Reunião Gênesis com Honório Abreu

Reunião Gênesis com Honório Abreu (*)

1 No princípio, Deus criou os céus e a terra. 2 A terra era sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. 3 Deus disse: Haja luz. E houve luz. 4 Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. 5 Deus chamou a luz de Dia e as trevas de Noite. Foi a tarde e a manhã: o primeiro dia. 6 Deus disse: Haja uma expansão no meio das águas, e haja separação entre águas e águas. 7 Deus fez a expansão e separou as águas que estavam debaixo da expansão das águas que estavam sobre a expansão. E assim foi. 8 Deus chamou a expansão de Céu. Foi a tarde e a manhã: o segundo dia. 9 Deus disse: Ajuntem-se as águas debaixo do céu num só lugar, e apareça a porção seca. E assim foi. 10 Deus chamou a porção seca de Terra e ao ajuntamento das águas chamou Mares. E Deus viu que era bom”. (Gênesis, 1: 1 a 10).

Antes de entrarmos na análise específica, podemos destacar alguns pontos ou explorar novos aspectos. O texto sugere um caminho evolutivo para nossa análise, focando em dois pontos principais: Matéria e Espírito.

Nosso estudo se concentrará na evolução do Espírito. Se fosse apenas de forma linear, talvez não pudéssemos nos reunir com tanta intensidade, mas para Deus, podemos formar uma boa biblioteca em casa para estudar. O plano interativo que mencionei agora é sobre valorizar e buscar consciência em nossa presença neste grupo, não apenas pela troca de informações, mas também pelo enriquecimento do campo intelectivo e ajustes no campo do sentimento.

Queremos trabalhar com caracteres de ordem moral, que não são transmitidos apenas pela verbalização exterior, mas por uma linha sutil que envolve campos magnéticos e vibracionais. Existem ângulos em nosso levantamento das faixas de atração que usamos a expressão “pântano”, referindo-se à atração do interesse inferior no campo da vida. Valores informativos são válidos, mas o que realmente pesa no campo interativo são os caracteres de ordem moral. Se você conseguir um instrumento para me tirar do pântano, eu preciso alterar meu sentimento para ficar mais leve. Não adianta usar um guindaste que levanta 10 toneladas para me tirar; preciso lutar para ficar mais leve. A atração e repulsão no reino mineral, molecular e atômico funcionam nas linhas profundas do espírito. Podemos nos livrar dos pesos da vida física com instrumentalidades aliadas, mudando o peso de uma célula ou molécula perispirítica por linhas morais, desprendendo material inútil. A involução que queremos estudar toca na área dos caracteres de ordem moral, que é o que Jesus propõe.

Entramos no Apocalipse como um desafio, chegando ao natural. Os Espíritos podem nos olhar com compaixão, mas estão felizes com os 3% que conseguimos captar. Isso é o que importa, pois as condições são de ordem intrínseca. O que importa é que o Espírito evolui.

Para implementar essa evolução, o Espírito utiliza a Matéria como instrumento. A Matéria, ao mesmo tempo que é usada pelo Espírito, exerce sua ação. Na questão 22 do Livro dos Espíritos, a definição de matéria é: “A matéria é o laço que prende o espírito”. Esse laço realmente prende! O conhecimento nos fornece instrumentos externos, enquanto a mudança moral cria um processo de sutilização do nosso íntimo, permitindo-nos desprender do véu. A Matéria também apresenta uma linha evolutiva, que não é exatamente evolução, mas alterações em suas linhas básicas. Por exemplo, a série estequiogênica ou estequioquímica, que vai do hidrogênio ao urânio, mostra diferenças nos átomos. Moléculas ajustadas de forma diferente oferecem sinais distintos. Alterações nos valores intrínsecos do oxigênio e hidrogênio podem criar uma água tóxica, apenas mudando o número de partículas.

Essas alterações visam a evolução do Espírito. A evolução continuará sendo trabalhada de fora para dentro até que decidamos inverter a direção, de dentro para fora. Doenças podem nos acometer por passarmos por regiões contaminadas.

