Mulher decidida pelo bem

Antonio Cesar Perri de Carvalho (*)

Oito de março é o “dia internacional da mulher”, proposta oriunda do final do Século XIX, nos EUA e na Europa, como luta feminina por melhores condições de vida, trabalho e direito de voto.

Na época, no Brasil, a maioria das mulheres exercia as atividades do lar, poucas estudavam e exerciam profissões.

Nesse cenário, se inicia em Araçatuba (SP) um labor liderado por uma mulher. Fato marcante é que a pioneira não era detentora de nenhuma facilidade ou “passaporte social” que assegurasse o sucesso de seu empreendimento.

Trata-se de Benedita Fernandes, descendente de escravos libertos e semi analfabeta, com o agravamento de que vitimada por obsessão espiritual foi considerada “louca”. Tratada por espíritas de Penápolis chegou em Araçatuba em meados dos anos 1920, trabalhando como lavadeira no Patrimônio de Dona Ida, hoje bairro Santana.

Fiel ao compromisso, quando curada, de trabalhar pelo bem e pelos pobres, com a colaboração de lavadeiras passou atender crianças abandonadas e doentes mentais. Nos seus atendimentos, como médium, Benedita conseguia acalmar os desequilibrados mentais e dava conforto a crianças. Iniciaram a construção de simples casinhas de madeira, para concretizar o sonho de fazer o bem.

Com os bons resultados obtidos e com o apoio de espíritas e pessoas da cidade, Benedita fundou no dia 6 de março de 1932 a Associação das Senhoras Cristãs – marco na cidade e região no campo da assistência social – surgindo o lar para crianças, Asilo para doentes mentais, albergue noturno, escola com apoio do Município, sempre no bairro Santana.

Benedita tornou-se uma referência no bem, contando com apoio dos espíritas, população em geral, Loja Maçônica Tupi, de lideranças políticas como Aureliano Valadão Furquim e Plácido Rocha.

Inclusive, familiares nossos – Perri e Marinelli – mantiveram contatos com Benedita.

Após seu falecimento em 1947, a Associação passou por adequações e momentos difíceis e com o tempo centralizou seus esforços no Sanatório, depois Hospital Benedita Fernandes. Com mais de 80 anos de funcionamento, em nossos dias, em atendimento a política governamental da área da saúde mental, passa por desativação e adequação em modalidades de Centro de Atenção Psicossocial e já está em funcionamento o CAPS-ad Benedita Fernandes, no mesmo bairro.

Na semana da mulher e também da fundação da Associação das Senhoras Cristãs, reverenciamos o vulto feminino de Araçatuba, vencedora de preconceitos e diversas dificuldades, um marco histórico do surgimento dos Hospitais Psiquiátricos no Estado de São Paulo.

Pela sua atuação – uma “dama da caridade” -, definimos o título de livro sobre Benedita, que lançamos no cinquentenário da Associação das Senhoras Cristãs (1982), e será brevemente reeditado de forma ampliada e atualizada.

Benedita Fernandes: uma mulher decidida pelo bem!

(*) Foi presidente da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo e da Federação Espírita Brasileira.