O papel de Paulo de Tarso

O papel de Paulo de Tarso

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Em nosso livro Epístolas de Paulo à luz do Espiritismo, analisamos a trajetória do Apóstolo e comentamos os aspectos morais de suas Epístolas.1 Em outra obra, também de O Clarim, inserimos Paulo no contexto do Cristianismo primitivo.2

Eis uma síntese relacionadas com as duas obras citadas.

Na monumental obra Paulo e Estêvão3, psicografada por Francisco Cândido Xavier, o autor espiritual Emmanuel aprofunda os registros de Atos e das Epístolas de Paulo detalhando as lutas e humilhações do doutor Saulo de Tarso, autoridade na Lei Moisaica perante seu povo. Paulo que renunciou às suas prerrogativas de doutor da Lei ao iniciar seu processo de transformação no Apóstolo do Cristo foi submetido pelos seus antigos pares e até por seguidores do Cristo, a constrangimentos e dificuldades acerbas. Paulo de Tarso, como principal divulgador da mensagem do Mestre, fundou em muitos locais as chamadas igrejas cristãs (ecclesia – local de reunião, atualmente significando “igreja”). Outra ação importante foram as epístolas, com características de carta redigida por um autor antigo e de crônicas a respeito de determinados assuntos, com muitas orientações aos grupos cristãos pioneiros.

O papel e a proeminência de Paulo é discutida pelo historiador e teólogo, ligado ao catolicismo, Joseph Ernest Renan (1823 – 1892). Para esse autor, Paulo é um homem eminente e, na fundação do cristianismo, desempenhou um dos papéis de mais relevo. Renan admite que “Paulo deixou escrituras valiosas; as dos outros apóstolos não podem ombrear com elas em importância ou em autenticidade.2

Emmanuel, no livro Paulo e Estêvão, relata também que Paulo estava preocupado por não poder atender a todas as solicitações das “igrejas” nascentes. Em uma meditação noturna, recebe a seguinte orientação: "Não te atormentes com as necessidades do serviço. É natural que não possas assistir pessoalmente a todos, ao mesmo tempo […] Poderás resolver o problema escrevendo a todos os irmãos em meu nome; os de boa vontade saberão compreender, porque o valor da tarefa não está na presença pessoal do missionário, mas no conteúdo espiritual do seu verbo, na sua exemplificação e na sua vida. Doravante, Estêvão permanecerá mais aconchegado a ti, transmitindo-te meus pensamentos…”3

Daí o título da obra de Emmanuel, destacando o Apóstolo e o primeiro mártir do Cristianismo, espiritualmente na posição de seu orientador para a difusão do Cristianismo.

Paulo percorreu as capitais provinciais do Oriente romano: Antioquia, capital da Síria; Pafos, capital de Chipre; Tessalônica, capital da Macedônia; Corinto, capital da Acaia; Éfeso, capital da província da Ásia Menor. E chegou a Roma, capital do Império Romano.

Para o filósofo espírita Herculano Pires: “Paulo, que exemplifica o drama da transição da consciência judaica para a cristã, adverte que Deus não deseja cultos externos, semelhantes aos dedicados às divindades pagãs, mas "um culto racional", em que o sacrifício não será mais de plantas ou animais, mas da animalidade, ou seja, do ego inferior do homem. A religião se depura dos resíduos tribais, despe-se dos ritos agrários e da complexidade que esses ritos adquiriram no horizonte civilizado. Torna-se espiritual. Os próprios apóstolos do Cristo não compreendem de pronto essa transição. Pedro chefia o movimento que Paulo chamou "judaizante", tendendo a fazer do Cristianismo uma nova seita judaica. Mas Paulo é a flama que mantém o ideal do Cristo. Inteligente e culto, é um dos poucos homens capazes de compreender a nova hora que surge, e por isso o Cristo o retira das hostes judaicas, para colocá-lo à frente do movimento cristão.”4

O apóstolo Paulo gozava de condições e características ímpares: nasceu em família judia, com boas condições financeiras; sua terra natal Tarso, era importante centro da cultura grega, onde ele passou sua infância e adolescência; herdou do pai a cidadania romana; estudou em Jerusalém com o conhecido mestre Gamaliel, tornando-se doutor da Lei, ou seja, foi um fariseu ortodoxo. Portanto, era culto, conhecia a cultura grega e o judaísmo e o contexto do Império Romano. Era enérgico e aguerrido. Paulo era portador da chamada “autonomia intelectual”.

Destacamos que um conjunto de condições fez de Paulo um fiel e ardoroso divulgador das propostas do Cristo e com autoridade para combater e esclarecer sobre as chamadas heresias, infiltrações de ideias confusas e os oportunismos que ameaçavam os primeiros grupos cristãos. Em função dessas situações ele registrou muitas recomendações em suas Epístolas dirigidas a grupos e lideranças cristãs. Se antes ele era o fiel fariseu ortodoxo, ele se transformou no fiel e ardoroso seguidor do Cristo.

De fato, Paulo continuadamente registrava em suas Epístolas sua posição de não aceitar mais a Lei de Moisés e de se antepor aos chamados legalistas. O ex doutor da Lei se insurgia contra as regras e normas típicas de sua antiga religião tradicional. Nos textos do autor espiritual Emmanuel, Paulo foi considerado “o agricultor humano que conseguiu aclimatar a flor divina do Evangelho sobre o mundo.”5

Sem dúvida, o apóstolo Paulo foi o maior divulgador e o principal consolidador do cristianismo. Concordamos com a opinião de muitos autores de que sem Paulo não teríamos o movimento cristão.

Referências:

1. Carvalho, Antonio Cesar Perri. Epístolas de Paulo à luz do espiritismo. Cap. 2. 1.ed. Matão: O Clarim. 2016.

2. Carvalho, Antonio Cesar Perri. Cristianismo nos séculos iniciais. Análise histórica e visão espírita. Cap. 2.5. 1.ed. Matão: O Clarim. 2018.

3. Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Paulo e Estêvão. Brasília: Ed. FEB. 2012. 488p.

4. Pires, José Herculano. O espírito e o tempo. 1a Parte, Cap. V. São Paulo: Ed. Pensamento. 1964.

5. Tavares, Clóvis. Amor e sabedoria de Emmanuel. 12.ed. Cap. 4 e 5. Araras: IDE, 2007.