Utilizando o conhecimento doutrinário espírita, trabalhamos em um conteúdo que não é detectado pelos olhos ou ouvidos físicos. Escutamos, mas não ouvimos; vemos, mas não enxergamos. No campo simbólico das ações passadas, quem não penetra com objetividade fica tomando água transportada pelos outros.

Os grandes orientadores não falam tudo, pois o aluno só aprende aquilo que descobre por si mesmo. Grandes sábios, quando conhecem profundamente, calam. Eles têm outra sistemática. Muitas vezes, algo dito há anos só é compreendido muito tempo depois.

O trabalho didático que fazemos aqui visa induzir. Educar é a arte de formar caracteres e representa o conjunto dos hábitos adquiridos. Educar é despertar potenciais do indivíduo. Queremos colocar sistemas no coração dos aprendizes, mas o potencial é algo que vem da origem. No plano descendente da evolução, ele não tem consciência, ele é inconsciente. Mas isso foi registrado! E essa consciência surgirá na luta evolutiva de baixo para cima que ele experimentará.

(P)1 – … é muito mais indutivo…

(H)2 – Agora, precisamos considerar o seguinte. Eu preciso ter uma visão consciente dessa observação do mundo. Todos nós aqui estamos engajados em um mundo melhor, não estamos? Campanhas e campanhas por um mundo melhor. Os próprios Espíritos dizem: • Estamos a caminho… De onde? Da Regeneração! Sabe por que essa explicação? Ou por que esse investimento é feito com tanto carinho pela Espiritualidade que sentimos essa necessidade? Porque uma grande parcela dos que estão sofrendo agora e cultivando o sofrimento com todo carinho, devido à falta de visão, estão atrasados em sua melhoria.

Caso contrário, não estariam preocupados com um mundo regenerado! Sabe por que não estariam preocupados? Porque há uma fase da nossa evolução em que o indivíduo brutal, com uma arma na mão, elimina 10, 15 pessoas, e os Espíritos apenas observam! E ele fica lá, limpando sua lâmina, para ver se há mais alguém! É evolução. De um lado e do outro. Vocês entendem? Há fundamentação moral para culpar? Não! Isso é de quem pode mais! Evolução! Por que ele precisa correr para a Regeneração?

Vocês entenderam? Não há necessidade de preocupação, porque ele está vivendo sua vida! Agora, se há uma luta e nada está acontecendo, é porque estamos cansados de insistir nisso. Leia no livro “O Evangelho” sobre a questão do duelo, lembra do Kardec? Não há mais duelos com espadas, mas estamos nos enfrentando de cabeça baixa! Assim, ficam brigando os dois. Um de um lado, o outro do outro. Um com enxaqueca, o outro com gastrite. Por causa da luta entre eles. Já poderiam estar na Regeneração há séculos! Por isso estamos apressados com a Regeneração. Porque não podemos apressar o habitat das pessoas; colocar cada um no ambiente que precisa. Agora, alguns têm o ambiente que precisam, mas, • Ah, vem cá! Mas até hoje? Ainda precisa disso! Porque, na realidade, Marlene, precisamos lutar no sentido natural do progresso! Para sermos felizes! É nesse sentido. Você pode não entender. Não estou contrariando o que você trouxe, apenas dizendo que precisamos lutar para estarmos ajustados ao mundo com naturalidade, refletindo com carinho o pensamento superior.

