O Evangelho de João

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

O apóstolo João, após sair de Jerusalém, viveu na Ásia Menor e orientava as igrejas desta região, principalmente junto à igreja de Éfeso, fundada por Paulo. Considera-se que João é testemunha genuína da tradição dos Apóstolos.

Ainda jovem e acompanhando o Mestre, João – chamado “filho do trovão” (Atos, 20.31) -, segundo Jesus, passou a ser o “discípulo amado”; corajosamente, seguiu-o na noite da prisão e o acompanhou até a crucificação, quando foi designado para cuidar de Maria. É aceito que a mãe de João era irmã de Maria. João conduziu Maria à cidade de Éfeso no ano 37 d.C. e ela desencarnou com 64 anos de idade no ano 46 d.C., naquela região, na montanha de Bilbul.1 A convivência com a mãe de Jesus foi uma oportunidade ímpar para a compreensão dos valores cristãos.

Com relação à época do aparecimento dos Evangelhos, registramos que a 1a Epístola aos Tessalonicenses, escrita por Paulo em Corinto no ano 51 d.C., seria o primeiro texto de autoria do Apóstolo e também o texto pioneiro do Novo Testamento.2 Em realidade os Evangelhos surgiram após a redação de todas Epístolas de Paulo. É aceito que a seguinte cronologia de aparecimento dos Evangelhos: Marcos, provavelmente no ano 64 d.C; Lucas, logo em seguida; Mateus, no ano 70 d.C., e, João, no período entre 90 e 100 d.C.3

Os três primeiros evangelhos registram as obras do Cristo desde a prisão e encarceramento de João Batista, durante um ano apenas.3 Por isso João transmitiu em seu evangelho os eventos que os evangelistas precedentes haviam omitido e as ações do Mestre nesse espaço de tempo. Isso é assinalado na frase: “Este foi o início dos sinais que Jesus fez” (João 2,11). Portanto, João registra as ações de Cristo antes de João Batista ser encarcerado; os outros três evangelistas citam os eventos após a prisão e encarceramento do Batista. Ciente de que o lado humano havia sido exposto nos evangelhos precedentes, escreveu impelido pelos discípulos e divinamente inspirado pelo “Espírito Santo”, um evangelho espiritual.

O estudioso bíblico Champlin3 reproduz a opinião de Ernest Renan de que o evangelho de Lucas é o mais belo livro que jamais foi escrito. Por outro lado, comenta que, considerados juntamente, os evangelhos de Lucas e Atos dos Apóstolos representam pouco mais do que um quarto do volume total do Novo Testamento. Significa que Lucas contribuiu  para o conjunto do Novo Testamento com mais material, do que qualquer outro autor, e, que o Evangelho de Lucas juntamente com Atos dos Apóstolos tem mais material do que as epístolas de Paulo.

João, o único discípulo que não foi executado pelos adversários, residiu em Éfeso até sua desencarnação – já nonagenário -, no início do Século II. Na sua longa existência, João conviveu com Paulo que, em uma de suas viagens passou três anos em Éfeso e depois deu atribuições a Timóteo e Tito para atuarem cidade.2 Teve contatos com cristãos pioneiros de várias partes e que receberam sua influência e são incluídos na chamada patrística, ou seja, a filosofia cristã dos primeiros séculos, elaborada pelos chamados “pais da igreja”. Conheceu também as dificuldades e as influências negativas que eram vividas pelos primeiros grupos cristãos.1,2,3

O estudioso bíblico Norman R. Champlin cita o líder reformista do século XVI: “Lutero costumava dizer que se pudéssemos preservar somente o evangelho de João e a Epístola aos Romanos, o cristianismo seria salvo.”3

No romance histórico 50 anos depois Emmanuel registra uma observação significativa: “Paulo e João nos revelaram o Cristo Divino, Filho do Deus Vivo, na sua sublimada missão universalista, a redimir o mundo.”4


Referências:

  1. Silva, Severino Celestino.Comunidades do Caminho. História do Cristianismo Nascente.1.ed. Cap. 20,22,23. João Pessoa: Ideia, 2014.
  2. Carvalho, Antonio Cesar Perri. Epístolas de Paulo à luz do espiritismo. 1.ed.
  3. Champlin, Russel Norman. O Novo Testamento Interpretado: versículo por versículo. Vol. 1, 2, 3. São Paulo: Hagnos, 2014.
  4. Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. 50 anos depois. 1.e.esp. 1ª. parte, cap.VI. Rio de Janeiro: FEB. 2002.

(*) – Síntese do artigo: Carvalho, Antonio Cesar Perri. João em prosa e verso. Revista Internacional de Espiritismo. Ano XCII, n.1. Fevereiro de 2017.