O Céu e o Inferno – Relações França-Brasil

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

O Codificador Allan Kardec viveu no Século XIX – época grandes luzes que provocou grandes resultados, descobertas e teorias que modificaram o modo de vida do homem sobre a Terra, sua própria concepção e o papel que ele representa no planeta e no universo. Rivail viveu num período de muitas polêmicas e choques em todos os setores da vida francesa, choques entre momentos de autoritarismo, de liberalismo e de democracia, convivendo também com o surgimento de propostas socialistas e muitos impasses no âmbito da religião.

No seio da própria igreja católica da França surgem esforços importantes por parte de religiosos como: Félicité Robert de Lamennais e Jean-Baptiste-Henri Lacordaire, ambos idealistas liberais, e, Jean-Marie Vianney, o Cura da cidade de Ars, exemplo de caridade, gentileza, e estimulador da crença e fé em Deus, “o bom Deus”, Interessante é que os três religiosos assinaram textos de “Instruções dos Espíritos” em O evangelho segundo o espiritismo.

Vencendo todas as dificuldades de um contexto atribulado e dinâmico, no século e na cidade das luzes, Allan Kardec exerceu o importante papel de elaborador humano de um conjunto sistematizado de informações espirituais que representaram o surgimento de um poderoso facho de luz para os caminhos humanos. No bojo da cultura e da disseminação mundial do idioma francês, o Espiritismo se difundiu rapidamente para várias partes do mundo.

No dia 1º. de agosto de 1865 Allan Kardec lançou em Paris a monumental obra O céu e o inferno. Trata da Justiça Divina segundo o Espiritismo e, de forma inédita, analisa mensagens espirituais, com destaque para seus estados de alma. É o primeiro livro que faz estudo de casos sobre as manifestações espirituais. As obras do Codificador surgem no momento de um grande esforço espiritual para se restabelecer a fé, e, em bases racionais.

A tradução e edição das obras de Allan Kardec para o português completam 140 anos! Foram traduzidas pelo médico Joaquim Carlos Travassos, que integrou a primeira diretoria do pioneiro Grupo Espírita Confúcio, na cidade do Rio de Janeiro. Informou à “Sociedade para a continuação das obras espíritas de Allan Kardec”, de Paris, a sua fundação e a aceitação das obras do Codificador, o que foi divulgado pela “Revue Spirite”, em 1874.

No começo de 1875, dr. Travassos mantém correspondência com Pierre-Gaétan Leymarie, dirigente da Sociedade citada e redator de “Revue Spirite”, com o objetivo de traduzir as obras de Kardec. Cita o “amigo Sr. Casimir Lieutaud, um dos propagadores do Espiritismo neste canto do mundo chamado Brasil, empreendi a tradução, para a língua nacional, das obras do Mestre”, carta que foi publicada pela “Revue Spirite”, na edição de agosto de 1875. Desse modo, dr. Joaquim Carlos Travassos, sob o pseudônimo de "Fortúnio", traduziu: “O Livro dos Espíritos”, a qual converteu Bezerra de Menezes ao Espiritismo; “O Livro dos Médiuns”; “O Céu e o Inferno” e “O Evangelho segundo o Espiritismo”. As quatro obras vieram à luz nos anos 1875 e 1876 por intermédio da Editora B. L. Garnier, da cidade do Rio de Janeiro.

As obras de Kardec chegaram rapidamente ao Brasil e encontraram terreno fértil para a sua disseminação!

 

(*) – Síntese de palestra proferida na abertura do 12º. Colóquio França-Brasil, na UERJ, Rio de Janeiro, no dia 31 de julho de 2015, transmitida pela WebTV Espírita Nova Luz. Informações: https://www.facebook.com/internationalspiritistcouncil?fref=ts