No banquete do Evangelho

Humberto de Campos

“[…] Por largo tempo ainda, comentamos a incúria dos nossos companheiros mais caros, condenando a indiferença dos corações desviados da luz e da fé, nos caminhos da ignorância, sem os clarões amigos da Verdade. Em seguida, falamos da Caridade e dos seus grandes labores na face da Terra, organizando-se, entre nós, os mais alevantados ideais para a construção de celeiros de atividade material, quando o nosso amigo sentenciou:

– "Irmãos: nesta Casa, temos de compreender que toda caridade, em seus valores mais legítimos, deve nascer do Espírito. As idéias religiosas do mundo não se esqueceram de monumentalizar as suas teorias de abnegação e bondade. Hospitais e orfanatos, abrigos e templos se edificaram por toda parte; entretanto, o homem foi esquecido para o Conhecimento e para Deus. A caridade que veste nus e alimenta os famintos está certa, mas não está justa, se desconhece o Evangelho no santuário do seu coração. A obra de Ismael tem de começar no íntimo das criaturas. Aqui, não podem prevalecer os antagonismos do homem, no acervo de suas anomalias. Iniciar pelo fim é caminhar para a inversão de todos os valores da vida. A Casa de Ismael tem de irradiar, antes de tudo, a claridade do amor e da sabedoria espiritual, objetivando o grandioso serviço da edificação das almas. Primeiramente, é necessário educar o operário para os preciosos princípios e finalidades da máquina. Iluminado o homem, estará iluminada a obra humana. A evolução da alma para Deus se fará, então, por si mesma, sem desvios da meta a ser alcançada. Não haverá razão para o sacrifício de seus pregoeiros, porque em cada coração existirá um hostiário celeste."

– "Mas, Richard – objetou um de nós, fascinado pela sua erudição divina e pela clareza de sua lógica – como poderemos fazer sentir a todos os nossos irmãos pela fé e pelo trabalho a sublimidade desses raciocínios?"

Todavia, Pedro Richard apontou-nos para a luz que vinha da célula de Ismael, onde nos reuníramos para receber as bênçãos das Alturas. Bittencourt Sampaio já havia chegado para distribuir os fragmentos do pão milagroso de sua divina sabedoria.

E, em silêncio, como se nos aquietássemos sob uma força misteriosa, sentimos que serenavam, em nosso íntimo, todas as preocupações pueris trazidas do nevoeiro espesso do mundo. De alma genuflexa, esquecidos das querelas e das amarguras terrestres, recolhemos o coração na urna suave da fé, para ouvir, então como discípulos humildes, a lição de humildade, que nos trazia o grande apóstolo da mensagem excelsa e eterna do Cristo.

(Recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em 6 de junho de 1939).”

Trechos de: Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Humberto de Campos. Novas Mensagens. Cap. No banquete do Evangelho. Rio de Janeiro: Ed. FEB. 2009.