Paulo: “Leão de Deus” e cultivador do Evangelho

Paulo: “Leão de Deus” e cultivador do Evangelho

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Na história do Cristianismo há um vulto marcante: Agostinho de Hipona (Séc. IV-V), que enquanto jovem lutava contra suas fraquezas morais e sentindo-se com a consciência abalada pela sua situação, repentinamente escuta uma voz infantil que lhe dizia em latim: “Toma, lê…” Levantou-se e buscou um manuscrito da Epístola aos Romanos, que tocou profundamente a sua alma e que foi o toque decisivo para sua transformação e conversão.1

Tempos depois, Agostinho anotou, referindo-se a Paulo de Tarso: “Pois ele foi um verdadeiro leão vermelho, o grande leão de Deus”.1

A ação e as Epístolas de Paulo de Tarso mereceram comentários elogiosos do reformador João Calvino (Séc. XVI); de Lutero, líder reformista do século XVI; de autores católicos clássicos como Ernest Renan (Séc.XIX) e Daniel Rops (Séc. XX).1

Provavelmente Paulo seja o vulto cristão que seja objeto da maior quantidade de livros e de estudos. Na literatura espírita a monumental obra Paulo e Estêvão, do espírito Emmanuel, psicografia de Chico Xavier é a mais destacada e citada. Desta obra destacamos a definição do Autor Espiritual: “Paulo de Tarso foi um homem intrépido e sincero, caminhando entre as sombras do mundo, ao encontro do Mestre que se fizera ouvir nas encruzilhadas da sua vida.”2

As Epístolas de Paulo representam um marco de pioneirismo na literatura cristã. Recentemente, Frederico Lourenço, pesquisador e professor de Estudos Clássicos, Grego e Literatura Grega da Universidade de Coimbra, tradutor de várias obras a partir do grego e um dos grandes especialistas de nossa época sobre a Bíblia em versão grega, ratificou que quando Paulo foi sacrificado os únicos textos do Novo Testamento que já tinham sido escritos eram desse apóstolo. “[…] todos os demais textos foram escritos depois da morte de Paulo; nem sequer os Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João tinham sido escritos.”Até então existiam “anotações”…

O apóstolo Paulo foi o maior divulgador e o principal consolidador do cristianismo. Concordamos com a opinião de muitos autores de que sem Paulo não teríamos o movimento cristão. Sempre fiel aos ensinos de Jesus, destemido e com perfil estoico, aliás influência filosófica que recebeu na infância em juventude na sua terra natal, de influência helênica. Todos esses fatos nos estimularam a elaborar uma obra simples e objetiva, com ênfase nos ensinos morais do Apóstolo: Epístolas de Paulo à luz do Espiritismo.4

Mas independentemente dessas questões, Paulo é foco de inúmeras homenagens e reconhecimentos no mundo. Eis algumas: a Basílica de São Paulo Fora dos Muros, em Roma, onde se encontram os restos mortais do Apóstolo no subterrâneo da mesma; a Catedral de São Paulo, em Londres, projetada pelo famoso arquiteto britânico Sir Christopher Wren (séc. XVII e XVIII) e que é sede do bispado de Londres, da Igreja Anglicana. Em nosso país, denomina a grande metrópole do Hemisfério Sul e o Estado de São Paulo, que foi objeto de mensagem de Emmanuel, psicografada por Chico Xavier, e, também de comentários deste ao receber o título de “Cidadão Paulistano” (1972).5 E a poucos metros do Pátio do Colégio que deu origem à cidade, há um monumento do Apóstolo, junto ao “marco zero”, na Praça da Sé em São Paulo.

Se Agostinho o designou de “leão de Deus”, Emmanuel define: “O convertido de Damasco foi o agricultor humano que conseguiu aclimatar a flor divina do Evangelho sobre o mundo.”4 Duas facetas típicas de Paulo de Tarso!

Referências:

1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. O grande leão de Deus. Revista Internacional de Espiritismo. Ano XCIV. No. 2. Edição de março de 2019. P. 79-80.

2) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Paulo e Estêvão. Brasília: Ed. FEB. 2012. 488p.

3) Lourenço. Frederico. Novo Testamento: apóstolos, epístolas, apocalipse. Vol.1. São Paulo. Companhia das Letras. 2018. 609p.

4) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Epístolas de Paulo à luz do espiritismo. 1.ed. Matão: O Clarim. 2016. 188p.

5) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Chico Xavier – o homem, a obra e as repercussões. Capivari/São Paulo: EME/USE-SP. 224p.

(*) – Foi presidente da USE-SP e da FEB.