O incêndio da Notre Dame de Paris

O incêndio da Notre Dame de Paris

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Em roteiro de palestras pela região com lançamento de nosso recentíssimo livro Chico Xavier – o homem, a obra e as repercussões, na noite do dia 15 de abril, fomos repentinamente motivados a alterar parte do conteúdo de nossa palestra na Sociedade Espírita Allan Kardec, em Biriguí.

No final da tarde ficamos impactados pelo trágico incêndio na Catedral Notre Dame de Paris. Em apresentação prévia à palestra no evento em Biriguí, a cantora Jéssica, entoou belas músicas incluindo a belíssima “Ave Maria”.

Repentinamente começamos a pensar no papel histórico do grande monumento parisiense que, traduzindo o nome da Catedral, é “Nossa Senhora”. Em rápidos momentos fomos imaginando a alteração da palestra, mas vinculando com obras de Chico Xavier. O tema central seria preservado, em função do conteúdo de nosso livro em lançamento.

De passagem citamos episódios históricos ligados àquela Catedral de Paris. Popularizada pelo corcunda de Notre Dame; ambiente de canonização de Joanna D’Arc, do desrespeito no “período do Terror” com a entronização da “deusa Razão”, da coroação do imperador Napoleão… E focalizamos citações à Notre Dame na obra psicográfica de Chico Xavier.

Iniciamos com referência ao romance histórico Renúncia (Cap.2), do espírito Emmanuel, psicografado por Chico Xavier, onde há registros sobre a personagem principal do enredo transcorrido no século XVII, cantando na Notre Dame de Paris, para obter recursos ao pequeno e doente jovem familiar: “Alcíone andou muitos quilômetros de ruas e praças, estudando o local adequado à iniciativa. Algo cansada, parou junto ao templo de Nossa Senhora e entrou. Descansou longamente em preces fervorosas, lembrando que não haveria melhor local para o empreendimento que o adro daquela casa consagrada à Mãe Santíssima. […] Alcíone começou a cantar, mas, com tanta harmonia e sentimento, que dir-se-ia um anjo baixado à Terra para transmitir aos homens as suaves belezas do crepúsculo. Em breves instantes, transeuntes, clérigos, fidalgos e gente do povo formavam em torno compacta assistência. Cada canção era aplaudida freneticamente.”

No livro A caminho da luz, análise espiritual de nosso processo civilizatório, o espírito Emmanuel comenta os excessos ocorridos durante a Revolução francesa e ao período do Terror, como “teatro de trágicos acontecimentos”. E refere-se ao contexto da época do nascimento de Allan Kardec: “dois meses antes de Napoleão Bonaparte sagrar-se imperador, obrigando o papa Pio VII a coroá-lo na igreja de Notre Dame, em Paris, nascia Allan Kardec, aos 3 de outubro de 1804…”

Em obras psicográficas de Chico Xavier há citações sempre muito respeitosas a Maria, a mãe de Jesus. Há um livro Maria, mãe de Jesus, que é uma antologia com mensagens e preces transcritas de obras de Francisco Cândido Xavier e Yvonne Pereira.

O incêndio provoca impactos pois se trata de edificação com cerca de 900 anos de história. Todavia, não nos esqueçamos que além da simbologia do templo tradicional, deve-se meditar sobre a excelência do conceito de templo do espírito, da pessoa como “casa espiritual” e da lembrança de que esta inclui o cultivo de orações e de esforços pela prática do bem, em qualquer lugar.

= O autor foi dirigente em Araçatuba e é ex-presidente da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo e da Federação Espírita Brasileira.

Observação: no dia do incêndio citado, o autor proferiu palestra em Biriguí (SP) e inseriu este conteúdo ao abordar as obras de Chico Xavier. Artigo publicado no jornal “Folha da Região”, de Araçatuba, no dia 17/4/2019, pág.2.