os evangelizadores e os trabalhadores da Casa Espírita, unidos por uma mesma causa: a de transformar os filhos e as próximas gerações em homens de bem, sob à luz do Espiritismo e do Evangelho, no engrandecimento de suas reencarnações, ao colaborar com experiências abençoadas de serviços aos semelhantes.         

                  Transformar o mundo em um orbe mais humano, pacífico e cristão é a meta de todos nós! Devemos persistir nesse propósito, sem esmorecer!

 

Referências:

  1. SCHUTEL, Cairbar. Parábolas e Ensinos de Jesus. 26ª edição. Matão (SP, Casa Editora O Clarim, 2012. Os sinais dos Tempos, p. 304-305.
  2. KARDEC, Allan. O Livros dos Espíritos. 87ª edição. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Comentário de Kardec à questão 917, parte terceira, capítulo XII, p. 472-473.