Jovem espírita: seu dia?

Jovem espírita: seu dia?

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Nas décadas de 1950 e 1960, comemorava-se no dia 13 de novembro, o “dia do jovem espírita”. Havia evocação da efeméride, em reuniões, poesias, citações em jornais espíritas, e havia citação no então tradicional Calendário Espírita que o prof. José Jorge (do Rio de Janeiro) produzia anualmente.

A origem da data comemorativa está relacionada com desdobramentos do chamado “Pacto Áureo”, de 1949, que criou o Conselho Federativo Nacional da Federação Espírita Brasileira. No dia 13 de novembro de 1949 os dois únicos organismos do Movimento Espírita Juvenil do país resolveram aderir de pronto ao Pacto e foi assinado o “Ato de unificação das mocidades e juventudes espíritas”, dando início ao então Departamento de Juventude da Federação Espírita Brasileira. (1,2)

Naquela época havia muito dinamismo no âmbito das mocidades espíritas. O ano de 1948 registra importantes fatos: surgiu a Concentração de Mocidades Espíritas do Brasil Central e Estado de São Paulo – COMBESP, reunindo jovens de Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e depois o Distrito Federal (Brasília). Este certame foi um celeiro de formação de expositores e lideranças. Em julho de 1948, ocorreu no Rio de Janeiro o 1º. Congresso Brasileiro de Mocidades Espíritas, liderado por Leopoldo Machado. Em 1956, surgiu o primeiro evento regional do Estado de São Paulo, a “Concentração de Mocidades Espíritas da Noroeste do Estado de São Paulo” (COMENOESP), e logo depois das regiões Nordeste, Leste e Capital do mesmo Estado. Sob os auspícios dos Conselhos Regionais da região do Triângulo Mineiro surgiu em 1964 a COMETRIM – Confraternização de Mocidades Espíritas do Triângulo Mineiro. À época, por sugestão de Chico Xavier passou incluir também os adultos e acrescentou mais um “M” na sigla. Em 1965 ocorreu a I Concentração de Mocidades e Juventudes Espíritas do Brasil, em Marília. (2)

Por razões várias, incluindo a orientação impressa à institucionalização nacional da ação dos jovens espíritas, a partir dos anos 1970 houve um crescente descompasso entre a expansão do movimento espírita em geral e das mocidades e juventudes espíritas. (2)

Como oportuna iniciativa pessoal de Ivan Franzolim (de São Paulo), foi efetivada entre 1º e 31 de julho de 2017, a pesquisa nacional para espíritas, sem nenhuma participação ou apoio de instituições, e é inédita no Movimento Espírita por sua abrangência nacional e pela preocupação em conhecer como pensam e atuam os espíritas. Foi utilizada a internet e as redes sociais como veículo de distribuição do formulário eletrônico do Google e acesso ao público espírita, estimados em 2% da população brasileira, segundo o Censo 2010. Foram recebidas 2.616 respostas válidas, excluindo aquelas em duplicidade. Os respondentes são residentes em 451 cidades e todos os estados foram representados. (3,4) Sobre o item relação dos filhos com o centro espírita – com filhos entre 3 e 12 anos: não participam da Evangelização Infantil/Juvenil (20,5%); não tenho filhos (64,0%); com filhos acima de 12 anos: não tenho filhos (43,2%); não se consideram espíritas (20,3%); Se consideram espíritas e não frequentam o grupo de jovens/mocidade (23,1%). (2) Estes dados, na generalidade das faixas etárias também já vinham sendo apontados pelos Censos do IBGE dos anos 2.000 e 2.010 e, a nosso ver, representam um alerta para urgentes estudos e providências para se diagnosticar as causas dessa situação e para se favorecer a integração real da criança e do jovem no centro espírita. (4)

É urgente a conscientização dos centros espíritas – base do movimento espírita – para o efetivo apoio e abertura de espaços para a integração dos jovens. Esta foi uma preocupação constante nossa no período em que presidimos o CFN da FEB.

Por oportuno, transcrevemos trecho de Emmanuel: “O apóstolo da gentilidade conhecia o teu soberano potencial de grandeza. A sua última carta, escrita com as lágrimas quentes do coração angustiado, foi também endereçada a Timóteo, o jovem discípulo que permaneceria no círculo dos testemunhos de sacrifício pessoal por herdeiro de seus padecimentos e renunciações. Paulo sabia que o moço é o depositário e realizador do futuro.” (5)

Independentemente de se ter uma data para a comemoração do “dia do moço espírita”, o fato é que esta efeméride já foi muito cultivada, ou seja, havia dinamismo, espontaneidade e evidentes manifestações de idealismo por parte dos jovens.

Referências:

1) http://grupochicoxavier.com.br/13-de-novembro-o-dia-do-jovem-espirita/;

2) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Centro espírita. Prática espírita e cristã. Cap. 2.1, 2.2, 3.1. Matão: O Clarim. 2016.

3) http://franzolim.blogspot.com.br/;

4) http://grupochicoxavier.com.br/pesquisa-nacional-para-espiritas-2017-alguns-comentarios/;

5) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Segue-me. Cap. Página do Moço Espírita Cristão. Matão: O Clarim.

(Ex-presidente da FEB e da USE-SP).