Reminiscências do centro de São Paulo

Reminiscências do centro de São Paulo

         

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

O centro antigo da cidade de São Paulo sempre está presente em nossas reminiscências. Na realidade, são referentes a três momentos distintos de residência na capital paulista.

Na primeira etapa, durante a infância, recordamo-nos das tradicionais lojas de departamentos e das lanchonetes, estas então de chineses, que preparavam pasteis e pequenas pizzas; do café de máquina e do sorvete italianos que estavam surgindo na cidade. Lembramo-nos também que naquela época os homens que trabalhavam no centro da cidade utilizavam ternos e, muitas vezes, chapéu e alguns a gravata tipo "borboleta".

Numa segunda etapa de residência em São Paulo, vindo interior paulista, exercemos ações de gestão acadêmica junto à Reitoria da UNESP, na época situada na Praça da Sé, em tradicional prédio em estilo francês. As badaladas do carrilhão da Catedral da Sé ficaram marcados em nossa memória. 

Ao mesmo tempo lembrávamos sempre que a poucos metros dali situa-se o histórico Pátio do Colégio, onde Manuel da Nóbrega (o nosso Emmanuel), fundou a cidade).1

No trajeto para aquele trabalho, muitas vezes deixávamos a esposa Célia no histórico prédio Caetano de Campos, onde ela exercia função administrativa junto ao Conselho Estadual de Educação, defronte à Praça da República. Naturalmente, muitas vezes lembrávamos que naquela praça foi morto, durante o início da Revolução Constitucionalista, o estudante Euclides Miragaia, que era cunhado de um tio-avô nosso.

Nos encargos de Pró-Reitor contamos com alguns assessores que também eram espíritas: Mário da Costa Barbosa, nos últimos meses de sua existência, e, dos colegas Miguel Carlos Madeira (de Araçatuba) e Arif Cais (de São José do Rio Preto).

Concomitantemente ocupávamos cargos de direção na USE-SP. Na sede da Reitoria da UNESP, muitas vezes recebíamos a visita de lideranças espíritas e em função dos diálogos, vinham à tona também informações sobre momentos do passado ligados à região.

No século XIX, naquele tradicional centro paulistano, atuou o então estudante de Direito da Faculdade do Largo de São Francisco (atual USP), Bittencourt Sampaio, época em que escreveu letras que foram musicadas pelo seu amigo Carlos Gomes.2 Logo depois, por ali trabalhou o pioneiro espírita Batuíra, como profissional e instalou a poucos metros o seu teatro popular.3 As obras espíritas pioneiras de Batuíra ficavam num bairro vizinho e próximo ao centro da cidade.

Nas cercanias da Praça da Sé havia trabalhado o médico e ex-presidente da USE-SP Luiz Monteiro de Barros; do outro lado da Praça, Nestor João Masotti se aposentava da Secretaria da Fazenda, e, nossa companheira da USE, Marília de Castro, tinha escritório de advocacia. Certa feita recebemos a visita honrosa do deputado federal e militante espírita Freitas Nobre, com quem tínhamos amizade, e que mantinha escritório na vizinhança.

No período em que residimos em Brasília, retornamos inúmeras vezes a São Paulo em tarefas profissionais e espíritas.

Essa mescla de ações, evocações e lembranças, veio à tona na nossa saudação de agradecimento na solenidade em que recebemos a “Medalha Anchieta e Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo”, na Câmara de Vereadores de São Paulo, no ano de 2004.4

Na condição de diretor da FEB a representamos em três oportunidades em eventos públicos em defesa da vida (2007 a 2009), efetivados em grande mobilização na Praça da Sé, com a liderança de Marília de Castro. Também comparecemos na sede da OAB.

Como presidente da FEB, comparecemos na Livraria do Centro Espírita União, localizada ao lado da Praça da Sé, para o lançamento com a esposa Célia, de livro por nós organizado. Estava presente o casal de dirigentes Nena e Francisco Galves, antigos anfitriões de Chico Xavier, e amigos nossos.

Surge a terceira e atual etapa de vivência na capital paulista, com afazeres espíritas deslocados para outros bairros.

E retornamos ao auditório da Câmara de Vereadores de São Paulo, vizinha ao centro antigo, para recebermos um Diploma na Solenidade “Espíritas por um Mundo Melhor”. Na oportunidade, em 2018, fizemos uso da palavra enaltecendo o trabalho dos seareiros espíritas paulistas de todos os tempos.5

As lembranças dos momentos agradáveis e frutíferos vividos no centro antigo de São Paulo estão sempre vivas. Agora, em realidade, há várias regiões da cidade que se caracterizam como centros. A Metrópole ficou multicêntrica.

Fontes:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Emmanuel. Trajetória espiritual e atuação com Chico Xavier. Matão: O Clarim. 2020. 208p.

2) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Prefácio. In: Aragão, Silvan (Org.) Bittencourt Sampaio. Nebulosa radiante. Aracaju: FEES. 2016. 70p.

3) Monteiro, Eduardo Carvalho. Batuíra. Verdade e luz. São Paulo: CCDPE. 2021. 160p.

4) Gobbi, Ismael. Cesar Perri é homenageado pela Câmara de São Paulo. Revista internacional de espiritismo. Ano LXXIX. N.5. Junho de 2004. P.269.

5) Página eletrônica: http://www.camara.sp.gov.br/blog/entidades-espiritas-ganham-homenagens-por-boas-iniciativas/#.WuKImOk9Nsk.facebook