Os “filhos da luz”

Antonio Cesar Perri de Carvalho

O apóstolo Paulo escreveu a Epístola aos Efésios em Roma entre os anos 61 e 62 d.C.1 Éfeso era o principal porto e o maior centro comercial da região da Ásia Menor. Havia muita conturbação no início dos grupos cristãos, haja vista a citação de grande resistência a Paulo, como a anotação do próprio apóstolo “combater as bestas selvagens em Éfeso” (1 Cor,15.32).

Essa cidade tem um referencial importante. João conduziu Maria à cidade de Éfeso onde ela desencarnou no ano 46 d.C., com 64 anos.2 Há dúvidas históricas e dados de que Paulo não teria conhecido Maria. Éfeso tornou-se um dos maiores centros do cristianismo nos primeiros séculos.

O estudioso bíblico Champlin3 considera essa Epístola como um dos documentos religiosos mais elevados e que ela teria um destino não necessariamente local. O tema central é Jesus.

Dessa Epístola4 destacamos alguns versículos.

2.12 Que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo. […] 2.17 E, vindo, ele evangelizou a paz, a vós que estáveis longe e aos que estavam perto; 2.18 porque por ele ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito. 2.19 Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; 2.20 Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina. […] 3.6 A saber, que os gentios são co-herdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho.

Paulo se referia aos gentios – discriminados pelos judeus – e, na época, eram tidos como pessoas sem esperanças de ordem espiritual. Apresenta o Cristo como a “principal pedra da esquina” e com o seus ensinos os gentios já não seriam “estrangeiros” estariam envolvidos e participantes nas propostas do Evangelho. Merece ênfase a palavra “co-herdeiros”. Em realidade foi a grande tarefa do apóstolo, a de levar a mensagem do Mestre, indistintamente, a todas as pessoas.

Por “pedra de esquina” entenda-se pedra fundamental ou angular das antigas construções, ou seja, a primeira a ser assentada na montagem da esquina de um edifício. Seria portanto uma referência indispensável numa construção antiga.

4. 14 Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente. […] 4.19 Os quais, havendo perdido todo o sentimento, se entregaram à dissolução, para com avidez, cometerem toda impureza. 4.20 Mas vós não aprendestes assim a Cristo. 

A palavra “meninos” surge como contraste a “homem maduro”, podendo entender-se por espiritualmente imaturos. Paulo prezava os ensinos do Cristo e se preocupava com as referências às dissenções e à fraqueza das pessoas imaturas que oscilavam em convicções e nas atitudes. As influências materialistas e imediatistas acabam por endurecer o sentimento, daí a necessidade da aceitação do Evangelho como um processo de transformação íntima.

Sobre esse tema, há considerações de Emmanuel:

“O aprendiz menos centralizado nos ensinos do Mestre acredita que pode servir a dois senhores e, por vezes, chega a admitir que é possível atender a todos os desvairamentos dos sentidos, sem prejudicar a paz de sua alma. Justificam-se, para isso, em doutrinas novas, filhas das novidades científicas do século; valem-se de certos filósofos improvisados que conferem demasiado valor aos instintos; mas, chegados a esse ponto, preparem-se para os grandes fracassos porque a necessidade de edificação espiritual permanece viva e cada vez mais imperiosa. Poderão recorrer aos conceitos dos pretensos sábios do mundo, entretanto, Jesus não ensinou assim.”5

5.8 Porque, noutro tempo, éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor; andai como filhos da luz. 

O contraste entre o homem velho e o homem novo está implícito nos dizeres de Paulo e que recomenda a conduta com base no cristianismo, na frase muito divulgada “andai como filhos da luz”.

Sobre esse versículo, Emmanuel pondera objetivamente:

“Cada criatura dá sempre notícias da própria origem espiritual.”6

 

Referências:

  1. Walker, Peter. Pelos caminhos do apóstolo Paulo. Trad. Mariz, Andréa. Introdução, Cap. 10. São Paulo: Ed.Rosari. 2009.
  2. Silva, Severino Celestino. Comunidades do Caminho. História do Cristianismo Nascente. 1.ed. Cap. 20,22,23. João Pessoa: Ed. Ideia, 2014.
  3. Champlin, Russel Norman. O Novo Testamento Interpretado: versículo por versículo. Vol. 4. Cap. Epístola aos Efésios. São Paulo: Hagnos, 2014.
  4. Almeida, João Ferreira. A Bíblia Sagrada contendo o Velho e o Novo Testamento. Trad. Edição Corrigida e Revisa Fiel ao Texto Original. São Paulo: Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil. 2007.
  5. Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel.  Caminho, verdade e vida. Cap.159. Brasília: FEB
  6. Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Vinha de luz. Cap. 115, 135, 136, 137, 160. Brasília: FEB.

(Síntese adaptada de artigo do autor, publicada na Revista Internacional de Espiritismo, com o título “Epístola aos Efésios – os filhos da luz”, edição de março de 2016, p.71-73 )