Relações entre lideranças da “Arte Moderna” com espíritas

Relações entre lideranças da “Arte Moderna” com espíritas

     

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Ao longo do tempo surgem informações sobre as relações de eminentes vultos da histórica “Semana de Arte Moderna” com vultos espíritas. Trata-se do evento artístico e cultural que ocorreu no Teatro Municipal de São Paulo, entre os dias 13 a 18 de fevereiro de 1922.

A proposta era apresentar uma nova estética artística para todos os campos das artes, com apresentações de dança, música, recital de poesias, exposição de obras de arte, como pinturas e esculturas, e palestras. Foi apoiado pelo governador do Estado de São Paulo Washington Luís (depois presidente da República).

Há registros históricos sobre o poeta paulistano Menotti Del Picchia (São Paulo, 1892-1988), participante da “Semana de Arte Moderna” e depois membro da Academia Brasileira de Letras (1943). Ele foi um dos primeiros literatos a se manifestarem sobre a obra Parnaso de Além Túmulo (1932), identificando os estilos dos diversos poetas brasileiros e portugueses que escreveram pela psicografia de Chico Xavier.

Interessante é que o poeta Almir Rodrigues Bento (1918-1945), jornalista e ativo jovem espírita de nossa terra natal, Araçatuba, onde teve relações com vários familiares nossos, trabalhava profissionalmente no meio jornalístico e mudando-se de Araçatuba para São Paulo, estabeleceu relações com o poeta modernista Menotti Del Picchia. Ao lançar seu livro de poemas Sol (1945), Almir contou com o prefácio de Del Picchia. Nesse livro, Almir Rodrigues Bento deixa clara sua crença religiosa no poema “Metempsicose”.

Outro detalhe nesse livro é que, entre algumas homenagens, inclui Freitas Nobre. Naquela época, José Freitas Nobre (1921-1990) era estudante na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo; tornou-se conhecido como advogado, jornalista e professor; foi presidente do Sindicato de Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, vereador e vice-prefeito de São Paulo e deputado federal por São Paulo. Espírita atuante e muito amigo de Chico Xavier.

Em nosso livro Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões, relatamos episódios da vida de Almir Rodrigues Bento e a justificativa porque propusemos, como membro fundador, o seu nome como patrono da Cadeira no 4 da Academia Araçatubense de Letras.

Fato muito relevante foi a relação entre a pintora modernista Tarsila do Amaral e Chico Xavier. Tarsila de Aguiar do Amaral (1886–1973) foi membro do “Grupo dos Cinco”, destacados artistas brasileiros: Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Menotti del Picchia, Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Segundo Mário de Andrade, ela foi a “primeira que conseguiu realizar uma obra de realidade nacional”. Entre as telas famosas da pintora, destaca-se “Abaporu”, de 1928.

Já idosa, passando por grandes reveses na saúde e com a desencarnação da filha única e da neta, Tarsila, desesperada e deprimida, se aproxima do espiritismo e de Chico Xavier. Inclusive, passou a doar parte da venda dos seus quadros aos trabalhos assistenciais que Chico Xavier apoiava em Uberaba.

Essa amizade foi registrada pelo casal Nena e Francisco Galves, que eram hospedeiros de Chico Xavier em São Paulo, e são fundadores do Centro Espírita União. Através deles ficou marcado inclusive o respeito e admiração de Chico tinha por Tarsila. No discurso proferido por Francisco Cândido Xavier quando recebeu o título de Cidadão Paulistano em 19/05/1973, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, o médium fez referência a Tarsila, que “havia prometido estar nessa ocasião mesmo em cadeira de rodas, mas a vontade do Senhor a havia transferido para a Vida Maior”. Ela desencarnou quatro meses antes da cerimônia. Chico Xavier chamou Tarsila de sua benfeitora: “a grande dama católica aceitava sua amizade como espírita e médium, com bondade inesquecível, que orava em cores e produzia telas que hoje são o encanto e riqueza do Brasil e do mundo. Afirmou que ‘dona Tarsila’ se inclinava aos pequeninos da mesma forma que acolhia as personalidades ilustres. […] tanto ela, como eu, acreditava que os gênios do Brasil não estão mortos, que os grandes fundadores da civilização paulista e brasileira estão vivos operando e cooperando em nosso favor, e eles nos auxiliam”.

Por ocasião do lançamento de nosso livro Chico Xavier. O homem, a obra e as repercussões (2019), estivemos em Capivari, onde se situa a Editora EME. Na oportunidade, juntamente com nossa esposa Célia, visitamos a Galeria Tarsila do Amaral, espaço cultural de Capivari, terra natal da artista, que homenageia a grande pintora e desenhista.

Aí estão fatos pouco conhecidos e que merecem ser divulgadas sobre relações entre lideranças da famosa “Semana de Arte Moderna” com vultos espíritas.

Fontes:

- Carvalho, Antonio Cesar Perri. Chico Xavier – o homem, a obra e as repercussões. Cap. 1.24. São Paulo: USE, Capivari: EME. 2019.

- Carvalho, Antonio Cesar Perri. Pelos caminhos da vida. Memórias e reflexões. Cap. 1.4. Araçatuba: Cocriação. 2021.

- Página GEECX (copie e cole): http://grupochicoxavier.com.br/chico-xavier-valorizado-pelos-modernistas-tarsila-do-amaral-e-menotti-del-picchia/