Significados: nascimento de Jesus, magos e presépio

Significados: nascimento de Jesus, magos e presépio

     

 

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Em obra recém editada reunindo conteúdos transcritos dos programas radiofônicos “No limiar do amanhã” de Herculano Pires, dispõe-se de esclarecimentos em nível simples sobre temas fundamentados nos Evangelhos (*). Entre esses programas vários estão relacionados com o episódio do nascimento de Jesus.

José Herculano Pires (1914-1979) foi um marcante vulto paulista, jornalista, destacado filósofo espírita, autor de dezenas de livros, tradutor de obras de Allan Kardec, palestrante, ativo e combativo líder espírita.

Ao analisar o contexto dos dias do nascimento de Jesus em programas radiofônicos, Herculano Pires recorda o registro sobre recenseamento realizado pelo Império Romano, com finalidade de cobrança de impostos, e a obrigatoriedade que as pessoas se dirigissem para as cidades troncos de cada família. Comenta que José e Maria eram pobres, foram a pé de Nazaré até Belém e encontraram a cidade lotada e não haveria outro recurso senão ir para um estábulo e “isso não era humilhante, absolutamente. Isso era um costume perfeitamente adequado aos tempos”.

Num dos programas radiofônicos, Herculano responde sobre Maria: “quando tratamos do nascimento de Jesus, e Maria nos é apresentada como a virgem mãe, “é preciso nos lembrarmos de que em toda Antiguidade existiram numerosas virgens mães” e tece considerações sobre as explicações mitológicas sobre esse assunto. Também cita o apóstolo Paulo: “ele veio sob a lei e nasceu de mulher” e Herculano opina: “o nascimento de Jesus foi normal, ele era filho de Maria e José. A influência do Espírito Santo nada mais é do que a presença de sua grandeza espiritual. O Espírito Santo é o espírito puro e Jesus era um espírito puro. Assim, como disse o apóstolo Paulo, o nascimento de Jesus foi um nascimento normal, sob a lei e ele nasceu de mulher”.

A respeito da visita dos reis magos, cita a expressão empregada por Mateus: “vieram uns magos do oriente” e comenta: “os magos vieram do oriente para visitar Jesus, mas se eram reis ou não, isso não podemos saber”. Não há registro histórico sobre isso.

Quanto aos presentes ofertados pelos magos, começa por considerar que os magos não seriam entendidos “no sentido atual da palavra, mágicos ou pessoas que têm certas habilidades manuais”, seriam “conhecedores dos segredos da natureza”. Passa a analisar o sentido dos presentes dos magos: “eles interpretaram em três elementos em três formas de oferta, toda vida, todo destino do menino que estava nascendo”. E conclui Herculano: “o menino Jesus haveria de enfrentar o ouro do mundo. Desenvolver em si a adoração a Deus na simbologia do incenso, e, por fim, sofrer o sacrifício supremo na simbologia da mirra. Esse é o sentido que vemos na oferta dos magos”.

Por outro lado, todo o cenário do nascimento de Jesus ficou assinalado pela tradição dos presépios. Em um programa Herculano respondeu a radiouvinte lembrando que a origem do presépio é devida a Francisco de Assis: “Ele queria dar assim uma imagem clara, didática, que ensinasse aqueles que olhassem para essa imagem, a grande lição de humildade de Jesus em seu nascimento”.

Os capítulos dessa oportuna obra contendo as transcrições de centenas de gravações de programas radiofônicos de Herculano Pires trazem à tona oportunas e profundas análises do preclaro expositor e autor espírita. Em várias outras obras Herculano Pires tece considerações abalizadas a propósito da visão espírita sobre a trajetória do cristianismo.

Em síntese, sobre o episódio do nascimento de Jesus e seu significado para a Humanidade, destacamos que Herculano lembra explicações de filólogos que “o nome ‘Jesus’ e ‘Yeshua’ em hebraico queria dizer ‘Iavé salva’, ou seja “Deus salva’.”

Em outra parte, relacionando com o cenário do nascimento, o autor analisa o significado de o Cristo ter escolhido a condição humilde: “Colocando-se entre os humildes, os pobres, os deserdados da fortuna, aqueles que não tinham o poder nas mãos e viviam mesmo em situação difícil, o Cristo se colocava como um representante de uma ordem social nova que devia aparecer no mundo. Essa ordem decorrer dos princípios mesmo do cristianismo, de seus ensinos constantes no Evangelho…”

E Herculano Pires conclui: “Portanto, o nascimento do Cristo na humildade, na condição de uma criatura desprovida de todos os poderes humanos, tinha por finalidade mostrar que ele vinha à Terra como um verdadeiro enviado do céu, apoiado apenas na riqueza celeste, que é o poder do espírito”.

Essas anotações são sugestivas para reflexões ao ensejo das comemorações do nascimento de Jesus.

(*) Pires, José Herculano; Garcia, Wilson (Org.). No limiar do amanhã: conversa sobre a Bíblia, os evangelhos, o espiritismo. Livro 2. São Paulo: Paideia. 2021. 277p.