(P) – Será que é por isso que, diante do meu irmão, meu próximo, estou ficando seca…

(H) – Sem dúvida. Houve uma reciclagem no seu campo de análise interior, de meditação, de reflexão, e você concluiu que não é por aí. Mas o conhecimento que temos, ele encontra lá, deixa pra lá. Quando dizemos a uma mãe, que traz um caso difícil de um filho dependente de drogas, que está tirando tudo de casa, infelizmente, temos esses casos, não temos? Eu costumo dizer o seguinte: entregue as armas! Levante a toalha branca, para o seu coração, não para ele! Agora, há uma diferença entre abrir o coração e esperar que ele faça seu curso e volte no campo evolutivo, e largar pra lá! Porque largar pra lá (eu não disse isso, eu disse entregar as armas, continue com elas), é uma questão complicada. Vocês não têm ideia do que há por trás de um coração que amamos. Tem gente sofrendo muito por aí! Por isso, às vezes, fazemos até extravagâncias no contexto em que vivemos. Não fazemos? Quem está de fora até entra na…

(P) – … e como é esse largar pra lá?

(H) – Saia da luta! Chegou em casa à meia-noite! Você sabe de onde ele está vindo! Não sabe? Aí começa uma briga daquelas! Não é isso? Aí um vai dormir, e o outro pode até sair para a rua novamente e cometer um crime. E a pessoa até perde o sono. Quando a campainha tocou e ele entrou, você pensou: “Oh Deus! Que ele seja feliz…”. Assim que você começa a orar, sinta a questão assistencial. Se você ainda não fez isso, aprenda! “Senhor, ajuda meu filho”. Não é assim? Ou, “que minha filha seja protegida”. E ore. Não é assim que fazemos? Mas chega um ponto em que dizemos: “Meu Deus, se acontecer algo com ele, que seja o mais brando possível”. A prece mudou? Não! Deixou de ser uma prece? Não! O ideal é que nada aconteça, mas se acontecer, que seja mais brando. Porque a vida é dele! Queremos enquadrar a pessoa em uma linha de vida que não foi a nossa! Sabe por que queremos fazer isso? Não é porque aprendemos com o evangelho. É porque passamos por aquelas confusões e pensamos: “Meu Deus! Se ele passar por aquilo, ele não vai aguentar! Eu aguentei! …”. A evolução é séria! Precisamos ter uma visão clara! Por isso a doutrina espírita é de uma riqueza inimaginável.

(P) – Nessa questão do livre-arbítrio, em determinados momentos… em que há expansão, não temos mais liberdade. É nesse momento que ativamos o crescimento?

(H) – Sem dúvida. Quando você percebe que algo se abriu para você, e você pensa “eu vou fazer isso” e faz, estão dando ou fazendo concessões, alvará para você. Porque você adquiriu melhores condições e, vamos dizer, a probabilidade de acertar e administrar o processo. É assim que entendemos. Agora, infelizmente, seguimos muito pela linha teórica que adotamos, e outros pela confiança que temos e certeza que naturalmente precisamos alinhar.

(P) -…ao evangelho…

(H) – A expressão usada, de algum modo, lá no fundo, tem razão de ser. Agora, é preciso ter cuidado para não criar uma imagem diferenciada. Quando Emmanuel fala e as entidades nos orientam a domar a instintividade, quase sempre utilizam a instintividade seguida do que é animalizada. Os instintos animalizados são uma coisa. Os instintos no automatismo são outra. Então, nunca posso ganhar espontaneidade, em termos de disciplina, para não incentivar ou criar um processo instintivo dos conceitos que alimento. Não sei se vocês entenderam. Não é isso? Agora, vou chamar de instinto, porque instinto é uma inteligência embrionária na conceituação de Kardec. Então, o que ocorre? Precisamos automatizar nossa forma de interagir com as pessoas. Quando começamos a notar que nossas reações são mais suaves…

Notas:

 [1] (P) – perguntas ou comentários formulados ao palestrante.

[2](H) – respostas do palestrante.

(*) Transcrição da Reunião Gênesis com Honório Abreu – 1a parte – 17/05/2006. Distribuída por: Cláudio Fajardo de Castro. Extraído de (copie e cole): https://espiritismoeevangelho.blogspot.com/

OBS:

Honório Abreu (1930-2007) foi presidente da União Espírita Mineira; um dos criadores e divulgador do método de estudo “miudinho”; autor do livro “Luz imperecível” (UEM, 2001).