O fenômeno tio Juca

O fenômeno tio Juca – Médium marcante e exemplo de solidariedade

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Por ocasião de nossa estada em Vitória da Conquista (Bahia), para cumprir programa do XII Encontro da Casa Espírita Francisco Cândido Xavier, também proferimos palestra no Centro Espírita André Luiz. Numa noite fria de agosto de 2019, ao chegarmos no “André Luiz”, fomos recepcionado afetuosamente por Aurora Benjamim Rocha, antiga médium, uma das fundadoras do Centro (em 1985) e dirigente, sempre acompanhada de seu esposo Edmundo Santos Rocha, o atual presidente.

Na oportunidade ela se referia a palestras nossas proferidas em Congressos Estaduais da Bahia e, como comentávamos sobre alguns livros ali expostos, ela nos ofertou a obra O fenômeno Tio Juca (também disponível em livrarias virtuais) – que desconhecíamos a existência -, informando que tem constatado a presença deste espírito no Centro. Trata-se de livro que reúne registros sobre atuações do médium José Soares de Gouveia (1898-1965), conhecido familiarmente como Juquinha e em geral como Tio Juca.

O autor é Eusínio Gaston Lavigne (1873-1973), descendente de franceses que foi líder político e prefeito de Ilhéus (Bahia), espírita e autor de diversos livros. A apresentação é assinada pelo dr. Roberto Requião, de Feira de Santana. Lavigne organizou o livro em três partes: O fenômeno Tio Juca. Faculdades psíquicas; Tio Juca: O cidadão e o cristão operante. Fatos que definem sua personalidade, caráter e inclinação para o bem e a solidariedade humana; Tio Juca: Memória prodigiosa. Fatos excepcionais e edificantes e anedotas reais de fundo educativo. Cada uma das partes conta com cerca de 30 relatos de casos.

Logo após nosso retorno ao lar passamos a ler o livro citado. À medida que nos aprofundávamos na leitura aumentava o interesse pelos inúmeros fatos colecionados sobre o notável médium. Tio Juca viveu no Ceará, Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, em função de ser funcionário público federal no cargo de “fiscal de consumo”. Casado e com filhos, com raízes familiares e residência mais prolongada na Bahia.

Em Salvador fundou a “Casa do Tio Juca”, para atendimento de crianças e que chegou a contar com reconhecimento de utilidade pública. Há relatos de inúmeros alertas espirituais para se evitar acidentes, sonhos premonitórios, várias curas, localização de pessoas e objetos, chamamentos espirituais para atendimento de pessoas em risco, apoio financeiro a pessoas, encaminhamento de pessoas para uma vida equilibrada, tudo sempre com muita motivação de solidariedade humana. O interessante é que os fenômenos eram sempre espontâneos, inesperados e contavam com rápidas providências do médium. Um caso surpreendente foi a localização de uma jovem desaparecida há cerca de 20 anos na Amazônia. Insistentemente orientado por espíritos, de maneira voluntária e sem ter nenhum conhecimento do episódio, com base nas informações insistentes de natureza espiritual, empreendeu uma longa e complicada viagem, uma autêntica aventura, ele a localizou numa tribo indígena, bem integrada e realizando um trabalho que a satisfazia. Em seguida, já tendo descoberto onde residia a mãe da jovem, em Manaus, procurou-a e informou-a de que a filha estava viva e bem, e não queria retornar à antiga condição familiar e social, entregando-lhe um medalhão de família, devolvido pela jovem. Inúmeras pessoas foram repentinamente beneficiadas pelas ações espontâneas de solidariedade praticadas por Tio Juca, atendendo à sua intuição ou claramente orientado por Espíritos.

Sempre fiel cumpridor de seus deveres profissionais e totalmente avesso a qualquer forma de corrupção passou por momentos difíceis e até sofreu um atentado contra sua vida, sendo alvejado várias vezes. Atendido em hospital e pelos espíritos, recuperou-se rapidamente surpreendendo a equipe médica, remanescendo sequelas até menores face à gravidade das lesões imediatas. Tio Juca superou as limitações orgânicas e perdoou o atirador. Entre as dezenas de registros sobre episódios que demonstram vários dons mediúnicos, há informações que se relacionam com momentos da história do país. Tio Juca foi amigo de padre Cícero e num dos momentos em que estavam juntos, coincidiu com a visita do então temível Lampião, que respeitava o anfitrião; teve muitos contatos com Juarez Távora, que chegou a concorrer em eleição presidencial; era admirado pelo presidente Getúlio Vargas; e teve contatos com muitas personalidades do início e até meados do século XX. Tio Juca, acompanhado de sua família, visitou Chico Xavier em Pedro Leopoldo, em abril de 1952, e recebeu a informação sobre sua missão.

Fato inesperado e curioso na leitura do livro sobre o médium e que nos chamou a atenção, pois em alguns casos são citados alguns médicos que tiveram alguma relação com Tio Juca e que se constituem em referências para nós.

Assim, além dos valorosos exemplos como portador de uma variedade de dons mediúnicos, de dedicação ao próximo, de superação de dificuldades e de uma vida digna, encontramos no livro também casos que envolvem médicos que também passaram por nossa trajetória de vida. Há informações sobre o renomado pediatra paulista, o dr. Mário Margarido. O fato é que quando contávamos pouco mais de um ano de idade, nossos genitores nos trouxeram para consulta com ele em São Paulo, oportunidade em que houve um preciso diagnóstico e a tranquilização para a família. Este médico tornou-se espírita, conforme caso relatado no livro. Hoje existe até uma praça em São Paulo com o nome do notável pediatra. Em outro relato é citado o dr. Lauro Neiva, que atuou profissionalmente no Rio de Janeiro. Por volta de 1971, por intermédio de um tio médico residente naquela cidade, conhecemos livros desse facultativo sobre a utilização da aveloz para o tratamento do câncer e sobre as terapêuticas espirituais realizadas no Santuário de Frei Luiz, em Jacarepaguá. Na época chegamos a visitar esta instituição. Episódio mais próximo da atualidade, tem haver com o dr. Luís Barreto Vieira, oriundo de Vitória da Conquista e radicado em Salvador. Tivemos a oportunidade de dialogar com este médico em muitos eventos espíritas em função de livros de autoria dele sobre concepção e relacionados com campanhas para se evitar o aborto.

O biógrafo chegou a publicar alguns textos sobre Tio Juca no jornal A Tarde, de Salvador. Nesses artigos e no livro destaca perfis do Tio Juca como exemplo de moralidade familiar, profundo respeito à profissão e fiel cumpridor de deveres, espírito público, memória e inteligência invulgares e portador de virtudes cristãs. No final do livro Eusínio Lavigne afirma: “se a bondade pudesse ser personificada numa criatura humana, esta não seria senão o próprio Tio Juca”.
Fonte:
Lavigne, Eusínio. O fenômeno Tio Juca. 1.ed. São Paulo: Editora Mnêmio Túlio. 2006. 199p.

(*) – Ex-presidente da USE-SP e da FEB; ex-membro da Comissão Executiva do CEI.

Publicado e transcrito de:

Revista Internacional de Espiritismo, Ano XCIV, No. 9, outubro de 2019, p.456-457.